31 outubro, 2018

Sé de Lisboa coloca à veneração relíquias dos santos


São Francisco Xavier, São Vicente, São Lourenço ou Santo António são alguns dos santos cujas relíquias vão poder ser veneradas na Sé Patriarcal de Lisboa, durante todo o dia da Solenidade de Todos os Santos, a 1 de novembro.

“Como já vem sendo hábito na Catedral de Lisboa, neste dia, as relíquias que se encontram na Sé ficam expostas para veneração dos fiéis, desde o final da celebração eucarística das 11h30 até às 18 horas, altura em que são recolhidas após o Canto de Vésperas da Solenidade de Todos-os-Santos, seguindo-se, às 19 horas, a Eucaristia”, anuncia um comunicado.

As relíquias que vão estar para veneração dos fiéis na Sé de Lisboa são:
- São Gregório Nazianzo, bispo e doutor da Igreja; + 389 (morte); 2 janeiro (festa litúrgica)
- Santo Amaro, abade; + cerca séc. VI; 15 janeiro
- São Crispim, bispo; + 467; 17 janeiro
- São Vicente, diácono e mártir; + 304; 22 janeiro
- São Valério, bispo; + 305-315; 22 janeiro
- Santo António, presbítero e doutor da Igreja; + 1231; 13 junho
- Santo Aleixo, mendicante; + séc. IV; 17 julho
- São Lourenço, diácono e mártir; + 258; 10 agosto
- São Nuno de Santa Maria, religioso; + 1431; 6 novembro
- Beata Maria Clara do Menino Jesus, religiosa; + 1899; 1 dezembro
- São Francisco Xavier, presbítero; + 1552; 3 dezembro

Patriarcado de Lisboa

Papa: é revolucionário amar o cônjuge assim como Cristo amou a Igreja



Na Audiência desta quarta-feira, Francisco completou a sua reflexão sobre o sexto mandamento , "não cometer adultério". "Amar é sair de si, é descentralizar", afirmou. 

Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano 

Hoje, quarta-feira é dia de Audiência Geral no Vaticano. Cerca de 20 mil fiéis participaram na Praça de São Pedro no encontro semanal com o Pontífice.

O Papa Francisco completou a catequese sobre o sexto mandamento, “não cometer adultério”, evidenciando que o amor fiel de Cristo é a luz para viver a beleza da afetividade humana. O amor manifesta-se na fidelidade, no acolhimento e na misericórdia. 

Revolução 

Este mandamento, recordou o Papa, refere-se explicitamente à fidelidade matrimonial. Francisco definiu como “revolucionário” o trecho da Carta de São Paulo aos Efésios lido no início da Audiência, em que o Apóstolo afirma que o marido deve amar a esposa assim como Cristo amou a Igreja. Levando em consideração a antropologia da época, disse o Papa, “é uma revolução. Talvez, naquele tempo, é a coisa mais revolucionária dita sobre o matrimónio”.

Por isso, é importante refletir profundamente sobre o significado de esponsal, estando ciente, porém, de que o mandamento da fidelidade é destinado a todos os batizados, não só aos casados.
 
Amar é descentralizar 

De facto, o caminho do amadurecimento humano é o próprio percurso do amor, que vai desde o receber cuidados até à capacidade de oferecer cuidados; de receber a vida, à capacidade de dar a vida. Tornar-se adultos significa viver a atitude esponsal, ou seja, capaz de doar-mo-nos sem medida aos outros.

O infiel, portanto, é uma pessoa imatura, que interpreta as situações com base no próprio bem-estar. “Para casar, não basta celebrar o matrimónio!”, recordou o Papa. É preciso fazer um caminho do eu ao nós. De pensar sozinho, a pensar a dois. A viver sozinho, a viver a dois. Descentralizar é uma atitude esponsal.

Veja também:
Audiência Geral de 31 de outubro de 2018


Por isso, acrescentou Francisco, “toda a vocação cristã é esponsal”, pois é fruto do laço de amor com Cristo mediante o qual fomos regenerados. O sacerdote é chamado a servir a comunidade com todo o afeto e a sabedoria que o Senhor doa.

A Igreja não necessita de aspirantes ao papel de sacerdotes, “é melhor que fiquem em casa”, mas homens cujo coração é tocado pelo Espírito Santo com um amor sem reservas para a Esposa de Cristo. No sacerdócio, ama-se o povo de Deus com toda a paternidade, ternura e a força de um esposo e de um pai. O mesmo vale para quem é chamado a viver a virgindade consagrada. 

O corpo não é um instrumento de prazer

“O corpo humano não é um instrumento de prazer, mas o local do nossao chamamento ao amor, e no amor autêntico não há espaço para a luxúria e para e a sua superficialidade. Os homens e as mulheres merecem mais!”

O Papa concluiu recordando que o sexto mandamento, mesmo na orma negativa – não cometer adultério – nos oriente ao nosso chamamento originário, isto é, ao amor esponsal pleno e fiel, que Jesus Cristo nos revelou e doou. 

Dia de Finados
 
No final da Audiência, o Papa recordou a celebração do Dia de Finados. “Que o testemunho de fé dos que nos precederam reforce em nós a certeza de que Deus acompanha cada um no caminho da vida, jamais abandona alguém a si mesmo, e quer que sejamos todos santos, assim como Ele é santo.”

Ouça a reportagem com a voz do Papa Francisco


VATICAN NEWS

Papa Francisco: a Bíblia tem o poder de transformar a vida

 
 
O Pontífice recebeu no Vaticano os membros da Sociedade Bíblica Americana, reunidos em Roma para o seu retiro anual.
 
Cidade do Vaticano

As atividades do Papa Francisco começaram esta quarta-feira (31/10) recebendo cerca de 40 membros da Sociedade Bíblica Americana, reunidos em Roma para o seu retiro anual.

No seu discurso, o Pontífice encorajou a instituição a intensificar o empenho para transformar a vida das pessoas através da Palavra de Deus. 

O poder da Palavra de Deus

“A Palavra de Deus tem realmente o poder de transformar a vida, porque ‘é viva e eficaz, e mais penetrante do que a espada de dois gumes’, 'apta para discernir os pensamentos e intenções do coração'”, disse Francisco, citando a Carta aos Hebreus.

Nenhum outro Livro tem o mesmo poder, disse ainda o Papa, exortando os membros da Sociedade Bíblica Americana a serem capazes de sentir e saborear o tenro afeto do Senhor, como também a sua presença restauradora.

De facto, “a Palavra de Deus traz sempre novidade, é incapturável, foge das nossas previsões e, com frequência, rompe os nossos esquemas”.

Ouça a reportagem com a voz do Papa Francisco

VATICAN NEWS

30 outubro, 2018

O Sínodo continua: unidos contra os ataques do Mal


Jovens, esperança da Igreja 

Depois do Sínodo, ressoa com força o apelo do Papa para continuar a rezar pela Igreja, a caminhar juntos, levando o Evangelho ao mundo, enquanto o demónio acusa e divide: “é aquele que nos divide e nos separa de Deus” 

Cidade do Vaticano

Papa Francisco convidou a rezar o Terço no mês de outubro, invocando Nossa Senhora e São Miguel Arcanjo, para pedir a Deus que proteja a Igreja dos ataques do diabo. E no discurso de encerramento dos trabalhos sinodais, recomendou: “Continuemos a fazê-lo", porque "é um momento difícil", o Grande Acusador - referindo-se ao diabo - aproveita-se dos pecados dos filhos da Igreja para atacar a "Santa Mãe Igreja". Os filhos estão sujos, mas a Mãe é Santa, "não deve ser sujada". "Este é o momento de defender a Mãe; e se defende a Mãe do Grande Acusador com a oração e a penitência".

As acusações contra a Igreja tornam-se "perseguição", como acontece com os cristãos do Oriente, mas "há outro tipo de perseguição, com acusações contínuas para sujar a Igreja. A Igreja não deve ser sujada, nós filhos somos todos sujos", os filhos são pecadores, "mas a Mãe não, devemos defendê-la, todos, e por isso eu pedi para todos rezarem o Terço neste mês de outubro, todos os dias, pela unidade da Igreja” . “A Mãe deve ser defendida com oração e penitência”. 

Os ataques ao Papa e os “insensatos Gálatas”
 
Portanto o sínodo concluiu-se, mas continua. Cada vez mais somos chamados a “caminhar juntos” – este é o significado da palavra “sínodo” – unidos a Cristo e ao seu Vigário, principalmente neste momento tão difícil para a Igreja. Unidos na alegria e no sofrimento, na esperança e no testemunho. Unidos na escuta recíproca e na oração. Reparados do Mal sob o manto da Mãe de Deus. O Diabo é aquele que nos divide e nos separa de Deus. Este é o grande testemunho dos que pensam em salvar a Igreja atacando o Papa.

Ainda hoje ressoa a antiga advertência de São Paulo sobre os “Os insensatos Gálatas”: convertidos ao cristianismo tinham sido convencidos de que a salvação viria através da lei. É a tentação de sempre, a idolatria da lei que dá segurança.
“ Mas os que seguem cegamente a lei, na realidade não a obedecem, porque seguem fielmente as normas recebidas - e no fundo a si mesmo, às próprias capacidades de se salvar graças à observância de tais normas - e se afastam dos que a entregaram”
Perde o espírito da lei, perde a humanidade da lei, perde o rosto amoroso do autor da lei, Deus: pensando em obedecê-lo. 

A ilusão de se considerar fiéis a Deus

Todo o drama dos opositores do Papa encontra-se aqui: sem sabê-lo, estão a oporem-se a Jesus, que continua a escandalizar os fariseus de todos os tempos, salvando e curando, gratuitamente, por pura misericórdia. Jesus caminha entre nós e passa com a sua graça: para acolhê-la não se pode parar (Lc 13, 1-35). O amor precisa de movimento, caminha, como Abraão que pela fé deixou a sua terra sem saber onde ir. A fé cristã não é uma religião do Livro, de uma lei escrita, muda, imóvel (Catecismo da Igreja Católica, 108), mas é a religião da Palavra de Deus, uma Palavra viva que continua a falar, diz coisas novas, que antes não entendíamos, está sempre em movimento. É Jesus. Que deve ser seguido. Para que não ficássemos limitados à lei e afastados d’Ele, Jesus deu-nos um homem, frágil como nós, frágil como Pedro, como seu Vigário. Seguir o Papa é um ponto de referência, estável mas dinâmico, para continuar a seguir Jesus. O Demónio quer romper esta ligação para nos separar do Redentor, Aquele que doa a verdadeira liberdade de amar. Eis o engano diabólico: trabalhar para o diabo acreditando estar ao serviço de Deus.
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A beleza de caminhar juntos

O sínodo acabou, mas continua. Chama-nos a testemunhar todos os dias a alegria do encontro com Jesus. A beleza da unidade, no caminhar juntos, unidos ao Papa, na escuta do Espírito Santo, repelindo as tentações daquele que quer dividir e acolhendo com fé a oração de Jesus ao Pai “para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti” (Jo 17, 21).

VATICAN NEWS

29 outubro, 2018

Papa Francisco: ouvir e caminhar com os migrantes



O Papa recebeu em audiência os participantes do Capítulo Geral dos Missionários de São Carlos Borromeu, guiados pelo novo superior, o brasileiro Pe. Leonir Chiarello. 

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano 

Não nos esqueçamos que a condição de toda missão na Igreja é estar unidos a Cristo. Caso contrário, faremos ativismo social: foi o que disse o Papa Francisco ao receber em sua série de audiência nesta segunda-feira (29/10) os participantes do Capítulo Geral dos Missionários de São Carlos Borromeu.

Antes de entregar o seu discurso e proferir algumas palavras improvisadas, o Pontífice ouviu a saudação do novo superior-geral, eleito quarta-feira passada, o brasileiro Padre Leonir Chiarello. Depois, comentou o tema do Capítulo: “Encontro e caminho. Jesus caminhava com eles”, inspirado na narração dos discípulos de Emaús, que encontram Jesus ressuscitado no decorrer do caminho. 

Migrantes

“Trata-se de encontrar estradas sempre novas de evangelização e de proximidade, a fim de realizar com fidelidade dinâmica o seu carisma, que os coloca ao serviço dos migrantes”, disse o Papa.

De facto, a Congregação fundada em 1887 pelo Beato João Batista Scalabrini nasceu para assistir os emigrantes italianos que partiam na época para o continente americano.

“Hoje, como ontem, esta missão realiza-se em contextos difíceis, às vezes caracterizados por atitudes de desconfiança e de preconceito, senão até mesmo de rejeição pelo estrangeiro”, analisou Francisco, exortando os scalabrianos a um entusiasmo apostólico ainda mais corajoso e perseverante, para levar o amor de Cristo aos que, distantes da pátria e da família, correm o risco de se sentiram inclusive distantes de Deus. 

Ouvir e caminhar

Jesus que caminha com os discípulos de Emaús mostra que a evangelização se faz caminhando com as pessoas, acrescentou o Pontífice. Antes de tudo, é preciso ouvir os migrantes:

“Quantas histórias existem nos corações dos migrantes! (...) O risco é que o migrante se torna uma pessoa desarraigada, sem face, sem identidade. Esta é uma gravíssima perda que pode ser evitada com a escuta, caminhando ao lado das pessoas e das comunidades migrantes.” 

Ativismo social

Para Francisco: acompanhar os migrantes é uma missão antiga e sempre nova; difícil e às vezes dolorosa, mas capaz de fazer chorar de alegria. Do encontro fecundo entre o carisma do beato Scalabrini e as circunstâncias históricas amadureceu o estilo próprio dos missionários, com uma atenção especial à dignidade da pessoa humana, especialmente onde é mais ferida e ameaçada.

“Queridos irmãos, não nos esqueçamos que a condição de toda missão na Igreja é que sejamos unidos a Cristo Ressuscitado como os ramos na videira. Caso contrário, faremos ativismo social. Por isso, repito também a vós a exortação de permanecer Nele. Nós, necessitamos de nos deixar renovar na fé e na esperança por Jesus vivo na Palavra e na Eucaristia, mas também no perdão sacramental.” 

Vida comunitária saudável

Por fim, o Papa ressaltou ainda a necessidade de uma vida comunitária saudável, “simples, não banal, não medíocre”, e encorajou os missionários a prosseguirem o caminho da partilha com os leigos, enfrentando juntos os desafios atuais; assim como a cuidar dos itinerários de formação permanente. 

Rede Scalabriniana de Comunicação

Após a audiência, o coordenador da Rede Scalabriniana de Comunicação, Pe. Alexandre Biolchi, visitou o Vatican News e comentou o discurso do Papa Francisco:

Ouça a entrevista

VATICAN NEWS

28 outubro, 2018

Papa: ser testemunhas de Jesus, não doutrinaristas ou ativistas


 Missa conclusiva do Sínodo dos Bispos presidida pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro  (ANSA)

"Obrigado pelo vosso testemunho. Trabalhamos em comunhão e com ousadia, com o desejo de servir a Deus e ao seu povo. Que o Senhor abençoe os nossos passos, para podermos escutar os jovens, fazer-nos próximo e testemunhar-lhes a alegria da nossa vida: Jesus”: disse o Papa na Missa conclusiva do Sínodo. 

Cidade do Vaticano
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“Gostaria de dizer aos jovens, em nome de todos nós, adultos: desculpai, se muitas vezes não vos escutamos; se, em vez de vos abrir o coração, vos enchemos os ouvidos”: disse o Papa Francisco na homilia da missa na manhã deste XXX Domingo do Tempo Comum, celebrada na Basílica de São Pedro, no encerramento do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens.
Na homilia, o Pontífice concentrou-se no Evangelho do dia, que nos traz o episódio da cura do cego Bartimeu feita por Jesus, do qual na sua reflexão propôs algumas indicações aos padres sinodais e aos jovens para o caminho de fé da Igreja.
Bartimeu é o último que segue Jesus ao longo do caminho: “de mendigo na margem da estrada para Jericó, torna-se discípulo que vai juntamente com os outros para Jerusalém. Também nós caminhamos juntos, ‘fizemos sínodo’ e agora este Evangelho corrobora três passos fundamentais no caminho da fé”: escutar, fazer-se próximo e testemunhar, apontou o Santo Padre.
“O primeiro passo para ajudar o caminho da fé: escutar. É o apostolado do ouvido: escutar, antes de falar”, ressaltou. Referindo à atitude de muitos que estavam com Jesus, que repreenderam Bartimeu para que se calasse, disse que estes “seguiam Jesus, mas tinham em mente os seus projetos”, o que é um risco do qual  devemos sempre precaver-nos.
Ao contrário, para Jesus, o grito de quem pede ajuda não é um transtorno que estorva o caminho, mas uma questão vital. Como é importante, para nós, escutar a vida! Os filhos do Pai celeste prestam ouvidos aos irmãos: não às críticas inúteis, mas às necessidades do próximo. Ouvir com amor, com paciência, como Deus faz connosco, com as nossas orações muitas vezes repetitivas. Deus nunca Se cansa, alegra-se sempre quando O procuramos. Peçamos, também a graça dum coração dócil a escutar, exortou Francisco.
Dirigindo-se aos jovens, o Santo Padre disse com veemência:
“Como Igreja de Jesus, desejamos colocar-nos amorosamente à vossa escuta, certos de duas coisas: que a vossa vida é preciosa para Deus, porque Deus é jovem e ama os jovens; e que, também para nós, a vossa vida é preciosa, mais ainda, necessária  para se avançar.”
Depois da escuta, o Papa apontou um segundo passo para acompanhar o caminho da fé: fazer-se próximo.
Vejamos Jesus, disse, “que não delega a ninguém da ‘grande multidão’ que O seguia, mas encontra pessoalmente Bartimeu. Diz-lhe: ‘Que queres que Eu faça por ti?’. (...) É assim que Deus procede, envolvendo-Se pessoalmente com um amor de predileção por cada um. Na sua maneira de proceder, ressalta já a sua mensagem: assim a fé germina na vida”. A fé passa para a vida.
“Quando a fé se concentra apenas em formulações doutrinárias, arrisca-se a falar apenas à cabeça, sem tocar o coração. E quando se concentra apenas na ação, corre o risco de tornar-se moralismo e reduzir-se ao social. Ao contrário, a fé é vida: é viver o amor de Deus que mudou a nossa existência. Não podemos ser doutrinaristas ou ativistas; somos chamados a levar para a frente a obra de Deus segundo o modo de Deus, na proximidade: unidos intimamente a Ele, em comunhão entre nós, próximo dos irmãos. Proximidade: aqui está o segredo para transmitir, não algum aspeto secundário, mas o coração da fé.”
Francisco prosseguiu fazendo uma advertência: “Existe sempre aquela tentação que reaparece tantas vezes na Escritura: lavar as mãos, desinteressar-se. É o que faz a multidão no Evangelho de hoje, é o que fez Caim com Abel, é o que fará Pilatos com Jesus: lavar as mãos. Nós, pelo contrário, queremos imitar Jesus e, como Ele, meter as mãos na massa, sujá-las. Ele, o caminho (cf. Jo 14, 6), por Bartimeu deteve-Se ao longo da estrada; Ele, a luz do mundo (cf. Jo 9, 5), inclinou-Se sobre um cego”.
Reconhecemos que o Senhor sujou as mãos por cada um de nós e, fixando a Cruz, “recomecemos de lá, da lembrança de Deus que Se fez meu próximo no pecado e na morte. Fez-Se meu próximo: tudo começa de lá”, observou o Papa. “E, quando por amor d’Ele também nós nos fazemos próximo, tornamo-nos portadores de vida nova: não mestres de todos, não especialistas do sagrado, mas testemunhas do amor que salva.”


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Papa no Angelus: o Sínodo foi um tempo de consolação e esperança

Testemunhar é o terceiro passo”, frisou o Santo Padre. “Não é cristão esperar que os irmãos inquietos batam às nossas portas; somos nós que devemos ir ter com eles, não lhes levando a nós mesmos, mas Jesus. Ele manda-nos, como aqueles discípulos, para encorajar e levantar em seu nome. Manda-nos dizer a cada um: ‘Deus pede para te deixares amar por Ele’.”
“Quantas vezes – continuou Francisco –, em vez desta mensagem libertadora de salvação, nos levamos a nós mesmos, as nossas ‘receitas’, as nossas ‘etiquetas’ na Igreja! Quantas vezes, em vez de fazer nossas as palavras do Senhor, despachamos como palavra d’Ele as nossas ideias! Quantas vezes as pessoas sentem mais o peso das nossas instituições que a presença amiga de Jesus! Então aparecemos como uma ONG, uma organização parestatal, e não como a comunidade dos redimidos que vivem a alegria do Senhor.”
Ouvir, fazer-se próximo, testemunhar.
“A fé é questão de encontro, não de teoria. No encontro, Jesus passa; no encontro, palpita o coração da Igreja. Então serão eficazes, não as nossas homilias, mas o testemunho da nossa vida.”
E a todos vós que participastes neste ‘caminhar juntos’, concluiu Francisco, “digo obrigado pelo vosso testemunho. Trabalhamos em comunhão e com ousadia, com o desejo de servir a Deus e ao seu povo. Que o Senhor abençoe os nossos passos, para podermos escutar os jovens, fazer-nos próximo e testemunhar-lhes a alegria da nossa vida: Jesus.”


VATICAN NEWS

Papa no Angelus: o Sínodo foi um tempo de consolação e esperança

 
 Papa Francisco
 
Os frutos deste trabalho já estão “a fermentar”, disse o Papa no Angelus, como acontece com o suco da uva nos barris após a colheita. O Sínodo dos jovens foi uma boa colheita, e promete um bom vinho, acrescentou Francisco.
 
Cidade do Vaticano

O Sínodo foi sobretudo momento de escuta: de facto, ouvir requer tempo, atenção, abertura da mente e do coração: disse o Papa Francisco ao rezar neste domingo (28/10) a oração do Angelus com milhares de fiéis e peregrinos presentes na Praça de São Pedro, após ter celebrado pouco antes, na Basílica do Vaticano, a missa da conclusão do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens. A alocução que precedeu a oração mariana foi quase toda ela dedicada ao encontro sinodal.

Este compromisso da escuta, continuou o Santo Padre, “transforma-se todos os dias em consolação, sobretudo porque tivemos no nosso meio a presença vivaz dos jovens, com as suas histórias e contribuições. Através dos testemunhos dos Padres sinodais, a realidade multiforme das novas gerações entrou no Sínodo, por assim dizer, de todas as partes: de todos os continentes e das várias situações humanas e sociais”, ressaltou.

Com esta atitude fundamental de escuta procuramos ler a realidade, colher os sinais destes nossos tempos, frisou o Pontífice. Um discernimento comunitário, feito à luz da palavra de Deus e do Espírito Santo, acrescentou.

“Este é um dos dons mais bonitos que o Senhor faz à Igreja católica, ou seja, colher vozes e rostos das realidades mais variadas e assim poder tentar uma interpretação que considere a riqueza e a complexidade dos fenómenos, sempre à luz do Evangelho.”

“Deste modo, discutimos sobre como caminhar juntos através dos muitos desafios, como o mundo digital, o fenómeno das migrações, o sentido do corpo e da sexualidade, o drama das guerras e da violências, frisou o Pontífice.

Os frutos deste trabalho já estão “a fermentar”, disse, como acontece com o suco da uva nos barris após a colheita. O Sínodo dos jovens foi uma boa colheita, e promete um bom vinho, acrescentou.

Francisco precisou que o primeiro fruto desta Assembleia deve estar no exemplo de um método que se procurou seguir desde a fase preparatória.

“Um estilo sinodal que não tem como objetivo principal a redação de um documento, embora precioso e útil. Mais do que o documento, porém, é importante que se difunda um modo de ser  e trabalhar juntos, jovens e anciãos, na escuta e no discernimento, para se chegar a escolhas pastorais correspondentes com a realidade.”

Na saudação aos vários grupos de fiéis e peregrinos presentes na Praça de São Pedro, o Pontífice expressou proximidade à cidade de Pittsburgh, nos EUA, em particular, à comunidade judaica, atingida no sábado por um terrível atentado à sinagoga.

“O Altíssimo acolha os defuntos na sua paz, conforte as suas famílias e sustente os feridos. Todos, na realidade, somos feridos por este desumano ato de violência. O Senhor nos ajude a apagar os surtos de ódio que se desencadeiam nas nossas sociedades, reforçando o sentido de humanidade, de respeito pela vida, os valores morais e civis, e o santo temor de Deus, que é Amor e Pai de todos.”

O Papa lembrou ainda a Beatificação, no sábado, na Guatemala, dos mártires José Tullio Maruzzo, religioso dos Frades Menores, e Luis Obdulio Arroyo Navarro, mortos no século passado por ódio à fé, durante a perseguição contra a Igreja, comprometida a promover a justiça e a paz.

VATICAN NEWS

27 outubro, 2018

Sínodo: Documento aprovado. Francisco agradece aos jovens pelo barulho

 
 Sínodos dos jovens  (Vatican Media)
 
Durante quase um mês a Assembleia sinodal refletiu questões delicadas que dizem respeito às novas gerações. O Santo Padre reiterou que "o Sínodo não é um Parlamento".
 
Silvonei José – Cidade do Vaticano

A Igreja está a viver um momento "difícil", é "perseguida com acusações contínuas" e, portanto, é o momento de defendê-la, todos juntos. Este o apelo do Papa Francisco na conclusão do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens no início da noite deste sábado, (27/10), no Vaticano.

Durante quase um mês a Assembleia sinodal refletiu questões delicadas que dizem respeito às novas gerações. O clima da sala do Sínodo neste sábado foi muito positivo e o Papa foi frequentemente interrompido pelos aplauso durante as suas palavras improvisadas. “Mas tudo isso – disse - não pode deixar de lado o momento complicado que se vive, entre acusações externas e internas”. 

Momento difícil

“É um momento difícil porque o acusador – disse o Papa  referindo-se ao diabo - através de nós ataca a Mãe e a Mãe não se toca", sublinhou referindo-se à Igreja, acrescentando: "Todos nós devemos defendê-la". As acusações contra a Igreja tornam-se "perseguição", como acontece com os cristãos do Oriente, mas "há outro tipo de perseguição, com acusações contínuas para sujar a Igreja. A Igreja não deve ser sujada, nós filhos somos todos sujos", os filhos são pecadores", "mas a Mãe não, devemos defendê-la, todos, e por isso eu pedi para  rezarem todos o Terço "neste mês de outubro, todos os dias, pela unidade da Igreja.

VATICAN NEWS

Sínodo sobre os Jovens: o que diz o Documento Final

 
 Documento Final do Sínodo na mão de uma auditora  (Vatican Media)
 
Três partes, 12 capítulos, 167 parágrafos, 60 páginas: assim se apresenta o documento final da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre o tema "Os jovens, a fé e o discernimento vocacional". O texto foi aprovado na tarde de 27 de outubro na Sala do Sínodo. O documento foi entregue nas mãos do Papa, que então autorizou a sua publicação.
 
Paolo Ondarza e Isabella Piro - Cidade do Vaticano
 
É o episódio dos discípulos de Emaús, narrado pelo evangelista Lucas, o fio condutor do Documento Final do Sínodo dos Jovens. Lido na Sala alternando vozes do relator geral, cardeal Sérgio da Rocha, e os secretários Especiais, padre Giacomo Costa e padre Rossano Sala, juntamente com Dom Bruno Forte, membro da Comissão para a Redação do texto, o documento é complementar ao Instrumentum laboris do Sínodo, do qual toma a subdivisão em três partes.

Acolhido com aplausos, o texto - disse o cardeal Sérgio Da Rocha - é "o resultado de um verdadeiro trabalho de equipe" dos Padres Sinodais, juntamente com os outros participantes no Sínodo e "em modo particular os jovens." O Documento, portanto, recolhe as 364 formas, ou emendas, apresentadas. "A maior parte delas - acrescentou o Relator geral - foi precisa e construtiva".

"Caminhava com eles"

Em primeiro lugar, portanto, o Documento Final do Sínodo olha para o contexto em que vivem os jovens, destacando os pontos de força e desafios. Tudo parte de uma escuta empática que, com humildade, paciência e disponibilidade, permite dialogar realmente com os jovens, evitando "respostas pré-concebidas e receitas prontas". Os jovens, de facto, querem ser "ouvidos, reconhecidos, acompanhados" e querem que sua voz seja "considerada interessante e útil no campo social e eclesial". A Igreja nem sempre teve essa atitude, reconhece o Sínodo: muitas vezes sacerdotes e bispos, sobrecarregados por muitos compromissos, lutam para encontrar tempo para o serviço da escuta. Daí a necessidade de preparar também adequadamente leigos, homens e mulheres, capazes de acompanhar as jovens gerações. Diante de fenómenos como a globalização e a secularização, além disto,  os jovens movem-se em direção a uma redescoberta de Deus e da espiritualidade e isso deve ser um estímulo para a Igreja, para recuperar a importância do dinamismo da fé.

A escola e a paróquia

Outra resposta da Igreja às questões dos jovens vem do setor educacional: as escolas, as universidades, as faculdades, os oratórios, permitem uma formação integral dos jovens, oferecendo ao mesmo tempo um testemunho evangélico de promoção humana.

Num mundo onde tudo está conetado - família, trabalho, tecnologia, defesa do embrião e do migrante - os bispos definem como insubstituível o papel desempenhado pelas escolas e universidades onde os jovens passam muito tempo. As instituições educacionais católicas, em particular, são chamadas a enfrentar a relação entre a fé e as demandas do mundo contemporâneo, as diferentes perspetivas antropológicas, os desafios técnico-científicos, as mudanças nos costumes sociais e o compromisso com a justiça. Também a paróquia tem o seu papel: "Igreja no território", é preciso um repensar na sua vocação missionária, pois muitas vezes resulta pouco significativa e pouco dinâmica, especialmente na área da catequese.

Migrantes, um paradigma do nosso tempo

O documento sinodal concentra-se então no tema dos migrantes, "paradigma do nosso tempo",  como um fenómeno estrutural, e não uma emergência transitória. Muitos migrantes são jovens ou menores desacompanhados, fugindo da guerra, violências, perseguição política ou religiosa, desastres naturais, pobreza e acabam por se tornarem vítimas de tráfico, drogas, abusos psicológicos e físicos. A preocupação da Igreja é acima de tudo em relação a eles - diz o Sínodo – na ótica de uma autêntica promoção humana que passa por acolher os refugiados, e seja ponto de referência para tantos jovens separados das suas famílias de origem. Mas não só: os migrantes - recorda o Documento - são também uma oportunidade de enriquecimento para as comunidades e sociedades em que chegam e que podem ser revitalizados por eles. Ressoam, portanto, os verbos sinodais "acolher, proteger, promover, integrar" indicados pelo Papa Francisco para uma cultura que supere a desconfiança e o medo. Os bispos também pedem mais empenho em garantir àqueles que não desejam migrar, o direito de permanecer no seu próprio país. A atenção do Sínodo também se dirige àquelas Igrejas ameaçadas na sua existência, pela emigração forçada e pelas perseguições sofridas pelos fiéis.

Firme compromisso contra todos os tipos de abuso. Dizer a verdade e pedir perdão

Bastante ampla, também, a reflexão sobre os "diversos tipos de abuso" (de poder, económicos, de consciência, sexuais) feitos por alguns bispos, sacerdotes, religiosos e leigos: nas vítimas – lê-se no texto – eles provocam sofrimentos que "podem ​​durar toda a vida e aos quais nenhum arrependimento pode colocar remédio".

Daí o apelo do Sínodo ao "firme compromisso com a adoção de rigorosas medidas de prevenção que impeçam o repetir-se, a partir da seleção e da formação daqueles a quem serão confiadas tarefas de responsabilidade e educativas". Por conseguinte, será necessário extirpar as formas - como a corrupção e o clericalismo – sob as quais estes tipos de abusos estão enraizados, contrastando também a falta de responsabilidade e transparência com que muitos casos foram geridos. Ao mesmo tempo, o Sínodo diz-se agradecido a todos aqueles que "têm a coragem de denunciar o mal sofrido", porque ajudam a Igreja a "tomar consciência do que aconteceu e da necessidade de reagir com decisão". "A misericórdia, de facto, exige a justiça". Mas não devem porém ser esquecidos os numerosos leigos, sacerdotes, pessoas consagradas e bispos que a cada dia se dedicam, com honestidade, ao serviço dos jovens, os quais podem verdadeiramente oferecer "uma ajuda preciosa" para uma "reforma de dimensão epocal" nesta área.

A Família "Igreja Doméstica"

Outros temas presentes no Documento dizem respeito à família, principal ponto de referência para os jovens, primeira comunidade de fé, "Igreja doméstica": o Sínodo chama a atenção, em particular, ao papel dos avós na educação religiosa e na transmissão da fé, e alerta para o enfraquecimento da figura paterna e  para aqueles adultos que assumem estilos de vida "juvenis". Além da família, para os jovens, a amizade com os colegas é muito importante, pois permite a partilha da fé e a ajuda recíproca no testemunho.

Promoção de justiça contra "cultura de desperdício"

O Sínodo concentra-se também em algumas formas de vulnerabilidade vividas pelos jovens em vários setores: no trabalho, onde o desemprego torna as jovens gerações pobres, minando a sua capacidade de sonhar; as perseguições até à morte; a exclusão social por motivos religiosos, étnicos ou económicos; as deficiências. Diante desta "cultura de descarte", a Igreja deve lançar um apelo à conversão e à solidariedade, tornando-se uma alternativa concreta às situações de dificuldade. Na frente oposta, não faltam áreas onde o comprometimento dos jovens consegue expressar-se com originalidade e especificidade: por exemplo, o voluntariado, a atenção às questões ecológicas, o compromisso na política com a construção do bem comum, a promoção da justiça, pela qual os jovens pedem à Igreja "um compromisso firme e coerente".

Arte, música e esporte, "recursos pastorais"

Também o mundo do desporto e da música oferece aos jovens a possibilidade de se expressarem da melhor forma: no primeiro caso, a Igreja convida a não subestimar a potencialidade educacional, formativa e inclusiva da atividade desportiva; no caso da música, por outro lado, o Sínodo fala sobre o seu “ser recurso pastoral" que interpela também a uma renovação litúrgica, porque os jovens têm o desejo de uma "liturgia viva", autêntica, alegre, momento de encontro com Deus e com o comunidade.

Os jovens apreciam celebrações autênticas em que a beleza dos sinais, o cuidado da pregação e o envolvimento da comunidade falem realmente de Deus": portanto, precisam de ser ajudados a descobrir o valor da adoração eucarística e a compreender que" a liturgia não é puramente expressão de si mesma, mas ação de Cristo e da Igreja".

As jovens gerações, ademais, querem ser protagonistas da vida eclesial, colocando os seus talentos e assumindo responsabilidades. sujeitos ativos na ação pastoral, eles são o presente da Igreja, devem ser encorajados a participar na vida eclesial, e não impedidos com autoritarismo. Numa Igreja capaz de dialogar de forma menos paternalista e mais sincera, de faCto, os jovens sabem ser muito ativos na evangelização dos seus coetâneos, exercendo um verdadeiro apostolado, que deve ser apoiado e integrado na vida da comunidade
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"Os seus olhos se abriram"

Deus fala à Igreja e ao mundo por meio dos jovens, que são um dos "lugares teológicos" onde o Senhor está presente. Portadora de uma santa inquietude que a torna dinâmica – lê-se na segunda parte do Documento – a juventude pode estar "mais à frente dos pastores" e nisso deve ser acolhida, respeitada, acompanhada. Graças a ela, de facto, a Igreja pode renovar-se, sacudindo "o peso e a lentidão". Assim, o chamamento do Sínodo para o modelo de "Jesus jovem entre os jovens" e ao testemunho dos santos, entre os quais estão muitos jovens, profetas da mudança.

Missão e vocação

Outra "bússola segura" para a juventude é a missão, dom de si que leva a uma felicidade verdadeira e duradoura: Jesus, de facto, não tira a liberdade, mas a liberta, porque a verdadeira liberdade só é possível em relação à verdade e à caridade. Intimamente relacionado com o conceito de missão, está aquele da vocação: cada vida é vocação na relação com Deus, não é fruto do acaso ou um bem privado para gerir por conta própria - afirma o Sínodo - e cada vocação batismal é um chamamento para todos à santidade. Para isto, cada um deve viver a própria vocação específica em cada área: a profissão, a família, a vida consagrada, o ministério ordenado e o diaconato permanente, que representa um "recurso" a ser ainda desenvolvido mais plenamente.

O acompanhamento

Acompanhar é uma missão para a Igreja a ser realizada a um nível pessoal e de grupo: num mundo "caracterizado por um pluralismo sempre mais evidente e por uma disponibilidade de opções cada vez mais ampla," buscar junto com os jovens um percurso voltado a fazer escolhas definitivas é um serviço necessário. Os destinatários são todos os jovens: seminaristas, sacerdotes ou religiosos em formação, noivos e recém-casados envolvidos. A comunidade eclesial é um lugar de relações e contexto em que na celebração eucarística se é tocados, instruídos e curados pelo próprio Jesus. O Documento Final enfatiza a importância do Sacramento da Reconciliação na vida de fé e encoraja os pais, professores, lideranças, animadores, sacerdotes e educadores a ajudar os jovens, pelo meio da Doutrina Social da Igreja, a assumir responsabilidades no âmbito profissional e sócio-político. O desafio em sociedades cada vez mais interculturais e plurirreligiosos, é indicar na relação com a diversidade uma oportunidade para a comunhão fraterna e o enriquecimento mútuo.

Não a moralismos e falsas indulgências, sim à correção fraterna

O Sínodo, portanto, promove um acompanhamento integral centrado na oração e no trabalho interior que valorize também a contribuição da psicologia e da psicoterapia, quando abertas à transcendência. "O celibato pelo Reino" – é a recomendação - deve ser entendido como um "dom a ser reconhecido e verificado na liberdade, alegria, gratuitidade e humildade", antes da escolha definitiva. Que se invista e aposte em acompanhadores de qualidade: pessoas equilibradas, de escuta, fé, oração, que se tenham deparado com as próprias fraquezas e fragilidades, e sejam por isto acolhedoras "sem moralismos e falsas indulgências", sabendo corrigir fraternalmente, longe de comportamentos possessivos e manipuladores. "Este profundo respeito – lê-se no texto - será a melhor garantia contra os riscos de plágio e abusos de qualquer tipo".

A arte de discernir

"A Igreja é o ambiente para discernir e a consciência – escrevem os Padres sinodais - é o lugar onde se colhe o fruto do encontro e da comunhão com Cristo": o discernimento, por meio de "um regular confronto com um diretor espiritual", apresenta-se portanto como o sincero trabalho de consciência", "pode ser entendido somente como autêntica forma de oração” e “requer a coragem de empenhar-se na luta espiritual". Banco de prova das decisões assumidas é a vida fraterna e o serviço aos pobres. De facto, os jovens são sensíveis à dimensão da diakonia.

“Partiram sem demora"

Maria Madalena, primeira discípula missionária, curada das feridas, testemunha da Ressurreição é o ícone de uma Igreja jovem. Dificuldades e fragilidades dos jovens "ajudam-nos a ser melhores, os seus questionamentos – lê-se - desafiam-nos, as críticas são necessárias porque muitas vezes através deles a voz do Senhor pede-nos conversão e renovação". Todos os jovens, mesmo aqueles com diferentes visões de vida, nenhum excluído, estão no coração de Deus. Os Padres ressaltam o dinamismo construtivo da sinodalidade, ou seja, o caminhar juntos: o final da Assembleia e o Documento final são apenas uma etapa porque as condições concretas e as necessidades urgentes são diferentes entre países e continentes. Daí o convite às Conferências Episcopais e às Igrejas particulares para prosseguir no processo de discernimento com o objetivo de elaborar soluções pastorais específicas.

Sinodalidade, estilo missionário

"Sinodal" é um estilo para a missão que exorta a passar do “eu” ao “nós” e a considerar a multiplicidade dos rostos, sensibilidades, origens e culturas diferentes. Neste horizonte são valorizados os carismas que o Espírito dá a todos, evitando o clericalismo que exclui muitos dos processos de decisão e a clericalização dos leigos, que freia o ímpeto missionário.

Que a autoridade – são os votos - seja vivida a partir de uma perspectiva de serviço. Sinodal seja também a abordagem ao diálogo inter-religioso e ecuménico destinado ao conhecimento recíproco e à superação de preconceitos e estereótipos, e a renovação da vida comunitária e paroquial, para que encurte as distâncias jovens-igreja e mostre a íntima conexão entre fé e experiência concreta de vida. Formalizado o pedido diversas vezes feito na Aula para instituir, a nível de Conferências Episcopais, um "Diretório de pastoral da juventude em chave vocacional”, que possa ajudar os responsáveis diocesanos e os agentes locais a qualificar a sua educação e ação com e para os jovens", contribuindo  para superar uma certa fragmentação da pastoral da Igreja. Reiterada ainda a importância da JMJ, bem como a dos centros da juventude e oratórios, que precisam no entanto de serem repensados.

O desafio digital

Há alguns desafios urgentes em que a Igreja é chamada a enfrentar. O Documento Final do Sínodo aborda a missão no ambiente digital: parte integrante da realidade cotidiana dos jovens, "praça" em que eles passam muito tempo e se encontram facilmente, um lugar irrenunciável para alcançar e envolver os jovens também nas atividades pastorais, a web apresenta luzes e sombras.

Se por um lado permite o acesso à informação, ativa a participação sociopolítica e a cidadania ativa, por outro apresenta um lado obscuro - a assim chamada dark web - em que se encontram a solidão, a manipulação, a exploração, a violência, cyberbullying, pornografia. Daí o convite do Sínodo para habitar o mundo digital, promovendo o seu potencial comunicativo com vista ao anúncio cristão e a "impregnar" de Evangelho as suas culturas e dinâmicas.

Faz-se votos para que sejam criados Escritórios e organismos para a cultura e a evangelização digital que, além de “favorecer a troca e e a disseminação de boas práticas, possam gerenciar sistemas de certificação de sites católicos, para conter a disseminação de notícias falsas (fake news) sobre a Igreja", emblema de uma cultura que "perdeu o sentido da verdade", encorajando a promoção de "políticas e instrumentos para a proteção dos menores na web".

Corpo, sexualidade e carinho

Então, o Documento enfoca o tema do corpo, da afetividade, da sexualidade: diante de desenvolvimentos científicos que levantam questionamentos éticas, de fenómenos como a pornografia digital, o turismo sexual, a promiscuidade, exibicionismo online, o Sínodo recorda às famílias e às comunidades cristãs a importância de fazer descobrir aos jovens que a sexualidade é um dom. Muitas vezes a moral sexual da Igreja é percebida como "um espaço de juízo e condenação", enquanto os jovens buscam "uma palavra clara, humana e empática" e "expressam um explícito desejo de confronto sobre as questões relativas à diferença entre identidade masculina e feminina, à reciprocidade entre homens e mulheres, à homossexualidade".

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