10 outubro, 2010

9-8: O Coração Trespassado

Série: 'Oração e Vida'

O mistério do amor infinito de Deus revela-se no Coração trespassado do Verbo feito carne no seio da Virgem Maria. Deus é Amor (1Jo 4,8), mas esse amor está simbolizado no Coração de Cristo. É todo o amor divino e todo o amor humano que ali está presente, misticamente simbolizado, no Coração trespassado do Cordeiro, no Coração do Bom Pastor, no Coração do Bom Samaritano, no Coração do Amigo dos pecadores, no Coração do Redentor.
Deus é Coração. Deus tem Coração. Deus é Amor e não pode nunca deixar de amar e de amar-nos. Amor infinito, total, perfeito. E todo esse amor está no Coração do Filho, que foi trespassado na cruz.
Dá pena sentir que em muitos locais, em muitas paróquias, em certos movimentos, em gente que tem responsabilidade na Igreja, a devoção e o culto ao Sagrado Coração de Jesus pareça uma velharia de antigamente, algo desactualizado, sem sentido de novidade, sem motivos para uma pastoral dita moderna e actualizada. Como anda enganada essa gente!!! Santo Deus!!!
Basta ouvir os jovens, basta ver os corações que eles traçam com um canivete nas cascas das árvores ou nos bancos dos jardins, basta ver o coração trespassado com uma seta que desenham nos cadernos, nos livros, nos seus “diários íntimos”, nas cartas que escrevem, sobretudo quando estão mais apaixonados.
O coração é uma linguagem universal, é um símbolo universal para falar do amor, para dizer que se ama e que se é amado.
Porquê, então deitar fora a grandeza desse símbolo, porquê não evangelizar através dele?
Porquê não se servir dessa linguagem universal para anunciar o amor louco de Jesus por nós e a retribuição do nosso amor por Ele?
Porquê ter medo de falar do Coração de Cristo Redentor?
Porquê acabar com a devoção e a prática das Primeiras Sextas Feiras, com os tríduos do Coração de Jesus, com as Horas Santas, com o sentido bíblico e espiritual do coração, da amizade por Jesus, da reparação do Coração do Amigo?
Será que temos vergonha dessa linguagem?
Será que não percebemos que os jovens gostam dela e se sentem atraídos a usá-la?
Será que o Coração, porque exigente no amor, no dom, na entrega, na reciprocidade, nos mete medo?
Será que alguns pastores têm medo de serem tidos por antiquados só porque ainda “acreditam nessas coisas”?
Mas se Deus é Coração, ou como disse um místico da escola carmelita, parafraseando o prólogo de S. João: “no princípio era o Coração”, temos que descobrir a riqueza teológica e espiritual, bíblica e pastoral do mistério do Coração d’Aquele que deu a vida por nós e que, cada dia, renova esse dom na Eucaristia, ou como afirmou Paulo VI: “ A Eucaristia é o maior dom do Coração de Jesus”.
Abramos os olhos, abramos sobretudo o coração para esse Coração divino que continua a ter sede, a sede mística do alto da cruz, a sede da nossa amizade, do nosso tempo, do nosso coração, da nossa oração, da nossa amizade. Não nos intimidemos, não nos assustemos com as exigências do divino Amor.
Abramos o osso Coração ao Amor do Coração do Redentor, que continua aberto para que nós possamos entrar n’Ele, para encontrarmos n’Ele graça e santidade, paz e misericórdia, refúgio e repouso, vida e felicidade.
Tudo nos vem desse Coração, dessa fonte divina sempre aberta e a jorrar torrentes de misericórdia e de graça. Não deitemos fora esta riqueza, não desprezemos este tesouro.
Seria um “crime”, seria um “pecado”, seria, sem dúvida, um erro pastoral, um desajuste ao sentido profundo do amor que nos baila no coração. Sejamos modernos, usemos o coração como distintivo do amor.
Dário Pedroso, SJ
Labat n.º 75 de Setembro de 2007

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