31 outubro, 2017

Papa: para o Reino de Deus precisa-se coragem e não pastoral de conservação




(RV) É preciso coragem para fazer crescer o Reino de Deus: foi o que disse o Papa na homilia da missa celebrada na manhã de terça-feira (31/10) na capela da Casa Santa Marta.

Inspirando-se no Evangelho do dia (Lucas 13,18-21), em que Jesus compara o Reino de Deus ao grão de mostarda e ao fermento, o Papa nota que esses dois elementos são pequenos, mas mesmo assim “têm dentro uma potência” que cresce . Assim é o Reino de Deus: a sua potência vem de dentro. Também São Paulo na Carta aos Romanos, proposta na Primeira Leitura, ressalta quantas tensões existem na vida: sofrimentos que, porém, “não são comparáveis à glória que nos aguarda”.

Trata-se, portanto, de “uma tensão entre sofrimento e glória”. Nessas tensões há, de fato, “uma ardente expectativa” por uma “revelação grandiosa do Reino de Deus”. Uma expectativa não somente nossa – destacou Francisco -, mas também da criação, submetida à caducidade assim “como nós” e “propenso à revelação dos filhos de Deus”. E a força interna que “nos leva em esperança à plenitude do Reino de Deus” é aquela do Espírito Santo.

“É justamente a esperança que nos leva à plenitude, a esperança de sair desta prisão, desta limitação, desta escravidão, desta corrupção e chegar à glória: um caminho de esperança. E a esperança é um dom do Espírito. É propriamente o Espírito Santo que está dentro de nós e leva a isso: a algo grandioso, a uma libertação, a uma grande glória. E para isso Jesus diz: ‘Dentro da semente de mostarda, daquele grão pequenininho, há uma força que desencadeia um crescimento inimaginável’”.

“Dentro de nós e na criação” – reitera o Papa – “há uma força que desencadeia: há o Espírito Santo”, que “nos dá a esperança”. E Francisco explica concretamente o que quer dizer viver em esperança: deixar que “essas forças do Espírito” “nos ajudem a crescer” rumo à plenitude que nos aguarda na glória. Mas assim como o fermento dever ser misturado e a mostarda lançada, porque do contrário aquela força interior permanece ali, o mesmo vale para o Reino de Deus que “cresce a partir de dentro, não por proselitismo”, adverte o Papa:

“Cresce a partir de dentro, com a força do Espírito Santo. E sempre a Igreja teve seja a coragem de pegar e lançar, de pegar e misturar, seja também o medo de fazê-lo. E muitas vezes nós vemos que se prefere uma pastoral de manutenção e não deixar que o Reino cresça. 'Mas, vamos permanecer aquilo que somos, pequeninos, ali, estamos seguros…' E o Reino não cresce. Para que o Reino cresça é preciso coragem: de lançar o grão, de misturar o fermento”.

Porém, é verdade que, se lançada, a semente se perde e que, se misturado, com o fermento “eu sujo as mãos” – destaca o Papa –, porque “há sempre alguma perda ao semear o Reino de Deus”:

“Ai daqueles que pregam o Reino de Deus com a ilusão de não sujar as mãos. Estes são guardiões de museus: preferem as coisas belas, e não este gesto de lançar para que a força se desencadeie, de misturar para que a força faça crescer. Esta é a mensagem de Jesus e de Paulo: esta tensão que vai da escravidão do pecado, para ser simples, à plenitude da glória. E a esperança é aquela que vai avante, a esperança não desilude: porque a esperança é muito pequena, a esperança é tão pequena quanto o grão e o fermento”.

A esperança “é a virtude mais humilde”, “a serva”, mas onde existe a esperança, existe o Espírito Santo, que leva em frente o Reino de Deus.

E o Papa, como de costume, conclui convidando os fiéis a fazerem-se algumas perguntas: hoje, perguntemo-nos, se acreditamos que na esperança há o Espírito Santo com quem falar.

Cardeal-Patriarca apela à participação na Caminhada pela Vida

A iniciativa está marcada para 4 de Novembro em Lisboa, Porto e Aveiro. Em declarações à Renascença, D. Manuel Clemente diz que os cristãos têm obrigação de participar, porque só podem estar ao lado da defesa da vida. E este, sublinha, é o momento oportuno para o mostrarem.

O Cardeal Patriarca de Lisboa, e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, considera muito importante os cristãos participarem na próxima Caminhada pela Vida, marcada para sábado. Ouvido pela Renascença, diz mesmo que “não poderá ser de outra forma” porque, “sendo cristãos, só podem estar deste lado, que é o lado onde está Jesus Cristo. Em qualquer página do Evangelho nós reparamos que onde Ele chega, chega a vida. Mesmo quando havia morte, e sobretudo para prevenir situações negativas, que não deixam as pessoas viver”. “O lugar dos cristãos é o lugar de Cristo, é o lugar da vida, na sua integralidade”, diz ainda D. Manuel Clemente, que acrescenta: “Nós acreditamos que Deus se fez um de nós no caminho de Jesus Cristo e da sua vida humana, também desde a concepção à morte, que no caso dele não foi natural, foi infligida, mas ressuscitada, e está connosco para nos impelir no sentido da vida. Por isso, para qualquer cristão, isto é obrigação e devoção”.

Lembrando que esta “não é uma Caminhada confessional”, o Cardeal Patriarca felicita os promotores da iniciativa, que considera muito oportuna, porque o actual momento exige cristãos comprometidos. “Para nós é urgente, na situação actual, e com os debates que se vão fazendo, nem sempre com a informação devida e com a consciência acrescida que merecem. Por isso, tudo o que vá nesse sentido é bom”, afirma ainda nestas declarações à Renascença.

Sobre o facto de a adesão a estas iniciativas nem sempre corresponder às expectativas, lembra que “há dois mil anos era Jesus e pouco mais, e nós estamos aqui com dois mil anos de garantia que este caminho acaba por ser o mais convincente”. Na segunda-feira, a Federação Portuguesa pela Vida divulgou o “apelo forte e comprometido” do Cardeal Patriarca a favor da Caminhada do próximo sábado. Na mensagem vídeo, posta a circular nas redes sociais e publicada também no site do Patriarcado de Lisboa, D. Manuel Clemente lembra “a vida é isso: um caminho da concepção à morte natural e tem de ser acompanhada em todas as suas etapas, mas acompanhada verdadeiramente pela convicção, pela acção e pela solidariedade de nós todos”.

O Patriarca sublinha ainda que este “não é um caminho que se faça sozinho, é um caminho que se faz com todas as pessoas que já estão aí diariamente na frente da luta pela vida, acompanhando as situações difíceis, prevenindo essas mesmas dificuldades, não deixando ninguém sozinho e sendo para toda a sociedade portuguesa um grande estímulo no caminho da vida”. E afirma o seu compromisso pessoal para “com esta luta, que é certamente o compromisso de muitos homens e mulheres de boa vontade”. A Caminhada pela Vida surgiu durante as campanhas para os referendos sobre o aborto, em 1998 e em 2007. Foi retomada em 2012 e desde aí que se tem realizado anualmente, à excepção de 2015. É uma iniciativa da Federação Portuguesa pela Vida, que quer desta forma alertar para a importância de se defender a vida humana em todas as suas fases. Este ano realiza-se numa altura em que está em debate a legalização da eutanásia, e vai decorrer pela primeira vez em três cidades – Porto, Aveiro e Lisboa.

Ao longo dos próximo dias serão divulgadas outras mensagens-vídeo de apelo à Caminhada, nomeadamente de médicos como António Gentil Martins, João Paulo Malta (obstetra), Luís Marques da Costa (director do serviço de oncologia do Hospital de Santa Maria) e Germano de Sousa (antigo bastonário da Ordem dos Médicos, e subscritor da carta em que vários ex-responsáveis desse organismo se manifestam contra a eutanásia).

Renascença


30 outubro, 2017

Papa em Santa Marta: o bom pastor toca a carne ferida





 (RV) O Papa começou a semana celebrando a Missa na capela da Casa Santa Marta (30/10). Na sua homilia, Francisco comentou o episódio narrado por Lucas no Evangelho do dia, da cura da mulher encurvada.






Na sinagoga, no sábado, Jesus encontra uma mulher que não conseguia endireitar-se, “uma doença na coluna que há anos a obrigava a viver assim”, explicou o Papa. E o evangelista usa cinco verbos para descrever o que faz Jesus: viu-a, chamou-a, lhe falou, impôs as mãos sobre ela e a curou.

Cinco verbos de proximidade, destacou Francisco, porque “um bom pastor está próximo, sempre”. Na parábola do bom pastor, ele está próximo da ovelha perdida, deixa as outras e vai procurá-la. Não pode ficar distante do seu povo.

Ao contrário, os clérigos, doutores da Lei, fariseus, saduceus, os ilustres, viviam separados do povo, repreendendo-o continuamente. Eles não eram bons pastores, esclareceu o Papa, estavam fechados no próprio grupo e não se interessavam pelo povo. “Talvez estivessem preocupados, quando acabava o serviço religioso, em controlar quanto dinheiro havia nas ofertas”. Mas não estavam próximos às pessoas.

Jesus, ao contrário, é próximo, e a sua proximidade vem daquilo que Cristo sente no coração: “Jesus se comoveu”, diz outro trecho do Evangelho.

“Por isso, Jesus sempre estava ali com as pessoas descartadas por aquele grupinho clerical: estavam ali os pobres, os doentes, os pecadores e os leprosos; estavam todos ali, porque Jesus tinha essa capacidade de se comover diante da doença, era um bom pastor. Um bom pastor que se aproxima e tem a capacidade de se comover. Eu diria que a terceira característica de um bom pastor é a de não se envergonhar da carne, tocar a carne ferida, como fez Jesus com esta mulher: tocou, impôs as mãos, tocou os leprosos, tocou os pecadores.”

“Um bom pastor”, prosseguiu o Papa, “não diz: sim, está bom. Sim, sim eu estou próximo de ti no Espírito. Isso é distância. Mas fazer o que Deus Pai fez, aproximar-se, por compaixão, por misericórdia, na carne de seu Filho”.

O grande pastor, o Pai, nos ensinou como se faz um bom pastor: abaixou-se, esvaziou-se a si mesmo, aniquilou-se, assumiu a condição de servo.

“Mas, e esses outros, aqueles que seguem o caminho do clericalismo, aproximam-se de quem?” Aproximam-se sempre ao poder de turno ou ao dinheiro. São pastores maus. Eles pensam apenas como subir no poder, ser amigos do poder, negociam tudo ou pensam nos bolsos. Estes são hipócritas, capazes de tudo. O povo não tem importância para essas pessoas. Quando Jesus lhes diz aquele adjectivo que utiliza muitas vezes com eles, hipócritas, eles se ofendem: Mas nós, não, nós seguimos a lei”.

Quando o povo de Deus vê que os maus pastores são espancados, fica feliz, recorda Francisco, e isso é um pecado, sim, mas eles sofreram tanto que “gostam” um pouco disso.
Mas o bom pastor, enfatiza o Pontífice, é Jesus que vê, chama, fala, toca e cura. É o Pai que se faz no seu Filho carne, por compaixão:

“É uma graça para o povo de Deus ter bons pastores, pastores como Jesus, que não têm vergonha de tocar a carne ferida, que sabem que sobre isso - e não apenas eles, mas também todos nós - seremos julgados: estava com fome, estava na prisão, estava doente ... Os critérios do protocolo final são os critérios da proximidade, os critérios dessa proximidade total, o tocar, o compartilhar a situação do povo de Deus. Não nos esqueçamos disso: o bom pastor está sempre perto das pessoas, sempre, como Deus nosso Pai se aproximou de nós, em Jesus Cristo feito carne”. (BS-BF-MJ-SP)

29 outubro, 2017

Papa no Angelus: Amor pelo homem e entre os homens é o sonho de Deus


(RV) Antes da oração mariana do Angelus e dirigindo-se aos milhares de fiéis e peregrinos reunidos da Praça de S. Pedro, o Papa Francisco comentou a liturgia deste domingo, XXX do TC, que nos apresenta, disse, o breve texto de Mateus em que os fariseus se reúnem para experimentar Jesus e um deles, doutor da lei, lhe pergunta, qual era o maior mandamento da Lei".

Uma pergunta insidiosa, observou o Papa, porque na lei de Moisés são mencionados mais de seiscentos preceitos. Como distinguir, então, entre todos estes, o maior mandamento? Mas, sem hesitar,  Jesus responde:

"Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente". E acrescenta: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo".

A resposta de Jesus não era assim tão simples e garantida, prosseguiu o Pontífice, pois entre os muitos preceitos da lei judaica, os mais importantes eram os dez Mandamentos, comunicados directamente por Deus a Moisés, como condições do pacto de aliança com o povo. Mas Jesus quer fazer entender que, sem o amor de Deus e do próximo, não existe verdadeira fidelidade a esta aliança com o Senhor:

“Isto é confirmado por um outro texto do Livro do Êxodo, conhecido como "Código da Aliança", onde se diz que não se pode estar na Aliança com o Senhor e maltratar aqueles que gozam da sua protecção: a viúva, o órfão e o estrangeiro, ou seja, as pessoas mais sozinhas e indefesas”.

E Jesus tinha vivido mesmo assim a sua vida: pregando e fazendo aquilo que realmente conta e é essencial, isto é, o amor, porque o amor dá impulso e fecundidade à vida e ao caminho da fé: sem amor, a vida e a fé permanecem estéreis.

O que Jesus propõe neste evangelho, disse ainda o Papa, é um ideal maravilhoso que corresponde ao desejo mais autêntico do nosso coração, porque fomos criados para amar e ser amados:

“Deus, que é Amor, criou-nos para nos fazer participantes da sua vida, para sermos amados por Ele e para O amarmos, e para amarmos com Ele todas as outras pessoas. Este é o "sonho" de Deus para o homem”.

E, para realizar o sonho de Deus, precisamos da sua graça, precisamos receber em nós a capacidade de amar que vem do próprio Deus, e que Jesus nos oferece na Eucaristia, onde recebemos Jesus na expressão máxima do seu amor, quando Ele se ofereceu ao Pai para a nossa salvação.

Que a Virgem Santa nos ajude a acolher na nossa vida o "grande mandamento" do amor a Deus e ao próximo. Pois, embora o conheçamos desde quando éramos crianças, nunca acabaremos de nos converter a ele e de o pôr em prática nas diferentes situações em que nos encontramos.

Depois das Ave-Marias, Francisco referiu-se à beatificação, ontem em Caxias do Sul, no Brasil, do Padre João Schiavo, sacerdote dos Jusepinos do Murialdo, nascido em Vicenza no início dos anos 1900, e enviado como jovem sacerdote ao Brasil, onde trabalhou com zelo ao serviço do povo de Deus e da formação dos religiosos e religiosas. O seu exemplo, disse Francisco, nos ajude a viver plenamente a nossa adesão a Cristo e ao Evangelho.

Em seguida o Papa dirigiu uma cordial saudação a todos, romanos e peregrinos, e em particular saudou a associação doadores de sangue FIDAS de Orta Nova (Foggia).

Uma particular saudação foi à Comunidade Togolesa na Itália, bem como à venezuelana com a imagem de Nossa Senhora de Chiquinquirà, a "Chinita”. À Virgem Maria confiemos as esperanças e as legítimas expectativas destas duas Nações – concluiu Francisco.

E a todos o Papa desejou bom domingo pedindo, por favor, para que não nos esqueçamos de rezar por ele.

Bom almoço e até logo!

BS

Papa: recordar à Europa que ela não é feita de números, mas de pessoas


(RV) "O primeiro e talvez o maior contributo que os cristãos podem trazer à Europa de hoje é recordar-lhe que ela não é uma colecção de números de instituições, mas é feita de pessoas" - uma das passagens-chave do intenso e detalhado discurso do Papa Francisco, dirigido aos cerca de 350 participantes da conferência (Re)Thinking Europe, "Repensar  a Europa. Uma Contribuição Cristã para o Futuro do Projecto Europeu", reunidos na Nova Sala do Sínodo. Políticos, cardeais, bispos, embaixadores e representantes de movimentos e outras denominações cristãs reunidos desde sexta-feira para reflectir juntos num encontro organizado pela Comece, a Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia.

A eles, o Papa aponta o caminho: os fundamentos da Europa são "pessoa" e "comunidade", que "como cristãos nós queremos e podemos ajudar a construir". Os tijolos são "o diálogo, a inclusão, a solidariedade, o desenvolvimento e a paz". No seu quinto discurso sobre a Europa e a União Europeia, Francisco recorda que um dos valores fundamentais promovidos pelo cristianismo é precisamente "o sentido da pessoa, criada à imagem de Deus". Concretamente, por exemplo, São Bento apresentou uma concepção de homem radicalmente diferente daquela do classicismo grego-romano e daquela ainda mais violenta das invasões bárbaras: o homem já não simplesmente um cidadão nem servo do poder do momento e muito menos uma moeda de troca destinada ao trabalho. "Para Bento não existem papéis, existem pessoas" enquanto que hoje, infelizmente, vemos como muitas vezes "não existem os trabalhadores, mas os indicadores económicos", "não existem os migrantes , mas as quotas", ou seja, uma questão de números – ressaltou Francisco.

Ter um rosto obriga, pelo contrário, a uma responsabilidade - recorda o Papa - e, portanto, os cristãos devem recordar antes de tudo que a Europa é feita de pessoas e fazer redescobrir o sentido de pertença a uma comunidade, contra a tendência de viver em solidão do Ocidente, confundindo o conceito de liberdade que é entendida como o dever de estar sozinhos. "Para mim – disse o Papa - é uma coisa grave". Os cristãos, ao invés, sabem que a sua identidade é "antes de tudo relacional" e a família permanece o lugar fundamental desta descoberta. E, como "união harmoniosa das diferenças entre o homem e a mulher", é "tanto mais verdadeira e profunda, quanto mais generativa, capaz de se abrir à vida e aos outros". Uma comunidade, de facto, é viva se sabe acolher as diversidades, gerar novas vidas, trabalho, inovação e cultura.

Do Atlântico aos Urais, do Pólo Norte ao Mediterrâneo, a Europa deve ser um lugar de diálogo, como o era em certo sentido a antiga ágora, não apenas espaço económico, mas coração da política. O convite de Francisco é, portanto, de considerar o papel positivo que a religião tem na sociedade, como pode ser o diálogo inter-religioso entre cristãos e muçulmanos na Europa. E o Papa, de facto, adverte sobre "um certo preconceito laicista ainda vivo", o qual, diz o Papa, não consegue perceber este valor da religião na esfera pública e prefere relegá-la apenas àquela privada. Mas, desta forma, se instaura "o predomínio de um certo pensamento único, bastante difuso  e que vê "na afirmação de uma identidade religiosa um perigo para a própria hegemonia, acabando assim por favorecer  uma contraposição artificial entre o direito à liberdade religiosa e outros direitos fundamentais.

A Europa deve também ser um espaço inclusivo valorizando, porém, as diferenças. Nesta perspectiva, os migrantes são um recurso, mais que um peso, e não podem ser descartados ao prazer de cada um. Por outro lado, o Papa recorda que os governantes devem gerir com prudência a questão das migrações. Não muros, portanto, mas o processo não pode ser sem regras. E por parte deles, também os migrantes devem "respeitar e assimilar a cultura" da nação que os acolhe.

E, finalmente, os cristãos são chamados a "dar novamente a alma à Europa", como fez São Bento: ele não ocupou espaços, mas "deu vida a um movimento contagioso e imparável, que redefiniu o rosto da Europa para que da fé possa nascer aquela alegre esperança, capaz de mudar o mundo. E Francisco concluiu com uma bênção aos presentes, os “nossos povos” e também a Europa.

BS
BS

Papa Francisco: os cristãos dêem novamente alma à Europa



(RV) O Papa Francisco recebeu na tarde deste sábado (28/10) na Sala do Sínodo, no Vaticano, os participantes na Conferência “Repensar a Europa. Uma contribuição cristã ao futuro do projecto europeu”, promovido pela Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (COMECE).

Apresentamos a seguir o texto integral do discurso:

“Eminências, Excelências,

Distintas autoridades,

Senhores e Senhoras,

Tenho a alegria de tomar parte neste momento conclusivo do Diálogo “(Re)thinking Europa. Uma contribuição cristã ao futuro do projecto europeu”, promovido pela Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (COMECE). Saúdo particularmente o Presidente, Sua Eminência o Cardeal Reinhard Marx, como também o honorável Antonio Tajani, Presidente do Parlamento Europeu, e vos agradeço pelas deferentes palavras que pouco antes me dirigiram. A cada um de vocês desejo expressar vivo apreço por terem participado em grande número a este importante âmbito de discussão. Obrigado!

O Diálogo destes dias ofereceu a oportunidade de reflectir de modo mais amplo sobre o futuro da Europa a partir de uma multiplicidade de perspectivas, graças à presença entre vocês de diversas personalidades eclesiais, políticas, académicas ou simplesmente representantes da sociedade civil.

Os jovens puderam expressar as suas expectativas e esperanças, debatendo com os mais idosos, os quais, por sua vez, tiveram a ocasião de oferecer a sua bagagem carregada de reflexões e experiências. É significativo que este encontro tenha querido ser, antes de tudo, um diálogo no espírito de um debate livre e aberto, por meio do qual enriquecer-se reciprocamente e iluminar o caminho do futuro da Europa, ou seja, o caminho que todos juntos somos chamados a percorrer para superar as crises que atravessamos e enfrentar os desafios que nos esperam.

Falar de uma contribuição cristã ao futuro do continente significa, antes de tudo, interrogar-se sobre o nosso papel como cristãos hoje, nestas terras tão ricamente plasmadas no decorrer dos séculos pela fé. Qual é a nossa responsabilidade em um tempo em que o rosto da Europa é sempre mais marcado por uma pluralidade de culturas e de religiões, enquanto para muitos, o cristianismo é percebido como um elemento do passado, distante e estranho?

Pessoa e comunidade

No ocaso da antiga civilização, quando as glórias de Roma tornavam-se as ruínas que ainda hoje podemos admirar na cidade; quando novos povos pressionavam as fronteiras do antigo Império, um jovem fez ressoar a voz do salmista: “Quem é o homem que quer a vida e deseja ver dias felizes?”¹

Ao propor esta interrogação no Prólogo da Regra, São Bento orientou a atenção de seus conterrâneos e também a nossa sobre uma concepção do homem radicalmente diferente daquela que havia distinguido o classicismo greco-romano, e mais ainda daquela violenta que havia caracterizado as invasões bárbaras.

O homem já não é mais simplesmente um civis, um cidadão dotado de privilégios para consumar-se no ócio; já não é mais um miles, combativo servidor do poder de turno; sobretudo já não é mais um servus, mercadoria de troca privada de liberdade, destinada unicamente ao trabalho e ao desgaste.

São Bento não se preocupa da condição social, nem da riqueza, nem do poder. Ele visa a natureza comum de cada ser humano, que, qualquer que seja a sua condição, anela certamente a vida e deseja dias felizes.

Para Bento, não existem funções, existem pessoas. Não existem adjectivos, existem substantivo. É justamente este um dos valores fundamentais que o cristianismo trouxe: o sentido da pessoa, constituída à imagem de Deus. A partir de tal princípio, se construíram os mosteiros, que com ot empo se converteram em berço do renascimento humano, cultural e religioso, e também económico do continente.

A primeira, e talvez maior contribuição que os cristãos podem dar à Europa de hoje é recordar que ela não é uma colecção de números ou de instituições, mas sim que é feita de pessoas.

Infelizmente, nota-se como frequentemente qualquer debate se reduz facilmente a uma discussão de cifras. Não existem cidadãos, existem votos. Não existem os migrantes, existem as cotas. Não existem trabalhadores, existem os indicadores económicos. Não existem os pobres, existem os bolsões de pobreza.

O concreto da pessoa humana reduziu-se assim a um princípio abstracto, mais cómodo e tranquilizador. E se compreende a razão disto: as pessoas têm rostos, nos obrigam a uma responsabilidade real, concreta, “pessoal”; as cifras tem a ver com raciocínios, ainda que úteis e importantes, mas permanecem sempre sem alma. Nos oferecem um álibi para não nos comprometermos, porque nunca nos chegam a tocar a própria carne.

Reconhecer que o outro é antes de tudo uma pessoa, significa valorizar aquilo que me une a ele. O ser pessoa nos liga aos outros, nos faz ser comunidade.

Assim, a segunda contribuição que os cristãos podem dar ao futuro da Europa é a redescoberta do sentido de pertença a uma comunidade. Não por acaso os Padres fundadores do projeto europeu escolheram justamente tal palavra para identificar o novo sujeito político que ia se constituindo.

A comunidade é o maior antídoto aos individualismos que caracterizam o nosso tempo, àquela tendência difusa hoje no Ocidente a conceber-se e viver na solidão.

Se subentende o conceito de liberdade, interpretando-o como se quase fosse o dever de estar sozinhos, livres de qualquer vínculo, e como consequência, construiu-se uma sociedade desarraigada, privada de sentido de pertença e de herança. E isto para mim é grave.

Os cristãos reconhecem que a sua identidade é antes de tudo relacional. Eles estão inseridos como membros de um corpo, a Igreja (cfr 1Cor 12,12), no qual cada um com a própria identidade e peculiaridade, participa livremente à edificação comum.

Analogamente, tal relação se dá também no âmbito das relações interpessoais e da sociedade civil. Diante do outro, cada um descobre os seus méritos e defeitos; os seus pontos de força e as suas fraquezas: em outras palavras, descobre o seu rosto, compreende a sua identidade.

A família, como primeira comunidade, permanece o mais fundamental lugar de tal descoberta. Nela, a diversidade se exalta e ao mesmo tempo se recompõe na unidade. A família é a união harmónica das diferenças entre homem e a mulher, que é tanto mais verdadeira e profunda quanto mais é generativa, capaz de abrir-se à vida e aos outros.

Da mesma forma, uma comunidade civil é viva se sabe ser aberta, se sabe acolher a diversidade e os dotes de cada um e ao mesmo tempo se sabe gerar novas vidas, como também desenvolvimento, trabalho, inovação e cultura.

Pessoa e comunidade são portanto, os fundamentos da Europa que como cristãos queremos e podemos contribuir para construir. Os tijolos de tal edifício se chamam: diálogo, inclusão, solidariedade, desenvolvimento e paz.

Um lugar de diálogo

Hoje toda a Europa, do Atlântico aos Urais, do Pólo Norte ao Mar Mediterrâneo, não pode permitir-se de perder a oportunidade de ser, antes de tudo, um lugar de diálogo, sincero e construtivo ao mesmo tempo, em que todos os protagonistas têm mesma dignidade.

Somos chamados a construir uma Europa na qual podemos nos encontrar e confrontar em todos os níveis, assim como o era em um certo sentido a antiga ágora. Tal era, de fato, a praça da polis. Não somente espaço de troca económica, mas também coração nevrálgico da política, sede em que se elaboravam as leis para o bem-estar de todos; lugar para o qual se assomava o templo, de forma que à dimensão horizontal da vida cotidiana não faltasse nunca o respiro transcendente que faz olhar para além do efémero, do passageiro, do provisório.

Tudo isto nos impele a considerar o papel positivo e construtivo que no geral a religião possui na edificação da sociedade. Penso, por exemplo, na contribuição do diálogo inter-religioso no favorecer o conhecimento recíproco entre cristãos e muçulmanos na Europa.

Infelizmente, um certo preconceito laicista, ainda em voga, não é capaz de perceber o valor positivo para a sociedade do papel público e objectivo da religião, preferindo restringi-la a uma esfera meramente privada e sentimental.

Instaura-se assim também o predomínio de um certo pensamento único², tão difuso nos foros internacionais, que vê na afirmação de uma identidade religiosa um perigo para si e para a própria hegemonia, acabando assim por favorecer uma falsa contraposição entre o direito à liberdade religiosa e outros direitos fundamentais. Existe um divórcio entre eles.

Favorecer o diálogo – qualquer diálogo – é uma responsabilidade fundamental da política, e, infelizmente, se percebe muito frequentemente como ela se transforma antes em um lugar de choque entre forças opostas. As vozes do diálogo são substituídas pelos gritos das reivindicações.

De vários lugares se tem a sensação que o bem comum não é mais o objectivo primário perseguido e tal desinteresse é percebido por muitos cidadãos.

Encontram assim terreno fértil em muitos países as formações extremistas e populistas que fazem do protesto o coração de sua mensagem política, sem todavia oferecer a alternativa de um construtivo projecto político.

O diálogo é substituído ou por uma contraposição estéril – que pode também colocar em perigo a convivência civil - ou uma hegemonia do poder político que aprisiona e impede uma verdadeira vida democrática. Em um caso, são destruídas as pontes e no outro, se constroem muros. E hoje a Europa conhece ambos.

Os cristãos são chamados a favorecer o diálogo político, especialmente onde este é ameaçado e parece prevalecer o conflito.

Os cristãs são chamados a dar nova dignidade à política, entendida como máximo serviço ao bem comum e não como um ocupação de poder. Isto requer também uma adequada formação, porque a política não é “a arte da improvisação”, mas sim uma expressão elevada de abnegação e dedicação pessoal em vantagem da comunidade. Ser líder exige estudo, preparação e experiência.

Um âmbito inclusivo

A responsabilidade comum dos líderes é a de favorecer uma Europa que seja uma comunidade inclusiva, livre de um equívoco de fundo: inclusão não é sinónimo de uniformização indiferenciada. Pelo contrário, se é autenticamente inclusivos quando se sabe valorizar as diferenças, assumindo-as como património comum e enriquecedor.

Nesta perspectiva, os migrantes são um recurso mais do que um peso. Os cristãos são chamados a meditar seriamente a afirmação de Jesus: “Era estrangeiro e me acolheste” (Mt 25,35).

Sobretudo diante do drama dos refugiados e deslocados, não se pode esquecer o fato de se estar diante de pessoas, as quais não podem ser escolhidas ou descartadas ao bel prazer, segundo lógicas políticas, económicas ou até mesmo religiosas.

Todavia, isto não está em contraste com o dever de toda autoridade de governo de gerir a questão migratória “com a virtude que é própria do governante, isto é, a prudência”³, que deve levar em consideração tanto a necessidade de ter um coração aberto, como a possibilidade de integrar plenamente em nível social, económico e político, aqueles que chegam ao país.

Não se pode pensar que o fenómeno migratório seja um processo indiscriminado e sem regras, mas não se podem erguer tampouco muros de indiferença ou de medo.

Por sua vez, os próprios migrantes não devem esquecer o compromisso importante de conhecer, respeitar e também assimilar a cultura e as tradições da nação que os acolhe.

Um espaço de solidariedade

Trabalhar por uma comunidade inclusiva significa edificar um espaço de solidariedade. Ser comunidade implica, de fato, que nos apoiemos reciprocamente e assim, que não sejam somente alguns a poder carregar pesos e realizar sacrifícios extraordinários, enquanto outros permanecem petrificados na defesa de posições privilegiadas.

Uma União Europeia que, ao enfrentar as suas crises, não redescobre o sentido de ser um única comunidade que se sustenta e se ajuda – e não um conjunto de pequenos grupos de interesse – perderia não somente um dos desafios mais importantes da sua história, mas também uma das grandes oportunidades para o seu futuro.

A solidariedade, aquela palavra que tantas vezes parece que se quer tirar do dicionário. A solidariedade, que na perspectiva cristã encontra a sua razão de ser no preceito do amor (cfr Mt 22,37-40), não pode que ser a seiva vital de uma comunidade viva e madura.

Junto a um outro princípio base da subsidiariedade, esta diz respeito não somente às relações entre os Estados e as Regiões da Europa.

Ser uma comunidade solidária significa ter cuidado pelos mais fracos da sociedade, pelos pobres, por aqueles que são descartados pelos sistemas económicos e sociais, a começar pelos idosos e pelos desempregados. Mas a solidariedade exige também que se recupere a colaboração e o apoio recíproco entre as gerações.

A partir dos anos sessenta do século passado está em andamento um conflito de gerações sem precedentes. Ao entregar às novas gerações os ideais que fizeram grande a Europa, se pode dizer hiperbolicamente que preferiu-se a traição à tradição. À rejeição daquilo que vinha dos pais, se seguiu um tempo de uma dramática esterilidade. Não somente porque na Europa se fazem poucos filhos - o nosso inverno demográfico - e muitos são aqueles que foram privados do direito de nascer - mas também porque nos descobrimos incapazes de entregar aos jovens os instrumentos materiais e culturais para enfrentar o futuro.

A Europa vive uma espécie de déficit de memória. Voltar a ser comunidade solidária significa redescobrir o valor do próprio passado, para enriquecer o próprio presente e entregar à posteridade um futuro de esperança.

Tantos jovens se encontram, pelo contrário, perdidos diante da ausência de raízes e de perspectivas, são desarraigados, "ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina" (Ef 4,14); às vezes também “prisioneiros” de adultos possessivos, que sofrem em cumprir a tarefa que lhes corresponde.

É importante a tarefa de educar, não somente oferecendo um conjunto de conhecimentos técnicos e científicos, mas sobretudo trabalhando “para promover a perfeição integral da pessoa humana, como também para o bem da sociedade terrena e para a edificação de um mundo mais humano”(4). Isto exige o envolvimento de toda a sociedade. A educação é uma tarefa comum, que requer a ativa participação ao mesmo tempo dos pais, da escola e das universidades, das instituições religiosas e da sociedade civil. Sem educação, não se gera cultura e se torna árido o tecido vital das comunidades.

Uma fonte de desenvolvimento

A Europa que se redescobre comunidade, será certamente uma fonte de desenvolvimento para si e para todo o mundo. Desenvolvimento tem que ser entendido na acepção que o Beato Paulo VI deu a tal palavra. “Para ser autêntico desenvolvimento deve se integral, o que quer dizer voltado à promoção de cada homem e de todo o homem. Como foi justamente sublinhado por um eminente especialista: “nós não aceitamos separar o económico do humano, o desenvolvimento da civilização onde se insere. Aquilo que conta para nós é o homem, cada homem, cada grupo de homens, até chegar a compreender toda a humanidade” (5).

Certamente, ao desenvolvimento do homem contribui o trabalho, que é um factor essencial para a dignidade e o amadurecimento da pessoa. É preciso trabalho e são necessárias condições adequadas ao trabalho.

No século passado não faltaram exemplos eloquentes de empreendedores cristãos que compreenderam como o sucesso de suas iniciativas dependia antes de tudo da possibilidade de oferecer oportunidades de emprego e condições dignas de ocupação.

É preciso partir novamente do espírito daquelas iniciativas, que são também o melhor antídoto aos desequilíbrios provocados por uma globalização sem alma, uma globalização "esférica", que mais atenta ao lucro do que às pessoas, criou grande quantidade de bolsões de pobreza, desemprego, exploração e de mal-estar social.

Seria oportuno também redescobrir a necessidade de uma concretude do trabalho, sobretudo para os jovens. Hoje muitos tendem a rejeitar trabalhos em sectores cruciais em outros tempos, porque considerados cansativos e mal remunerados, esquecendo o quanto eles sejam indispensáveis para o desenvolvimento humano.

O que seria de nós, sem o empenho de pessoas que com o trabalho contribuem para a nossa alimentação cotidiana? O que seria de nós sem o trabalho paciente e engenhoso de quem tece as roupas que vestimos ou constrói as casas em que vivemos?

Muitas profissões hoje consideradas secundárias são fundamentais. O são do ponto de vista social, mas sobretudo o são para a satisfação que os trabalhadores recebem em poder serem úteis para si e para os outros por meio de seu esforço cotidiano.

Também corresponde aos governos criar as condições económicas que favoreçam um são empreendedorismo e níveis adequados de emprego. À política compete, especialmente, reativar um círculo virtuoso que, a partir de investimentos em favor da família e da educação, permita o desenvolvimento harmonioso e pacífico de toda a comunidade civil.

Uma promessa de paz

Por fim, o compromisso dos cristãos na Europa deve constituir uma promessa de paz. Foi este o pensamento principal que animou aqueles que assinaram os Tratados de Roma. Após duas Guerras Mundiais e violências atrozes de povos contra povos, era chegado o tempo de afirmar o direito à paz. (6). É um direito. Ainda hoje, porém, vemos como a paz é um bem frágil e as lógicas particulares e nacionais correm o risco de frustrar os sonhos corajosos dos fundadores da Europa (7).

Todavia, ser artífices de paz (cfr Mt 5,9) não significa somente trabalhar para evitar as tensões internas, trabalhar para colocar fim a numerosos conflitos que ensanguentam o mundo ou levar alívio a quem sofre.

Ser agentes de paz significa fazer-se promotor de uma cultura da paz. Isto exige amor à verdade, sem a qual não podem existir relações humanas autênticas, e busca da justiça, sem a qual o abuso é a norma imperante de qualquer comunidade.

A paz exige pura criatividade. A União Europeia manterá fidelidade ao compromisso de paz na medida em que não perder a esperança e saberá renovar-se para responder à necessidade e às expectativas dos próprios cidadãos.

Há cem anos, justamente nestes dias iniciava a batalha de Caporetto, uma das mais dramáticas da Grande Guerra. Ela foi o ápice de uma guerra de deterioração, como foi o primeiro conflito mundial, que teve o triste primado de causar inumeráveis vítimas diante de conquistas irrisórias.

Daquele evento aprendemos que quem se entrincheira dentro das próprias posições, acaba por sucumbir. Não é este, portanto, o tempo de construir trincheiras, mas sim ter a coragem de perseguir com determinação o sonho dos Pais fundadores de uma Europa unidade e concorde, comunidade de povos desejosos de compartilhar um destino de desenvolvimento e de paz.

Ser alma da Europa

Eminências, Excelências, Ilustres hóspedes,

O autor da Carta a Diogneto afirma que “como é a alma no corpo, assim no mundo são os cristãos” (8). Neste tempo, eles são chamados a dar novamente alma à Europa, a despertar a consciência, não para ocupar espaços - isto seria proselitismo - mas para animar processos que gerem novos dinamismos na sociedade.

Foi justamente o que fez São Bento, não por acaso proclamado por Paulo VI Patrono da Europa: ele não se deteve em ocupar os espaços de um mundo perdido e confuso. Sustentado pela sua fé, ele olhou além e de uma pequena gruta em Subiaco deu vida a um movimento corajoso e irreversível que redesenhou o rosto da Europa.

Ele, que foi “mensageiro de paz, realizador de união, mestre de civilização” (10) mostre também a nós cristãos de hoje como da fé brota sempre uma esperança alegre, capaz de mudar o mundo. Obrigado!

Que o Senhor abençoe a todos nós, abençoe o nosso trabalho, abençoe os nossos povos, as nossas famílias, os nossos jovens, os nossos idosos, abençoe a Europa.

Vos abençoe o Deus Todo-Poderoso, Pai e Filho e Espírito Santo.

Muito obrigado, Onrigado!"

(Tradução livre do Programa Brasileiro)
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1 Benedetto, Regola, Prologo, 14. Cfr Sal 33,13.
2 La dittatura del pensiero unico. Meditazione mattutina nella Cappella della Domus Sanctæ Marthæ, 10 aprile 2014.
3 Conferenza stampa durante il volo di ritorno dalla Colombia, 10 settembre 2017.
4 Concilio Ecumenico Vaticano II, Dich. Gravissimum educationis, 28 ottobre 1965, 3.
5 Paolo VI, Lett. enc. Popolorum progressio, 26 marzo 1967, 14.
6 Cfr Discorso agli studenti e al mondo accademico, Bologna, 1° ottobre 2017, n. 3.
7 Cfr ibid.
8 Lettera a Diogneto, VI.
9 Cfr Esort. ap. Evangelii gaudium, 223.
10 Paolo VI, Lett. ap. Pacis Nuntius, 24 ottobre 1964.