(RV) Na
manhã deste sábado o Papa recebeu em audiências sucessivas, a partir das
10 horas, Andrej Plenkovic, Presidente do Governo da Croácia com o
séquito; D. Claudio Gugerotti, Núncio Apostólico na Ucrânia; e, pouco
depois do meio dia, deslocou-se à Sala Clementina, no Palácio
Apostólico, para receber 268 participantes no Colóquio Internacional
sobre “Ratio Fundamentalis”, promovido pela Congregação para o Clero.
Num discurso pronunciado na segunda pessoa do plural, portanto, incluindo-se a si próprio, Francisco disse-lhes que “a
formação sacerdotal é determinante para a missão da Igreja: a
renovação da fé e o futuro das vocações é possível só se tivermos padres
bem formados” mas - sublinhou - “a formação sacerdotal depende em primeiro lugar da acção de Deus na nossa vida e não das nossas actividades”. É preciso ter a “coragem de se deixar plasmar pelo Senhor, a fim de que transforme os nossos corações e a nossa vida”.
Isto - disse o Papa referindo-se à passagem bíblica do Profeta
Jeremias sobre o oleiro que molda a argila - ajuda a compreender que a
questão da formação “não se resolve com algumas actualizações culturais
ou alguma iniciativa esporádica a nível local. É Deus o artesão paciente
e misericordioso da nossa formação sacerdotal e, como está escrito na
Ratio, este trabalho dura toda a vida”. Quando temos a coragem de deixar
para trás os nossos cómodos hábitos, a rigidez dos esquemas e a
presunção de ter completado tudo, para nos colocarmos perante Deus,
então “Ele retoma o seu trabalho em nós, nos plasma e nos transforma” –
frisou Francisco que insistiu com força:
“Se uma pessoa não se deixa todos os dias formar pelo Senhor,
torna-se num padre apagado, que se arrasta no ministério por inércia,
sem entusiasmo pelo Evangelho nem paixão pelo Povo de Deus. Pelo
contrário, o padre que, dia por dia, se confia às mãos sapientes do
Oleiro com “O” maiúsculo, conserva ao longo dos tempos o entusiasmo do
coração, acolhe com alegria a frescura do Evangelho, fala com palavras
capazes de tocar a vida das pessoas; e as suas mãos, ungidas pelo Bispo
no dia da Ordenação, são capazes de ungir, por sua vez, as feridas, as
expectativas e as esperanças do Povo de Deus.”
Um outro aspecto sublinhado pelo Papa no seu discurso à Congregação
para o Clero é que cada padre é chamado a colaborar com o Oleiro divino,
pois que o padre não é apenas argila, mas também ajudante do Oleiro,
colaborador da sua graça. E o Papa identificou na formação sacerdotal,
inicial e permanente, três protagonistas na oficina do oleiro: o próprio
sacerdote ou seminarista que tem a responsabilidade primordial de se
deixar moldar por Deus e para isso é preciso que saiba dizer “sins” e
“nãos” conforme diversas situações que o Papa enumerou antes de falar
dos formadores ou seja, os Reitores, os Directores Espirituais, os
educadores, mas sobretudo o Bispo. Ele é justamente definido na Ratio –
frisou Francisco – “primeiro responsável da admissão no Seminário e da formação sacerdotal”
“Se um formador ou um Bispo não “desce para a oficina do
oleiro” e não colabora com a obra de Deus, não poderemos ter sacerdotes
bem formados!”
Isto requer um cuidado especial para com as vocações, proximidade
carregada de ternura e de responsabilidade em relação à vida do padre,
capacidade e arte de discernimento – recordou Francisco – recomendando
aos bispos a trabalharem juntos e a terem um coração grande e um respiro
amplo nesta tarefa que requer diálogo, opções partilhadas...
“Tenhais a peito a formação sacerdotal: a Igreja precisa de
padres capazes de anunciar o Evangelho com entusiasmo e sapiência, de
acender a esperança lá onde as cinzas cobrem as brasas da vida, e de
gerar a fé nos desertos da história”
Mas Francisco recomendou ainda aos membros da Congregação para o
Clero a não esquecerem, na formação do sacerdote, o Povo de Deus que,
com as suas interrogações e necessidades constitui um grande “roliço”
que plasma a argila do nosso sacerdócio.
“Quando saímos em direcção ao Povo de Deus, nos deixamos
plasmar pelas suas expectativas, tocando as suas feridas, nos damos
conta de que o Senhor transforma a nossa vida”.
Para o Papa estar no meio do Povo de Deus “é uma verdadeira e própria
escola de formação humana, espiritual, intelectual e pastoral. Com
efeito, o Padre deve estar entre Jesus e a gente”. E concluiu deixando
para a reflexão esta profunda interrogação:
“Que padre desejo ser? Um “padre de salão, tranquilo e
colocado, ou então um discípulo missionário a quem arde o coração pelo
Mestre e pelo Povo de Deus? Um tépido que prefere o quieto viver ou um
profeta que acorda nos corações do homem o desejo de Deus?”
E antes de os abençoar, prometendo rezar por eles e pedindo oração
para ele, o Papa pediu a Nossa Senhora, que hoje veneramos como Nossa
Senhora do Rosário, que "nos ajude a caminhar com alegria no serviço
apostólico e torne os nossos corações semelhantes ao seu: humilde e
dócil, como a argila nas mãos do Oleiro”
A "Ratio Fundamentalis" é o novo documento da Congregação para o
Clero sobre a formação dos sacerdotes. Foi publicado a 8 de Dezembro de
2016.
(DA)
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