22 novembro, 2019

Papa aos líderes religiosos: é tempo de ousar a lógica do encontro e do diálogo


 Papa Francisco no encontro com os líderes religiosos  (Vatican Media)

O Papa Francisco reuniu-se com os líderes religiosos cristãos e afirmou que todos são chamados não só a prestar atenção à voz dos pobres que estão em nosso redor, mas também a não ter medo de gerar instâncias onde se unirem e trabalharem juntos.

Silvonei José – Cidade do Vaticano 

O primeiro compromisso do Papa Francisco na tarde desta sexta-feira em Bangcoc (hora local), no âmbito da sua 32ª Viagem Apostólica Internacional foi o encontro com líderes cristãos e de outras religiões. Presentes também no encontro, que se realizou na Universidade Chulalongkorn, representantes da Comunidade Universitária.

No seu discurso o Papa Francisco, depois de ouvir a saudação de dom Sirisut (responsável pelo diálogo ecuménico) e do Dr. Bundit Eua-arporn (Reitor da Universidade) recordou que há cento e vinte e dois anos atrás, em 1897, o rei Chulalongkorn, de quem recebe o nome esta primeira Universidade, visitou Roma e teve uma Audiência com o Papa Leão XIII: pela primeira vez, um Chefe de Estado não cristão foi recebido no Vaticano.

A recordação daquele encontro importante – disse Francisco -, bem como o período do seu reinado que conta, entre tantos méritos, a abolição da escravatura, desafiam-nos e encorajam-nos a assumir decidido protagonismo no caminho do diálogo e da compreensão mútua.

E encorajam-nos a fazê-lo – continuou o Papa – “num espírito de fraterna colaboração que ajude a pôr fim a tantas escravidões que persistem nos nossos dias; penso especialmente no flagelo do tráfico e exploração de pessoas”.

O mundo de hoje - sulinhou Francisco -, enfrenta problemáticas complexas, como a globalização económico-financeira e as suas graves consequencias no desenvolvimento das sociedades locais; os rápidos progressos, que aparentemente promovem um mundo melhor, coexistem com a trágica persistência de conflitos – conflitos sobre migrantes e refugiados, conflitos devido a carestias e conflitos bélicos – e também com a degradação e destruição da nossa casa comum.

Todas estas situações – disseo Santo Padre -, lembram-nos e alertam-nos de que nenhuma região ou setor da nossa família humana se pode conceber ou construir alheia ou imune relativamente aos outros.

O Pontífice afirmou que hoje é tempo de ousar imaginar a lógica do encontro e do diálogo mútuo como caminho, a colaboração comum como conduta e o conhecimento recíproco como método e critério. E, assim, oferecer um novo paradigma para a resolução dos conflitos, contribuir para o entendimento entre as pessoas e para a salvaguarda da criação.

Penso que as religiões – disse Francisco - como também as universidades, sem precisar de renunciar às próprias caraterísticas e aos próprios dons particulares, têm muito para contribuir e oferecer neste campo; tudo o que fizermos neste sentido é um passo significativo para garantir às gerações mais jovens o seu direito ao futuro, e será também um serviço à justiça e à paz.

As grandes tradições religiosas do mundo dão testemunho dum património espiritual, transcendente e amplamente partilhado, que pode oferecer sólidas contribuições nesse sentido, se formos capazes de nos aventurar a não ter medo de nos encontrarmos.

Todos somos chamados - frisou o Papa -, não só a prestar atenção à voz dos pobres que estão em redo de nós – marginalizados, oprimidos, povos indígenas e minorias religiosas –, mas também a não ter medo de gerar instâncias (como timidamente já se começa a verificar) onde nos possamos unir e trabalhar juntos.

O Santo Padre recordou que todos são solicitados a abraçar o imperativo de defender a dignidade humana e respeitar os direitos de consciência e liberdade religiosa e criar espaços onde se ofereça um pouco de ar fresco, na certeza de que «nem tudo está perdido, porque os seres humanos, capazes de tocar no fundo da degradação, podem também superar, voltarem a escolher o bem e regeneraem-se, para além de qualquer condicionalismo psicológico e social que lhes seja imposto» (Laudato si’, 205).

Francisco disse que a Tailândia, país de grande beleza natural, tem uma nota distinta que considera essencial e, de certo modo, “parte das riquezas que haveis de «exportar» e partilhar com as outras regiões da nossa família humana: vós tendes apreço e cuidado pelos vossos idosos, respeitai-los e reservai-lhes um lugar preferencial, para que vos garantam as raízes necessárias e assim o vosso povo não se corrompa  seguindo certos slogans que acabam por esvaziar e hipotecar a alma das novas gerações".

Francisco fez um agradecimento particular aos educadores e académicos da Tailândia, que trabalham por proporcionar às gerações presentes e futuras as aptidões e sobretudo a sabedoria de raiz ancestral que lhes permitirão participar na promoção do bem comum da sociedade.

Todos somos membros da família humana e cada qual – finalizou o Papa -, no lugar que ocupa, é chamado a ser ator e corresponsável direto na construção duma cultura baseada em valores compartilhados que levem à unidade, ao respeito mútuo e à convivência harmoniosa.


VN

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