10 outubro, 2010

7-8: VIDA cristã e oração trinitária

SÉRIE: 'Oração e Vida'
Temos vindo a reflectir acerca do Pai como fim último da nossa oração, como Paizinho, com quem desejamos ter uma comunhão filial e amiga. Olhámos para Jesus Orante como Modelo da nossa oração. Fixámo-nos no Espírito Santo como Mestre interior, como Aquele que reza em nós e nos ensina a rezar.
Vamos, agora, a partir da nossa realidade de baptizados, fazer a relação da nossa vida cristã com a nossa oração. Se como baptizados somos filhos de Deus Pai, irmãos de Jesus Cristo e templos do Espírito Santo, precisamos de ir à fonte da nossa origem trinitária e descobrimos que a nossa oração deve tender para um diálogo cada vez mais intenso e profundo com cada uma das Pessoas divinas.
Desenvolver a graça de ser filhos, filhos no Filho, irmãos de Jesus que de Unigénito Se tornou o Primogénito, e termos com o Pai um diálogo, uma comunhão, uma intimidade ao jeito de Jesus nosso modelo.
Com Jesus vamos descobrindo o caminho para o Pai e tendo com Ele uma amizade filial cada vez mais intensa. Filhos que vivem a sua vocação baptismal e que se encantam de ter com o Pai um diálogo e uma abertura cada vez maior.
Mas é natural que a nossa oração comece por ser uma oração cristológica, ou seja, que comecemos por rezar a Jesus e encontrar n’Ele o Amigo, o Salvador, o Redentor, Ele modelo da nossa oração, o Jesus dos mistérios que contemplamos, o Rabi de Nazaré.
Cada mistério, cada faceta da vida de Jesus é-nos mais fácil de imaginar e, por isso, facilita também o diálogo e a comunhão, a oração e a intimidade com Jesus. Mas se Ele é caminho para o Pai, com Ele, através d’Ele, temos de chegar ao Pai e ter uma oração verdadeiramente filial.
Mas, em terceiro lugar, precisamos de cultivar uma comunhão pessoal, um diálogo, com o Espírito Santo, a alma da nossa alma, Aquele que é o nosso Mestre interior, que é Mestre da nossa oração e da nossa vida espiritual. Somos templos, têmo-Lo em nós, precisamos de entrar em diálogo com Ele.
O Espírito deve ser o nosso contínuo interlocutor, numa oração em que Ele vai sendo o dono do nosso santuário, o Senhor da nossa casa, o Deus do templo que somos. O Espírito irá tomando conta da nossa inteligência, da nossa vontade, da nossa liberdade, do nosso coração, do nosso afecto, e será, aos poucos, o “Senhor do santuário”.
É evidente que a oração tem de ser feita na liberdade interior, ou seja, não podemos programar que agora rezo ao Pai, depois rezarei ao Filho, finalmente rezarei ao Espírito.
A oração quer-se livre e espontânea e, se um dia, estamos mais sintonizados com o Filho, até por causa da leitura duma passagem do Evangelho ou do tempo litúrgico que estamos a viver, importa, que fiquemos aí, na oração com Jesus.
Dia virá que o nosso interlocutor será mais o Pai e, então, será com Ele que é bom rezar e dialogar. E o mesmo se diga do Espírito Santo. Não há programa semanal, não há determinação de calendário. Será o Espírito a conduzir a nossa oração trinitária.
E porque é trinitária, também pode ser feita à Trindade, como um todo, como uma Família, como uma relação pessoal com a Trindade que é conjunto e relação de Pessoas, unidas pelo amor.
Dialogar com a Trindade no seu conjunto, como Família divina, é também uma excelente oração, um modo de viver a nossa vocação cristã, que é sempre uma vocação trinitária. Viemos da Trindade e caminhamos para a Trindade.
Habituados a falar, a dialogar com cada um d’Eles, podemos aos poucos centrar a nossa oração na própria Trindade.
Dário Pedroso S.J.
Labat n.º 73 de Junho de 2007

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