31 janeiro, 2017

Papa: Jesus sempre rodeado de gente, mas não busca popularidade




(RV) Se com perseverança mantivermos o olhar fixo em Jesus, descobriremos com surpresa que é Ele que olha com amor para cada um de nós: disse o Papa durante a Missa na manhã desta terça-feira (31/01), na Casa Santa Marta.

Dirigindo-se aos participantes, o Pontífice iniciou a sua homilia recordando que a Carta aos Hebreus nos exorta a correr na fé com “perseverança, mantendo o olhar fixo em Jesus”. Já no 5º capítulo do Evangelho de Marcos, “é Jesus que nos olha e percebe que estamos ali. Ele nos está próximo, está sempre no meio da multidão”, explicou o Papa.

“Não está com os guardas que fazem escolta, para que ninguém o toque. Não, não! Ele fica ali, comprimido entre as pessoas. E sempre que Jesus saía, tinha mais gente. Especialistas de estatísticas poderiam até ter noticiado: “Cai a popularidade do Rabí Jesus”... Mas ele procurava outra coisa: procurava as pessoas. E as pessoas o procuravam. O povo tinha os olhos presos Nele e Ele tinha os olhos presos nas pessoas. “Sim, sim, no povo, na multidão”, “Não, não, em cada um!” É esta a peculiaridade do olhar de Jesus. Jesus não massifica as pessoas; Ele olha para cada um”.

Pequenas alegrias

O Evangelho de Marcos narra dois milagres: Jesus cura uma mulher que tem hemorragias há 12 anos e que, no meio da multidão, consegue tocar sua roupa. Ele percebe que foi tocado e depois, ressuscita a filha de 12 anos de Jairo, um dos chefes da Sinagoga. Ele observa que a menina está faminta e diz aos pais que lhe dêem de comer:

“O olhar de Jesus passa do grande ao pequeno. Assim olha Jesus: olha para nós, todos, mas vê cada um de nós. Olha os nossos grandes problemas, percebe as nossas grandes alegrias e vê também as nossas pequenas coisas... porque está perto. Jesus não se assusta com as grandes coisas e leva em conta também as pequenas. Assim olha Jesus”.

Se corrermos “com perseverança, mantendo fixo o olhar em Jesus” – afirma o Papa Francisco – acontecerá connosco o que aconteceu com as pessoas depois da ressurreição da filha de Jairo, que ficaram todas admiradas:

“Vou, vejo Jesus, caminho avante, fixo o olhar em Jesus e o que vejo? Que Ele tem o olhar sobre mim! E isto me faz sentir um grande estupor: é a surpresa do encontro com Jesus. Mas não tenhamos medo! Não tenhamos medo, assim como não o teve aquela senhora que foi tocar o manto de Jesus. Não tenhamos medo! Corramos neste caminho, com o olhar sempre fixo em Jesus. E teremos esta bela surpresa, que nos encherá de estupor. O próprio Jesus com os olhos fixos em mim”. (BS/CM)

30 janeiro, 2017

Papa Francisco: homilia em Santa Marta



(RV) Os mártires são aqueles que levam avante a Igreja, são aqueles que sustentam a Igreja, que a sustentaram desde sempre e a sustentam ainda hoje. E hoje são em números maiores em relação aos primeiros séculos da vida da Igreja.  Palavras do Papa Francisco durante a homilia proferida esta manhã, segunda-feira, dia 30 de Janeiro de 2017, na Capela de Santa Marta.

Os mártires observou Francisco são em número maior hoje, não obstante o facto que os meios de comunicação social não o digam claramente, pois eles não constituem objecto de notícia. Entretanto, acrescentou, muitos cristãos no mundo de hoje, são bem-aventurados porque perseguidos, insultados, encarcerados: são de facto tantos os cristãos encarcerados só por levarem consigo uma cruz ou por terem confessado a sua fé em Jesus Cristo.

Esta é a glória da Igreja e o nosso apoio é também a nossa humilhação: nós que temos tudo, tudo parece fácil para nós e se nos falta algo lamentamos. Pensemos nestes irmãos e irmãs que hoje, em números maiores a dos primeiros séculos da Igreja, sofrem o martírio.

E também nós hoje, frisou o Santo Padre, é verdade e também justo, estamos satisfeitos quando vemos um acto eclesial grande, que teve um grande sucesso, os cristãos que manifestam. E isto é belo! Mas esta é a força? questionou Francisco! Sim, certamente é a força. Mas a maior força da Igreja hoje está nas pequenas Igreja, pequeníssimas, com pouca gente, perseguida e as vezes até com os seus bispos nas prisões, disse. Esta, lembrou ainda Francisco, é a nossa glória hoje, esta é a nossa glória e a nossa força hoje.

Eles com o seu martírio, o seu testemunho, com o seu sofrimento, mesmo dando a sua vida, oferecendo a sua vida, semeiam cristãos para o futuro e nas outras Igrejas. Dediquemos esta santa missa aos nossos mártires, para aqueles que sofrem neste momento, para as Igrejas que sofrem, que não têm liberdade. E agradecemos ao Senhor por estar presente com a força do seu Espírito nestes nossos irmãos e irmãs que hoje dão testemunho dele.

29 janeiro, 2017

Papa no Angelus: confiemos em Deus com a humildade dos pobres em espírito


(RV) Antes da oração mariana do Angelus, o Papa Francisco dirigindo-se aos milhares de fiéis presentes na Praça de S. Pedro falou da liturgia deste dia que nos faz meditar sobre as bem-aventuranças, a "Magna Carta" do Novo Testamento.

Jesus manifesta a vontade de Deus de conduzir os homens à felicidade, disse Francisco, uma mensagem que já estava presente na pregação dos profetas: Deus está perto dos pobres e oprimidos, e os livra daqueles que os maltratam.

Mas na sua pregação Jesus começa com a palavra "bem-aventurados", isto é, felizes; continua com a indicação da condição para ser felizes; e conclui fazendo uma promessa.

“O motivo da bem-aventurança, isto é da felicidade, não está na condição necessária - "pobres em espírito", "aflitos", "com fome de justiça", "perseguidos" ... -, mas na sucessiva promessa, que se deve acolher com fé como dom de Deus. Parte-se da condição de desconforto para se abrir ao dom de Deus e ter acesso ao mundo novo, o "reino" anunciado por Jesus”.

Não é um mecanismo automático, reiterou o Papa, mas um caminho de vida seguindo o Senhor, para quem a realidade de desconforto e aflição é vista numa perspectiva nova e experimentada segundo a conversão que se faz. Não se é bem-aventurado se não se é convertido, capaz de apreciar e viver os dons de Deus.

E o Papa deteve-se na primeira bem-aventurança: "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus", explicando que o pobre em espírito é aquele que assumiu os sentimentos e atitudes daqueles pobres que na sua condição não se rebelam, mas sabem ser humildes, dóceis, disponíveis à graça de Deus. E ainda, que a felicidade dos pobres em espírito tem uma dupla dimensão: em relação com os bens e em relação com Deus:

“Em relação com os bens materiais ela é sobriedade: não necessariamente renúncia, mas capacidade de saborear o essencial, de partilhar; capacidade de renovar todos os dias a admiração pela bondade das coisas, sem se tornar pesado na opacidade do consumo voraz. Em relação com Deus é louvor e reconhecimento que o mundo é  bênção e que na sua origem está o amor criador do Pai. Mas é também abertura a Ele, docilidade à Sua Senhoria, que quis o mundo para todos os homens na sua condição de pequenez e limitação”.

O pobre em espírito é o cristão que não confia em si mesmo, nas suas riquezas materiais, não se obstina nas suas próprias opiniões, mas escuta com respeito e se abandona com boa vontade às decisões dos outros, ressaltou Francisco observando ainda que se nas nossas comunidades houvesse mais pobres em espírito, haveria menos divisões, contrastes e polémicas! Porque a humildade, como a caridade, é uma virtude essencial para a convivência nas comunidades cristãs. Os pobres, neste sentido evangélico, parecem ser aqueles que mantêm viva a meta do Reino do Céu, fazendo vislumbrar que ele, o reino, é antecipado em germe na comunidade fraterna, que privilegia a partilha à posse.

Que a Virgem Maria, modelo e primícia dos pobres em espírito, porque totalmente dócil à vontade do Senhor, nos ajude a abandonar-nos a Deus, rico em misericórdia, para que Ele nos encha dos seus dons, especialmente a abundância do seu perdão.

Depois do Angelus Francisco recordou o Dia Mundial dos doentes da Lepra que hoje se celebra. Esta doença, disse, embora esteja em declínio, ainda está entre as mais temidas e afecta os mais pobres e marginalizados. É importante, portanto, lutar contra esta doença, mas também contra as discriminações que ela provoca. “Encorajo todos os que envolvidos na assistência e reabilitação social das pessoas afectadas pela lepra, para quem asseguramos a nossa oração”, disse, acrescentando:

“Também gostaria de renovar a minha proximidade às populações da região central da Itália que ainda sofrem as consequências do terremoto e das difíceis condições atmosféricas. Não falte a estes nossos irmãos e irmãs o constante apoio das instituições e a solidariedade comum. E que nenhum tipo de burocracia os faça esperar e sofrer ulteriormente”.

Em seguida o Papa dirigiu-se aos cerca de 3 mil meninos e meninas de Acção Católica, das paróquias e escolas católicas de Roma. “Também este ano, disse o Santo Padre, viestes acompanhados pelo Cardeal Vigário, ao fim da "Caravana da Paz", cujo lema é ‘Circundados pela ‘Paz. Obrigado pela vossa presença e pelo vosso generoso empenho na construção de uma sociedade de paz”.

A terminar, dois dos meninos compareceram à janela com o Santo Padre para lerem uma mensagem de paz a todos os meninos do mundo, depois de que foram lançados para o ar balões multicoloridos, símbolo de paz.

 E o Papa a todos desejou bom domingo pedindo, por favor, para que não nos esqueçamos de rezar por ele.

 Buon pranzo e arrivederci!

Papa: Vida Consagrada profética, vencendo mundanidade e relativismo




(RV) O Santo Padre concluiu as suas actividades na manhã deste sábado (28/01), no Vaticano, recebendo na Sala Clementina, cerca de 100 participantes à Plenária da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.

No seu discurso o Papa expressou sua satisfação em receber os membros da Congregação que, nestes dias, em sua plenária, reflectiram sobre o tema da “fidelidade e dos abandonos”:

“O tema que escolheram é importante. Podemos dizer que, neste momento, a fidelidade é colocada à prova: é o que demonstram as estatísticas que examinaram. Encontramo-nos diante de certa "hemorragia" que enfraquece a vida consagrada e a própria vida da Igreja. Os abandonos na vida consagrada nos preocupam muito. É verdade que alguns a deixam por um gesto de coerência, porque reconhecem, depois de um sério discernimento, que nunca teve vocação; outros, com o passar do tempo, faltam de fidelidade, muitas vezes a apenas alguns anos da sua profissão perpétua”.

Aqui, o Papa perguntou: o que aconteceu? Como vocês destacaram no seu encontro, são muitos os factores que condicionam a fidelidade nesse tempo de mudança de época em que se torna difícil assumir compromissos sérios e definitivos. Neste sentido, Francisco destacou alguns desses factores:

“O primeiro factor que não ajuda a manter a fidelidade é o contexto social e cultural em que vivemos. De fato, vivemos imersos na chamada “cultura do fragmento”, do “provisório”, que pode levar a viver "à la carte" e ser escravo da moda. Esta cultura leva à necessidade de se manter sempre abertas as "portas laterais" para outras possibilidades, alimenta o consumismo e esquece a beleza de uma vida simples e austera, provocando muitas vezes um grande vazio existencial”.

Vivemos em uma sociedade onde as regras económicas substituem as leis morais, ditam e impõem seus próprios sistemas de referência em detrimento dos valores da vida; uma sociedade onde a ditadura do dinheiro e do lucro defende sua visão de existência. Em tal situação, disse o Pontífice, é preciso primeiro deixar-se evangelizar e, depois, comprometer-se com a evangelização. Assim, apresentou outros factores ao contexto sócio-cultural:

“Um deles é o mundo da juventude, um mundo complexo, rico e desafiador. Não faltam jovens generosos, solidários e comprometidos em nível religioso e social; jovens que buscam uma vida espiritual, que têm fome de algo diferente do que o mundo oferece. Mas, mesmo entre esses jovens, há muitas vítimas da lógica do mundanismo, como a busca do sucesso a qualquer preço, o dinheiro e o prazer fáceis”.

Essa lógica, advertiu o Papa, atrai muitos jovens, mas nosso compromisso é estar ao lado deles para contagiá-los com a alegria do Evangelho e de pertença a Cristo. Essa cultura deve ser evangelizada. Aqui, indicou um terceiro factor condicionante, que vem da própria vida consagrada, onde, além de uma grande santidade não faltam situações de contra testemunho que tornam difícil a fidelidade:

“Tais situações, entre outras, são: a rotina, o cansaço, o peso de gestão das estruturas, as divisões internas, a sede de poder... Se a vida consagrada quiser manter a sua missão profética e o seu encanto, continuando a ser escola de lealdade para os próximos e os distantes, deverá manter o frescor e a novidade da centralidade de Jesus, a atracção pela espiritualidade e da força da missão, mostrar a beleza do seguimento de Cristo e irradiar esperança e alegria”.

Outro aspecto ao qual a vida consagrada deverá prestar especial atenção é a “vida fraterna comunitária”, que deve ser alimentada pela oração comum, a leitura da palavra, a participação activa nos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, o diálogo fraterno, a comunicação sincera entre os seus membros, a correcção fraterna, a misericórdia para com o irmão ou a irmã que peca, a partilha das responsabilidades. A seguir, o Santo Padre recordou a importância da vocação:

“A vocação, como a própria fé, é um tesouro que trazemos em vasos de barro, que nunca deve ser roubado ou perder a sua beleza. A vocação é um dom que recebemos do Senhor, que fixou seu olhar sobre nós e nos amou, chamando-nos a segui-lo mediante a vida consagrada, como também uma responsabilidade para quem a recebeu”.

Falando de lealdade e de abandono, disse ainda Francisco, “devemos dar muita importância ao acompanhamento. A vida consagrada deve investir na preparação de assistentes qualificados para este ministério. E concluiu dizendo que “muitas vocações se perdem por falta de bons líderes. Todas as pessoas consagradas precisam ser acompanhados em nível humano, espiritual e profissional. Aqui entra o discernimento que exige muita sensibilidade espiritual. (BS/MT)

27 janeiro, 2017

Associações de profissionais católicos apoiam petição contra a eutanásia

Sete associações de profissionais católicos apoiam publicamente a petição contra a legalização da eutanásia que esta semana foi entregue no Parlamento.

A petição “Toda a Vida Tem Dignidade” recolheu mais de 14 mil assinaturas e vai agora seguir o processo normal de audições e discussão na Assembleia da República, antes de poder ser discutido em plenário.
As associações católicas de enfermeiros e profissionais de saúde, de Farmacêuticos, de Professores, de Juristas, de Psicólogos e de Médicos e ainda a Associação Cristã de Empresários e Gestores de Empresas, assinam um comunicado conjunto em que exprimem o seu apoio à petição. “Tal petição baseia-se no princípio constitucional da inviolabilidade da vida humana, princípio básico que é pressuposto da tutela de todos os direitos fundamentais; no princípio de que a doença e a dor e sofrimento a ela associados têm remédios a que todas as pessoas devem ter acesso, sendo que tais circunstâncias em nada diminuem a dignidade da vida humana, nem lhes retiram qualquer valor; e no princípio de que o progresso social se mede em função da valorização e protecção das pessoas mais vulneráveis”, pode ler-se no comunicado.
Nesse sentido, os profissionais apelam a que os deputados rejeitem qualquer tentativa de legalizar a eutanásia e o suicídio assistido, recordando que esse assunto não constava do programa eleitoral dos principais partidos nem foi discutida na campanha. Pede-se ainda ao Parlamento que “promova uma política mais eficaz de combate à exclusão dos idosos e incapacitados, e que recomende ao Governo a extensão a toda a população e território português dos Cuidados Continuados e Paliativos, o reforço dos meios das unidades já existentes, e o reforço da formação dos profissionais de saúde nas questões de fim de vida.”

No dia 1 de Fevereiro será discutida no Parlamento a petição pela legalização da eutanásia, que reuniu pouco mais de oito mil assinaturas.

Renascença

Papa: medo de tudo, o pecado que paralisa o cristão




(RV) Deus nos livre do pecado que nos paralisa como cristãos: a cobardia, o medo de tudo, que nos faz não ter memória, esperança, coragem e paciência – foi o que disse, em síntese, o Papa durante a Missa na manhã desta sexta-feira (27/01), na Casa Santa Marta.
A Carta aos Hebreus proposta pela liturgia do dia – afirmou o Papa – exorta a viver a vida cristã com três pontos de referência: o passado, o presente e o futuro. Antes de tudo, nos convida a fazer memória, porque “a vida cristã não começa hoje: continua hoje”. Fazer memória é “recordar tudo”: as coisas boas e menos boas, é colocar a minha história “diante de Deus”, sem cobri-la ou escondê-la:

“Irmãos, evoquem na memória aqueles primeiros dias’: os dias do entusiasmo, de ir avante na fé, quando se começou a viver a fé, as tribulações sofridas … Não se entende a vida cristã, inclusive a vida espiritual de todos os dias, sem memória. Não somente não se entende: não se pode viver de modo cristão sem memória. A memória da salvação de Deus na minha vida, a memória dos problemas na minha vida; mas como o Senhor me salvou desses problemas? A memoria é uma graça: uma graça a ser pedida. ‘Senhor, que não esqueça o teu passo na minha vida, que não esqueça os bons momentos, inclusive os maus; as alegrias e as cruzes’. Mas o cristão é um homem de memória”.

Depois, o autor da Carta nos faz entender que “estamos em caminho a espera de algo”, a espera de “chegar a um ponto: um encontro; encontro o Senhor”. “E nos exorta a viver por fé”:

“A esperança: olhar para o futuro. Assim como não se pode viver uma vida cristã sem a memória dos passos feitos, não se pode viver uma vida cristã sem olhar para o futuro com esperança... para o encontro com o Senhor. E ele diz uma bela frase: ‘Ainda bem pouco …’. Eh, a vida é um sopro, eh? Passa. Quando se é jovem, se pensa que temos tanto tempo pela frente, mas depois a vida nos ensina que aquela frase que todos dizemos: ‘Mas como passa o tempo! Eu o conheci quando era criança, e agora está casando! Como passa o tempo!’. Logo chega. Mas a esperança de encontrá-lo é uma vida em tensão, entre a memória e a esperança, o passado e o futuro”.

Por fim, a Carta convida a viver o presente, “muitas vezes doloroso e triste”, com “coragem e paciência”: isto é, com franqueza, sem vergonha, e suportando as vicissitudes da vida. Somos pecadores – explicou o Papa – “todos somos. Quem antes e quem depois… se quiserem, podemos fazer a lista depois, mas todos somos pecadores. Todos. Mas prossigamos com coragem e com paciência. Não fiquemos ali, parados, porque isso não nos fará crescer”. Por fim, o autor da Carta aos Hebreus exorta a não cometer o pecado que não nos deixa ter memória, esperança, coragem e paciência: a cobardia. “É um pecado que não deixa ir para frente por medo”, enquanto Jesus diz: “Não tenham medo”. Cobardes são “os que vão sempre para trás, que protegem demasiado a si mesmos, que têm medo de tudo”:

“‘Não arrisque, por favor, não…prudência…’ Os mandamentos todos, todos… Sim, é verdade, mas isso também paralisa, faz esquecer as muitas graças recebidas, tira a memória, tira a esperança porque não deixa ir. E o presente de um cristão, de uma cristã assim é como quando alguém está na rua e começa a chover de repente e o vestido não é bom e o tecido encurta... Almas pequenas … esta é a cobardia: este é o pecado contra a memória, a coragem, a paciência e a esperança. Que o Senhor nos faça crescer na memória, nos faça crescer na esperança, nos dê todos os dias coragem e paciência e nos liberte daquilo que é a cobardia, ter medo de tudo... Almas pequenas para preservar-se. E Jesus diz: ‘Quem quer preservar a própria vida, a perde’”.

Dia da Memória: não só para o povo judeu, mas toda humanidade




(RV) Há 72 anos, exactamente em 27 de janeiro de 1945, as tropas do Exército Vermelho entraram no campo de concentração e extermínio de Auschwitz no sul da Polónia, libertando os poucos prisioneiros sobreviventes ao nazismo e mostrando ao mundo o horror mais atroz da humanidade. É por isso que, desde o ano 2000, na Itália com exposições, filmes, cerimónias e histórias se quer recordar o Dia da Memória, com a esperança de que o que aconteceu não se repita mais.

“Vocês que vivem em segurança em suas casas,
Vocês que encontram, voltando a casa à noite, comida quente e rostos amigáveis, considerem se este é um homem ... “ Palavras de Primo Levi um italiano sobrevivente dos campos de concentração.

Havia muito pouco que fizesse pensar a seres humanos, para além dos portões de Auschwitz. Esqueletos marcados por números, mulheres, crianças, homens quase completamente nus, com fome, petrificados pelo medo. No final dos anos 30 e 45, na Europa foram deportados e mortos cerca de 6 milhões de judeus e com eles também ciganos, deficientes, homossexuais, opositores políticos, testemunhas de Jeová: todas as categorias indesejadas. Um projecto de eliminação em massa criado pela confluência de vários factores, explica Claudio Procaccia, director do Departamento de Cultura Judaica de Roma:

“Digamos, o anti judaísmo histórico, as novas teorias racistas, mas também fenómenos de carácter social e cultural mais amplos, antropológico, ou seja, o aparecimento das massas na cena política internacional, então o medo do outro no plano psicológico, teoria científicas erradas, a crise económica e a ideia - portanto - do judeu que é visto como aquele que é contra, por definição, porque não reconhece a autoridade”. (BS/SP)

26 janeiro, 2017

Papa: verdadeira unidade é sermos capazes de aprender uns dos outros




(RV) No final de quarta-feira (25/01), na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, o Papa Francisco presidiu à cerimónia das II Vésperas que recorda a conversão de S. Paulo.

A celebração marcou o encerramento da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que teve tema inspirado no quinto capítulo da segunda Carta de São Paulo aos Coríntios: “Reconciliação – É o amor de Cristo que nos impele”. A mensagem do Papa na homilia foi motivada pelo mesmo caminho e empenho ecuménico do diálogo através dos “embaixadores da reconciliação”, “unidos no sofrimento pelo nome de Jesus”.

Francisco começou a sua exortação lembrando o encontro de Paulo com Jesus, na estrada para Damasco, que transformou radicalmente a vida do apóstolo ao aderir ao “amor gratuito e imerecido de Deus, a Jesus Cristo crucificado e ressuscitado”. Uma feliz notícia, a da “reconciliação do homem com Deus”, que Paulo não poderia guardar para si mesmo e foi impelido a proclamar.

"O amor de Cristo": não se trata do nosso amor por Cristo, mas do amor que Cristo tem por nós. Da mesma forma, a reconciliação para a qual somos impelidos não é simplesmente uma iniciativa nossa: é primariamente a reconciliação que Deus nos oferece em Cristo. Antes de ser esforço humano de crentes que procuram superar as suas divisões, é um dom gratuito de Deus. Como resultado desse dom, a pessoa perdoada e amada é chamada, por sua vez, a proclamar o evangelho da reconciliação em palavras e obras, a viver e dar testemunho de uma existência reconciliada.

Nessa perspectiva, “podemos hoje nos perguntar”, disse Francisco, “como é possível proclamar esse evangelho de reconciliação depois de séculos de divisões?”. O caminho vem do próprio Paulo que enfatiza que “a reconciliação em Cristo não se pode realizar sem sacrifício”.

Jesus deu a sua vida morrendo por todos. De modo semelhante os embaixadores de reconciliação, em seu nome, são chamados a dar a vida, a não viver mais para si mesmos, mas para Aquele que morreu e ressuscitou por eles (cf. 2 Cor 5, 14-15). É a revolução que Paulo viveu, mas é também a revolução cristã de sempre: deixar de viver para nós mesmos, buscando os nossos interesses e a promoção da nossa imagem, mas reproduzir a imagem de Cristo, vivendo para Ele e de acordo com Ele, com o seu amor e no seu amor.
Para a Igreja e para cada confissão cristã, disse o Papa, “é um convite a não se basear em programas, cálculos e benefícios, a não se abandonar a oportunidades e modas passageiras, mas a procurar o caminho com o olhar sempre fixo na cruz do Senhor: lá está o nosso programa de vida”.

É um convite também a sair de todo o isolamento, a superar a tentação da auto-referencialidade, que impede de identificar aquilo que o Espírito Santo realiza fora do nosso próprio espaço. Poderá se realizar uma autêntica reconciliação entre os cristãos quando soubermos reconhecer os dons uns dos outros e formos capazes, com humildade e docilidade, de aprender uns dos outros, sem esperar que primeiro sejam os outros a aprender de nós.

“Se vivermos esse morrer para nós mesmos por amor de Jesus”, disse o Papa, o nosso velho estilo de vida é relegado ao passado. Um passado que é útil e necessário para purificar a memória, mas que “pode paralisar e impedir de viver o presente”.

A Palavra de Deus nos encoraja a tirar força da memória, a recordar o bem recebido do Senhor; mas também nos pede que deixemos o passado para trás a fim de seguir Jesus no presente e, n’Ele, viver uma vida nova. Àquele que renova todas as coisas (cf. Ap 21, 5), consintamos que nos oriente para um futuro novo, aberto à esperança que não decepciona, um futuro onde será possível superar as divisões e os crentes, renovados no amor, que irão se encontrar plena e visivelmente unidos.

O Papa Francisco finalizou a homilia saudando os representantes de outras confissões cristãs e comunidades eclesiais presentes na cerimónia e recordando o caminho da unidade, em modo particular o quinto centenário da Reforma Protestante.

O facto de, hoje, católicos e luteranos poderem recordar, juntos, um evento que dividiu os cristãos e de o fazerem com a esperança posta sobretudo em Jesus e na sua obra de reconciliação, constitui um marco significativo, alcançado – graças a Deus e à oração – através de cinquenta anos de mútuo conhecimento e de diálogo ecuménico. (BS/AC)

25 janeiro, 2017

Papa Francisco: as mulheres são mais corajosas que os homens




(RV) Não podemos ensinar a Deus o que deve fazer mas, sem resignação, devemos confiar nele que sabe tirar mesmo da morte a vida – disse o Papa na sua catequese durante a audiência geral. No centro da sua reflexão a figura bíblica de Judite.

Cerca de 7 mil pessoas participaram do encontro semanal com o Papa nesta quarta-feira (25/01) na Sala Paulo VI.

Após saudar os participantes, Francisco deu início à audiência com uma catequese sobre Judite, a grande heroína de Israel que encorajou os chefes e o povo de Betúlia a esperarem incondicionalmente no Senhor e assim fazendo, libertou a cidade da morte.

A narração conta que o exército de Nabucodonosor, comandado pelo general Holofernes, assediou Betúlia cortando o fornecimento de água e enfraquecendo assim a resistência da população. A situação ficou dramática ao ponto que os moradores pedem aos anciãos que se rendam aos inimigos. O fim é inevitável, a capacidade de confiar em Deus exaurida, e para fugir da morte, não resta que se entregar.

O Pontífice continuou o relato:

“Diante de tanto desespero, os chefes do povo propõem-lhe esperar ainda cinco dias, para ver se Deus os socorreria. É aqui que entra Judite: ‘Agora, colocais o Senhor todo-poderoso à prova! Mesmo que Ele não queira enviar-nos auxílio durante estes cinco dias, tem poder para nos proteger dos nossos inimigos, em qualquer outro momento que seja do seu agrado. Esperemos pela sua libertação!’”

Francisco ressaltou a figura de Judite naquela situação e revelou aos presentes:

“Esta mulher, viúva, arrisca até fazer um papelão diante dos outros... mas é corajosa, vai adiante. Esta é uma minha opinião pessoal: as mulheres são mais corajosas que os homens”.

Com a força de um profeta, aquela mulher convida a sua gente a manter viva a esperança no Senhor. E aquela esperança foi premiada: Deus salvou Betúlia pela mão de Judite. A este ponto, o Papa reflectiu e pediu aos fiéis:

“Com ela, aprendamos a não impor condições a Deus. Confiar Nele significa entrar nos seus desígnios sem nada pretender, aceitando inclusivamente que a sua salvação e o seu auxílio nos cheguem de modo diferente de nossas expectativas. Nós pedimos ao Senhor vida, saúde, amizade, felicidade… E é justo que o façamos; mas na certeza que Deus sabe tirar vida até da morte, que se pode sentir paz mesmo na doença, serenidade mesmo na solidão e felicidade mesmo no pranto. Não podemos ensinar a Deus aquilo que Ele deve fazer, nem aquilo de que temos necessidade. Ele sabe isso melhor do que nós; devemos confiar, porque os seus caminhos e os seus pensamentos são diferentes dos nossos.

E outra vez, antes de concluir, o Papa mencionou o papel das mulheres e avós:

“Quantas vezes ouvimos palavras corajosas de mulheres humildes... que pensamos, sem desprezá-las, que são ignorantes... mas são as palavras da sabedoria de Deus, as palavras das avós que tantas vezes sabem dizer a coisa certa... palavras de esperança. Elas têm experiência de vida, sofreram tanto. Confiaram em Deus, que lhes deu este dom”.

“Esta é a oração da sabedoria, da confiança e da esperança”, terminou o Papa, concedendo em seguida a bênção apostólica.

(BS/CM)

Papa: dinheiro da máfia é dinheiro ensanguentado

 


(RV) Corrupção e violência: estes foram os temas do discurso do Papa Francisco aos membros da Direção Nacional italiana contra a Máfia e o Terrorismo.



Organizações como a camorra e ‘ndrangheta, disse o Papa, exploram carências económicas, sociais e políticas para realizar os seus “projetos deploráveis”, “manchados de sangue humano”. Além da máfia, também é competência da Direção o combate ao terrorismo, que está a assumir sempre mais um “aspecto cosmopolita e devastador”.


 
Francisco ampliou o seu olhar para além da realidade local, para dizer que “a sociedade necessita de ser curada da corrupção, das extorsões, do tráfico ilícito de entorpecentes e de armas e do tráfico de seres humanos, entre os quais muitas crianças reduzidas a regime de escravidão. São autênticas chagas sociais e, ao mesmo tempo, desafios globais que a coletividade internacional é chamada a enfrentar com determinação”.

O Pontífice pediu um esforço especial para combater o tráfico de pessoas e o contrabando de migrantes: “Estes são crimes gravíssimos que atingem os mais fracos entre os fracos!”. Francisco solicitou o incremento das atividades de proteção das vítimas, prevendo assistência legal e social. “Quem foge de seu país por causa de guerra, violência e perseguição tem o direito de encontrar um acolhimento adequado e proteção idónea nos países que se definem civis.
Falando da máfia, o Papa considera-a uma “expressão de uma cultura de morte”, que deve ser hostilizada e combatida sobretudo através da prevenção. Neste contexto, famílias, escolas, comunidades cristãs e realidades desportivas e culturais são chamadas a favorecer uma consciência de moralidade e de legalidade. “Trata-se de, partir das consciências para recuperar os propósitos, as escolhas, as atitudes dos cidadãos de modo que o tecido social se abra à esperança de um mundo melhor.”

A máfia – prosseguiu – “opõe-se radicalmente à fé e ao Evangelho, que são sempre a favor da vida”. Francisco enalteceu o trabalho de inúmeras paróquias e associações católicas que combatem o fenómeno mafioso através da promoção individual, cultural e social – um modo de a Igreja manifestar a sua proximidade a quem vive situações dramáticas e necessitam de ajuda para sair da espiral de violência.

Por fim, o Papa encorajou quem se esforça para combater a máfia e o terrorismo – um trabalho que comporta arriscar a própria vida e que requer um suplemento de “paixão, de sentido de dever e força de ânimo” – e pediu a Deus que toque no coração dos mafiosos, “para que parem de fazer o mal, convertam-se e mudem de vida”. “O dinheiro dos negócios sujos e dos delitos mafiosos é dinheiro ensanguentado e produz um poder iníquo. Todos sabemos que o diabo entra a partir do bolso: esta é a primeira corrupção”.