30 novembro, 2019

Papa sobre matrimónio: Sacramento que não se improvisa, é preciso preparação dos noivos

 
 
Francisco recebeu neste sábado (30), 400 participantes de um curso de formação para a tutela do matrimónio e o cuidado pastoral dos casais feridos, organizado pelo Tribunal Apostólico da Rota Romana. Ao falar que a Igreja é uma "comunidade de famílias", abordou a importância da preparação do matrimónio ainda quando noivos e como discípulos missionários, testemunhas do Evangelho na vida familiar, social e no trabalho.
 
Andressa Collet - Cidade do Vaticano

Na primeira audiência deste sábado (3), o Papa Francisco recebeu na Sala Clementina, no Vaticano, 400 participantes de um curso de formação para a tutela do matrimónio e o cuidado pastoral dos casais feridos, organizado pelo Tribunal Apostólico da Rota Romana. As aulas foram realizadas em Roma durante cinco dias e reuniram párocos, diáconos permanentes, casais e agentes da Pastoral da Família.

No discurso, o Pontífice lembrou que o encontro no Vaticano marcou o término do curso de formação, com “conteúdos teológicos e processos canónicos importantes para os casais e para a vida da Igreja de hoje”, para além de direcionar para temáticas “cruciais”. Sobretudo, o cuidado pastoral dos casais feridos, disse o Papa, que não pode ser tratado com uma abordagem “burocrática, quase mecânica”, é preciso entrar na vida das pessoas, “que sofrem e que têm sede de serenidade”. 

A Igreja precisa de procurar sempre a verdade do amor dos casais

Francisco então descreveu as feridas do matrimónio vividas atualmente, que podem inclusive sangrar muito, e provêm de várias causas psicológicas, físicas, ambientais e culturais, para além de serem provocadas “pelo fechamento do coração humano ao amor”. A Igreja “jamais vai conseguir ignorá-las, virando o rosto para o outro lado”, acrescentou o Pontífice, precisa de “procurar sempre e somente o bem das pessoas feridas e a verdade do amor delas”.
“ É por isto que a Igreja, quando encontra estas realidades de casais feridos, antes de tudo chora e sofre com eles aproxim-se com o óleo da consolação para aliviar e curar; ela quer carregar para si a dor que encontra. E se então, se esforça para ser imparcial e propondo-se  procurar a verdade de um matriónio destruído, Ela jamais é estranha, nem humanamente, nem espiritualmente àqueles que sofrem. Nunca consegue ser impessoal ou fria diante destas tristes e tribuladas histórias de vida. ”
O Papa então exortou agentes, juízes, testemunhas e partes envolvidas de cada causa eclesiástica que enfrentam um matrimónio ferido, que confiem, antes de tudo, no Espírito Santo: “guiados por ele, podem escutar com critério justo”, sabendo examinar, discernir e julgar. O matrimónio cristão, lembrou Francisco, deve ser vivido num caminho de fé, como “colunas da Igreja doméstica”.
“ Mesmo que o matrimónio possa preencher os cônjuges cristãos de alegria e de plenitude humana e espiritual, eles jamais esquecer que são chamados, como pessoas e como casais, a caminhar sempre na fé, a caminhar na Igreja e com a Igreja, a caminhar na vida da santidade. ”
O matrimónio não se improvisa
 
Deste caminho no Espírito nasce “aquele precioso e indispensável ministério dos casais na Igreja”, tão necessário hoje nas comunidades paroquias e diocesanas. Este ministério tem origem no Sacramento, enalteceu o Papa, “uma conquista apostólica e missionária” que precisa de ser nutrida pelos noivos através “da oração, com a Eucaristia e a Reconciliação, com a bondade sincera de um com o outro, com a dedicação aos irmãos que encontram”.
“ Este Sacramento não se improvisa. É necessár prepararrem-se já como noivos. Não é suficiente que os noivos cristãos se preparem ao serem marido e mulher com uma boa integração psicológica, afetiva, de relacionamento e projetos, que também é necessária para a estabilidade da sua futura união. Eles devem inclusive nutrir e intensificar progressivamente neles próprios aquele chamento específico para se moldarem como marido e mulher cristãos. Isto significa cultura, dentro da vocação cristão, a vocação particular para serem discípulos missionários como casais, testemunhas do Evangelho na vida familiar, de trabalho, social, lá onde o Senhor os chama. ”
A renovação da comunidade de famílias
 
A Igreja, na sua estrutura paroquial, finalizou o Papa, “é concretamente uma comunidade de famílias”.
“ É o Espírito Santo que trabalha nessa sinergia, e, assim, o Espírito Santo é invocado, também para esse processo apostólico, que não é fácil, mas não é impossível. Encorajo os Pastores, bispos e sacerdotes a promover, sustentar e acompanhar esse processo para que a Igreja se renove se transforme sempre mais, numa rede de cobertura de comunidades de famílias, testemunhas e missionárias do Evangelho. ”
VN

29 novembro, 2019

Dia Vicarial da Caridade - Lisboa II “Não podemos dar o que não temos”

Jesus é “presença obrigatória” na ação caritativa da Igreja, sob o risco de toda a caridade da Igreja se tornar mais uma “tarefa”. Esta foi uma das principais conclusões do Dia Vicarial da Caridade da Vigararia Lisboa II, uma iniciativa que contou com o testemunho da superiora das Missionárias da Caridade em Lisboa, irmã Therese Frances. “O importante não é o que damos, é o amor que colocamos no que damos”, sublinhou a religiosa.


No Dia Vicarial da Caridade na Vigararia Lisboa II, a Missionária da Caridade Therese Frances referiu que o tema diocesano para este ano pastoral – ‘Sair com Cristo ao encontro de todas as periferias’ – “não é apenas mais um plano pastoral, mas é um apelo a uma mudança do coração”. Num encontro que decorreu, na tarde do dia 23 de novembro, no auditório da Igreja de Cristo Rei da Portela, esta religiosa partilhou um testemunho sobre o trabalho que a congregação fundada por Santa Teresa de Calcutá desempenha naquela vigararia da cidade, mais concretamente no Vale de Chelas, e apontou para o rosto que deve estar sempre presente em toda a ação caritativa. “Não somos chamadas a ser assistentes sociais, o que não é de todo de menosprezar, mas o nosso chamamento é o de sermos contemplativas no coração do mundo, de levar Jesus ao mundo e o mundo a Jesus! Jesus é o único que pode realmente satisfazer as necessidades de cada um, dar sentido às suas vidas, satisfazer a sua fome, não só de alimento e de vestuário, mas também de dignidade humana, de amor, de paz e de alegria. Não podemos dar o que não temos e, por isso, temos que estar cheios de Jesus!”, apontou a irmã Frances, atual superiora da congregação na diocese.

“Estar com os pobres”
No encontro que juntou membros da Pastoral Sociocaritativa e dos centros sociais das paróquias da Vigararia Lisboa II, a irmã Frances partilhou alguns casos onde a missão das religiosas é “desafiante” e exige sempre “responsabilidade” e a consciência de que “o que fazemos aos mais pobres dos pobres é a Jesus que o fazemos”. Contudo, segundo esta religiosa, a realidade leva a “reconhecer que a vida nas periferias nem sempre é bela, às vezes é difícil e dolorosa e somos chamados a estar com os pobres onde eles estão”. “Madre Teresa ensinou-nos a procurar este Jesus escondido nos pobres. Na nossa casa, em Chelas, vivem connosco 12 senhoras e 10 homens. Alguns idosos, alguns com doenças crónicas, alguns acamados e muitos com problemas psiquiátricos. A vida nem sempre é um mar de rosas, e às vezes tem espinhos, trovoadas e relâmpagos”, descreveu a irmã Therese Frances, exemplificando com um caso de uma senhora que lhe bateu à porta: “Vinha com uma vida muito difícil, isolada e solitária. Não se misturava com as outras senhoras, era autossuficiente e nunca deixava ninguém se aproximar, por vezes rejeitando até quem tentava aproximar-se. Quando completou 82 anos, oferecemos-lhe um bolo de aniversário. Assim que viu o bolo, começou a soluçar dizendo: ‘Nunca ninguém me ofereceu um bolo de aniversário em toda a minha vida’. Não só esta senhora chorou, mas todos naquela casa. A sua dor quebrou o gelo e deu lugar a um novo sentido de compaixão e amor verdadeiro entre todos os que ali estávamos”.
Perante algumas dezenas de participantes, a religiosa Missionária da Caridade alertou para o “perigo” de se acreditar que as “periferias” estão “algures, longe, e que precisamos de sair para as ir procurar e para as encontrar”. “Por vezes, mesmo nas nossas famílias, existem pessoas que preferimos não encontrar ou com quem preferimos não ter que falar; mas nós somos chamados a defender os valores da vida no nosso local de trabalho, a ajudar quem precise nos nossos bairros, por vezes só um simples sorriso pode fazer a diferença na vida de alguém e levar luz à sua vida. O importante não é o que damos, é o amor que colocamos no que damos! Uma das maiores pobrezas do mundo atual é a solidão, e o valor de um coração que escuta é incomensurável!”, apontou.
  • Leia a reportagem completa na edição do dia 1 de dezembro do Jornal VOZ DA VERDADE, disponível nas paróquias ou em sua casa.
Patriarcado de Lisboa

Papa aos magistrados: "direito de morrer" não tem bases jurídicas



Na audiência aos magistrados do Centro de Estudos Rosario Livatino, o Papa Francisco recorda o pensamento deste magistrado siciliano assassinado pela máfia em 1990 e que atualmente tem o seu processo diocesano de beatificação concluído positivamente 

Jane Nogara - Cidade do Vaticano

O Papa Francisco recebeu em audiência nesta sexta-feira (29) um grupo de magistrados do Centro de Estudos “Rosario Livatino”.

Rosario Livatino foi um magistrado assassinado pela máfia em 21 de setembro de 1990, aos 38 anos, enquanto se dirigia para um Tribunal numa periferia da Sicília. Quando morreu, poucos o conheciam. Encarregava-se do sequestro e confisco de bens de proveniência ilícita adquiridos pelos mafiosos. No seu discurso, Francisco falou aos presentes sobre este magistrado, cujo processo diocesano de beatificação foi concluido positivamente: “Ele fazia o seu trabalho de modo inatacável, respeitando as garantias dos acusados, com grande profissionalismo e com resultados concretos: por isso a máfia decidiu eliminá-lo”.
“ Livatino é um exemplo não apenas para os magistrados, mas para todos os que trabalham no campo do direito: pela coerência entre a sua fé e o seu empenho no trabalho, e a atualidade das suas reflexões ”
Direito de morrer, sem base jurídica
 
A propósito, comentou seguidamente alguns tópicos o seu pensamento: no que se refere a eutanásia ele fazia a seguinte observação: “Se a oposição do crente a esta lei fundamenta-se na convicção de que a vida humana […] é um dom divino e que ao homem não é lícito interromper, do mesmo modo é motivada a oposição do não crente que fundamenta a sua convicção de que a vida é tutelada pelo direito natural, que ninguém pode violar ou contradizer […] porque esta pertence à esfera dos bens ‘indisponíveis’ que não podem ser agredidos nem individualmente e nem pela coletividade”. Francisco comenta que estas considerações “parecem distantes das sentenças que em tema de direito à vida são pronunciadas nas aulas de justiça”. Que atualmente “segundo uma jurisprudência que se autodefine ‘criativa’ – inventam ‘um direito de morrer’ sem nenhum fundamento jurídico”. 

Estatuto moral

Ao falar sobre o pensamento de Livatino sobre o estatuto moral dos administradores da justiça segundo o qual “estes são simplesmente funcionários do Estado aos quais cabe a tarefa de aplicar leis”, recorda que “atualmente afirma-se cada vez mais uma diferente chave de leitura do papel do magistrado, embora com as mesmas normativas utiliza o significado que mais lhe convém num determinado contingente”. Ao comentar este pensamento Francisco observa:

Aqui também é surpreendente a atualidade de Rosario Livatino:
“ Porque colhe sinais que apareceriam com maior evidência décadas depois, não só em Itália, isto é a justificação da intromissão do juiz em âmbitos que não lhe são próprios, principalmente nas matérias dos chamados ‘novos direitos’, com sentenças preocupadas em satisfazer desejos sempre novos, desancorados de qualquer limite objetivo ”
Relação com Deus
 
O Papa Francisco recorda aos presentes uma outra reflexão de Livatino quando afirma “Decidir é escolher […] e escolher é uma das coisas mais difíceis que o homem tenha que fazer. […] E é precisamente este escolher para decidir, decidir para ordenar, que o magistrado que crê pode encontrar uma relação com Deus”. “Uma relação direta – continua o Papa – porque fazer justiça é realização de si, é oração, é comprometimento de si mesmo a Deus. E uma relação indireta porque é o trâmite do amor para a pessoal julgada”.
Por fim o Papa afirma:
“ Rosario Livatino deixou a todos nós um exemplo luminoso de como a fé possa se exprimir na execução do serviço à comunidade civil e às suas leis; e como a obediência à Igreja possa conjugar-se com a obediência ao Estado, em particular com o ministério, delicado e importante, de fazer respeitar e aplicar a lei ”
 VN

Papa: a morte é o abraço do Senhor a ser vivido com esperança

 
 
Na homilia da missa matutina realizada na Casa de Santa Marta, o Papa Francisco fez uma reflexão sobre o fim que aguarda cada pessoa, a morte, apresentado-a como o momento do abraço com o Senhor.
 
Gabriella Ceraso – Cidade do Vaticano

Na última semana do ano litúrgico, a Igreja convida-nos a refletir sobre o fim do mundo, o fim de cada um de nós, e o faz também o Evangelho desta sexta-feira, em que Lucas repete as palavras de Jesus: "O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão".

A vulnerabilidade humana
 
Na sua homilia, o Papa reiterou que "tudo acabará”, mas “Ele ficará”, e estas palavras o inspiraram para convidar cada um a refletir sobre o momento do fim, isto é, da morte. Nenhum de nós sabe exatamente quando acontecerá, ou melhor, com frequência temos a tendência para adiar o pensamento, acreditando-nos eternos, mas não é assim:

Todos nós temos esta fraqueza de vida, esta vulnerabilidade. Ontem eu meditava sobre isto, sobre um belo artigo que saiu agora na (revista, ndr) ‘Civiltà cattolica’, que dizia que o que une todos nós é a vulnerabilidade: somos leva-nos à morte. Por isso vamos ao médico para ver como vai a minha vulnerabilidade física, outros vão para curar alguma vulnerabilidade psíquica no psicólogo.

A ilusão de sermos eternos e a esperança no Senhor
 
A vulnerabilidade, portanto, une-nos e nenhuma ilusão nos abriga. Na minha terra, recordou o Papa, havia a moda de pagar antecipadamente o funeral com a ilusão de economizar dinheiro para a família. Quando veio à luz o golpe aplicado por essas empresas fúnebres, a moda passou. "Quantas vezes a ilusão nos engana", comentou o Pontífice, como a ilusão de “sermos eternos". A certeza da morte, ao invés, está escrita na Bíblia e no Evangelho, mas o Senhor nos apresenta como um "encontro com Ele" e está acompanhada pela palavra "esperança":

O Senhor nos fala para estarmos preparados para o encontro, mas a morte é um encontro: é Ele quem nos vem encontrar, é Ele quem vem pegar-nos pela mão e levar-nos até Ele. Eu não gostaria que esta simples pregação fosse um aviso fúnebre! É simplesmente Evangelho, é simplesmente vida, é simplesmente dizer um ao outro: somos todos vulneráveis ​​e todos temos uma porta à qual o Senhor um dia baterá.

É necessário, portanto, preparar-mo-nos bem para o momento em que a campainha tocará, o momento em que o Senhor baterá à nossa porta: rezemos um pelo outro - é o convite do Papa também aos fiéis presentes na Missa - para estar-mos prontos, para abrir-mos a porta com confiança ao Senhor que vem:

Todas as coisas que juntamos, que poupamos, licitamente boas, mas não levaremos nada ... Mas, sim, levaremos o abraço do Senhor. Pensar na própria morte: eu vou morrer, quando? Não está determinado no calendário,  mas o Senhor sabe. E rezar ao Senhor: "Senhor, prepara meu coração para morrer bem, para morrer em paz, para morrer com esperança". É esta a palavra que deve sempre acompanhar a nossa vida, a esperança de viver com o Senhor aqui e depois viver com o Senhor do outro lado. Rezemos uns pelos outros sobre isto.

VN

27 novembro, 2019

O Papa Francisco envia ajuda às vítimas do terremoto na Albânia



O terremoto de magnitude 6,4 na Escala Richter que sacudiu a Albânia na madrugada de terça-feira provocou a morte de ao menos 41 pessoas e mais de 600 feridos. O governo decretou dia de Luto Nacional nesta quarta-feira. O Papa Francisco decidiu enviar uma primeira contribuição de 100.000 euros para ajudar a população atingida.

Cidade do Vaticano

Na noite de 25 de novembro passado, um forte terramoto atingiu a costa norte da Albânia, na área da cidade de Durres. Até  agora, o balanço fala de dezenas de pessoas mortas e pelo menos 600 feridas, mas ainda há muitas pessoas debaixo dos escombros. O terremoto causou enormes danos: edifícios desmoronados e centenas de pessoas sem abrigo, e foi sentido em outras áreas da Albânia e da costa adriática. Através do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, o Papa Francisco decidiu enviar uma primeira contribuição de 100.000 euros para ajudar a população nesta fase imediata de emergência.

A soma será utilizada para os trabalhos de socorro e assistência

Deste modo, o Santo Padre deseja exprimir a sua proximidade espiritual e o seu paterno apoio às pessoas atingidas. A soma será utilizada nas dioceses atingidas Albânia.

No final da Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa enviou uma saudação e expressou a sua proximidade "ao querido povo albanês, que tanto sofreu nestes dias". "A Albânia - recordou Francisco - foi o primeiro país da Europa que eu quis visitar. Estou próximo das vítimas, rezo pelos falecidos, pelos feridos, pelas famílias. Que o Senhor abençoe este povo ao qual quero tão bem".

Também através de um telegrama enviado ao presidente da República da Albânia sr. Ilir Meta, e aos familiares das vítimas, o Santo Padre expressou o seu mais sincero pesar por aqueles que morreram em consequência do terremoto de 6,4 graus na Escala Richter que sacudiu o país na madrugada de terça-feira, 26.

“Encomendando as almas dos falecidos à misericórdia de Deus, asseguro aos feridos e a todos os atingidos por esse desastre minha proximidade em oração”, diz a mensagem assinada pelo cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin

Já às equipes de emergência e aos esforços realizados nas operações de socorro, Sua Santidade invoca bênçãos de fortaleza e confia o povo da Albânia à Providência amorosa do Todo-Poderoso.

Dia de Luto Nacional

E outro forte abalo, de magnitude 5,1 na Escala Richter, sacudiu o país ao meio dia desta quinta-feira. Segundo informações do governo, subiu para 41 o número de vítimas fatais do terremoto de terça-feira, com epicentro no Mar Adriático, a 10 km da cidade portuária de Durazzo, a mais atingida. Mas a maior parte das vítimas são da cidade de Durres, a 40 km a oeste da capital Tirana. Os desaparecidos são provavelmente 15.

Abalos secundários, que chegaram a atingir 5,4 graus, ocorreram aos longo de toda a quarta-feira. Ao meio-dia desta quinta-feira, foi sentido um abalo de 5,1 graus. 

A população foi obrigada a abandonar apartamentos e casas e dormir em ginásios, abrigadas em tendas e mesmo a céu aberto, protegidos por cobertores. O governo albanês decretou Dia de Luto Nacional para a quarta-feira. As escolas permanecem fechadas.

As autoridades enviaram 2 mil militares e 1.900 agentes de polícias, além de dezenas de equipes médias, às áreas afetadas. Também chega ajuda de países estrangeiros, como Itália e Estados Unidos. 157 bombeiros italianos trabalham entre os escombros em busca de sobreviventes.

VN

Audiência: Papa denuncia a hipocrisia de falar de paz e construir armas

 
 
A lembrança das etapas na Tailândia e no Japão marcou a Audiência Geral do Papa Francisco na Praça São Pedro. “Para proteger a vida, é preciso amá-la, e hoje a grave ameaça nos países mais desenvolvidos é a perda do sentido de viver", alertou.
 
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

Recém-chegado de sua 32° viagem apostólica, o Papa Francisco recebeu milhares de fiéis e peregrinos para a Audiência Geral esta quarta-feira (27/11) e dedicou a sua catequese aos principais momentos vividos na Tailândia e no Japão.

Ao agradecer às autoridades governamentais e eclesiásticas dos dois países, o Pontífice afirmou que a visita aumentou a sua proximidade e o seu afeto por aqueles povos: “Deus os abençoe com abundância de prosperidade e de paz”. 

Povo thai: povo do belo sorriso

Começando pela primeira etapa, Francisco recordou que a Tailândia é um antigo Reino que se modernizou fortemente. O povo “thai” é o “povo do belo sorriso. As pessoas ali sorriem. Encorajei o empenho pela harmonia entre os diversos membros da nação e para que o desenvolvimento económico possa seguir em benefício de todos e sejam sanadas as chagas da exploração, especialmente das mulheres e dos menores.”

Sobre a religião budista, parte integrante da história e da vida do povo tailandês, o Papa citou o encontro com o Patriarca Supremo e com os líderes ecuménicos e inter-religiosos.

Com a comunidade católica local, o Pontífice viveu momentos de convívio com os sacerdotes, os consagrados, os bispos, os jesuítas. Celebrou duas missas e conheceu de perto o trabalho do Hospital São Luís em prol dos últimos. “Ali experimentamos que na nova família formada por Jesus Cristo existem também os rostos e as vozes do povo Thai.” 

Japão: capacidade extraordinária de lutar pela vida

Depois, foi a vez do Japão, cujo lema “Proteger cada vida” acompanhou a sua visita. O país, afirmou, “carrega impressas as chagas do bombardeio atómico e é em todo o mundo porta-voz dos direitos fundamentais à vida e à paz”.

Em Nagasaki e Hiroshima, o Papa rezou, encontrou sobreviventes e familiares das vítimas. “Reiterei a firme condenação das armas nucleares e da hipocrisia de falar de paz construindo e vendendo artilharia bélica.”

Depois daquela tragédia, prosseguiu, o Japão demonstrou uma extraordinária capacidade de lutar pela vida e o fez inclusive recentemente depois do tríplice desastre de 2011: terremoto, tsunami e acidente na central nuclear.
“ Para proteger a vida, é preciso amá-la, e hoje a grave ameaça nos países mais desenvolvidos é a perda do sentido de viver. ”
As primeiras vítimas do vazio de sentido, apontou Francisco, são os jovens. Por isso, dedicou um encontro com eles em Tóquio, aos quais encorajou a oporem-se a toda a forma de bullying, e a vencer o medo e o fechamento abrindo-se ao amor de Deus.

“Auspiciei uma cultura de encontro e diálogo, caracterizada pela sabedoria e amplidão do horizonte. Permanecendo fieiés aos seus valores religiosos e morais, e abertos à mensagem evangélica, o Japão poderá ser um país condutor por um mundo mais justo e pacífico e pela harmonia entre homem e meio ambiente.”

Queridos irmãos e irmãs, finalizou o Papa, “confiemos à bondade e à providência de Deus os povos da Tailândia e do Japão”.  

Fundação Nizami Ganjavi

Antes da Audiência Geral, o Papa Francisco recebeu os membros da Fundação Nizami Ganjavi. Trata-se de uma organização dedicada à memória do grande poeta do Azerbaijão do século XII, com a finalidade de promover a paz no diálogo e no respeito mútuo.

Francisco encorajou a Fundação a prosseguir neste caminho, sobretudo no que diz respeito ao desafio das mudanças climáticas, convencidos de que a cultura do diálogo é a via mestra, a colaboração é a conduta mais eficaz, e conhecimento recíproco é o método para crescer na fraternidade entre as pessoas e os povos.



VN

Fisichella: dar vigor e perspectivas à exortação "Evangelii gaudium"



Nesta quinta-feira (28) inicia na Sala Paulo VI o Encontro internacional “A Igreja em saída” promovido pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. Entrevista com Dom Rino Fisichella

Amedeo Lomonaco – Cidade do Vaticano

“A Igreja em saída”. Recepção e perspectivas da Evangelii gaudium”. Este é o tema do encontro internacional organizado pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização programado para esta quinta-feira (28) até o próximo sábado 30 de novembro. O evento será dirigido a cardeais, bispos, sacerdotes, diáconos, seminaristas, homens e mulheres consagrados e leigos. Serão feitos vários testemunhos, incluindo Chiara Amirante, fundadora da comunidade Novos Horizontes, e Dom Luigi Ciotti, fundador do Grupo Abel e presidente de Libera. 

Igreja em saída
 
Este encontro é celebrado após seis anos da publicação da exortação apostólica Evangelii gaudium do Papa Francisco.
“ A Igreja “em saída” é a comunidade de discípulos missionários que “primeireiam”, que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. Primeireiam – desculpai o neologismo –, tomam a iniciativa! A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos (Papa Francisco, Evangelium gaudium) ”
Evangelii gaudium e evangelização
 
O encontro internacional “A Igreja em saída” é uma oportunidade para compreender como a exortação Evangelii gaudium foi recebida nas comunidades. Dom Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização sublinha:

Fisichella: Este encontro deixa-nos muito felizes e responsáveis porque reúne representantes de 63 países do mundo: da Oceânia a Ásia, da África a Europa, da América do Norte a toda a América Latina… Hoje começamos um encontro verdadeiramente eclesial que tem a característica desejada pelo Papa Francisco na Evangelii gaudium”: um caminho sinodal através do qual tentamos entender como a Carta do Papa Francisco sobre a evangelização foi recebida pelas nossas comunidades. Não esqueçamos que com a Evangelii gaudium o Papa queria expressar o seu programa pastoral e o expressou à luz do trabalho do Sínodo de 2012, exatamente sobre a nova evangelização e a transmissão da fé. Por isso, serão dias intensos que nos levarão a receber diretamente do Papa, sábado pela manhã, mais uma vez o seu ensinamento.
 
Trata-se também de ver como foi recebido o convite do Papa de uma “Igreja em saída”. Já foram feitas atuações da Exortação do Papa Francisco?

Fisichella: Sim, não nos esqueçamos do grande movimento que gira em torno da perspectiva da evangelização nas nossas comunidades. Não é casualidade que o convidamos para dar o seu testemunho, algumas testemunhas que, de diferentes maneiras deram vida à realidade da evangelização. Chiara Amirante dar-nos-á o seu testemunho com “Novos Horizontes” que difundiu em todo o mundo a alegria de conhecer gente com mais dificuldades. Na sexta (29) pela manhã teremos André e Angele Regnier, fundadores da Catholic Christian Outreachin Canadá, onde os jovens se dedicam totalmente à evangelização: tomam a decisão de dedicar as suas vidas à evangelização e o fazem desde os campus universitário para depois se transferirem para as paróquias, até mesmo a manter a vida evangélica de pequenas comunidades nas paróquias dispersas no grande Canadá. Teremos testemunhos que dizem o quanto a paróquia sente a necessidade de se renovar com a conversão pastoral da qual falou o Papa Francisco. Também teremos o testemunho do bispo auxiliar de Bogotá. Então, não esqueçam que esta Igreja em saída, como nos ensinou o Papa, também faz uma opção fundamental pelos pobres: Dom Ciotti, fundador do grupo Abel, nos dará o seu testemunho. Nos dará sugestões sobre as repercussões sociais da proclamação do Evangelho. Também estará presente o arcebispo metropolitano de Aleppo. Portanto, uma série de reflexões de todas as partes do mundo, que mantêm unido o grande dinamismo da evangelização.
 
Por conseguinte, belos testemunhos de uma Igreja em saída, através da evangelização e através das periferias existenciais e geográficas do mundo…

Fisichella: Vejamos como foi recebido até ao momento o ensinamento do Papa. Queremos dar mais força e perspetiva aos conteúdos da exortação apostólica Evangelii gaudium
 
VN

26 novembro, 2019

SER CRISTÃO

 
 
 
 
Ser Cristão
é ser coração,
é ser Fé
é ser Razão,
é acreditar
para além do ver,
para além do ouvir,
para além do falar,
para além do fim,
para além de mim!

Ser Cristão
é ser coração,
de Cristo,
por Cristo
com Cristo,
e em Cristo,  
para os outros.


Monte Real, 26 de Novembro de 2019
Joaquim Mexia Alves

O Papa: o não ao uso e posse de armasómicas entre no Catecismo

 
 Francisco no encontro com os jornalistas no voo papal  (ANSA)
 
No voo Tóquio-Roma Francisco reitera a forte mensagem de Hiroshima, expressando dúvidas também sobre as centrais nucleares até que não haja segurança total. A propósito da investigação financeira, ele diz: "Estou contente porque é a primeira vez que no Vaticano a panela é destapada a partir de dentro, não de fora”. 
 
Do voo Tóquio-Roma

“O uso das armas nucleares é imoral, por isso deve ser introduzido no Catecismo da Igreja Católica (CIC), e não somente o uso, mas também a posse, porque um acidente, ou a loucura de algum governante, a loucura de um pode destruir a humanidade.” No diálogo durante o voo que de Tóquio o trazia de volta para Roma, o Papa Francisco respondeu a muitas perguntas dos jornalistas a bordo, reiterando a forte condenação pronunciada em Hiroshima no sentido de fazer compreender o seu valor magisterial. Eis a transcrição feita pelo Vatican News.

“Agradeço a vocês pelo trabalho – disse o Papa no início do encontro –, por uma viagem intensa com uma mudança de categoria: uma coisa era a Tailândia e outra o Japão. Não se pode avaliar as coisas com as mesmas categorias, as realidades devem ser avaliadas com aquilo que provém da categoria em questão. Japão e Tailândia são duas realidades completamente diferentes. Por isso é necessário o trabalho dobrado, e obrigado a vós por isso, também pelos dias muito intensos, eu me senti próximo de vós neste trabalho.”

Padre Makoto Yamamoto, Catholic Shimbum

Nós agradecemos ao senhor de coração por ter vindo de muito distante ao Japão. Sou sacerdote diocesano próximo de Nagasaki. O senhor visitou Nagasaki e Hiroshima, como se sentiu? A sociedade e a Igreja ocidental têm algo a aprender da sociedade e da Igreja oriental?

“Começo pela última. Um dito me iluminou muito: lux ex Oriente, ex Occidente luxus. A luz vem do Oriente, o luxo, o consumismo vem do Ocidente. Há essa sabedoria oriental, que não é sabedoria somente de conhecimento, mas de tempos, de contemplação. Ajuda muito à nossa sociedade ocidental – sempre demasiadamente às pressas – aprender a contemplação, a deter-se e olhar as coisas também poeticamente. Essa é uma opinião pessoal, mas creio que falte ao Ocidente um pouco de poesia a mais. Há coisas poéticas belíssimas, mas o Oriente vai além. O Oriente é capaz de ver as coisas com olhos que vão além, não gostaria de usar a palavra ‘transcendental’ porque alguns religiosos orientais não acenam à transcendência, mas a uma visão além do limite da imanência, sem porém dizer transcendência. Por isso uso expressões como poesia, gratuitidade, a busca da própria perfeição no jejum, nas penitências, na leitura da sabedoria dos sábios orientais. Creio que fará bem a nós ocidentais parar um pouco e dar tempo à sabedoria.

Nagasaki e Hiroshima ambas sofreram com a bomba atóimica, e isto as faz assemelharem-se. Mas há uma diferença. Nagasaki não teve somente a bomba, mas também os cristãos. Nagasaki tem raízes cristãs, o cristianismo é antigo, havia perseguição aos cristãos em todo o Japão, mas em Nagasaki foi muito forte. O secretário da Nunciatura presenteou-me com um fac-símile em madeira onde está escrito o “wanted” daquele tempo: procuram-se cristãos! Se encontrares um, denuncia-o e serás bem compensado, se encontrares um sacerdote, denuncia-o e serás bem compensado. Isto impressiona, foram séculos de perseguições, este é um fenómeno cristão que de certo modo ‘relativiza’, no sentido bom da palavra, a bomba atómica. Ao invés, ir a Hiroshima é somente para (recordar, ndr) a bomba atómica, porque não é uma cidade cristã como Nagasaki. Por isso eu quis ir a ambas, em ambas houve o desastre atómico. Hiroshima foi uma verdadeira catequese humana sobre a crueldade, não pude ver o museu de Hiroshima por motivos de tempo, porque foi um dia difícil (devido ao ritmo intenso, ndr), mas dizem que é terrível: cartas dos Chefes de estado, dos generais que explicavam como se podia fazer um desastre maior. Para mim foi uma experiência muito mais comovente. E ali reiterei que o uso das armas nucleares é imoral, por isso deve ser introduzido no Catecismo da Igreja Católica, e não somente o uso, mas também a posse, porque um acidente, ou a loucura de algum governante, a loucura de um pode destruir a humanidade. Pensemos naquele dito de Einstein: ‘A quarta guerra mundial será combatida com paus e pedras’.”

Shinichi Kawarada, The Asahi Shimbum

Como o senhor precisamente indicou, não se faz uma paz duradoura sem um desarmamento. O Japão é um país que goza da proteção nuclear dos EUA, e é também produtor de energia nuclear, o que comporta um grande risco como aconteceu em Fukushima. Como pode o Japão contribuir para a paz mundial? As centrais nucleares deveriam ser desativadas?

“Volto a falar sobre a posse de indústrias nucleares. Pode acontecer um acidente, o tríplice desastre (o terremoto, o tsunami e o desastre nuclear da central de Fukushima em 2011, ndr), vocês o experimentaram. O nuclear é o limite, devemos abandonar as armas porque elas são destruição. O uso do nuclear está muito no limite porque ainda não alcançamos uma segurança total. Você poderia dize-me que também com a energia elétrica se pode provocar um desastre por uma insegurança, mas seria um pequeno desastre. O desastre de uma central nuclear será um grande desastre. E a segurança ainda não foi elaborada. É uma opinião pessoal, eu não usaria a energia nuclear enquanto não houver uma segurança total sobre a sua utilização. Alguns dizem que é um risco para a custódia da criação e que a energia nuclear deve ser suspensa. Eu detenho-me sobre a segurança. Não há condições para garantir a impossibilidade de um acidente. Sim, um em cada dez anos no mundo. Além disto há a criação, o desastre da potência nuclear sobre a criação, sobre a pessoa. Houve o acidente na Ucrânia, (em Chernobyl, 1986, ndr). Devemos pesquisar sobre a segurança, quer para evitar acidentes, quer para as consequências sobre o ambiente. Sobre o ambiente creio que fomos além do limite, na agricultura com os pesticidas, na criação de frangos com os médicos que orientam as mães a não dar às crianças para comer aqueles frangos de criação porque são criados com os hormónios e fazem mal à saúde. Muitas doenças raras que hoje existem devido ao mau uso do ambiente. A custódia do ambiente é uma coisa que ou se faz hoje ou nunca mais. Mas voltando à energia nuclear: construção, segurança e custódia da criação.”

Elisabeth Zunica , Kyoto News

Akamada Iwao é um japonês condenado à morte, à espera da revisão do processo. Estava presente na missa na Tóquio Dome, mas não teve como falar com o senhor. Estava programado um breve encontro com o senhor? O tema da pena de morte é muito discutido no Japão. Pouco antes da reforma do Catecismo sobre este tema foram executadas treze condenações à morte. Em seus discursos não há uma referência a essa questão. O senhor falou sobre isso com o premier Shinto Abe?

“Sobre aquele caso de pena de morte, eu fiquei sabendo depois, não sabia daquela pessoa. Falei com o primeiro-ministro sobre muitos problemas, sobre processos, condenações eternas que jamais acabam, quer com a morte, quer sem ela. Mas falei de problemas gerais, que existem também em outros países: os cárceres superlotados, as pessoas que aguardam com uma prisão preventiva sem presunção de inocência. Quinze dias atrás fiz um pronunciamento para o Simpósio Internacional de Direito Penal e falei sobre esse tema. Não se pode utilizar a pena de morte, não é moral. Isso deve ser unido a uma consciência que se desenvolve. Por exemplo, alguns países não podem aboli-la por problemas políticos, mas fazem uma suspensão que é um modo de dar a prisão perpétua sem declará-la. Mas a condenação deve ser sempre para a reinserção, uma condenação sem janelas de horizonte não é humana. Também para a prisão perpétua se deve pensar sobre como o condenado possa se reinserir, dentro ou fora. O senhor me dirá: mas há condenados por um problema de loucura, doença, incorrigibilidade genética... Então é preciso buscar o modo a fim de que desempenhem atividades que lhes façam sentir-se pessoas. Em muitas partes do mundo os cárceres estão superlotados, são depósitos de carne humana, que ao invés de crescer de modo salutar muitas vezes se corrompe. Devemos lutar contra a pena de morte lenta. Existem casos que me dão alegria porque há países que dizem: nós paramos por aqui. Um governador de um Estado no ano passado, antes de deixar o encargo, fez a suspensão quase definitiva: são passos de uma consciência humana. Mas alguns países ainda não conseguiram incorporar-se nessa linha de humanidade.”

Jean-Marie Guénois, Le Figaro

O senhor disse que a paz verdadeira pode ser somente desarmada, mas o que acontece com a legítima defesa, quando um país é atacado por outro? Existe ainda a possibilidade de uma guerra justa? Ainda está em projeto uma encíclica sobre a não-violência?

“Um projeto, o próximo Papa o fará... Há projetos que estão na gaveta. Um sobre a paz está lá, está amadurecendo. Sinto que quando for o momento o farei. Por exemplo, o problema do bullyng é um problema de violência, falei sobre isso aos jovens japoneses. É um problema que estamos buscando resolver com muitos programas educacionais. É um problema de violência. Uma encíclica sobre a não-violência ainda não a vejo amadurecida, devo rezar muito e devo buscar o caminho. Há aquele dito romano: Si vis pacem para bellum. Aí não fomos maduros, as organizações internacionais não conseguem, as Nações Unidas não conseguem, fazem muitas mediações meritórias, país como a Noruega sempre está disposto a mediar, me apraz, mas é pouco, é preciso fazer ainda mais. Pense no Conselho de Segurança da ONU, se há um problema com as armas e todos estão de acordo para resolver aquele problema para evitar um incidente bélico, todos votam sim, um com direito de veto vota não e tudo se bloqueia. Não sei julgar se é bom ou não, é uma opinião que ouvi, mas talvez as Nações Unidas deveriam dar um passo avante renunciado no Conselho de Segurança ao direito de veto que algumas nações têm. Ouvi isso como uma possibilidade. No equilíbrio mundial há temas que neste momento não sou capaz de julgar. Porém, tudo aquilo que se pode fazer para deter a produção das armas, para favorecer a negociação, com a ajuda dos facilitadores, isso se deve fazer sempre, e dá resultados. Por exemplo, no caso da Ucrânia-Rússia, não se fala de armas, houve a negociação para a troca de prisioneiros, isso é positivo. No Donbass se pensa numa planificação de um regime governamental diferente, estão discutindo sobre isso. Esse é um passo positivo. Uma coisa feia é a hipocrisia ‘armamentista’. Países cristãos, países europeus que falam de paz e vivem das armas, isso é hipocrisia, uma palavra evangélica, Jesus fala sobre isso no capítulo 23 de Mateus: é preciso acabar com essa hipocrisia. É preciso a coragem de dizer: ‘Não posso falar de paz, porque a minha economia lucra muito com as armas’. São todas coisas sobre as quais se falar como irmãos, em prol da fraternidade humana, sem insultar e sem macular esse ou aquele país: paremos rapaziada, porque a coisa não é boa. Num porto chegou de um país uma embarcação que deveria passar as armas a outra embarcação para ir para o Iêmen, e os trabalhadores do porto disseram ‘não’. Fizeram bem e a embarcação voltou para seu lugar de partida. É um caso, mas nos ensina como se deve seguir nessa direção. Hoje a paz é muito frágil, mas não se deve desencorajar-se. A hipótese da legítima defesa permanece sempre, mesmo na teologia moral é contemplada, mas como último recurso. Último recurso às armas. A legítima defesa deve ser feita com a diplomacia, com as mediações. Ultimo recurso: legítima defesa com as armas. Mas ressalto: último recurso! Nós seguimos avante num progresso ético que me agrada, ao colocar em questão toda essas coisas. Isso é bonito porque diz que a humanidade segue adiante com o bem, não somente com o mal.”

Cristiana Caricato, TV 2000
 
As pessoas leem nos jornais que a Santa Sé comprou imóveis que custaram milhões no centro de Londres e fica um pouco espantada com esse uso das finanças do Vaticano, em particular quando está envolvido o Óbolo de São Pedro. O senhor sabia dessas transações financeiras e, sobretudo, na sua opinião, o uso do Óbolo está correto? O senhor disse várias vezes que não se deve ganhar dinheiro com dinheiro, denunciou o uso sem escrúpulo das finanças, mas depois vemos que essas operações também envolvem a Santa Sé, e isso escandaliza. Como o senhor vê toda essa história?

«Obrigado. Primeiramente, a boa administração normal: chega a soma do Óbolo de São Pedro. O que eu faço, coloco na gaveta? Não, isso é má administração! Procuro fazer um investimento e quando preciso doar, quando há necessidade, em um ano, pega-se (o dinheiro, ndr) e esse capital não se desvaloriza, se mantém ou cresce um pouco. Esta é uma boa administração. A administração da gaveta é má. Mas é preciso buscar uma boa administração, um bom investimento. Está claro? Um investimento como dizemos, “das viúvas”, como fazem as viúvas: dois ovos aqui, três ali, cinco acolá. Se um cai, há outro, não se arruína. Sempre seguro e moral. Se você faz um investimento do Óbolo de São Pedro na fábrica de armamentos, o Óbolo não será Óbolo ali. Se você faz um investimento e durante anos não mexe no capital, não é bom. O Óbolo de São Pedro deve ser gasto em um ano, um ano e meio, até que chegue a outra coleta que se faz mundialmente. Isso é boa administração: com segurança. Pode-se comprar também uma propriedade, alugá-la e depois vendê-la, mas com segurança, com todas as seguranças para o bem das pessoas do Óbolo. Depois, aconteceu o que aconteceu, um escândalo: fizeram coisas que não pareciam limpas, mas a denúncia não veio de fora. A reforma da metodologia econômica que começou com Bento XVI foi adiante e foi o Revisor das contas internas quem disse: aqui há algo ruim, aqui tem coisa que não funciona. Veio até mim e eu lhe disse: O senhor está seguro? Sim. Respondeu-me. Mostrou-me e me perguntou: O que devo fazer? Eu disse: Existe a justiça vaticana. Vai e faça a denúncia ao Promotor de Justiça. E fiquei contente por isso porque se vê que a administração vaticana agora tem recursos para esclarecer as coisas ruins que aconteceram dentro, como neste caso, que se não é o caso do imóvel de Londres, porque isso ainda não está claro, ali havia casos de corrupção. O Promotor de Justiça estudou a questão, fez consultorias e viu que havia um desequilíbrio no orçamento. Depois, pediu-me permissão para fazer as investigações: há um pressuposto de corrupção e me disse que que ele tinha que fazer investigação nesta, naquela e naquela outra repartição. Eu assinei a autorização. A investigação foi realizada em cinco escritórios e hoje, embora exista a suposição de inocência, existem capitais que não são bem administrados, também com a corrupção. Acredito que em menos de um mês terão início os interrogatórios das cinco pessoas que foram bloqueadas porque houve indícios de corrupção. Você poderá me dizer: esses cinco são corruptos? Não, a suposição de inocência é uma garantia, um direito humano. Mas há corrupção, se vê. Com as investigações veremos se são culpados ou não. É uma coisa feita. Não é bonito que isso aconteça no Vaticano. Mas foi esclarecido pelos mecanismos internos que começam a funcionar e que o Papa Bento tinha começado a fazer. Por isso, eu agradeço a Deus. Não agradeço a Deus porque há corrupção, mas agradeço a Ele porque o sistema de controle vaticano funciona bem».

Philip Pullella, Reuters

Há preocupação nas últimas semanas com aquilo que está acontecendo nas finanças do Vaticano e, na opinião de alguns, há uma guerra interna sobre quem deve controlar o dinheiro. A maior parte dos membros do Conselho de administração da AIF (Autoridade de Informação Financeira, ndr) se demitiu. Egmont, que é o grupo dessas autoridades financeiras, suspendeu o Vaticano das comunicações seguras depois do ataque de 1º de outubro. O diretor da AIF foi suspenso, como o senhor disse, e ainda não há um revisor-geral. O que o senhor pode fazer ou dizer para garantir à comunidade financeira internacional e aos fiéis chamados a contribuir ao Óbolo que o Vaticano não voltará a ser considerado um paria a ser excluído, do qual não confiar, e que as reformas continuarão e que não se voltará aos hábitos do passado?

«O Vaticano fez progressos na sua administração: por exemplo, o IOR hoje é aceito por todos os bancos e pode agir como os bancos italianos, algo que um ano atrás não existia, houve progressos. Depois, sobre o grupo Egmont: é algo não oficial internacional, é um grupo de membros da AIF, e o controle internacional não depende do grupo Egmont, que é um grupo privado, mesmo que tenha o seu peso. Monyeval fará a inspeção programada para os primeiros meses do ano próximo, será feita. O diretor da AIF foi suspenso porque havia suspeitas de uma gestão não eficiente. O presidente da AIF se esforçou com o grupo Egmont para recuperar a documentação (sequestrada, ndr) e isso a justiça não pode fazê-lo. Diante disto, consultei um magistrado italiano, importante: que devo fazer? A justiça diante de uma acusação de corrupção é soberana num país, ninguém pode interferir lá dentro, ninguém pode dar os papéis ao grupo Egmont. Devem ser estudados os documentos que fazem emergir aquilo que parece uma má administração, no sentido de um controle mal feito: parece que a AIF que não controlou os delitos dos outros. O seu dever era controlar. Eu espero que se prove que não é assim, agora há a presunção de inocência. Mas, no momento, o magistrado é soberano e deve estudar como as coisas aconteceram; do contrário, um país teria uma administração superior que prejudicaria a sua soberania. O presidente da AIF terminaria no dia 19 (novembro, ndr), eu o chamei alguns dias antes e ele não se deu conta, disse-me depois. E anunciei que no dia 19 ele deixava. Já encontrei o sucessor, um magistrado de altíssimo nível jurídico e econômico nacional e internacional, e na minha volta assumirá o cargo da presidência da AIF. Seria um contrassenso que a autoridade de controle fosse soberana acima do Estado. É algo não fácil de entender. O que um pouco prejudicou foi o grupo Egmont, que é um grupo privado: ajuda muito, mas não é a autoridade de controle de Moneyval. Moneyval estudará os números, estudará os procedimentos, estudará como agiu o promotor de justiça e como o juiz e os juízes determinaram a coisa. Eu sei que nesses dias começará o interrogatório de algumas das cinco pessoas que foram suspensas. Não é fácil, mas não devemos ser ingênuos, não devemos ser escravos. Alguém me disse, mas eu não acredito: com o fato de que tocamos o grupo Egmont, as pessoas se assustam e está sendo feito um pouco de terrorismo (psicológico, ndr). Vamos deixar isso de lado. Nós vamos avante com a lei, com Moneyval, com o novo presidente da AIF. E o diretor foi suspenso: espero que seja inocente, eu gostaria, porque é algo belo que uma pessoa seja inocente e não culpada, eu espero. Mas foi feito um pouco de barulho com este grupo que não queria que fossem tocados os documentos que pertenciam ao grupo.


É a primeira vez no Vaticano que a panela é destampada a partir de dentro, não de fora. De fora tantas vezes (isso aconteceu, ndr). Isso nos foi dito tantas vezes e nós com tanta vergonha... Mas o Papa Bento foi sábio, começou um processo que amadureceu, amadureceu e agora existem as instituições. Que o revisor tenha tido a coragem de fazer uma denúncia escrita contra cinco pessoas está funcionando... Realmente, não quero ofender o grupo Egmont, porque promove tanto bem, ajuda, mas neste caso a soberania do Estado é a justiça, que é mais soberana que o poder executivo. Não é fácil de entender, mas lhes peço que entendam».

Roland Juchem, CIC
 
Santo Padre, no voo de Bangcoc a Tóquio, o senhor enviou um telegrama a Carrie Lam de Hong Kong. O que o senhor acha da situação ali, com as manifestações e as eleições municipais? E quando podemos acompanhá-lo a Pequim?

"Os telegramas são enviados a todos os Chefes de Estado, é uma coisa automática de saudação e é também uma forma educada de pedir permissão para sobrevoar o seu território. Isto não significa condenação ou apoio. É uma coisa mecânica que todos os aviões fazem quando tecnicamente entram, avisam que estão entrando, e nós o fazemos com cortesia. Isto não tem nenhum valor no sentido da sua pergunta, tem apenas valor de cortesia. Sobre a outra coisa que o senhor me disse: se pensamos nisso, não é só Hong Kong. Pense no Chile, pense na França, na democrática França: um ano de coletes amarelos. Pense na Nicarágua, pense em outros países latino-americanos que têm problemas do gênero e também em alguns países europeus. É uma coisa geral. O que faz a Santa Sé com isto? Apela ao diálogo, à paz, mas não é só Hong Kong, há várias situações com problemas que não sou capaz de avaliar neste momento. Eu respeito a paz e peço paz para todos estes países que têm problemas, incluindo a Espanha. Convém relativizar as coisas e apelar ao diálogo, à paz, para que se resolvam os problemas. E finalmente: Eu gostaria de ir a Pequim, eu amo a China".

Valentina Alazraki, Televisa

Papa Francisco, a América Latina está em chamas. Vimos depois da Venezuela e do Chile imagens que não pensávamos ver depois de Pinochet. Vimos a situação na Bolívia, na Nicarágua ou em outros países: revoltas, violência nas ruas, mortes, feridos, igrejas até queimadas, violadas. Qual é a sua análise do que está ocorrendo nestes países? A Igreja e os senhor, pessoalmente, como Papa latino-americano, estão fazendo alguma coisa?

"Alguém me disse isto: é preciso fazer uma análise. A situação hoje na América Latina se parece com a de 1974-1980, no Chile, Argentina, Uruguai, Brasil, Paraguai com Strössner, e creio também Bolívia... eles tinham a Operação Condor naquele momento... Uma situação em chamas, mas eu não sei se é um problema que se parece ou é outro. Realmente neste momento eu não sou capaz de fazer a análise disso. É verdade que não existem precisamente declarações de paz. O que está ocorrendo no Chile assusta-me, porque o Chile está saindo de um problema de abusos que causou tanto sofrimento e agora um problema deste tipo que não compreendemos bem. Mas está em chamas, como a senhora disse, e temos de procurar o diálogo e também a análise. Ainda não encontrei uma análise bem feita da situação na América Latina e também há governos fracos, muito fracos, que não conseguiram colocar ordem e paz, e é por isso que chegamos a essa situação".

Valentina Alazraki, Televisa
 
Evo Morales pediu a sua mediação, por exemplo. Coisas concretas...

"Sim, coisas concretas. A Venezuela pediu mediação e a Santa Sé sempre se mostrou disponível. Há uma boa relação, realmente uma boa relação, estamos lá presentes para ajudar quando é necessário. A Bolívia fez algo assim e fez um pedido às Nações Unidas que enviaram delegados, e até também alguém das nações europeias. Não sei se o Chile fez algum pedido de mediação internacional, o Brasil certamente não, mas ali também há problemas. É um pouco estranho, mas não quero dizer uma palavra a mais porque sou incompetente e não estudei bem e sinceramente não entendo bem.

Aproveito a sua pergunta para acrescentar que vocês falaram pouco sobre a Tailândia, que é algo diferente do Japão, uma cultura de transcendência, uma cultura também de beleza diferente da beleza do Japão: uma cultura, tanta pobreza e tantas riquezas espirituais. Mas há também um problema que faz mal ao nossos corações que nos faz pensar na "Grécia e nos outros", a senhora é mestra neste problema da exploração, estudou-o bem, e o seu livro fez tanto bem. E na Tailândia, alguns lugares na Tailândia são difíceis por isso. Mas há a Tailândia do sul, e há também a bela Tailândia do norte, onde eu não pude ir, que é tribal e tem toda uma outra cultura. Recebi cerca de vinte pessoas daquela região, primeiros cristãos, primeiros batizados, que vieram a Roma, com outra cultura, diferente, as culturas tribais. E Bangcoc, como vimos, é uma cidade forte, muito moderna, mas tem problemas diferentes dos do Japão e tem riquezas diferentes das do Japão. Sobre o problema da exploração, eu quis sublinhá-lo para agradecê-la pelo seu livro, assim como gostaria também de agradecer o livro "verde" de Franca Giansoldati: duas mulheres que estão no avião e que fizeram um livro; cada uma aborda os problemas de hoje; o problema ecológico e o problema da destruição da mãe terra, do meio ambiente, e o problema da exploração humana que a senhora tocou. Podemos ver que as mulheres trabalham mais do que os homens e são capazes. Obrigado a vocês duas, por esta contribuição. E não me esqueço da camisa de Rocio (a referência é à camisa de uma mexicana assassinada, que Valentina Alzraki doou ao Papa durante uma entrevista em vídeo nos meses passados, ndr). E obrigado pelas perguntas diretas, isso faz bem. Rezem por mim. Tenham um bom almoço".

VN