31 agosto, 2019

A intenção de Oração do Santo Padre para o mês de setembro



Na intenção de oração deste mês, o Santo Padre chama a atenção para os espaços que “contêm a maior parte da água do planeta e também a maior variedade de seres vivos”: os mares e oceanos. Preocupado com o estado atual de muitos mares e oceanos, o Papa pede a todos os católicos que rezem para que os políticos, cientistas e economistas trabalhem juntos para encontrar medidas de proteção. 

Cidade do Vaticano 

Foi divulgado, neste sábado (31/8), o “Vídeo do Papa” de setembro, onde o Santo Padre propõe, aos fiéis do mundo inteiro, a sua intenção de oração para “a proteção dos mares e oceanos, muitos dos quais ameaçados por várias causas”. 

Vídeo do Papa

No “Vídeo do Papa” para este mês de setembro, Francisco chama a atenção para os espaços que “contêm a maior parte da água do planeta e também a maior variedade de seres vivos”: os mares e oceanos.
 
Preocupado com o estado atual de muitos mares e oceanos, o Papa pede a todos os católicos que rezem para que os políticos, cientistas e economistas trabalhem juntos para encontrar medidas de proteção. 

Coprodução do Vídeo

A edição do Vídeo do Papa este mês é uma coprodução entre Yann Arthus-Bertrand e a sua equipa de Produção Esperança, La Machi - Comunicação para as Boas Causas, e o Vatican Media. É importante mencionar a trajetória cinematográfica e fotográfica de Bertrand, que teve sempre em vista o cuidado do planeta e dos oceanos. Além disto, este Vídeo é lançado em sintonia com o “Tempo da Criação”, uma celebração anual e universal, que une os cristãos do mundo inteiro, que, este ano, vai de 1º de setembro a 4 de outubro.

Cuidar dos mares e oceanos

Atualmente, 13 milhões de toneladas de plástico são jogadas nos oceanos, em cada ano, causando, entre outros, prejuízos e a morte de 100 mil espécies marinhas.
 
A gravidade disto consiste no facto de que a maioria dos plásticos permanece intacto, por décadas ou séculos. Além do mais, os plásticos, que se deterioram, acabam por  tornarem-se micro plásticos, que os peixes e os outros animais marinhos acabam por ingerir. Isto acarreta uma cadeia alimentar global contaminada. 

Objetivos da ONU

Nos seus “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, a ONU estabeleceu metas para combater esta triste situação, ciente de que os oceanos fornecem recursos naturais fundamentais, como alimentos, medicamentos, biocombustíveis e outros produtos; isto contribui para a decomposição molecular e a eliminação de resíduos e poluição e, os seus ecossistemas costeiros, atuam como amortecedores para reduzir os prejuízos causado s ​​por tempestades. 

Desafio do Vídeo do Papa

Este “Vídeo do Papa” fala do grave desafio de proteger os oceanos. De facto, o fito-plâncton oceânico é responsável pela produção de mais da metade do oxigénio do planeta. Logo, pode-se dizer que os oceanos são um dos dois “pulmões” do mundo. Para enfrentar o problema da gestão injusta dos mares, é necessário uma “abordagem interdisciplinar”, que não pode ignorar a pessoa humana. 

Nota do Padre Fornos

O Diretor Internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, o jesuíta Padre Frédéric Fornos, recorda que, no ano passado, para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, Francisco chamou a atenção para proteger os ecossistemas marítimos. Diante desta emergência, disse o Papa, somos chamados a comprometer-nos com uma mentalidade ativa, rezando, como se tudo dependesse da Providência divina, e trabalhando como se tudo dependesse de nós.
 
O Padre Fornos diz ainda que, em setembro deste ano, Francisco convida-nos a rezar e agir pela proteção dos oceanos e, de maneira especial, convida os católicos a recordarem-se que a “nossa solidariedade com a Casa comum nasce da nossa fé. A criação é um projeto do amor de Deus pela humanidade”. 

Rede Mundial de Oração

A Rede Mundial de Oração do Papa, da qual o Padre Frédéric Fornos é diretor, é uma obra Pontifícia, cuja missão é mobilizar os católicos, mediante a oração e a ação, para os desafios da humanidade e da missão da Igreja. A sua missão insere-se na dinâmica do Coração de Jesus, uma missão de compaixão pelo mundo.

VN

30 agosto, 2019

Apelo do Papa pela Amazónia: acabar com os incêndios o mais rápido possível


Papa Francisco, Season of creation 

A celebração ecuménica anual de oração e ação pela criação tem início neste dia 1º de setembro, Dia Mundial de Oração pelo cuidado da Criação, e termina no dia 4 de outubro, festa de São Francisco. Milhares de pessoas envolvidas na celebração e proteção do meio ambiente. 

Barbara Castelli, Silvonei José - Cidade do Vaticano
 
Mais de um mês para abraçar ecumenicamente e trabalhar para proteger a Criação, ameaçada pelo próprio homem. Mais uma vez este ano se renova "O tempo da Criação", durante o qual os cristãos do mundo inteiro se unem em oração e ação para cuidar da casa comum. É um comité diretivo ecuménico que sugere todos os anos um tema para a celebração. O tema para 2019 é: "A rede da vida". A perda de espécies, de facto, está a acelerar: um relatório recente das Nações Unidas estima que o estilo de vida atual ameaça extinguir um milhão de espécies.
 
Apelo do Papa pela Amazónia: acabar com os incêndios o mais rápido possível

Numa carta, o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral convida os bispos católicos a aderirem à iniciativa ecuménica. O documento, que tem a data de 23 de maio, Dia Mundial da Biodiversidade, foi distribuído por ocasião do quarto aniversário da Carta Encíclica do Papa Francisco Laudato si', para encorajar os pastores a celebrarem este tempo, estendendo às comunidades católicas o convite do Dicastério vaticano, ao qual se uniram o Movimento Católico Mundial pelo Clima e a Rede Eclesial Pan-Amazónica (Repam). Este encorajamento torna-se ainda mais significativo com vista à Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-amazónica, de 6 a 27 de outubro, sobre o tema: "Amazónia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral".

A voz da família humana

Esta celebração teve início sob os auspícios da Igreja Ortodoxa e desde então tem sido acolhida por católicos, anglicanos, luteranos, evangélicos e outros membros da família cristã em todo o mundo. O site ecuménico SeasonOfCreation.org oferece subsídios e idéias para os cristãos participarem na celebração. Os eventos variam de encontros de adoração e oração à recolha de lixo, e pedidos de mudança política para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius. Outras iniciativas previstas são: em Quezon City, Filipinas, o cardeal Luis Antonio Tagle, arcebispo de Manila, presidirá uma missa, depois da qual serão plantadas árvores trazidas de áreas indígenas para a cidade; em Altamira, voluntários da Amazónia brasileira organizarão um projeto florestal num assentamento urbano; em Lukasa, Zâmbia, a Liga das Mulheres Católicas apresentará uma discussão sobre o meio ambiente na paróquia de São José Mukasa. 

Há uma alternativa à pura lógica do lucro

"A questão ecológica revela que o mundo é um só, que os problemas são globais e comuns. Para enfrentar os perigos é, portanto, necessária uma mobilização multilateral, uma convergência, uma colaboração, uma cooperação". É o que escreve o patriarca de Constantinopla Bartolomeu na sua mensagem para o Dia de Oração pela Salvaguarda da Criação. "É inconcebível – lê-se no texto -, que a humanidade esteja consciente da gravidade do problema e que continue a comportar-se como se não o conhecesse. Embora nas últimas décadas o principal modelo de desenvolvimento económico, no contexto da globalização sob a bandeira do fetichismo dos índices económicos e da maximização do lucro, tenha exacerbado os problemas ecológicos e sociais, continua a dominar amplamente a opinião de que "não há alternativa" e que o não se conformar ao severo determinismo da economia levará a situações sociais e económicas incontroláveis. Desta forma, ignoram-se e desacreditam-se as formas alternativas de desenvolvimento e a força da solidariedade social e da justiça”. 

Mudando de rumo: o futuro é hoje

"Só agindo em conjunto, à luz da nossa Igreja e do Espírito Santo, poderemos avançar", disse Tomás Insua, diretor executivo do Movimento Católico Mundial pelo Clima. "Nos últimos meses, incêndios violentos destruíram florestas na Amazónia, ondas de calor fizeram soar sinais de alarme em toda a Europa e a massa de gelo está a derreter-se num ritmo inimaginável, aumentando o nível do mar. Todos estes problemas partilham uma solução importante: devemos empreender a "conversão ecológica" requerida por São João Paulo II, que o Papa Francisco expandiu para Laudato Si.

VN

28 agosto, 2019

Papa: não ter medo diante daqueles que nos mandam ficar calados



“Aos seus olhos, como aos olhos dos cristãos de todos os tempos, os enfermos são beneficiários privilegiados do alegre anúncio do Reino", disse Francisco na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira. 

Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano 

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre os Atos dos Apóstolos, na Audiência Geral desta quarta-feira (28/08), realizada na Praça de São Pedro, que teve como tema “Quando Pedro passava... Pedro, testemunha principal do ressuscitado”.

Segundo Francisco, “a comunidade eclesial, descrita no Livro dos Atos dos Apóstolos, vive da riqueza que o Senhor coloca à sua disposição, experimenta o crescimento numérico e um grande fermento, não obstante os ataques externos. Para nos mostrar esta vitalidade, Lucas, no Livro dos Atos dos Apóstolos, indica alguns lugares significativos, por exemplo, o Pórtico de Salomão, ponto de encontro para os fiéis. Está no Templo. O pórtico é uma galeria que funciona como abrigo, mas também como local de encontro e testemunho”.

São Lucas “insiste nos sinais e prodígios que acompanham a palavra dos Apóstolos e na cura especial dos doentes aos quais se dedicam”.

Para o Papa, no capítulo 5º dos Atos dos Apóstolos, a Igreja nascente aparece como um “hospital de campo” que acolhe os vulneráveis, ou seja, os doentes. O seu sofrimento atrai os Apóstolos, que não possuem «ouro nem prata», conforme Pedro diz ao coxo, mas têm a força do nome de Jesus.
“ Aos seus olhos, como aos olhos dos cristãos de todos os tempos, os doentes são os destinatários privilegiados do alegre anúncio do Reino, são os irmãos em que Cristo está presente de maneira particular, para deixar-se buscar e encontrar por todos nós. Os doentes são privilegiados da Igreja, do coração sacerdotal, de todos os fiéis. Eles não devem ser descartados: pelo contrário. Eles devem ser cuidados, acudidos. Eles são o objeto da preocupação cristã. ”
Francisco ressaltou que “entre os apóstolos emerge Pedro, que tem preeminência no grupo apostólico por causa da primazia e da missão recebida do Ressuscitado. É ele quem inicia a pregação do kerygma no dia de Pentecostes e desempenhará uma função diretiva no Concílio de Jerusalém”. 

Cristo está presente nas chagas dos doentes

Pedro aproxima-se das camas e passa entre os doentes, assim como Jesus fez, carregando sobre si as enfermidades. “Pedro passa, e deixa que, a manifestar-se, seja Outro: que seja Cristo vivo e operante! A testemunha, de facto, é aquela que manifesta Cristo, tanto com palavras quanto com a presença corporal, que lhe permite relacionar-se e ser prolongamento do Verbo que se fez carne na história”.

Pedro realiza as obras do Mestre: “Olhando para Ele com fé, vê-se o próprio Cristo. Cheio do Espírito do seu Senhor, Pedro passa e, sem nada fazer, a sua sombra torna-se uma “carícia” que cura, que comunica saúde, que efunde a ternura do Ressuscitado, que se inclina sobre os doentes e lhes restitui vida, salvação e dignidade.”

Deste modo, Deus manifesta a sua proximidade e faz das chagas dos seus filhos “o lugar teológico da sua ternura”, ressaltou o Papa. Segundo Francisco, “nas chagas dos doentes, nas enfermidades que são impedimentos para prosseguir na vida, há sempre a presença de Jesus, a chaga de Jesus. Há Jesus que convida cada um de nós a acudir, ajudar e curar os doentes”. 

Obedecer antes a Deus do que aos homens

“A ação de cura de Pedro suscita o ódio dos saduceus, a inveja. Eles prenderam os apóstolos e, abalados com sua misteriosa libertação, os proíbem de ensinar. Essas pessoas viram os milagres que os Apóstolos fizeram não através de magia, mas em nome de Jesus; não quiseram aceitar e os colocaram na prisão, os espancaram. Eles foram libertados milagrosamente”. As pessoas tinham “os corações tão endurecidos que não queriam acreditar no que viram”, ressaltou Francisco.

Pedro então responde, oferecendo uma chave da vida cristã: “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens”. Obedecer antes a Deus do que aos homens “é a grande resposta cristã”. Isso significa ouvir a Deus sem reservas, sem adiamentos, sem cálculos; aderir a Ele para se tornar capaz de aliança com Ele e com as pessoas que encontramos em nosso caminho”.

Francisco concluiu sua catequese, convidando-nos a pedir ao “Espírito Santo a força de não ter medo diante daqueles que nos mandam ficar calados, nos caluniam e até mesmo atentam contra a nossa vida. Peçamos a Ele para que nos fortaleça interiormente para termos a certeza da presença amorosa e consoladora do Senhor ao nosso lado”.

VN


27 agosto, 2019

Papa a jovens do Paraguai: abracem Jesus e sejam amigos


 O encontro do Papa Francisco com os jovens do Paraguai,
em julho de 2015, em Assunção

Francisco enviou uma mensagem por ocasião dos trabalhos de conclusão do Triénio da Juventude que terminou no domingo (25), em Assunção. O Pontífice encorajou “a abraçar Jesus Cristo” e a serem amigos para que “permaneçam nEle e possam dar muitos frutos” – como bem indicava o tema deste ano.

O Papa Francisco enviou uma mensagem aos quase 600 jovens do Triénio da Juventude que terminou domingo (25), em Assunção, no Paraguai. A carta do Pontífice assinada pelo secretário de Estado, o Card. Pietro Parolin, foi lida no final da missa da conclusão do encontro.

O bispo de São Pedro e responsável pela Pastoral Juvenil, Dom Pierre Jubinville, foi quem leu o texto em que o Papa encorajava os jovens “a abraçar Jesus Cristo” que os chamou a serem “seus amigos” para que “permaneçam nEle e possam dar muitos frutos” – como bem indicava o tema deste ano de Triénio, ao incentivar a realização de ações sociais, pastoraais e missionárias a favor da juventude.

Ao mesmo tempo, Francisco exortou a juventude “a escutar a voz do Senhor” que envia os jovens, “individualmente e como comunidade”, a serem “discípulos missionários, testemunhas da Boa Nova da salvação entre os mais pobres”. O Papa finalizou a mensagem invocando “a intercessão materna” de Nossa Senhora de Caacupé, conhecida como “Virgem Azul do Paraguai”, a padroeira do país.

O Triénio da Juventude do Paraguai

2019 foi o marco do último ano do Triénio da Juventude que começou em 2017, no Paraguai, para dar prioridade à animação pastoral dos jovens através da experiência de Cristo. De facto, todos foram  chamados a se conectarem profundamente a Ele através do lema: “Abraçar-se a Jesus Cristo”.

No evento de conclusão, de 23 a 25 de agosto, em Assunção, o Fórum Nacional dos Jovens reuniu centenas de jovens representantes das dioceses e dos Vicariatos Apostólicos do Paraguai, das menores comunidades até as maiores paróquias, movimentos, congregações religiosas, serviços e grupos.

O Triénio, porém, promoveu durante os últimos anos momentos de escuta, de testemunhos e laboratórios dedicados à centralidade da fé e aos argumentos mais sensíveis aos jovens a nível eclesial e social no país. Além disto, os jovens puderam receber formação integral para contribuir de forma dinâmica e alegre com a Igreja e com a sociedade, favorecendo, assim, uma participação aberta, servidora, missionária e transformadora.

Fazendo “uma bagunça do bem”

Segundo Dom Pierre, os trabalhos do Triênio foram sempre motivados pelo discurso do Papa Francisco aos jovens feito em julho de 2015, nas margens do Rio Costanera, em Assunção, durante a viagem apostólica do Pontífice ao Equador, Bolívia e Paraguai:
“ Façam bagunça! Mas também ajudem a arrumar e organizar a bagunça que vocês fazem. Duas coisas: façam bagunça e organizem-na bem. Uma bagunça que nos dê um coração livre, uma bagunça que nos dê solidariedade, uma bagunça que nos dê esperança, uma bagunça que nasça de ter conhecido Jesus e de saber que Deus, a quem conheci, é a minha fortaleza. Esta é a bagunça que devem fazer. ”
Fotos do Papa com os jovens (Costanera, em Assunção - 2015)
VN

Por uma nova economia: palavras do Papa na Missa em Santa Marta

 
 Papa Francisco celebra Missa na Capela da Casa de Santa Marta 
(Vatican Media)
 
Continuamos a recordar as palavras do Papa que ajudam a enquadrar os objetivos da reflexão proposta pelo evento “A Economia de Francisco” de março 2020. Desta vez, fazemos memória de duas homilias na Capela da Casa de Santa Marta no ano 2016.
 
Rui Saraiva - Porto

“A Economia de Francisco” será um grande evento em agenda para os dias 26, 27 e 28 de março de 2020. Trata-se de um encontro que se inspira no Santo de Assis e que, segundo o Papa, deverá procurar novas propostas de organização económica.

Para ajudar à reflexão sobre esta importante temática recordamos aqui as palavras do Papa Francisco pronunciadas em 2016 em duas homilias na Capela da Casa de Santa Marta. 

Dinheiro e poder sujam a Igreja

Na terça-feira dia 17 de maio de 2016, na Missa em Santa Marta, o Papa Francisco afirmou que o dinheiro e o poder sujam a Igreja. O Santo Padre disse que o caminho que Jesus indica é o serviço, mas com frequência na Igreja busca-se poder, dinheiro e vaidade.

Partindo da passagem do Evangelho de S. Marcos, proposta pela liturgia do dia na qual os discípulos questionavam-se entre si, quem era o maior entre eles, o Papa afirmou que estas tentações mundanas comprometem também hoje o testemunho da Igreja:

“No caminho que Jesus nos indica, o serviço é a regra. O maior é aquele que serve mais, quem está mais ao serviço dos outros, e não aquele que se vangloria, que busca o poder, o dinheiro...a vaidade, o orgulho… Não, esses não são os maiores. E o que aconteceu aqui com os apóstolos, inclusive com a mãe de João e Tiago, é uma história que acontece todos os dias na Igreja, em cada comunidade. ‘Mas entre nós, quem é o maior? Quem comanda?’ As ambições… Em cada comunidade – nas paróquias ou nas instituições – existe sempre esta vontade de galgar, de ter poder.”

Na sua homilia o Papa Francisco sublinhou que a vontade mundana de estar com o poder acontece nas paróquias, nos colégios e também nos episcopados, uma atitude que não é a atitude de Jesus que veio para servir e ensina o serviço e a humildade. Mas todos somos tentados pelas atitudes de poder e de vaidade – afirmou o Papa que pediu ao Senhor para que nos ilumine para entendermos que o espírito mundano é inimigo de Deus:

“Todos nós somos tentados por estas coisas, somos tentados a destruir o outro para subir mais. É uma tentação mundana, mas que divide e destrói a Igreja, não é o Espírito de Jesus. É belo, imaginemos a cena: Jesus que diz estas palavras e os discípulos que dizem ‘não, é melhor não perguntar muito, vamos em frente’, e os discípulos que preferem discutir entre si qual deles será o maior. Vai-nos fazer bem pensar nas muitas vezes que nós vimos isto na Igreja e nas muitas vezes que nós fizemos isto, e pedir ao Senhor que nos ilumine, para entender que o amor pelo mundo, ou seja, por este espírito mundano, é inimigo de Deus”. 

Explorar trabalhadores para enriquecer é pecado mortal

Na quinta-feira, dia 19 de maio de 2016, na sua homilia na Missa em Santa Marta, o Papa Francisco afirmou que explorar os trabalhadores para enriquecer é ser como sanguessugas e isto é um pecado mortal.

O Santo Padre comentou a primeira leitura da liturgia do dia, extraída da carta de S. Tiago, e afirmou que “não se pode servir a Deus e as riquezas”. Estas, as riquezas – continuou Francisco – são boas em si mesmas, mas erram aqueles que seguem a “teologia da prosperidade”.

O Papa recordou o que diz S. Tiago: “Olhai que o salário que não pagastes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos estão a clamar; e os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do universo!”

Francisco recordou a precaridade dos vínculos laborais e, em particular, citou o que lhe disse uma jovem que encontrou um emprego de 11 horas diárias por 650 euros na informalidade. E disseram-lhe que se queria podia ficar com o trabalho senão há mais quem queira: “há uma fila atrás de si”.

A exploração das pessoas hoje é uma verdadeira escravidão – denunciou o Papa: “Viver do sangue das pessoas. Isto é pecado mortal. É pecado mortal.”

O Papa Francisco propôs uma reflexão sobre a exploração das pessoas no mundo do trabalho que chega mesmo à escravidão:

“Pensemos neste drama de hoje: a exploração das pessoas, o sangue das pessoas que se tornam escravas, os traficantes de seres humanos e não somente aqueles que traficam prostitutas e crianças para o trabalho infantil, mas aquele tráfico mais ‘civilizado’: Eu pago-te mas sem direito a férias e assistência médica, tudo clandestino. Porém, eu torno-me rico!

O Santo Padre no final da sua homilia pediu ao Senhor que “nos faça entender aquela simplicidade que Jesus nos diz no Evangelho de hoje: É mais importante um copo de água em nome de Cristo que todas as riquezas acumuladas com a exploração das pessoas”. 

Para refletir sobre a economia mundial

Recordamos aqui as palavras do Papa Francisco em maio de 2016 proferidas em homilias da Eucaristia diária na Capela da Casa de Santa Marta, no Vaticano. Estas palavras ajudam-nos a enquadrar o rumo definido para o encontro de Assis que em março de 2020 terá como tema “A Economia de Francisco” e juntará empresários, universitários, estudantes e especialistas.

“A Economia de Francisco” será um grande evento especialmente dirigido para refletir sobre o futuro próximo da economia mundial numa perspetiva humana e inclusiva. Já no próximo dia 24 de setembro terá lugar em Florença uma primeira reunião preparatória do encontro de Assis.

Laudetur Iesus Christus

VN

26 agosto, 2019

Papa Francisco: há um oceano oculto de bem que nos faz esperar por um mundo de paz


O Papa Francisco e o Grão Imame de Al-Azhar, Ahmad al-Tayyib,
durante a assinatura do Documento sobre a Fraternidade Humana  (Vatican Media)

Cidade do Vaticano

O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, divulgou uma declaração, nesta segunda-feira (26/08), “a propósito da recente criação do Comitê Superior para se alcançar os objetivos contidos no Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da paz mundial e da convivência comum”.

O documento foi assinado, em fevereiro passado, pelo Grão Imame de Al-Azhar e o Papa Francisco, durante a sua viagem apostólica aos Emirados Árabes Unidos. 

“O Santo Padre encoraja o trabalho do Comité para a divulgação do Documento, agradece aos Emirados Árabes Unidos o empenho concreto a favor da fraternidade humana e almeja que se possam multiplicar no mundo iniciativas similares”, conclui Matteo Bruni.

VN

Ayuso Guixot: Documento sobre a Fraternidade Humana dá os seus primeiros frutos

 
 Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, dom Miguel Ángel Ayuso Guixot 
(AFP or licensors)
 
O presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso faz um balanço dos frutos do Documento sobre a Fraternidade Humana, assinado pelo Papa Francisco e pelo Grão Imame de Al-Azhar, em fevereiro passado. 
 
Alessandro Gisotti - Cidade do Vaticano

“O diálogo inter-religioso é o único antídoto eficaz contra o mal do fundamentalismo.”

É o que afirma o novo presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, dom Miguel Ángel Ayuso Guixot, numa entrevista à mídia vaticana.

Dom Ayuso detém-se na criação, poucos tempo depois, dum Comité superior para a implementação do Documento sobre a Fraternidade Humana, assinado em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, em 4 de fevereiro passado, pelo Papa Francisco e pelo Grão Imame de Al-Azhar.

Para D. Ayuso, este Comité que recebeu, nesta segunda-feira (26/08), o incentivo do Papa Francisco, é um exemplo concreto de como os líderes religiosos podem construir pontes, fortalecer o diálogo e vencer a tentação de se fechar em si mesmos e alimentar o “confronto de civilizações”.

Dom Ayuso, há pouco mais de 6 meses da assinatura do “Documento sobre a Fraternidade Humana”, em Abu Dhabi, foi criado um Comité superior para a sua implementação, cujo trabalho foi incentivado pelo Santo Padre. Qual o valor dessa nova iniciativa no diálogo entre cristãos e muçulmanos?

Como já foi expresso por vários meios de comunicação mundiais, a criação desse Comité superior é um ato significativo. Trata-se, de facto, segundo o comunicado que anuncia o seu nascimento, de promover os ideais contidos no Documento sobre a Fraternidade Humana, porque é «uma declaração de compromisso comum para unir a humanidade e trabalhar pela paz no mundo, a fim de assegurar que as gerações futuras possam viver num clima de respeito mútuo e convivência saudável». Objetivo este realmente nobre! Estou grato ao príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Sua Alteza Xeique Mohamed bin Zayed Al Nahyan, que trabalhou para desenvolver iniciativas destinadas a colocar em prática os objetivos do documento de Abu Dhabi. Grato também ao Papa Francisco e ao Grão Imame de Al-Azhar, porque com as suas palavras e o seu testemunho, tornaram possível o que foi dito pelo príncipe herdeiro na apresentação deste Comité superior.

O senhor acompanhou o Papa na viagem apostólica aos Emirados Árabes Unidos e trabalhou no “Documento sobre a Fraternidade Humana”. O que mais chama a sua atenção em relação a esse desejo incansável de diálogo do Santo Padre?

Em primeiro lugar, expresso a minha gratidão pelos seus esforços incansáveis na promoção do diálogo. Realmente, em continuidade com os Pontífices que o precederam, o Papa Francisco, com o seu diálogo de respeito e amizade, em palavras e em obras, acrescentaria, não cessa de exortar ao mundo e  a todas as pessoas de boa vontade a promoverem três coisas: fraternidade, paz e convivência. Não nos esqueçamos de que estes três elementos são essenciais, se realmente queremos curar as feridas do nosso mundo. Eles são o ABC do nosso futuro. Muitas pessoas colaboraram no projeto da declaração que, na minha opinião, como o Papa Francisco diria, lembra a imagem de um poliedro. Na verdade, considero-o nos seus muitos aspectos um documento inclusivo.

O Santo Padre e o Grão Imame de Al-Azhar elogiaram a instituição do Comié superior, do qual o senhor também é membro. Que tipo de atividade esse comité realizará e quais são as suas expectativas?

Permita-me expressar a minha alegria pessoal e gratidão, como presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, pelo nobre elogio feito pelo nosso irmão, o Grão Imame de Al-Azhar, e pelo Santo Padre. Do momento, não posso acrescentar nada em relação às atividades mais do que aquilo que já foi expresso na apresentação da criação do Comité. No entanto, as minhas expectativas são muitas, porque uma vez iniciado um processo, temos de encontrar todas as formas para  envolver, desde a base em direção ao alto, nos campos nacional e internacional, muitas organizações internacionais, líderes sociais, religiosos, acadêmicos e políticos, procurando sobretu dirigir-nos aos jovens.

Estes dias em Taizé, jovens muçulmanos e cristãos debatem a declaração de Abu Dhabi. Como estas iniciativas podem ser encorajadas e fortalecidas, para além do diálogo entre líderes religiosos?

Uma iniciativa bonita que se soma às numerosas iniciativas já realizadas e que continuam desenvolverem-se, mostrando que a declaração de Abu Dhabi foi assinada tanto pelo Papa quanto pelo Grão Imame, como um compromisso comum para que os seus numerosos conteúdos sejam implementados. O evento de Taizé educa os jovens, mas também devemos pensar em educar os educadores e líderes religiosos, porque, conforme expressado no último encontro em Rimini, o futuro será religioso.

RV

25 agosto, 2019

Papa faz apelo pela Amazónia: controlar os incêndios o quanto antes

 
 
A preocupação de Francisco em relação aos incêndios que têm ferido a Amazónia foi manifestada depois da oração mariana do Angelus, neste domingo (25). A voz do Papa une-se àquela dos bispos da América Latina que também demonstraram tristeza e, através de apelos públicos, pediram medidas urgentes na defesa da Amazónia.
 
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
“ Estamos todos preocupados com os grandes incêndios que se desenvolveram na Amazónia. Oremos para que, com o empenho de todos, sejam controlados o quanto antes. Aquele pulmão de florestas é vital para o nosso planeta. ”
O apelo do Papa Francisco veio neste domingo (25), depois da oração mariana do Angelus na Praça de São Pedro. Depois de chefes de Estado da América e da Europa, e dos bispos das Conferências Episcopais da América Latina manifestarem-se a respeito dos incêndios que vêm devastando a região amazónica, o Pontífice também demonstrou a sua preocupação com aquele que é “o pulmão de florestas vital para o planeta”.

VN

Papa no Angelus: a salvação é para todos, mas requer esforço e perseverança na fé

 
 
Na manhã deste domingo (25), antes da Oração Mariana do Angelus, o Papa comentou o Evangelho do dia e convidou os cristãos a terem uma vida coerente: aproximarem-se de Jesus e dos Sacramentos, como também ir à igreja. Isto porque, disse Francisco, para entrar no Paraíso é preciso passar por uma ‘porta estreita’, aquela da fé, aberta a todos, mas que exige uma dedicação pelo bem e pelo próximo, contra o mal e a injustiça.
 
Andressa Collet – Cidade do Vaticano

Os milhares de peregrinos que acompanharam a Oração Mariana do Angelus com o Papa Francisco neste domingo (25), na Praça de São Pedro, ou ao redor do mundo, viram a preocupação do Pontífice em relação aos incêndios na Amazónia, mas também meditaram sobre o Evangelho de hoje (cfr Lc 13,22-30).

O trecho de São Lucas “apresenta Jesus que passa a ensinar pelas cidades e povoados, até Jerusalém, sabendo que deve morrer na cruz para a salvação de todos os homens”. Neste contexto, alguém perguntou-Lhe se era verdade que poucos se salvariam, uma questão muito debatida naquele período, devido às diversas maneiras de interpretação das Escrituras. E Jesus respondeu, convidando “a usar bem o tempo presente”, fazendo “todo esforço possível para entrar pela porta estreita”.
“ Com estas palavras, Jesus mostra que não é questão de número, não existe o “número fechado” no Paraíso! Mas trata-se de atravessar, desde já, a passagem certa, e essa passagem certa é para todos, mas é estreita. ”
"Este é o problema. Jesus não quer iludir-nos, dizendo: “Sim, fiquem tranquilos, é fácil, existe uma bonita estrada e, lá no final, um grande portão...”. Não diz isto: fala-nos da porta estreita. Diz-nos as coisas como são: a passagem é estreita. Em que sentido? No sentido que, para se salvar, é preciso amar a Deus e ao próximo, e isso não é confortável! É uma “porta estreita” porque é exigente, o amor é sempre exigente, requer empenho, ou melhor, “esforço”, isto é, uma vontade decidida e perseverante de viver segundo o Evangelho. São Paulo chama a isto, “o bom combate da fé” (1Tm 6,12). É preciso o esforço de todos os dias, de cada dia para amar a Deus e o próximo." 

O chamamento à vida coerente e próxima de Jesus

Jesus usa uma parábola para se explicar melhor e para insistir em fazer o bem nesta vida, independente do título e do cargo que exercamos:
“ O Senhor vai reconhecer-nos não pelos nossos títulos. ‘Mas olha, Senhor, que eu participava naquela associação, que eu era amigo de tal monsenhor, de tal cardeal, de tal padre...’. Não, os títulos não contam, não contam. O Senhor vai reconhecer-nos somente por uma vida humilde, uma vida boa, uma vida de fé que se traduz nas obras. ”
O Papa, então, continua a motivar e a conduzir-nos para esse percurso diário.

"Para nós, cristãos, isto significa que somos chamados a instaurar uma verdadeira comunhão com Jesus, rezando, indo à igreja, aproximando-nos dos Sacramentos e nutrindo-nos da sua Palavra. Isto mantem-nos na fé, nutre a nossa esperança, reaviva a caridade. E, assim, com a graça de Deus, podemos e devemos dedicar a nossa vida pelo bem dos irmãos, lutar contra qualquer forma de mal e de injustiça." 

Maria, Porta do céu

Ao finalizar, o Papa diz que a primeira pessoa a ajudar-nos nesta dedicação pelo bem é Nossa Senhora:
“ Ela atravessou a porta estreita que é Jesus, o acolheu com todo o coração e seguiu-o integralmente todos os dias da sua vida, inclusive quando não entendia; quando uma espada perfurava a sua alma. Por isso a invocamos como “Porta do céu”: Maria, Porta do céu; uma porta que reflete exatamente a forma de Jesus: a porta do coração de Deus, coração exigente, mas aberto a todos nós. ”
RV

24 agosto, 2019

Apelo da CNBB: “Levante a voz pela Amazónia”

 
 
A CNBB emitiu na tarde desta sexta-feira (23), uma nota sobre o recente quadro do aumento das queimadas na região Amazónica. "É urgente que os governos dos países amazónicos, especialmente o Brasil, adotem medidas sérias para salvar uma região determinante no equilíbrio ecológico do planeta", diz o documento.
 
Manoel Tavares - Cidade do Vaticano

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu, nesta sexta-feira (23/8), uma nota sobre a situação dos “absurdos incêndios” e outras criminosas depredações em curso na Amazónia.

Estas atitudes, segundo a nota (também disponível em vídeo), requerem posicionamentos adequados: “É urgente que os governos dos países amazónicos, especialmente o Brasil, adotem medidas sérias para salvar uma região determinante para o equilíbrio ecológico do planeta – a Amazónia. Não é hora de delírios, desgraças, juízos e comentários”

No documento, a CNBB ressalta que o Sínodo dos Bispos sobre a Amazónia, convocado pelo papa Francisco para o próximo outubro, - no cumprimento da sua tarefa missionária e da evangelização, - é sinal de esperança e fonte de indicações importantes no dever de preservar a vida, a partir do respeito pelo meio ambiente. 

Nota dos Bispos do Brasil

No seu documento, os Bispos da CNBB afirmam: “O povo brasileiro,  seus representantes e servidores têm a maior responsabilidade na defesa e preservação de toda a região amazónica. O Brasil possui significativa extensão desse precioso território, com o rico tesouro da sua fauna, flora e recursos hidrominerais. Os absurdos incêndios e outras criminosas depredações requerem, agora, posicionamentos adequados e providências urgentes. O meio ambiente precisa de ser tratado nos parâmetros da ecologia integral, em sintonia com o ensinamento do Papa Francisco, na sua Carta Encíclica Laudato Si’, sobre o cuidado com a casa comum”. 

“Levante a voz pela Amazónia” 

O título do documento da CNBB “Levante a voz pela Amazónia”. Trata-se de “um movimento, agora, indispensável, em contraposição aos entendimentos e escolhas equivocados. A gravidade da tragédia das queimadas e outras situações irracionais e gananciosas, com impactos de grandes proporções, locais e planetárias, requerem que, construtivamente, sensibilizando e corrigindo rumos, se levante a voz”.

“É hora de falar, escolher e agir com equilíbrio e responsabilidade, - destaca a nota - para que todos assumam a nobre missão de proteger a Amazónia, respeitando o meio ambiente, os povos tradicionais, os indígenas, de quem somos irmãos. Sem assumir esse compromisso, todos sofrerão com perdas irreparáveis”.

Sínodo, sinal de esperança

“O Sínodo dos Bispos sobre a Amazónia”, que se realizará no Vaticano, no próximo mês de outubro, em sintonia amorosa e profética com a convocação do Papa Francisco, - no cumprimento da tarefa missionária e da evangelização, - “é sinal de esperança e fonte de indicações importantes no dever de preservar a vida, a partir do respeito pelo meio ambiente”.

“Levante a voz” é o apelo dos Bispos do Brasil para esclarecer, indicar e agir diferente, superar os descompassos vindos de uma prolongada e equivocada intervenção humana, em que predominam a “cultura do descarte” e a mentalidade extrativista. A Amazónia é uma região de rica biodiversidade, multiétnica, multicultural e multirreligiosa, espelho de toda a humanidade que, em defesa da vida, exige mudanças estruturais e pessoais de todos os seres humanos, Estados e da Igreja. 

Apelo urgente

“É urgente que os governos dos países amazónicos, especialmente o Brasil, - frisa a CNBB - adotem medidas sérias para salvar uma região determinante no equilíbrio ecológico do planeta – a Amazónia. Não é hora de delírios, ruínas, juízos e comentários”. “Levante a voz”, com o profético apelo do Papa Francisco; peçamos a todos os que ocupam posições de responsabilidade no campo económico, político e social a “serem custódios da criação”.

A nota da CNBB conclui com um apelo “para construirmos juntos uma nova ordem social e política, à luz dos valores do Evangelho de Jesus, para o bem da humanidade, da Pan-amazónia, da sociedade brasileira, sobretudo dos pobres desta terra. É indispensável promover e preservar a vida na Amazónia e em todos os outros lugares, mediante diálogos e entendimentos lúcidos”!

VN

23 agosto, 2019

Emergência ambiental na Amazónia: região implora por uma ética ecológica de desenvolvimento


 Imagen de terça-feira (20) da Planet Labs, empresa americana
que mantém mais de cem satélites em órbita

A região tem sido afetada por aquela que, segundo especialistas, é a maior onda de incêndios florestais no Brasil em sete anos: os focos aumentaram 82% entre janeiro e agosto deste ano, em relação ao mesmo período de 2018. A repercussão, a nível internacional, fez chefes de Estado e bispos brasileiros a posicionarem-se: é necessária uma orientação ética ecológica na Amazónia, para além de fiscalização séria por órgãos “que não podem, de forma alguma, ser desautorizados ou desacreditados”, afirmou o vice-presidente da CNBB Dom Jaime Spengler. 

Andressa Collet – Cidade do Vaticano 

A comunidade internacional também se tem manifestado em defesa da Amazónia que, atualmente, é destaque na imprensa mundial pela emergência ambiental. O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu uma reunião neste final de semana durante o encontro do G7.

O aumento no número de focos de incêndio em florestas tem sido um dos assuntos mais repercutidos, inclusive nas mídias sociais, com a #PrayForAmazonia (em tradução livre, “Reze pela Amazónia”). A repercussão dos internautas, mas também de chefes de Estado, faz referência às imagens e aos dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que mostram um aumento de 82% no número de focos de incêndio florestal entre janeiro e agosto de 2019, em comparação com o mesmo período de 2018. O Mato Grosso é o estado com mais ocorrências. A relação, segundo especialistas, é com o desmatamento e não com uma seca mais forte.
“ Este círculo vicioso de poluição ambiental, que o Papa Francisco denunciava na Laudato si’, convocando todos para uma verdadeira cruzada contra a poluição e em defesa da nossa Casa Comum, infelizmente é uma consciência que ainda está longe de chacoalhar, de sacudir a consciência mesmo dos cristãos e católicos. ”
Dom Dimas Lara Barbosa, arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Campo Grande/MS, relata a situação vivida localmente, como a atuação constante dos bombeiros para apagar focos de incêndio. A consciência para o alerta deste “círculo vicioso de poluição ambiental”, comenta Dom Dimas, precisa de partir dos cristãos para uma “verdadeira cruzada em defesa da Casa Comum”:

“É com tristeza que a sociedade brasileira e internacional constatam este permanente e crescente índice da utilização de queimadas como alternativa para limpeza, fins agrários, e isto em todos os campos do Brasil. Em Campo Grande não é diferente. Neste Estado, os bombeiros nos últimos meses, já tiveram que apagar focos de incêndio em quase 300 lugares – mas certamente são am por ficar insensíveis perante, por exemplo, do que acontece na Amazónia. Afinal de contas, a Amazónia não é um património privado, nem é só do governo, ela é um património de todos os brasileiros. E este círculo vicioso de poluição ambiental, que o Papa Francisco denunciava na Laudato si’, convocando todos para uma verdadeira cruzada contra a poluição e em defesa da nossa Casa Comum, infelizmente é uma consciência que ainda está longe de chacoalhar, de sacudir a consciência mesmo dos cristãos e católicos. Precisamos de novo resgatar a Laudato si’ e a história mesmo da Igreja no Brasil, que já promoveu várias Campanhas da Fraternidade em torno do tema ecológico. Eu lembro-me de que já em 1979 houve uma Campanha com o título ‘Preserve o que é de todos’. Então, a consciência ecológica é por uma ‘ecologia integral’ que precisa de ser assimilada pelo nosso bom povo brasileiro e, particularmente, por aqueles que têm o ofício de cuidar do que é de todos.” 

A CNBB pede fiscalização séria 

As queimadas fora de controle na Amazónia também “chamam a atenção e preocupam” a CNBB. O vice-presidente, Dom Jaime Spengler, afirma que é necessária uma fiscalização séria por órgãos “que não podem, de forma alguma, ser desautorizados ou desacreditados”.

“Segundo especialistas, o fator que melhor explica o aumento no número de focos de calor naquela região é o desmatamento. Provavelmente há também outras situações que caracterizam crimes ambientais e que merecem atenção. Esses elementos apontam para a sempre necessária fiscalização séria. Papel de destaque, neste âmbito, possui os órgãos de controle que não podem, de forma alguma, ser desautorizados ou desacreditados. Há vozes, é verdade, que defendem o desenvolvimento da região através da exploração do subsolo, das florestas, do avanço da agricultura,... Certamente tudo isto pode sim cooperar para o desenvolvimento da região, mas a que preço? Pode cooperar para o desenvolvimento da região desde que as iniciativas sejam orientadas por uma ética, digamos, ecológica; pela responsabilidade socioeconómica e ambiental. Além disto, não se pode esquecer a dignidade e a nobreza dos ecossistemas da região. Recordo-me que o Papa Francisco, na Encíclica Laudato si’, fala do perverso sistema de propriedade e consumo atual. É impressionante esta expressão. Por isso, a necessidade de encontrar novos caminhos para a promoção da ‘ecologia integral’, no respeito ao ambiente, aos povos nativos e à própria terra." 
“ Pesquisadores de renome têm alertado com insistência sobre a urgência de cuidado sério para os diversos ecossistemas. Não se pode aceitar que expressões de impacto ou opiniões vagas sustentadas ou influenciadas por interesses nebulosos ou escusos, interfiram na vida deste património extraordinário que é a região pan-amazónica. ”
 VN