31 janeiro, 2015

"A terra é mãe” - Papa pede outro sistema de produção e distribuição dos alimentos


MP3 »
 
(RV) O Papa Francisco encontrou-se neste sábado dia 31 de janeiro com uma delegação da Confederação Nacional Coldiretti a confederação nacional dos agricultores italianos. O Santo Padre no discurso que lhes dirigiu lançou o convite de se reencontrar o amor pela terra como “mãe” e de conservar a terra, fazendo uma aliança com ela, a fim de que possa continuar a ser como Deus a quer: fonte de vida para toda a família humana.

O Papa Francisco sublinhou a palavra “cultivar”, que é “uma atividade tipicamente humana e fundamental”, destacando o papel central da agricultura, o Santo Padre ressaltou que não existe humanidade sem cultivar a terra; não há vida que seja boa “sem o alimento que ela produz para os homens e as mulheres de todos os continentes”.

O Papa citou o Concílio Vaticano II e recordou o destino universal dos bens da terra (Gaudium et spes, 69), enfatizando que, na realidade, o sistema económico dominante impede que muitos possam usufruir de tais bens:

“A absolutização das regras do mercado, uma cultura do descarte e do desperdício que no caso do alimento tem proporções inaceitáveis, junto a outros fatores, determinam miséria e sofrimento para muitas famílias. Portanto, deve ser profundamente repensado o sistema de produção e de distribuição do alimento. Como nos ensinaram nossos avós, com o pão não se brinca! O pão participa de certo modo da sacralidade da vida humana, e por isso não pode ser tratado somente como uma mercadoria.”

Evocando a narração da criação contida no Livro do Gênesis, o Papa lembrou que o homem é chamado não somente a cultivar a terra, mas também a protegê-la (Gn 2,15). “As duas coisas estão estreitamente ligadas”, ressaltou o Santo Padre que concluiu a sua intervenção chamando a atenção para a importância de uma ação de proteção da criação, evidenciando que “é realmente urgente que as nações consigam colaborar” nesta tarefa fundamental. (RS/RL)

Papa: solução negociada para os conflitos no Iraque e na Síria

  MP3 »

(RV) No final da manhã desta sexta-feira dia 30, o Papa Francisco recebeu um grupo de 30 membros da Comissão de Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas Orientais.
 
Esta Comissão começou um trabalho em 2003, seguindo uma perspetiva histórica, e examinou os caminhos nos quais as Igrejas expressaram a sua comunhão nos primeiros séculos e o que isto significa para a atual busca da comunhão. Durante esta semana em que estiveram reunidos, os membros desta Comissão iniciaram também um estudo sobre a natureza dos Sacramentos, de modo especial, o Batismo.

Falando ao grupo, o Papa Francisco dedicou palavras de reconhecimento pelo empenho inspirador do Patriarca da Igreja Sírio-ortodoxa de Antioquia e do Oriente, Ignazio Zakka Iwas, falecido no ano passado. A respeito do delicado momento que se vive naquela região, o Santo Padre afirmou “compartilhar a consternação e a dor pelo que está a acontecer no Médio Oriente, especialmente no Iraque e na Síria:

“Recordo todos os habitantes da região, inclusive os nossos irmãos cristãos e muitas minorias que vivem as consequências de um conflito extenuante. Junto convosco rezo todos os dias para que se alcance uma solução negociada, suplicando a bondade e a piedade de Deus pelos atingidos por esta imensa tragédia.”

“Todos os cristãos são chamados a trabalhar juntos, aceitando-se reciprocamente, para servir a causa da paz e da justiça” – afirmou ainda o Papa Francisco. (RS/CM)

Arcebispo de Aleppo: somente o perdão fará regressar a paz



(RV) O dúplice atentado que atingiu o centro de Bagdad nesta sexta-feira deixou ao menos 44 mortos e 70 feridos. É o que informa a agência de notícias local “al Sumaria”, segundo a qual entre as vítimas estariam vários agentes de polícia e militares do exército.

Enquanto isso, na Síria – segundo refere o Observatório sírio – 350 aldeias nos arredores de Kobane, cidade de maioria curda, encontram-se ainda nas mãos do Estado Islâmico.

Sobre a situação actual na Síria a Rádio Vaticano ouviu o arcebispo de Aleppo dos Armênios Católicos, Dom Boutros Marayati. Eis o que disse:

 “A situação está a piorar, porque as condições de vida são muito dramáticas, caminharam cada vez mais para trás... Durante o dia temos uma hora de electricidade e de luz e uma hora para termos um pouco de água. Por vezes não temos nem electricidade nem água... O alimento é escasso e neste inverno tão rígido falta até combustível, não se tem nada para aquecer-se: vê-se as crianças, o povo, os idosos que estão sempre ali, enrolados em cobertores... antes não era assim. O governo lança barris na parte ocupada pelos jihadistas, e estes, por sua vez, lançam foguetes e morteiros na parte controlada pelo governo. Nesta parte estamos nós, estão os bairros cristãos e recebemos esses morteiros. Na última vez, tenho aqui comigo as fotos, foi atingida a minha catedral, bem como outras igrejas... Por isso, não podemos dizer que a situação se acalmou. Pelo contrário, tornou-se ainda mais dramática. E o povo começa a fugir e há um êxodo ainda maior do que antes: antes ainda esperavam uma solução, mas vêem que nada muda.”

Trata-se de uma situação de grande caos, causada por vários grupos de rebeldes...

 “Isso é verdade. Não há um grupo de rebeldes, mas são vários grupos e isso não nos ajuda a chegar a um diálogo, porque para haver um diálogo é necessário ter alguém com quem falar... Creio que agora também os rebeldes, aos poucos, estão a organizar-se para ter um porta-voz, para ter alguém que possa falar em nome deles. Mas – como dizia –, realmente, são muitos, variados grupos e não sabemos quem sequestrou quem, em qual região os bispos se encontram, em qual lado, sob o controle de quem... E esse é mais um drama que não ajuda a retomar este processo de paz.”

Diante desta situação que se arrasta há anos, o povo cansado com tudo isso tem certamente um grande desejo, uma grande vontade de normalidade...

 “Em geral, esse é o nosso sonho, esse é o nosso desejo. É algo que cremos com todo o coração, mas sentimos que a nossa voz clama no deserto: ninguém pode ajudar-nos e não se dá um passo, porque há os grandes governos, os grandes poderes que estão ali fazendo o jogo. Portanto, deveria haver um entendimento entre eles, entre os grandes poderes para se chegar a algum lugar. Se não houver acordo entre os grandes poderes – entre a ONU e os grandes países – continuaremos na mesma situação, sem dar nenhum passo adiante.”

Qual tem sido o papel da Igreja neste momento? De que modo a Igreja tem ajudado aqueles que sofrem?

 “A Igreja tornou-se um lugar para ajudar o povo, para a solidariedade. A Igreja tornou-se uma grande ‘Caritas’... Não precisam somente de lições de moral, de orações, mas precisam de tudo! Toda igreja e todo o arcebispado abriu um centro de acolhimento e de ajuda, sem nenhuma discriminação: há muçulmanos, ortodoxos e protestantes... estamos abertos a todos para ajudar este povo neste momento. Já não vêm ate nós  somente para as coisas pastorais ou religiosas ou canónicas, o arcebispado tornou-se um centro de acolhimento e de ajuda.” (BS/RL)

Padre carmelita propõe exercícios espirituais à Curia


(RV) erá o padre carmelita Bruno Secondin a pregar os Exercícios Espirituais da Quaresma deste ano que decorrerão de 22 a 27 de fevereiro em Ariccia. As meditações serão sobre o tema: “Servidores e profetas do Deus vivo”.

“Servidores e profetas do Deus vivo” este é o tema dos Exercícios Espirituais da Quaresma programados para os dias 22 a 27 de fevereiro na Casa Divino Mestre, em Ariccia, dos quais tomarão parte o Papa Francisco e os membros da Cúria.  O padre carmelita Bruno Secondin será o responsável pelas meditações que apresentarão uma leitura pastoral do Profeta Elias.

Os Exercícios terão início às 18 horas do domingo dia 22  com a Adoração Eucarística e a recitação das Vésperas.  O programa dos dias seguintes será este: Logo pela manhã a oração de laudes a que se segue uma primeira meditação às 9h30min e depois a concelebração eucarística. A segunda meditação terá início às 16 horas, seguida da Adoração Eucarística e a oração das Vésperas. Na sexta-feira, último dia, está prevista uma missa às 7h30min, seguida da conclusão do encontro às 9h30min.

A primeira reflexão de domingo dia 22,  terá por tema “Sair da própria ‘casa’”. Nos dias sucessivos, o carmelita Bruno Secondin apresentará os seguintes temas: “Caminhos de autenticidade” (as raízes da fé e a coragem de dizer não à ambiguidade); “Caminhos de liberdade” (dos ídolos vãos à piedade verdadeira); “Deixar-se surpreender por Deus” (o encontro com um Deus que está em todos os lugares e o reconhecimento do pobre que nos evangeliza) e “Justiça e intercessão” (testemunhos de justiça e solidariedade). O tema do dia conclusivo será “Recolher o manto de Elias” (para tornar-se profetas de fraternidade).

Durante o período do retiro da Quaresma estão suspensas todas as audiências privadas e especiais do Santo Padre incluindo a Audiência Geral de quarta-feira. (RS/JE)

30 janeiro, 2015

Papa modifica modalidade de entrega do pálio aos metropolitas



(RV) O Papa Francisco modificou a modalidade de entrega do pálio aos novos arcebispos metropolitas. Com uma carta datada de 12 de janeiro de 2015 o Mons. Guido Marini, Mestre das Celebrações Pontifícias informou a todas as Nunciaturas Apostólicas sobre a decisão do Papa. A partir de agora a faixa de lã branca será entregue e não colocada pelo Santo Padre. Como manda a tradição a 29 de junho, na Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, o Papa entrega o pálio a cada um dos novos arcebispos metropolitas mas a imposição do Pálio aos novos arcebispos será realizada nas respetivas dioceses de origem pela mão dos Núncios Apostólicos locais. Entrevistado pela Rádio Vaticano, Mons. Marini fala do significado desta decisão do Papa:

“Recentemente o Santo Padre – após ter refletido – decidiu realizar uma pequena modificação no tradicional rito de imposição do pálio aos arcebispos metropolitas nomeados durante o ano. A modificação é a seguinte: o pálio, geralmente, era imposto pelo Santo Padre aos novos metropolitas por ocasião da Solenidade dos Santos Pedro e Paulo. A partir do próximo 29 de junho, por ocasião da Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, os Arcebispos – como de costume – estarão presentes em Roma, concelebrarão com o Santo Padre, participarão do rito da bênção dos pálios, mas não haverá a imposição: simplesmente receberão o pálio do Santo Padre em forma mais simples e privada. A imposição será efetuada depois, nas dioceses a que pertencem, ou seja, num segundo momento, na presença da Igreja local e em particular dos bispos das dioceses sufragâneas acompanhados pelos seus fiéis”.

 “O significado desta alteração é o de colocar em maior evidência a relação dos bispos metropolitas – os novos nomeados – com a sua Igreja local e assim dar também a possibilidade a mais fiéis de estarem presentes neste rito tão significativo para eles, e também particularmente aos bispos das dioceses sufragâneas, que deste modo, poderão participar do momento da imposição. Neste sentido, mantém-se todo o significado da celebração de 29 de junho, que sublinha a relação de comunhão e também de comunhão hierárquica entre o Santo Padre e os novos arcebispos; ao mesmo tempo, a isto se acrescenta – com um gesto significativo – esta ligação com a Igreja local”.

O pálio é uma espécie de colarinho de lã branca, com cerca de 5cm de largura e dois apêndices – um na frente e outro nas costas. Possui seis cruzes bordadas em lã preta. É confecionado pelas monjas beneditinas do Mosteiro de Santa Cecília, em Roma, utilizando a lã de dois cordeiros que são oferecidos ao Papa no dia 21 de janeiro de cada ano na Solenidade de Santa Inês.

O uso do pálio, que nos primeiros séculos do Cristianismo era exclusivo dos Papas, passou a ser usado pelos Metropolitas a partir do século VI, tradição que perdura até aos nossos dias.

Os pálios, insígnias litúrgicas de ‘honra e jurisdição’, são envergados pelos arcebispos metropolitas nas suas igrejas e nas da sua província eclesiástica. O arcebispo metropolita preside a uma província eclesiástica, constituída por diversas dioceses. O pálio é símbolo do serviço e da promoção da comunhão na própria Província Eclesiástica e na sua comunhão com a Sé Apostólica. (RS)

Papa: memória e esperança são os parâmetros do cristão



(RV) O Papa Francisco afirmou na Missa em Santa Marta neste dia 30 de janeiro que os cristãos devem preservar a memória e a esperança não caindo na tentação de passarem a ser cristãos mornos

Sexta-feira, 30 de janeiro, na Missa em Santa Marta o Papa Francisco afirmou que o cristão devem sempre preservar a memória do seu primeiro encontro com Cristo e a esperança n’Ele, que o empurra a ir em frente na vida com a coragem da fé.

Cristãos mornos

O Santo Padre orientou a sua homilia a partir da frase inicial da Carta aos Hebreus, na qual o autor convida todos a chamar “à memória aqueles primeiros dias”, aqueles em que haveis recebido “a luz de Cristo”:

“A memória é tão importante para recordar a graça recebida, porque se nós largamos este entusiasmo que vem da memória do primeiro amor, vem aquele perigo tão grande para os cristãos: a tepidez. Os cristãos tépidos. E estão ali, parados, e sim, são cristãos, mas perderam a memória do primeiro amor. E perderam o entusiasmo. Também perderam a paciência, aquele tolerar as coisas da vida com o espírito do amor de Jesus; aquele levar às costas, as dificuldades… os cristãos tépidos, pobrezinhos, são um grave perigo.”

Memória e Esperança

Os cristãos mornos são aqueles que ficam a meio do caminho e que deixam falir o seu caminho em direção ao encontro com Jesus. Cristãos que perderam a memória e também a esperança. E, segundo o Papa Francisco são estes os parâmetros de um cristão: a memória e a esperança:

“O cristão tem estes dois parâmetros: a memória e a esperança. Evocar a memória para não perder aquela experiência tão bela do primeiro amor, e que alimenta a esperança. Tantas vezes a esperança é obscura, mas vai em frente. Acredita e vai, porque sabe que a esperança não desilude para encontrar Jesus. Estes dois parâmetros são justamente a moldura na qual podemos preservar esta salvação dos justos, que vem do Senhor”.

 “Dão pena, faze mal ao coração tantos cristãos a meio do caminho, tantos cristãos falidos neste caminho rumo ao encontro com Jesus, partindo do encontro com Jesus. Este caminho no qual perderam a memória do primeiro amor e não têm a esperança. Peçamos ao Senhor a graça de preservar no presente, o dom da salvação”. (RS)

29 janeiro, 2015

Papa Francisco: não seguem a via de Jesus as elites eclesiais que desprezam os outros

  
(RV) Não seguem a nova via aberta por Jesus aqueles que privatizam a fé fechando-se em “elites” que desprezam os outros: é o que afirmou o Papa Francisco durante a Missa da manhã desta quinta-feira, (29/01), na Casa Santa Marta. Comentando a Carta aos Hebreus, o Papa disse que Jesus é “a via nova e vivente” que devemos seguir “conforme a Sua vontade”. Porque existem formas erróneas de vida cristã. Jesus “dá os critérios para não seguir os modelos equivocados. E um destes modelos errados é privatizar a salvação”:

“É verdade, Jesus salvou a todos nós, mas não de forma genérica, não? Todos, mas cada um individualmente, nome e sobrenome. E esta é a salvação pessoal. Realmente estou salvo, o Senhor me olhou, deu a vida por mim, abriu esta porta, esta nova via para mim, e cada um de nós pode dizer: ‘para mim’. Mas existe o perigo de esquecer que Ele nos salvou individualmente sim, mas como parte de um povo. Em um povo. O Senhor sempre salva no povo. Do momento que chama Abraão, promete a ele de criar um povo. E o Senhor nos salva em um povo. Por isso o autor desta Carta nos diz: ‘Prestemos atenção uns aos outros’. Não existe uma salvação somente para mim. Se eu entendo a salvação assim, erro; pego a estrada errada. A privatização da salvação é uma estrada errada”.

São três os critérios para não privatizar a salvação: “a fé em Jesus que nos purifica”, a esperança que “nos faz enxergar as promessas e seguir adiante” e “a caridade: prestemos atenção uns aos outros, para estimular-nos reciprocamente na caridade e nas boas obras”:

“E quando eu estou numa paróquia, numa comunidade – qualquer que seja – eu estou ali e posso privatizar a salvação e estar ali somente socialmente. Mas para não privatizá-la, devo perguntar a mim mesmo se eu falo, comunico a fé; falo, comunico a esperança; falo, faço e comunico a caridade. Se numa comunidade não se fala, não se encoraja um ao outro, nessas três virtudes, os membros daquela comunidade privatizaram a fé. Cada um busca a sua própria salvação, não a salvação de todos, a salvação do povo. E Jesus salvou cada um, mas num povo, numa Igreja”.

O autor da Carta aos Hebreus – prosseguiu o Papa – dá um conselho “prático” muito importante: “não desertemos as nossas reuniões, como alguns têm o hábito de fazer”. Isso acontece “quando nós estamos numa reunião – na paróquia, no grupo – e julgamos os outros”, “há uma espécie de desprezo pelos outros. E esta não é a porta, o caminho novo e vivente que o Senhor abriu, inaugurou”:

“Desprezam os outros; abandonam a comunidade inteira; desertam o povo de Deus; privatizaram a salvação: a salvação é para mim e para meu grupinho, mas não para todo o povo de Deus. E este é um erro muito grande. É o que chamamos – e que vemos – ‘as elites eclesiais’. Quando no povo de Deus se criam esses grupinhos, pensam ser bons cristãos, talvez tenham até boa vontade, mas são grupinhos que privatizaram a salvação”.

“Deus – destacou o Papa – nos salva num povo, não nas elites que nós produzimos com as nossas filosofias e o nosso modo de entender a fé. E essas não são as graças de Deus. Pensemos: eu tenho a tendência de privatizar a salvação para mim, para o meu grupinho, para a minha elite ou não deserto todo o povo de Deus, não me afasto do Seu povo e sempre estou em comunidade, em família, com a linguagem da fé, da esperança e a linguagem das obras de caridade?”. E concluiu: “Que o Senhor nos dê a graça de sentir-nos sempre povo de Deus, salvos pessoalmente. Isso é verdade: Ele nos salva com nome e sobrenome, mas salvos num povo, não no grupinho que eu crio para mim”. (BS/RB/BF)

A TI, MEU AMIGO, QUE TE DESESPERAS





Hoje apetece-me escrever-te, a ti, que fazes do desânimo, do desespero uma razão de viver ... para morrer.

Pois, não me venhas dizer que não sei do que falo, porque também eu um dia fiquei sem nada, vi o mundo ruir à minha volta, fiquei sem casa, sem horizonte, mas restou-me a esperança!

E sabes tu, qual era a minha esperança?

Chama-se Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que continuamente me repetia aos ouvidos do coração: «Não desistas, um dia compreenderás que sempre estive contigo.»

E eu perguntava: «Onde, que não Te vejo, quase não Te sinto, e o horizonte apresenta-se-me escuro, tão escuro, como a noite mais escura.»

E Ele não se calava, (oh sim, Ele nunca se cala quando O temos em nós), e dizia-me: «Olha para o teu lado, todos te abandonam! Mas não vês agarrados à tua mão, a tua mulher, os teus filhos, os teus verdadeiros amigos? Pois é neles que Eu estou, para te dizer que é uma curva no caminho, um obstáculo a ultrapassar, um meio que finaliza numa fé mais forte, mais coesa, mais vivida, mais sentida, mais dependente da minha vontade.»

«Mas Senhor, precisavas de ser tão duro, ou seja, precisavas de permitir que tal acontecesse?»

Ah, mas Ele não se cala mesmo, e respondia-me. «Mas, meu filho, e não era mesmo preciso? Falei-te tantas vezes e não me ouvias, embora me quisesses seguir. E Eu sabia que esse era o teu desejo mais profundo, seguir-Me. Tinha que mostrar-te tudo, ou seja, que nada do que vivias era Eu, ou melhor, que aquilo que vivias, o vivias sem Mim. E lembras-te, que percebeste então?»

«É verdade, Senhor!»

E ouve tu agora, meu amigo que fazes do desânimo, do desespero uma razão de viver ... para morrer.
Baixei a cabeça, entrei no fundo de mim, olhei para o Céu, sorri, e disse-Lhe que Ele e apenas Ele, era a minha razão de viver, e que tudo mais, família, amigos, trabalho e lazer apenas faziam sentido envolvidos no seu amor, porque assim sendo eram extensão d’Ele mesmo que assim me tocava, tão física e proximamente.

Vês agora, tu, meu irmão, que fazes do desânimo, do desespero uma razão de viver ... para morrer, que Ele também está sempre contigo, mesmo no “infinitamente” pouco que te dá a conhecer, ou melhor, em que se te dá a conhecer?

Razão para morrer há só uma, viver com Ele, nEle, para Ele, em todos os momentos e horas, até que Ele nos chame, para nEle morrermos, para com Ele vivermos, eternamente no amor!

Marinha Grande, 25 de Janeiro de 2015
Joaquim Mexia Alves