10 outubro, 2010

6-8: Jesus Cristo, Modelo de Oração

Série: 'Oração e Vida'

Se é importante olhar o Pai como alicerce da nossa oração, é preciso imolar os ídolos que nos povoam o interior, para descobrir o Abba, o Paizinho, o Deus de Amor, pois só assim o nosso diálogo orante é verdadeiramente evangélico.
Mas não é menos importante pensar na oração de Jesus, contemplar Jesus Orante, como modelo da nossa oração, pois é outro grande alicerce da nossa vida de oração, da nossa vida interior.
Jesus é, antes de mais, um Filho em continua comunhão com o Pai. Vida orante de unidade e de comunhão, vida de Filho centrado no Pai, vida do Unigénito, que dialoga, em amor e com amor, no mistério do Pai.
Daí Lhe vem, a Jesus, ser um contemplativo na vida. Tudo, sobretudo nos longos anos da vida oculta, é visto, é vivido, é centrado no Pai e no seu amor.
Mais tarde há-de fazer referência ao Pai e ao Reino, quando falar da luz que se coloca em cima do candelabro, dos lírios do campo, do fermento na massa, do pôr-do-sol bonito, adivinhando bem tempo.
Tudo, no Coração do Filho, é motivo, é meio para Se centrar no Pai e viver como contemplativo na vida, contemplativo na acção.
E ao deixar a pacata vida de Nazaré, ao deixar a vida oculta, vai ao deserto onde reza quarenta dias e quarenta noites. Também aí é o diálogo com o Pai o importante para lançar as bases do Reino que ia pregar, para escolher os apóstolos, para dar fundamentos à Igreja. No diálogo como Pai encontra eco às suas aspirações e respostas para as suas perguntas e interrogações, para as suas interpelações afectivas.
E ao longo da vida pública, dos escassos três anos de vida pública, é no Pai que está centrado o seu ser e o seu coração.
Durante a vida pública parece passar mais tempo a rezar do que a pregar.
Noites inteiras, madrugadas, “fugas” para a solidão do monte para estar com o Pai.
Reza no meio das multidões antes dos milagres, reza quando ensina o Pai Nosso, reza antes da Transfiguração no Monte Tabor, reza para alcançar a fé para os discípulos.
Passa a vida pública a orar.
É, de verdade o Homem Orante, o Filho em contínua comunhão com o Pai.
Depois rezará na Ceia, a última Ceia, a Instituição da Eucaristia. Aí há uma longa oração eucarística e sacerdotal, que Lhe repassa o coração de Único e Eterno Sacerdote.
A seguir irá ao Horto, onde nesse jardim das Oliveiras, rezará horas seguidas, repetindo sempre a mesma súplica. Horas de agonia, de tédio, de pavor, mas horas de oração.
Vence as tentações dessa noite tenebrosa, rezando.
E, finalmente, morre rezando. As palavras da Cruz são quase todas elas expressões orante de um Jesus em agonia e quase moribundo.
Mas reza, não deixa a oração pois ela é a força dos fracos, o auxílio para a dor e para a morte.
Agora Jesus continua a rezar. A oração não foi só algo que Ele fez há dois mil anos.
Hoje reza de muitos modos e em muitos estados.
No Céu, à direita do Pai, como Mediador e Pontífice.
Reza na Eucaristia, sua acção de graças por excelência, a oração mais importante da Igreja.
Reza silencioso em milhões de sacrários espalhados pelo mundo.
Reza no coração da Igreja, como comunidade de crentes, pois onde dois ou três estão reunidos Ele está no meio, rezando e estimulando a fé, a esperança e o amor.
Reza no nosso interior, no íntimo de cada cristão, onde pela acção do Espírito é o Jesus Orante.
Pensar neste Jesus, modelo da nossa oração e abrir a alma e o coração ao sopro do Espírito de Jesus, é aprender com Ele a rezar, imitá-Lo na sua vida orante.

Dário Pedroso sj
Labat n.º 72 de Maio de 2007

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