01 novembro, 2010

A estrutura e a experiência carismática na Igreja


Série: Reflexão sobre "O que é o Renovamento Carismático" - Tema IV)


Diác. João Carmona
Enquanto sacramento de Cristo, a Igreja torna-nos participantes na unção de Cristo, pelo Espírito. O Espírito Santo permanece na Igreja como perpétuo Pentecostes, e faz dela o Corpo de Cristo, o Povo de Deus, enchendo-a do seu poder, renovando-a sem cessar, chamando-a a proclamar o senhorio de Jesus para glória do Pai.
Esta “in-habitação” do Espírito na Igreja e nos corações dos cristãos como num templo é um dom para toda a Igreja: «Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?» (1Cor 3, 16; cf. 6, 19).
O dom primordial feito à Igreja não é senão o do próprio Espírito Santo. Com Ele vêm os dons gratuitos do Espírito, isto é, os carismas. O Espírito Santo, que é dado a toda a Igreja, torna-se visível através de diversas manifestações ou carismas que são como dons ordenados mais para a edificação do Reino de Deus, o serviço da Igreja e do mundo, do que para a perfeição dos indivíduos que os recebem.
Como tais, pertencem à própria natureza da Igreja. Está, portanto, fora de questão que um grupo ou movimento particular, no seio da Igreja, reivindique uma espécie de monopólio do Espírito e dos Seus carismas.
Se o Espírito e Seus carismas são inerentes à Igreja no seu conjunto, então são constitutivos da vida cristã e das suas diversas expressões, comunitárias ou individuais. Na comunidade cristã não há, em termos de direito, membros passivos, desprovidos de qualquer função ou ministério. «Há diversidade de dons, mas é o mesmo Espírito; diversidade de ministérios, mas é o mesmo Senhor; diversos modos de acção mas são o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito em vista do bem de todos» (1Cor 12, 4-7).
Neste sentido, todos os cristãos são carismáticos, e todos são, portanto, investidos num ministério ao serviço da Igreja e do mundo.
Está, portanto, fora de questão opor uma Igreja institucional a uma Igreja carismática.
Como escreveu Santo Ireneu: “Onde está a Igreja, está o Espírito, e onde está o Espírito de Deus, está a Igreja” (cf. S. Ireneu, Adversus Haereses, III, 21, I ‘Sources Crétiennes, 34, p.401’). Manifestando-se em diversas funções, é um mesmo Espírito que assegura a coesão entre o laicado e a hierarquia.
O Espírito e os seus dons são efectivamente constitutivos da Igreja, no seu todo como em cada um dos seus membros.
Os carismas são, contudo, de importância desigual. Os mais directamente ordenados para a edificação da comunidade possuem uma maior dignidade: «Vós sois o Corpo de Cristo; cada um, por sua parte, és os seus membros. Aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, primeiramente, os apóstolos, em segundo lugar, os profetas, e em terceiro lugar os que estão encarregados de ensinar; vêm, de seguida, o dom dos milagres, depois o de cura, o de assistência, o de direcção e o dom de falar em línguas» (1Cor 12, 27-28). O igualitarismo em matéria de carismas e de ministérios é estranho à vida da Igreja.

O acesso à vida cristã
Acedendo à vida cristã, todos os crentes tomam parte nas mesmas verdades, nos mesmos mistérios. E passam a ser, simultaneamente, membros do Corpo de Cristo e do Povo de Deus, participantes do Espírito e filhos do Pai. S. Paulo define o cristão simultaneamente em referência a Cristo e ao Espírito: «Se alguém não possui o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo» (Rm 8, 9). Nos Evangelhos, o que diferencia mais nitidamente o papel messiânico de Jesus, relativamente ao ministério de João Baptista, é o facto de Jesus ser Aquele que «baptiza no Espírito Santo». Segundo S. Paulo, é recebendo o Espírito Santo pelo baptismo que nos tornamos membros do Corpo de Cristo: «Nós fomos todos baptizados num só Espírito para sermos um só corpo, judeus ou gregos, escravos ou homens livres» (1Cor 12, 13).
O Novo Testamento descreve de diversas maneiras o acesso à vida cristã. Mas ele opera-se sempre sob o signo da fé. A unção da fé precede e acompanha a conversão (Cf. Jo 2, 20.27). A conversão conduz, no adulto, ao baptismo, à remissão dos pecados e ao dom da plenitude do Espírito. Este processo da fé está admiravelmente resumido na conclusão do discurso de Pedro no dia de Pentecostes: «Convertei-vos; que cada um de vós receba o baptismo em nome de Jesus Cristo para o perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo» (Act 2, 38).
Diácono João Carmona
Labat n.º 83 de Maio de 2008

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