31 dezembro, 2019

Te Deum com o Papa: com Deus, fazer novas todas as coisas

 
 
“Deus habita no meio do seu Povo, caminha com ele e vive a sua vida. A sua fidelidade é concreta, é proximidade à existência cotidiana dos seus filhos. Ou melhor, quando Deus quer fazer novas todas as coisas, por meio do seu Filho, não começa do templo, mas do ventre de uma mulher pequena e pobre, do seu Povo.”
 
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

Agradeçamos a Deus pela sua graça que nos amparou neste ano e, com alegria, elevemos a Ele o canto de louvor: com espírito de gratidão o Papa Francisco presidiu às vésperas da Solenidade de Maria Mãe de Deus na Basílica Vaticana, na tradicional cerimónia com o Te Deum. 

Novos olhos

Na sua homilia, o Pontífice fez um paralelo entre as cidades de Jerusalém e de Roma, inspirado no capítulo quarto de Gálatas: “Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho”. Em Jerusalém, afirmou, nenhum dos habitantes percebe que o Filho de Deus feito homem está a caminhar pelas ruas, provavelmente nem mesmo os seus discípulos.

As palavras e os sinais de salvação que Ele realiza na cidade suscitam estupor e um entusiasmo momentâneo, mas não são acolhidos no seu pleno significado.
“Na cidade, Deus fincou a sua tenda... e dali jamais se afastou! A sua presença na cidade, também nesta nossa cidade de Roma, não deve ser fabricada, mas descoberta e desvelada. Somos nós que devemos pedir a graça de olhos novos.”
Olhos novos capazes de um “olhar contemplativo”, isto é, um olhar de fé que descubra Deus que habita nas nossas casas, ruas e praças da cidade. 

A partir do ventre de uma mulher

Nas escrituras, explicou o Papa, os profetas alertam para a tentação de relacionar a presença de Deus somente no templo.
“Ele habita no meio do seu Povo, caminha com ele e vive a sua vida. A sua fidelidade é concreta, é proximidade à existência quotidiana dos seus filhos. Ou melhor, quando Deus quer fazer novas todas as coisas por meio do seu Filho, não começa do templo, mas do ventre de uma mulher pequena e pobre, do seu Povo.”
“É extraordinária esta escolha de Deus!”, exclamou Francisco. Ele não transforma a história através dos homens poderosos das instituições civis e religiosas, mas a partir das mulheres da periferia do império, como Maria, e dos ventres estéreis, como o de Isabel.

“Gostaria esta noite que o nosso olhar sobre a cidade de Roma colhesse as coisas do ponto de vista do olhar de Deus”, disse ainda o Papa, afirmando que Deus exulta ao ver as inúmeras obras de bem que são realizadas todos os dias.

“Roma não é somente uma cidade complicada, com muitos problemas, desigualdades, corrupção e tensões sociais. Roma é uma cidade em que Deus envia a sua Palavra”, que encontra morada no coração dos seus habitantes e os leva a acreditar não obstante tudo. 

A escuta é um ato de amor

O Pontífice citou as inúmeras pessoas “corajosas” – fiéis ou não – que encontrou nestes anos e que representam o coração “palpitante” de Roma. Através dos pequeninos e dos pobres, Deus jamais deixou de mudar a história e o rosto da cidade, inspirando-os a construir pontes e não muros.

O Senhor chama a todos a lançarem-se no meio da multidão, a colocarem-se à escuta. A escuta, aliás, é um ato de amor:
“Ter tempo para os outros, dialogar, reconhecer com um olhar contemplativo a presença e a ação de Deus nos demais, testemunhar com os factos, mais do que as palavras, a vida nova do Evangelho, é realmente um serviço de amor que transforma a realidade.”
Deste modo, acrescentou Francisco, na cidade e também na Igreja circula ar novo, vontade de se colocarem em caminho, de superar as antigas lógicas de contraposição, para colaborar juntos, edificando uma cidade mais justa e fraterna.

O Papa concluiu recordando que não devemos ter medo ou nos sentir inadequados para uma missão assim tão importante. “Lembrem-mo-nos: Deus não nos escolhe pela nossas qualidades, mas precisamente porque somos e nos sentimos pequenos. Agradeçamos a Deus pela sua graça que nos amparou neste ano e, com alegria, elevemos a Ele o canto de louvor.”
 
VN

Assembleia do Aniversário do RCC da Diocese de Lisboa



Assembleia do Aniversário do RCC da Diocese de Lisboa

PROGRAMA

(Santuário de Nossa Senhora da Nazaré)
5 de janeiro de 2020

10H15 – Acolhimento no Santuário de Nossa Senhora da Nazaré;

10H30 – Animação e Oração de Louvor. Na oportunidade o Grupo local do RCC “Nossa Senhora da Nazaré” levará a efeito uma representação/dramatização sobre o milagre de Nossa Senhora com D. Fuas Roupinho;

11H30 – Eucaristia dominical da comunidade paroquial, participada e animada pelos Grupos de Oração presentes

13H00 – Almoço (partilhado), no Centro Pastoral Stella Maris, sito na Rua da Paz, nº 86

14H30 – Também no Stella Maris, ensinamento conduzido pela Irmã Verónica Benedito da Congregação da Aliança de Santa Maria e subordinado ao tema “Discípulos de Jesus na pegada de Maria”;

15H30 – Testemunhos de vida e fé;

16H00 – Adoração ao Santíssimo Sacramento e consagração do RCC a Nossa Senhora;

17H00 – Encerramento.

                                                 Pela Equipa de Serviço Diocesano,
                                                           Diac Armando Marques

O modelo de paz do Papa Francisco


Papa Francisco

Recordamos, através das palavras do Papa, as mensagens para o Dia Mundial da Paz de 2014 a 2020. No dia 1º de janeiro, Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, será celebrado o 53º Dia Mundial da Paz e Francisco presidirá a Santa Missa na Basílica Vaticana  

Amedeo Lomonaco – Cidade do Vaticano 

Corações banhados pela fraternidade, vidas libertadas das escravidões, olhares capazes de vencer a indiferença, sementes de não violência para promover a paz. Mas também mãos estendidas para os migrantes e refugiados, passos inspirados pela boa política e caminhos de diálogo e de reconciliação. O olhar que ilumina as mensagens do Papa Francisco para os Dias Mundiais da Paz é dirigido para estes horizontes cheios de esperança. Mesmo entrelaçando com a realidade de uma sociedade deformada por vários vícios, é um olhar sempre ligado à esperança cristã, ao rosto de Jesus. Dos ensinamentos e das exortações do Papa Francisco para a paz, destaca-se também o nítido perfil de um denso magistério. 

2014: a fraternidade é fundamento de paz

A primeira mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz, em 2014, abre-se com o desejo de formular a “todos, indivíduos e povos”, votos de uma vida repleta de “alegria e esperança”. O documento é baseado na fraternidade, que Francisco enuncia a partir de uma premissa: a fraternidade, que se começa a aprender em família, é “fundamento e caminho para a paz”. Não apenas as pessoas, mas também as nações – explica Francisco recordando a encíclica “Populorum progressio” do Papa Paulo VI – devem encontrar-se “num espírito de fraternidade”. Referindo-se ao magistério de João Paulo II sublinha que a paz É “um bem indivisível”: ou é de todos ou não o é de ninguém”.
“A família é a fonte de toda a fraternidade, sendo por isso mesmo também o fundamento e o caminho primário para a paz, já que, por vocação, deveria contagiar o mundo com o seu amor (Papa Francisco, Mensagem para o dia Mundial da paz de 2014)”
Na família de Deus, onde todos são filhos de um mesmo Pai, não há “vidas descartadas”: a fraternidade, explica o Papa, é também uma “premissa para derrotar a pobreza”. Mas precisa de “políticas eficazes que promovam o princípio da fraternidade, garantindo às pessoas o acesso aos “capitais”, aos serviços, aos recursos educativos, sanitários e tecnológicos”. Francisco convida também a redescobrir a fraternidade na economia, a pensar novamente nos “modelos de desenvolvimento” e a mudar “os estilos de vida”. Com a fraternidade, prossegue Francisco, “apaga-se a guerra” se cada um reconhecer no outro “um irmão a ser cuidado”. Por fim, observa que a fraternidade ajuda também a “guardar e cultivar a natureza”


Escravidão, um abominável fenómeno  

2015: já não escravos, mas irmãos

Na mensagem para o dia Mundial da Paz de 2015 o Papa Francisco detém-se nas profundas feridas que atacam a fraternidade e a vida de comunhão. Entre estas, um “fenómeno abominável” o flagelo generalizado da exploração do homem pelo homem. Ainda hoje, recorda o Santo Padre, “milhões de pessoas são privadas da liberdade e constrangidas a viver em condições semelhantes às da escravatura”. O pensamento do Pontífice é dirigido em particular aos trabalhadores e trabalhadoras, também menores, “escravizados nos mais diversos setores”, aos migrantes que, ao longo do seu trajecto dramático, padecem da fome, são privados da liberdade, abusados física e sexualmente”.
“Hoje como ontem, na raiz da escravatura, está uma conceção da pessoa humana que admite a possibilidade de a tratar como um objeto. Quando o pecado corrompe o coração do homem e o afasta do seu Criador e dos seus semelhantes, estes deixam de ser sentidos como seres de igual dignidade, como irmãos e irmãs em humanidade, passando a ser vistos como objetos”(Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2015)”
Por fim o Papa exorta a “globalizar a fraternidade”. E lança “um veemente apelo a todos os homens e mulheres de boa vontade e a quantos, mesmo nos mais altos níveis das instituições, são testemunhas, de perto ou de longe, do flagelo da escravidão contemporânea, para que não se tornem cúmplices deste mal, não afastem o olhar à vista dos sofrimentos dos seus irmãos e irmãs em humanidade, privados da liberdade e dignidade, mas tenham a coragem de tocar a carne sofredora de Cristo”. 

2016: vencer a indiferença 

A mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2016 é um convite a vencer as várias expressões de indiferença. “A primeira forma de indiferença na sociedade humana – explica o Pontífice – é a indiferença para com Deus”. Da qual deriva também “a indiferença para com o próximo e a criação”. “Quase sem nos dar conta, tornam-mo-nos incapazes de sentir compaixão pelos outros, pelos seus dramas; não nos interessa ocupar-mo-nos com eles, como se aquilo que lhes sucede fosse responsabilidade alheia, que não nos compete”. Numa sociedade tão dilacerada que assume as feições da inércia e da apatia, a paz é ameaçada “pela indiferença globalizada”.
“Quando investe o nível institucional, a indiferença pelo outro, pela sua dignidade, pelos seus direitos fundamentais e pela sua liberdade, de braço dado com uma cultura orientada para o lucro e o hedonismo, favorece e às vezes justifica ações e políticas que acabam por constituir ameaças à paz. Este comportamento de indiferença pode chegar inclusivamente a justificar algumas políticas económicas deploráveis, precursoras de injustiças, divisões e violências… (Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2016)”
A indiferença pelo ambiente natural, sublinha o Papa, “favorecendo o desflorestamento, a poluição e as catástrofes naturais que desenraízam comunidades inteiras do seu ambiente de vida, constrangendo-as à precariedade e à insegurança, cria novas pobrezas”. Por fim Francisco convida a passar da indiferença à misericórdia através da conversão do coração e a promoção de uma cultura de solidariedade. No espírito do Jubileu da Misericórdia, anunciado pelo Papa Francisco em 13 de Março de 2015 “cada um é chamado a reconhecer como se manifesta a indiferença na sua vida e a adoptar um compromisso concreto que contribua para melhorar a realidade onde vive, a começar pela própria família, a vizinhança ou o ambiente de trabalho”. 

2017: não-violência como estilo de uma política pela paz 

A 50ª mensagem para o dia Mundial da Paz 2017 é centralizada no tema da não-violência. “Sejam a caridade e a não-violência a guiar o modo como nos tratamos uns aos outros nas relações interpessoais, sociais e internacionais”. O mundo, recorda o Santo Padre, está cada vez mais dilacerado: “Hoje, infelizmente, encontra-mo-nos a braços com uma terrível guerra mundial aos pedaços”.
“Esta violência que se exerce ‘aos pedaços’, de maneiras diferentes e a variados níveis, provoca enormes sofrimentos de que estamos bem cientes: guerras em diferentes países e continentes; terrorismo, criminalidade e ataques armados imprevisíveis; os abusos sofridos pelos migrantes e as vítimas de tráfico humano; a devastação ambiental. (Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2017)”
A violência, sublinha o Papa, “não é o remédio para o nosso mundo dilacerado”: ser verdadeiros discípulos de Jesus “Hoje, ser verdadeiro discípulo de Jesus significa aderir também à sua proposta de não-violência”. A não-violência praticada com decisão e coerência, recorda Francisco, produziu resultados impressionantes: “Os sucessos alcançados por Mahatma Gandhi e Khan Abdul Ghaffar Khan, na libertação da Índia, e por Martin Luther King Jr. contra a discriminação racial nunca serão esquecidos”. “O próprio Jesus – observa o Papa – oferece-nos um ‘manual’ desta estratégia de construção da paz no chamado Sermão da montanha”: as oito Bem-aventuranças (cf. Mateus 5, 3-10) traçam o perfil da pessoa que podemos definir feliz, boa e autêntica”.

 Papa Francisco com refugiados de Lesbos

2018: migrantes e refugiados, pessoas em busca de paz

Na mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2018, O Papa Francisco convida a abraçar todos os “que fogem da guerra e da fome ou se veem constrangidos a deixar a própria terra por causa de discriminações, perseguições, pobreza e degradação ambiental”. “Oferecer a requerentes de asilo, refugiados, migrantes e vítimas de tráfico humano uma possibilidade de encontrar aquela paz de que andam à procura – escreve Francisco - exige uma estratégia que combine quatro ações: acolher, proteger, promover e integrar”.
“Acolher faz apelo à exigência de ampliar as possibilidades de entrada legal, de não repelir refugiados e migrantes para lugares onde os aguardam perseguições e violências. Proteger lembra o dever de reconhecer e tutelar a dignidade inviolável daqueles que fogem dum perigo real em busca de asilo e segurança, de impedir a sua exploração. Promover alude ao apoio para o desenvolvimento humano integral de migrantes e refugiados. Integrar significa permitir que refugiados e migrantes participem plenamente na vida da sociedade que os acolhe. (Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2018).”
Observando os migrantes e os refugiados com um olhar contemplativo alimentado pela fé, sublinha por fim o Santo Padre, descobre-se que “não chegam de mãos vazias”. “Trazem uma bagagem feita de coragem, capacidades, energias e aspirações, para além dos tesouros das suas culturas nativas, e deste modo enriquecem a vida das nações que os acolhem”.

2019: a boa política ao serviço da paz 

A mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2019 é dedicada ao “desafio da boa política”. “A boa política está ao serviço da paz; respeita e promove os direitos humanos fundamentais, que são igualmente deveres recíprocos, para que se teça um vínculo de confiança e gratidão entre as gerações do presente e as futuras”. Mas na política, acrescenta o Papa, não faltam os vícios, “devidos quer à inépcia pessoal quer às distorções no meio ambiente e nas instituições”.
“Estes vícios, que enfraquecem o ideal duma vida democrática autêntica, são a vergonha da vida pública e colocam em perigo a paz social: a corrupção – nas suas múltiplas formas de apropriação indevida dos bens públicos ou de instrumentalização das pessoas –, a negação do direito, a falta de respeito pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilegal, a justificação do poder pela força ou com o pretexto arbitrário da ‘razão de Estado’, a tendência a perpetuar-se no poder, a xenofobia e o racismo, a recusa a cuidar da Terra, a exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do lucro imediato, o desprezo daqueles que foram forçados ao exílio. (Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2019)”
“Quando o exercício do poder político visa apenas salvaguardar os interesses de certos indivíduos privilegiados – afirma o Papa -  o futuro fica comprometido e os jovens podem ser tentados pela desconfiança, por se verem condenados a permanecer à margem da sociedade, sem possibilidades de participarem num projeto para o futuro. Pelo contrário, quando a política se traduz, concretamente, no encorajamento dos talentos juvenis e das vocações que requerem a sua realização, a paz propaga-se nas consciências e nos rostos. Torna-se uma confiança dinâmica, que significa ‘confio em ti e creio contigo’ na possibilidade de trabalharmos juntos pelo bem comum”. Por isso, conclui o Papa “a política é a favor da paz, expressa-se no reconhecimento dos carismas e capacidades de cada pessoa”. 

2020: paz como caminho de esperança

Na mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2020, Francisco indica a paz como “um bem precioso” e uma meta a ser alcançada apesar dos obstáculos e as provas. “A esperança – escreve o Papa - é a virtude que nos coloca a caminho, dá asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem intransponíveis”. “A nossa comunidade humana – acrescenta - traz, na memória e na carne, os sinais das guerras e conflitos que têm vindo a suceder-se, com crescente capacidade destruidora, afetando especialmente os mais pobres e frágeis” .
“Abrir e traçar um caminho de paz é um desafio muito complexo, pois os interesses em jogo, nas relações entre pessoas, comunidades e nações, são múltiplos e contraditórios. É preciso, antes de mais nada, fazer apelo à consciência moral e à vontade pessoal e política. Com efeito, a paz alcança-se no mais fundo do coração humano, e a vontade política deve ser incessantemente revigorada para abrir novos processos que reconciliem e unam pessoas e comunidades (Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2020)”
O Sínodo recente sobre a Amazónia, recorda o Pontífice, “impele-nos a dirigir, de forma renovada, o apelo em prol duma relação pacífica entre as comunidades e a terra, entre o presente e a memória, entre as experiências e as esperanças”. O Papa convida também a ser-mos artesãos da paz: “O mundo – explica o Papa - não precisa de palavras vazias, mas de testemunhas convictas, artesãos da paz abertos ao diálogo sem exclusões nem manipulações”. “O caminho da reconciliação – sublinha por fim o Papa - requer paciência e confiança. Não se obtém a paz, se não a esperamos”.

VN

O ano do Papa Francisco em imagens



A JMJ do Panamá, o encontro para a proteção dos menores no Vaticano, a assinatura do documento sobre a fraternidade em Abu Dhabi, o Sínodo dos Bispos sobre a Amazónia, a viagem ao Japão e os 50 anos de sacerdócio de Bergoglio....o Vatican News selecionou as imagens que narram o ano de 2019 do Papa Francisco.

VN

Reflexão para o fim de ano

 
Ano Novo
 
Fim de Ano é momento de ação de graças a Deus por todas as nossas realizações!
 
Padre Cesar Augusto dos Santos - Cidade do Vaticano

Fim de ano! Na mente de muitas pessoas, o virar do ano significa jogar fora, despedir-se de tudo aquilo que não foi bom, que causou frustração e sofrimento. Olha-se para o Ano Novo com muita esperança, com fascínio e por vezes até mesmo com um arzinho de presunção, como que dizendo: não importam as coisas que não deram certo, agora começaremos com o pé direito. Muitos até, cheios de crendices e superstições, procurarão realizar certos ritos de passagem de ano, ritos às vezes ridículos e sem sentido, como se o futuro, a felicidade dependesse desses gestos.

O homem atento e prudente jamais despreza o que não deu certo, mas após perguntar o porquê do erro, integra o resultado do que fez de modo errado e aí tira proveito disso. Aprende com o erro. Segundo São Paulo “Tudo colabora para o bem dos que são amados por Deus”! Portanto o final de ano deve ser marcado especialmente pela ação de graças a Deus por TUDO o que nos possa ter acontecido. Para o filhos queridos de Deus só existe bom tempo, não no sentido de que tudo correu às mil maravilhas, mas de que tudo está integrado.

O cristão é, por natureza, otimista. Para ele serve aquele canto da MPB que diz: “Reconhece a queda e não desanima, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”!

Por outro lado, o cristão não precisa de nenhum gesto particular para lhe dar sorte durante o ano que se inicia. Ele crê em Deus, crê no seu Amor, crê que Deus o criou por Amor e por amor morreu numa cruz e ressuscitou. Crê que Deus é Todo-Poderoso, e por isso nenhum mal lhe poderá acontecer. Aos que se comportam de modo pagão, que creem em forças da natureza, que desconhecem serem filhos de Deus e terem em Maria a Mãe que vela – Nossa Senhora, como disse ao índio azteca sob o título de Guadalupe: Não sou eu a tua mãe, não estou eu aqui contigo?” Porque temer? “Se Deus é por nós, quem poderá ser contra nós”, dirá, por sua vez, São Paulo Apóstolo.

O cristão começa bem o ano rezando, celebrando a Eucaristia, programando repetir estes dois gestos durante todo o novo ano, programando ser caridoso, solidário e fraterno, sendo sinal do compromisso de Deus com o homens.

Que tu, querida irmã, querido irmão, tenham uma boa passagem de ano, com saúde, na alegria e na paz, ao lado dos entes queridos e dos amigos mais próximos! Feliz Ano novo a todos!

VN

30 dezembro, 2019

A família tem de ser a “primeira preocupação"



O Cardeal-Patriarca de Lisboa defendeu hoje no Santuário de Nossa Senhora de Nazaré que a família tem de ser a “primeira preocupação” da sociedade e da Igreja. D. Manuel Clemente falava na homilia da Missa a que presidiu, no dia da festa litúrgica da Sagrada Família, no calendário católico – o primeiro domingo depois do Natal. “O próprio Deus mostra na família de Jesus como é que deve ser na família de cada um”, assinalou o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, para quem “aquilo que acontece na família, tem de ser Evangelho vivo”, seguindo o caminho que “Deus trilhou neste mundo”.
A intervenção começou por assinalar que Jesus Cristo passou a maior parte da sua vida terrena em família, crescendo entre Belém, Egito e Nazaré, até começar a fazer uma nova família, que integra todos os cristãos. Para o Cardeal-Patriarca, é fundamental aprender na “vida da família”, não em livros, atitudes como o “respeito uns pelos outros” e o acolhimento recíproco, permitindo o crescimento de todos. “Que a família seja a preocupação fundamental da sociedade”, insistiu D. Manuel Clemente, permitindo “que as pessoas aprendam a viver umas com as outras, a respeitar-se”. No final da celebração, o patriarca de Lisboa saudou os presentes e sublinhou que “o Natal de Cristo, pela comunidade cristã, continua no mundo”.

Ecclesia 

29 dezembro, 2019

Papa convida a retomar a comunicação em família, um tesouro precioso

 
 
No Angelus deste domingo, Festa da Sagrada Família, o Papa fez os votos para que todos terminem o ano em paz, paz do coração, e a comunicarem-se em família, um com o outro.
 
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

A família é um tesouro precioso que precisa de ser apoiado e tutelado, disse o Papa neste domingo, 29, Festa da Sagrada Família, quando deu uma tarefa: retomar a comunicação em família: os pais, os pais com os filhos, com os avós, os irmãos entre eles.

No último Angelus do ano de 2019, Francisco propôs a Sagrada Família de Nazaré como modelo para as nossas famílias. “O termo "sagrada"  - começou a explicar - insere essa família no âmbito de santidade que é dom de Deus mas, ao mesmo tempo, é uma adesão livre e responsável ao projeto de Deus. Assim foi para a família de Nazaré: foi totalmente disponível à vontade de Deus.” 

Maria ouve a Palavra de Deus e coloca-a em prática

Falando aos milhares de peregrinos e turistas presentes na Praça de São Pedro num um domingo ensolarado, com a temperatura por volta dos 9º C, Francisco chamou a atenção para o facto de que “os três componentes da Família de Nazaré, ajudam-se um ao outro a descobrir e realizar o plano de Deus”, e explicou brevemente o papel desempenhado por cada um nesta missão divina, a começar por Maria:
“Como não ficar maravilhados, por exemplo, com a docilidade de Maria à ação do Espírito Santo, que pede-lhe para se tornar mãe do Messias?”
Maria, como toda a jovem do seu tempo, estava para concretizar o seu projeto de vida, isto é, casar-se com José. Mas quando percebe que Deus a chama para uma missão particular, não hesita em proclamar-se como "serva”.

O Papa explica que Jesus exaltará a grandeza de Maria não tanto pelo seu papel de mãe, mas pela sua obediência a Deus: "Bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática!, como Maria":

“E quando não compreende bem os eventos que a envolvem, Maria medita no silêncio, reflete e adora a iniciativa divina. A sua presença aos pés da cruz consagra essa total disponibilidade”. 

José, homem do silêncio e da obediência


Quanto a José, ele “não fala, mas age obedecendo”, “é o homem do silêncio, o homem da obediência” - ressalta Francisco - sob a condução de Deus, representada pelo anjo:
 
A página do Evangelho de hoje recorda três vezes essa obediência do justo José, relacionada com a fuga para o Egito e ao retorno à terra de Israel. conduzido Deus, representada pelo anjo, José distancia a sua família das ameaças de Herodes, e salva-a. A Sagrada Família solidariza-se assim com todas as famílias do mundo forçadas ao exílio, solidariza-se com todos aqueles que são forçados a abandonar a própria terra por causa da repressão, da violência, da guerra. 

Jesus, a vontade do Pai

Por fim Jesus, a terceira pessoa da Sagrada Família, Jesus, em quem – explica o Papa - houve somente “sim”, o que é manifestado em tantos momentos da sua vida terrena, citando o episódio em que os seus pais aflitos o acharam no templo pregando aos doutores da lei, a sua oração de entrega ao Pai no Jardim das Oliveiras, todos eventos que são a perfeita realização das próprias palavras de Cristo que diz: “Não quiseste sacrifício nem oblação [...]. Então disse: "Eis que eu venho [...] fazera  ossa vontade, Meu Deus". 

Uma tarefa: retomar a comunicação em família

Assim, disse Francisco, “Maria, José e Jesus, a Família de Nazaré, representa uma resposta uníssona à vontade do Pai. Os três componentes dessa família singula ajudam-se reciprocamente a descobrir e a realizar o plano de Deus. Eles rezavam, trabalhavam, comunicavam-se”. E o Papa pergunta:
 
Tu, em tua família, sabes comunicar, ou és como aqueles jovens na mesa, cada um com um telemóvel, [que] estão [a trocar mensagens] em chats? Naquela mesa parece um silêncio, como se estivessem na Missa ... Mas  não se comunicam. Devemos retomar a comunicação em família: os pais, os pais com os filhos, com os avós, mas comunicarem, com os irmãos, entre eles... Esta é uma tarefa a ser feita hoje, precisamente no dia da Sagrada Família.
“Devemos retomar a comunicação em família: os pais, os pais com os filhos, com os avós, mas comunicarem, com os irmãos, entre eles... Esta é uma tarefa a ser feita hoje, precisamente no dia da Sagrada Família”
Sagrada Família, modelo para as famílias 
 
“Que a Sagrada Família possa ser modelo para as nossas famílias, para que pais e filhos reciprocamente na adesão ao Evangelho, fundamento da santidade da família.”
  Confiemos a Maria "Rainha da família" – disse o Papa ao concluir - todas as famílias do mundo, especialmente aquelas provadas pelo sofrimento, e invoquemos sobre elas a sua materna proteção.
 
Família, um tesouro a ser protegido
 
Ao saudar os peregrinos e turistas presentes na Praça de São Pedro, o Papa dirigiu uma saudação às famílias:
“Hoje dirijo uma saudação especial às famílias aqui presentes e àquelas que participam em casa através da televisã ou da rádio. A família é um tesouro precioso: é preciso apoiá- sempre, protegê-la: em frente!”
Acabar o ano com paz no coração
 
Antes de despedir-se com o tradicional bom domingo, bom almoço e não se esqueçam de rezar por mim, o Papa fez votos para que todos terminem o ano em paz:
  Saúdo a todos, e a todos desejo um bom domingo e um final de ano sereno. Terminemos o ano em paz, paz de coração: estes são os meus votos para vós. E em família, se comuniquem. Agrade-vos novamente, pelas felicitações (de Natal) e orações. E por favor continuem a rezar por mim. Bom almoço e até logo!

VN

28 dezembro, 2019

O 2019 do Papa Francisco: a certeza da fé e a luta contra as idolatrias

 
Francisco recorda a todos que, na base da nossa vida, há um
certeza consoladora: Deus ama-nos e em Jesus deu a vida por nós.
(AFP or licensors)
 
Um ano intenso para Francisco, com muitas viagens e muitos encontros, com um objetivo: anunciar a Boa Nova da misericórdia de Deus.
 
Sergio Centofanti - Cidade do Vaticano
 
Também neste ano, o Papa Francisco presenteou-nos com uma catequese simples para todos, sobre o amor de Deus. A missão mais importante é anunciar o Evangelho, disse ele, e neste 2019 ele o fez com as 41 Audiências Gerais (com os ciclos sobre o Pai Nosso e os Atos dos Apóstolos, este último em andamento), 56 Angelus e Regina Caeli, mais de 60 homilias em celebrações públicas, 44 homilias em Santa Marta (isto sem falar nas mensagens, cartas, documentos, entrevistas que se tornaram livros e cerca de 260 discursos públicos).

Certezas, não confusão

Francisco recorda a todos que, na base da nossa vida, há uma certeza consoladora: Deus ama-nos e em Jesus deu a vida por nós. Trata-se da mensagem central de toda a sua missão (Evangelii gaudium, texto programático do Pontificado de Francisco). Convida a recordar a "fé simples e robusta" das mães e avós, que "lhes dava força e perseverança para seguir em frente e não deixar cair os braços", “uma fé caseira, que passa despercebida, mas que constrói pouco a pouco o reino de Deus”. Uma fé que não se deixa confundir, porque base-se nos fundamentos do Evangelho. 

Fé e idolatria

Francisco exorta a adorar o único e verdadeiro Deus, Uno e Trino, numa sociedade que se torna cada vez mais pagã. "A idolatria - disse - não é somente ir a um templo pagão e adorar uma estátua. Não, idolatria é uma atitude do coração", é quando se prefere algo porque é mais cómodo para nós e se esquece o Senhor. Os ídolos mudaram de nome, mas estão mais presentes do que nunca: o ídolo do dinheiro, do sucesso, da carreira, da auto realização, do prazer e todos aqueles ídolos que prometem felicidade, mas que não a dão, antes pelo contrário, escravizam, roubam-nos o amor. Os ídolos prometem vida, mas tiram-na - disse o Papa  numa bela catequese no ano passado - enquanto o verdadeiro Deus não pede a vida, mas a dá. 

O fariseu dentro de nós não quer ser corrigido

Às vezes, as palavras do Papa são fortes, como sabia fazer Jesus. No fundo é o seu Vigário. Como ele, adverte em particular para o comportamento farisaico daqueles que se consideram justos, mais ortodoxos, melhores que os outros. É "a religião do eu", com os seus ritos e orações, daqueles que "se confessam católicos, mas esqueceram-se de ser cristãos e humanos", esqueceram-se de prestar o "verdadeiro culto a Deus, que passa sempre pelo amor ao próximo".

Francisco propõe o caminho da auto-acusação: a todos nós - observa – ressurge sempre "o fariseu", presunçoso, campeão em justificar-se. O caminho da fé é sempre o de ter a humildade de nos deixar-mos corrigir. 

Mansidão diante dos ataques

Como as palavras fortes de Jesus, também as do Papa têm um duplo efeito: ou se sai convertidos ou ainda mais endurecidos. Disto as resistências internas e os ataques. Francisco não teme um cisma, disse no voo de regresso de África.

"Hoje - observa - temos tantas escolas de rigidez dentro da Igreja, que não são cismas, mas são caminhos cristãos pseudocismáticos, que terminarão mal", porque por detrás desse comportamento rígido "não há santidade do Evangelho".

O Papa convida a responder ao mal com o bem, a "ser-mos mansos com as pessoas que são tentadas a fazer esses ataques", porque "estão a passar por algum problema" e devem ser acompanhadas "com mansidão".

Eles temem que a Igreja de hoje não seja mais católica, colocando palavras nunca ditas na boca do Pontífice: mas não mudou nenhum dogma, há somente um passo adiante no acolhimento e na misericórdia; não foram canceladas devoções, há somente o convite para vivê-las com o coração. Com a exortação para caminhar unidos como povo, para que o desenvolvimento da doutrina esteja sempre unido à verdadeira Tradição. E fica uma pergunta: os cristãos conseguirão ser misericordiosos entre eles? 

Sínodo para a Amazónia: conversão a Jesus, Ele é o centro

Em outubro passado realizou-se o Sínodo para a região Pan-Amazónica. O Papa repetiu muitas vezes a palavra "conversão", que é o conceito que encontrou o seu lugar no Documento final como a principal exortação da assembleia. O Sínodo pede uma conversão quádrupla: sinodal, porque a Igreja deve ser cada vez mais um caminhar juntos e não dividida ou sozinha; cultural, porque é necessário saber falar com as diferentes culturas; ecológica, porque a exploração egoísta do meio ambiente leva à destruição dos povos; pastoral, porque o anúncio do Evangelho é urgente.

Na base destas quatro conversões há a única conversão ao Evangelho vivo, que é Jesus. A verdadeira conversão é colocar-mo-nos de lado - diz Francisco – sair do centro, colocar Cristo no centro e deixar que o Espírito Santo seja o protagonista da nossa vida. 

Lutar contra os abusos, dentro e fora da Igreja

Pode-se definir como histórico o encontro realizado em fevereiro no Vaticano: os responsáveis das Igrejas de todos os continentes trataram do flagelo dos abusos de menores, cometidos na esfera eclesial, e fizeram isso diante do mundo inteiro com coragem e transparência.

No discurso de encerramento do encontro, Francisco recorda, citando dados, que a maior parte dos abusos são cometidos por familiares e educadores, portanto no âmbito doméstico, escolar, desportivo e eclesial, sem mencionar o flagelo do turismo sexual e outras violências.

O facto de ser "um problema universal e transversal que infelizmente se encontra em toda parte" – precisa o Pontífice - "não diminui a sua monstruosidade dentro da Igreja", onde se torna ainda mais grave e escandaloso”, porque contrasta com a sua autoridade moral e sua credibilidade ética".

Com o Motu proprio Vos estis lux mundi, o Papa estabelece novos procedimentos para denunciar abusos, moléstias e violências, e assegurar que os bispos e superiores religiosos respondam pelo seu agir. ​​

É introduzida a obrigação para clérigos e religiosos de denunciarem os abusos. Cada diocese deve criar um sistema facilmente acessível ao público para receber denúncias. Francisco também abole o segredo pontifício para estes casos e altera a norma relativa ao delito de pornografia infantil, incluindo-o na categoria "delicta graviora"  - os delitos mais graves - a posse e a disseminação de imagens pornográficas envolvendo menores de 18 anos.

 Papa Francisco aquando do acolhimento no Palácio Presidencial, em Bangcoc
  
Reforma: mais estruturas missionárias

Tiveram continuidade os trabalhos do Conselho de Cardeais (C6) para a reforma da Cúria Romana, para que todas as estruturas da Igreja sejam mais missionárias.

Está a ser finalizado o exame do esboço da nova Constituição Apostólica, cujo título provisório é "Praedicate evangelium”, para significar que o principal serviço que a Santa Sé deve prestar é o do anúncio do Evangelho.

O Papa altera, enquanto isto, o papel do Decano do Colégio Cardinalício: aceita a renúncia do cardeal Sodano, no cargo desde 2005, e com um Motu proprio fixa um detrminado tempo para esta missão: cinco anos, eventualmente renováveis.

Que o dinheiro seja para servir ao Evangelho e aos pobres

Prossegue também a reforma financeira, especialmente nos quesitos transparência e contenção de custos. O Papa Francisco renovou o Estatuto do IOR: é introduzida de forma permanente a figura do Auditor externo para a verificação das contas, segundo os padrões internacionais.

Os princípios católicos subjacentes à missão do IOR são especificados, para que a instituição seja mais fiel à sua missão original.

O jesuíta Juan Antonio Guerrero Alves é nomeado prefeito da Secretaria para a Economia. O Papa autoriza uma investigação da magistratura vaticana em relação a várias pessoas que servem a Santa Sé, no âmbito de algumas transações financeiras.

E a Propósito do Óbolo de São Pedro, o Pontífice ressalta que é uma boa administração fazer o dinheiro recebido render, e não deixá-lo parado, guardado na gaveta. Mas o investimento deve ser sempre "moral", porque o dinheiro está ao serviço da evangelização e dos pobres. 

Redescobrir a Palavra de Deus para conhecer Jesus

Com a Carta Apostólica "Aperuit illis", de 30 de setembro, o Papa institui o Domingo da Palavra de Deus, um dia especial para exortar todos os fiéis a ler e meditar a Bíblia, porque - como dizia São Jerónimo – a "ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo."

É preciso redescobrir a importância fundamental de uma Palavra que transforma concretamente a vida. A data solene foi estabelecida, todos os anos, no terceiro domingo do Tempo Ordinário (em 2020, será em 26 de janeiro). 

Que não falte a bela tradição do Presépio

No 1º de dezembro, Francisco assina em Greccio a Carta Apostólica Admirabile signum, na qual exorta a redescobrir e revitalizar-se a bela tradição do presépio.

"Representar o evento do nascimento de Jesus - escreve - é equivalente a anunciar o mistério da Encarnação do Filho de Deus com simplicidade e alegria". É um ato de evangelização, bonito de se ver "nos locais de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nas prisões, nas praças". 

Cristãos perseguidos, hoje mais do que nos primeiros tempos

Francisco nunca se cansa de denunciar as perseguições anticristãs. Hoje - repete - há mais mártires do que nos primeiros tempos do cristianismo.

Em janeiro, a Suprema Corte do Paquistão absolveu definitivamente Asia Bibi, da acusação injusta de blasfêmia, pela qual tinha sido condenada à morte. Esta mulher católica, mãe de 5 filhos, estava presa desde 2009. Ela deixou o país com a sua família. Tanto Bento XVI como o Papa Francisco acompanharam o desenrolar da sua história com grande discrição, por razões de segurança.

Uma das filhas, Eisham, tinha-se encontrado com Francisco no ano passado levanedo-lhe um beijo da sua mãe. O Papa disse-lhe: "Penso seguidamente em sua mãe e rezo por ela". E define-a como  "maravilhosa mulher mártir".

21 de abril é Páscoa: um ataque de extremistas islâmicos contra igrejas cristãs no Sri Lanka provoca a morte de mais de 250 pessoas enquanto rezavam. O apelo do Papa chega no mesmo dia. Mas Francisco não deixa de denunciar também ataques contra outras religiões, como aquele contra a mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia, em 15 de março, que provocou mais de 50 vítimas fatais. 

Defender a família e a vida, toda vida

O Papa, em 25 de março em Loreto, reitera que, em particular no mundo de hoje, "a família fundada no casamento entre um homem e uma mulher assume uma importância e uma missão essenciais", e o seu representante na ONU, o arcebispo Bernardito Auza, recorda as suas palavras sobre a ideologia do gênero: é um "passo atrás" para a humanidade.

Francisco defende a vida desde a concepção até ao seu fim natural. Ele intervém diretamente a favor de Vincent Lambert, o enfermeiro francês de 42 anos, em estado de consciência mínima, que faleceu em julho do ano passado: “Não construímos – foi sua advertência - uma civilização que elimina pessoas cuja vida acreditamos não valer mais a pena ser vivida: toda a vida tem valor, sempre”.

O olhar do Papa é de 360​​°: a vida, os direitos e a dignidade devem ser defendidos sempre, desde os nascituros àqueles que sofrem de fome ou violências, dos doentes e dos anciãos aos migrantes que correm o risco de morrer em busca de um futuro melhor. A justiça não é seletiva, não é para algumas categorias humanas e outras não, é universal. 

Aos jovens: descubram o amor de Deus e caminhem contra a corrente

Este ano o Papa publicou a Exortação Apostólica "Christus vivit", fruto do Sínodo sobre os jovens realizado no Vaticano em outubro de 2018. Este é o incipit: "Cristo vive. Ele é a nossa esperança e a juventude mais bonita deste mundo. (...) Por isso, as primeiras palavras que quero dirigir a cada jovem cristão são: Ele vive e quer-te vivo!”.

O Papa escreve: “Peçamos ao Senhor que liberte a Igreja daqueles que querem envelhecê-la, fixá-la no passado, freá-la, torná-la imóvel. Peçamos também que a liberte de outra tentação: acreditar que é jovem porque cede a tudo o que o mundo lhe oferece," mimetizando-se com os outros. “Não! Ela é jovem quando é a mesma."

Francisco propõe "caminhos de fraternidade" para viver a fé, evitando correr "o risco de fechar-mo-nos em pequenos grupos". Convida os jovens a viverem o compromisso social em contacto com os pobres e a serem protagonistas da mudança para uma civilização mais justa e fraterna.  Por fim, exorta-os a tornarem-se "missionários corajosos", testemunhando o Evangelho em todos os lugares com as suas próprias vidas, indo também contra a corrente, especialmente contra as chamadas colonizações ideológicas. 

Viagens internacionais: paz para o mundo, porque somos irmãos

Neste 2019, Francisco realizou 7 viagens internacionais, visitando 11 países em 4 continentes, um ano recorde para as suas missões fora da Itália. Anuncia o Evangelho da alegria no Panamá para a Jornada Mundial da Juventude; nos Emirados Árabes Unidos assina o histórico documento sobre a Fraternidade humana com o Grão Imame de al- Azhar; em Marrocos reitera a importância do diálogo inter-religioso; na Bulgária, Macedónia do Norte e Romênia, fala da unidade dos cristãos; em Moçambique, Madagascar e Maurício, levanta a sua voz em defesa dos pobres e da Criação; na Tailândia, apela à promoção dos direitos das mulheres e das crianças, e no Japão, uma viagem centrada na paz, repete que não apenas o uso, mas também a posse de armas nucleares é imoral. 

Santos e Beatos: mártires, leigos e com a púrpura

Também neste ano houve inúmeras canonizações e beatificações. Muitos mártires de todos os continentes e de todas as ideologias: muitos foram mortos por ódio à fé durante a guerra civil espanhola, mortos perdoando os seus assassinos; outros, como os sete bispos da Igreja Greco-católica na Roménia beatificados por Francisco em Blaj, são mártires do regime comunista; outros ainda, como o bispo argentino Enrique Angel Angelelli e os seus companheiros, foram vítimas de ditadura de direita.

Mas há também os santos leigos, como a suíça Margherita Bays, santos da "porta ao lado" que viveram a sua vocação em família, no meio de mil dificuldades. E há tantos santos cardeais, como John Henry Newman, um convertido anglicano à fé católica. 

Sacerdote há cinquenta anos, pela misericórdia de Deus

Em 2019, o Papa celebrou 50 anos de sacerdócio. A sua vocação remonta a 21 de setembro de 1953, memória de São Mateus, o cobrador de impostos convertido por Jesus: durante uma confissão, ele tem uma profunda experiência da misericórdia de Deus. É uma imensa alegria que o leva a tomar uma decisão "para sempre": tornar-se sacerdote para dar aos outros a misericórdia recebida.
 
O padre, afirma Francisco, vive entre as pessoas com o coração misericordioso de Jesus. Hoje é o tempo da misericórdia. A Igreja  compreende isto cada vez mais na sua caminhada na história: com João XXIII, ela dá um importante passo nesta direção, continuado por todos os seus sucessores, em particular por João Paulo II, que institui o Domingo da Divina Misericórdia, inspirado por Santa Faustina Kowalska. Um dia, todos sem distinção, invocaremos o excesso de misericórdia de Deus que talvez aqui não tenhamos entendido.

VN