(RV) O Papa
reprovou o actual modelo mundial de produção de alimentos que, segundo o
Pontífice, “com toda a sua ciência, consente que cerca de 800 milhões
de pessoas passem fome”.
Numa mensagem enviada nesta sexta-feira (14/10) à Organização das
Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) por ocasião do Dia
Mundial da Alimentação, Francisco abordou inicialmente a questão das
mudanças climáticas, pedindo que as decisões do Acordo de Paris “não
fiquem somente nas palavras, mas se tornem em valentes decisões
concretas”.
“No sector de actuação da FAO, está a crescer o número daqueles que
pensam que são omnipotentes e podem ignorar o ciclo das estações ou
modificar indevidamente as diferentes espécies de animais e plantas,
provocando a perda desta variedade que, se existe na natureza, significa
que tem – e deve ter – uma função”, observou o Papa.
Sabedoria ancestral
No contexto das manipulações genéticas, o Papa observou ainda que
“obter uma qualidade que dá excelentes resultados em laboratório pode
ser vantajoso para alguns, mas pode ter efeitos desastrosos para
outros”.
Neste ponto, Francisco convida a dar a devida atenção à sabedoria dos produtores rurais.
“Esta sabedoria que os agricultores, os pescadores, os pecuaristas
conservam na memória das gerações, e que agora vêm como está sendo
ridicularizada e esquecida por um modelo de produção que beneficia
somente pequenos grupos e uma pequena porção da população mundial”,
denunciou o Papa.
Caravana dos últimos
O Papa recordou ainda que as mudanças climáticas também contribuem para que “a mobilidade humana não pare”.
“Os dados mais recentes revelam que são cada vez mais os migrantes
climáticos, que engrossam as filas desta caravana dos últimos, dos
excluídos, daqueles a quem é negado um papel na grande família humana.
Um papel que não pode ser outorgado por um Estado ou por um status, mas
que pertence a cada ser humano enquanto pessoa, com sua dignidade e seus
direitos”, apontou.
Distribuição justa
“Já não basta se impressionar e se comover diante de quem, em
qualquer latitude, pede o pão de cada dia”, afirmou o Papa, ao condenar o
desperdício de alimentos.
“É necessário decidir-se e actuar. Muitas vezes, também enquanto
Igreja católica, recordamos que os níveis de produção mundial são
suficientes para garantir a alimentação de todos, com a condição de que
haja uma justa distribuição”, disse.
A mensagem do Papa termina com um apelo para uma mudança de rumo, à qual todos estamos chamados a cooperar:
“Cada um nos respectivos seus âmbitos de responsabilidade, mas todos
com a mesma função de construtores de uma ordenação interna nos países e
uma ordenação internacional, que permita que o desenvolvimento não seja
somente uma prerrogativa de poucos, nem que os bens da criação sejam
património dos poderosos”.
(rb/BS)
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