30 abril, 2020

CAMINHOS

 
 
 
 
 
 
 
 
O caminho,
abre-se à tua frente!

Será mesmo por ali,
perguntas tu,
vai por ele tanta gente!

Olhas em redor
e descobres outro caminho,
mais pobre,
mais difícil de seguir,
e vão tantos por ali também,
que sentes vontade de ir.

Olhas para o longe,
a ver se vês conhecidos,
uns conheces de vislumbre,
outros conheces bem,
mas lá ao fundo,
à frente do caminho,
ias jurar para ti próprio
que vês uma figura de Mãe.

Por onde vai a Mãe,
pensas tu,
vou bem com certeza!

O caminho pode ter buracos.
planícies e montanhas,
curvas e linhas rectas,
coisas de fácil transpor,
outras cheias de artimanhas,
rios e vales também,
mas se é por lá que vai a Mãe,
é por lá que vai o amor,
e se por lá vai o amor,
então,
sem dúvida,
é o caminho de
Deus Nosso Senhor.  



Marinha Grande, 30 de Abril de 2020
Joaquim Mexia Alves
 

A oração especial do Papa pelas vítimas anónimas da pandemia



Na Missa desta quinta-feira (30/04) na Casa Santa Marta, no Vaticano, o Papa rezou em particular pelos mortos sem nome, sepultados nas valas comuns. Na homilia, recordou que anunciar Jesus não é fazer proselitismo, mas testemunhar a fé com a própria vida e pedir ao Pai que atraia as pessoas ao Filho 

VATICAN NEWS 

Francisco presidiu a Missa na Casa de Santa Marta na manhã desta quinta-feira (30/04) da III Semana da Páscoa. Na introdução, dirigiu o seu pensamento para as vítimas do novo coronavírus:
Rezemos hoje pelos defuntos, aqueles que morreram por causa da pandemia; e também de modo especial pelos defuntos – digamos assim – anónimos: vimos as fotografias das valas comuns. Muitos ali…

Na homilia, o Papa comentou a passagem do dia do Livro dos Atos dos Apóstolos (At 8,26-40) que conta o encontro de Filipe com um etíope eunuco, funcionário de Candace, desejoso de compreender quem era a pessoa descrita pelo profeta Isaías: “Ele foi levado como ovelha ao matadouro”. Depois de Filipe lhe ter explicado que se tratava de Jesus, o etíope deixou-se batizar.

É o Pai – afirmou Francisco recordando o Evangelho de hoje (Jo 6,44-51) – quem atrai o conhecimento do Filho: sem esta intervenção não se pode conhecer o mistério de Cristo. Foi o que aconteceu com o funcionário etíope, que ao ler o profeta Isaías tinha uma inquietude colocada pelo Pai no seu coração. Isto – observou o Papa – vale também para a missão: nós não convertemos ninguém, é o Pai que atrai. Nós podemos simplesmente dar um testemunho de fé. O Pai atrai através do testemunho de fé. É preciso pedir que o Pai atraia as pessoas a Jesus: são necessários o testemunho e a oração. Este é o centro do nosso apostolado. Perguntemo-nos: dou testemunho com o meu estilo de vida, rezo para que o Pai atraia as pessoas a Jesus? Ir em missão não é fazer proselitismo, é testemunhar. Nós não convertemos ninguém, é Deus que toca no coração das pessoas. Peçamos ao Senhor – foi a oração conclusiva do Papa – a graça de viver o nosso trabalho com o testemunho e com a oração para que Ele possa atrair as pessoas a Jesus.

A seguir, a homilia transcrita pelo Vatican News:

“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai”: Jesus recorda que também os profetas tinham pre-anunciado isto: “E todos serão instruídos por Deus”. É Deus quem atrai para o conhecimento do Filho. Sem isto, não se pode conhecer Jesus. Sim, pode-se estudar, inclusive estudar a Bíblia, também conhecer como nasceu, o que fez: iso sim. Mas conhecê-Lo interiormente, conhecer o mistério de Cristo é somente para aqueles que foram atraídos pelo Pai para isto.

Foi o que aconteceu a este ministro da economia da rainha da Etiópia. Vê-se que era um homem piedoso e que reservou um tempo, no meio dos muitos negócios que tinha a fazer, para ir adorar Deus. Um fiel. E voltava à pátria lendo o profeta Isaías. O Senhor pegou no  Filipe, enviou-o àquele lugar e depois disse-lhe: “Aproxima-te desse carro”, e ouve o ministro que está a ler Isaías. (Ele) aproxima-se e fez-lhe uma pergunta: “Compreendes?” – “Como posso, se ninguém me explica?”, e faz a pergunta: “De quem o profeta está a dizer isto?” Peço-te, sube ao carro”, e durante a viagem – não sei quanto tempo, penso que ao menos duas horas – Filipe explicou: explicou Jesus (conf. versículos 26-35).

Aquela inquietude que este senhor tinha na leitura do profeta Isaías era propriamente do Pai, que o atraia a Jesus: tinha-o preparado, tinha-o levado da Etiópia a Jerusalém para adorar Deus e depois, com esta leitura, tinha preparado o coração para revelar Jesus, ao ponto que assim que viu a água disse: “Posso ser batizado”. E ele acreditou.

E isto – que ninguém pode conhecer Jesus sem que o Pai o atraia –, é válido para o nosso apostolado, para a nossa missão apostólica como cristãos. Penso também nas missões.


“O que vais fazer nas missões?” – “Eu, converter as pessoas” – “Pára, não vais converter ninguém! Será o Pai a atrair aqueles corações para reconhecer Jesus”. Ir em missão é dar testemunho da própria fé; sem testemunho não farás nada. Ir em missão – e são bons missionários! – não significa criar grandes estruturas, coisas... e parar por aí. Não: as estruturas devem ser testemunhos. Podes fazer uma estrutura hospitalar, educacional de grande perfeição, de grande desenvolvimento, mas se uma estrutura é sem testemunho cristão, o teu trabalho ali, não será um trabalho de testemunha, um trabalho de verdadeira pregação de Jesus: será uma sociedade de beneficência, muito boa – muito boa! – mas nada mais.

Se eu quero ir em missão, e digo isto se eu quero ir em apostolado, devo ir com a disponibilidade para que o Pai atraia as pessoas a Jesus, e isto é feito pelo testemunho. Jesus disse mesmo a Pedro, quando confessa que Ele é o Messias: “Feliz és tu, Simão Pedro, porque quem te revelou isso foi o Pai”. É o Pai que atrai, e atrai com o nosso testemunho. “Eu farei muitas obras, aqui, ali, acolá, de educação, disto, daquilo aquele outro...”, mas sem testemunho são coisas boas, mas não são o anúncio do Evangelho, não são lugares que dão a possibilidade de que o Pai atraia ao conhecimento de Jesus (conf. Jo 6,44). Trabalho e o testemunho.

“Mas como posso fazer para que o Pai se preocupe em atrair essas pessoas?” A oração. E essa é a oração pelas missões: rezar para que o Pai atraia as pessoas a Jesus. Testemunho e oração caminham juntos. Sem testemunho e oração não se pode fazer pregação apostólica, não se pode fazer anúncio. Farás uma bonita pregação moral, farás muitas coisas boas, todas boas. Mas o Pai não terá a possibilidade de atrair as pessoas a Jesus. E este é o centro: este é o centro do nosso apostolado, que o Pai possa atrair as pessoas a Jesus. O nosso testemunho abre as portas às pessoas e nossa oração abre as portas ao coração do Pai para que atraia as pessoas. Testemunho e oração. E isto não é somente para as missões, é também para o nosso trabalho como cristãos. Eu dou testemunho de vida cristã, realmente, com o meu estilo de vida? Eu rezo para que o Pai atraia as pessoas a Jesus?

Esta é a grande regra para o nosso apostolado, em todos os lugares, e de modo especial para as missões. Ir em missão não é fazer proselitismo. Uma vez... uma senhora – uma boa pessoa, via-se que era de boa vontade – aproximou-se com dois jovens, um jovem e uma jovem, e diss-me: “Este (jovem), Padre, era protestante e converteu-se: eu o converti. E esta (jovem) era...” – não sei, animista, não sei o que me disse, “e eu a converti”. E a senhora era boa: boa. Mas errava. Perdi um pouco a paciência e disse: “Escute-me, a senhora não converteu ninguém: foi Deus quem tocou no coração das pessoas. E não se esqueça: testemunho, sim; proselitismo, não”.

Peçamos ao Senhor a graça de viver o nosso trabalho com testemunho e com oração, para que Ele, o Pai, possa atrair as pessoas a Jesus.

O Santo Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual.  

Oração recitada pelo Papa:

Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, ao meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!

Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:

Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!
Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!
Ressuscitou como disse. Aleluia!
Rogai por nós a Deus. Aleluia!
D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!
C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia! 

Vídeo integral da Missa:



VN

29 abril, 2020

Francisco: o caminho das Bem-aventuranças leva-nos a ser de Cristo e não do mundo

 
O Papa Francisco na Bisioteca do Palácio Apostólico
durante a Audiência Geral nesta quarta-feira
 
"Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céus.” Esta Bem-aventurança proclama “a alegria escatológica dos perseguidos por justiça”, disse o Papa na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira.
 
Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano

Na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira (29/04), realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico devido à pandemia do coronavírus, o Papa Francisco concluiu o percurso das Bem-aventuranças.

“Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céus.” Esta Bem-aventurança proclama “a alegria escatológica dos perseguidos por justiça”. Segundo Francisco, ela “anuncia a mesma felicidade que a primeira: o Reino dos Céus é dos perseguidos e dos pobres em espírito”.

“Pobreza em espírito, choro, mansidão, sede de santidade,  misericórdia, purificação do coração e obras de paz podem levar à perseguição por causa de Cristo, mas, no final, esta perseguição é motivo de alegria e grande recompensa nos céus”, sublinhou Francisco. Para o Pontífice, “o caminho das Bem-aventuranças é um caminho pascal que leva de uma vida segundo o mundo para a vida segundo Deus, de uma existência guiada pela carne, ou seja, pelo egoísmo, para uma existência guiada pelo Espírito”. E o Papa acrescentou:

O mundo, com os seus ídolos, os seus acordos e as suas prioridades, não pode aprovar este tipo de existência. As ‘estruturas de pecado, muitas vezes produzidas pela mentalidade humana, tão estranhas ao Espírito da verdade que o mundo não pode receber, só podem rejeitar a pobreza ou a mansidão ou a pureza e declarar a vida segundo o Evangelho como um erro e um problema, como algo a ser marginalizado. O mundo pensa assim: estes são idealistas ou fanáticos.

Segundo Francisco, “se o mundo vive em função do dinheiro, qualquer um que demonstre que a vida pode ser cumprida no dom e na renúncia torna-se um incómodo para o sistema ávido. A palavra ‘fastio’ é fundamental, pois o testemunho cristão, que faz bem a muitas pessoas, incomoda aqueles que têm uma mentalidade mundana. Eles vivem isto como uma repreensão. Quando a santidade aparece e a vida dos filhos de Deus emerge, nesta beleza há algo de inconveniente que exige uma tomada de posição: ser questionado e abrir-se ao bem ou recusar esta luz e endurecer o coração”.

O Papa frisou que “é curioso, chama a atenção para ver como, nas perseguições dos mártires, a hostilidade aumenta ao ponto de incomodar”. Basta recordar “as perseguições das ditaduras europeias do século passado: como se chega à ira contra os cristãos, contra o testemunho cristão e contra o heroísmo dos cristãos”.

É doloroso recordar que, neste momento, existem muitos cristãos que sofrem perseguições em várias áreas do mundo, e devemos esperar e rezar para que a sua tribulação seja interrompida o mais rápido possível. São muitos: os mártires de hoje são mais do que os mártires dos primeiros séculos. Expressamos a nossa proximidade a estes irmãos e irmãs: somos um único corpo, e estes cristãos são os membros ensanguentados do corpo de Cristo, que é a Igreja.

Segundo o Papa, “devemos estar atentos para não ler esta Bem-aventurança de maneira vitimista, de auto-comiseração. De facto, o desprezo dos homens nem sempre é sinónimo de perseguição: logo após Jesus diz que os cristãos são o “sal da terra” e alerta contra o perigo de “perder o sabor”, caso contrário, o sal “não serve para mais nada; serve só para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”. Portanto, há também um desprezo que é culpa nossa quando perdemos o sabor de Cristo e do Evangelho”.

Francisco afirmou que “devemos ser fiéis ao caminho humilde das Bem-aventuranças, porque é o que leva a ser de Cristo e não do mundo. Vale a pena lembrar o percurso de São Paulo: quando ele pensava que era justo, era de facto perseguidor, mas quando descobriu que era perseguidor, tornou-se um homem de amor, que enfrentou de bom grado o sofrimento da perseguição que sofria”.

A exclusão e a perseguição, se Deus nos concede graça, faz-nos assemelhar a Cristo crucificado e, associando-nos à sua paixão, são a manifestação de uma nova vida. Esta vida é a mesma de Cristo, que para nós homens e para a nossa salvação foi “desprezada e rejeitada pelos homens”. Acolher o seu  Espírito pode levar-nos a ter tanto amor no coração ao ponto de oferecermos a vida ao mundo sem fazer acordos com os seus enganos e aceitando a recusa.

“Os acordos com o mundo são perigosos: o cristão é sempre tentado a fazer acordos com o mundo, com o espírito do mundo”, disse o Papa, ressaltando que é preciso “rejeitar os acordos e seguir o caminho de Jesus Cristo. A vida do Reino dos Céus é a maior alegria, a verdadeira alegria”.

“Nas perseguições, há sempre a presença de Jesus que nos acompanha, a presença de Jesus que nos consola e a força do Espírito que nos ajuda a seguir em frente. Não desanimemos quando uma vida coerente do Evangelho atrai as perseguições das pessoas: o Espírito sustenta-nos neste caminho”, concluiu o Papa.

VN

O Papa reza pela Europa, para que seja unida e fraterna




Na Missa desta quarta-feira (29/04), o Papa, recordando a memória litúrgica de Santa Catarina de Sena, padroeira da Europa, rezou pela unidade da Europa e da União Europeia, para que todos juntos possamos seguir em frente como irmãos. Na homilia, convidou a pedir ao Senhor a graça da simplicidade e da humildade para confessar os próprios pecados concretos, e assim encontrar o perdão de Deus 

VATICAN MEWS 

Francisco presidiu a Missa na Casa de Santa Marta, no Vaticano, na manhã desta quarta-feira, 29 de abril, dia em que a Igreja celebra a memória litúrgica de Santa Catarina de Sena, virgem, doutora da Igreja, padroeira da Itália e da Europa. Na introdução, dirigiu o seu pensamento para s Europa, como fez outras vezes nestes dias caracterizados pela pandemia da Covid-19:

Hoje é Santa Catarina de Sena, doutora da Igreja, padroeira da Europa. Rezemos pela Europa, pela unidade da Europa, pela unidade da União Europeia: para que todos juntos possamos seguir em frente como irmãos.

Na homilia, o Papa comentou a primeira Carta de São João (1,5-2,2) em que o apóstolo afirma que Deus é luz e se dissermos que estamos em comunhão com Ele estamos também em comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus purifica-nos de todo pecado. E adverte: se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, mas se reconhecermos os nossos pecados, então Deus perdoa e purifica-nos de toda a culpa. O apóstolo – observou Francisco – chama à concretude da vida, à verdade: diz que faz-te acreditar que caminhas na luz e isto tranquiliza-te. O indefinido é muito traidor. O contrário é a concretude de reconhecer os próprios pecados. A verdade é concreta, as mentiras são etéreas: por isso é preciso confessar os pecados não abstratamente, mas de modo concreto. Como diz o Evangelho do dia (Mt 11,25-30) em que Jesus louva o Pai porque escondeu o Evangelho aos sábios e entendidos e o revelou aos pequeninos. Os pequeninos – ressaltou o Santo Padre – confessam os pecados de modo simples, dizem coisas concretas porque têm a simplicidade que Deus lhes dá. Também nós devemos ser simples e concretos e confessar, com humildade e vergonha, os nossos pecados concretos. A concretude leva-nos à humildade. E o Senhor perdoa-nos: é preciso dar nome aos pecados. Se somos abstratos em confessá-los, somos genéricos, acabamos nas trevas. É importante – afirmou o Papa – ter a liberdade de dizer ao Senhor as coisas como elas são, ter a sabedoria da concretude, porque o diabo quer que nós vivamos na indefinição, nem branco nem preto. O Senhor não gosta dos mornos. A vida espiritual é simples, mas nós a complicamos com nuances. Peçamos ao Senhor – concluiu Francisco – a graça da simplicidade, a transparência, a graça da liberdade de dizer as coisas como elas são e de conhecer bem quem somos diante de Deus.

A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:

Na primeira Carta de São João apóstolo há muitos contrastes: entre luz e trevas, entre mentira e verdade, entre pecado e inocência. Mas o apóstolo chama sempre à concretude, à verdade, e diz-nos que não podemos estar em comunhão com Jesus e caminhar nas trevas, porque Ele é luz. Ou uma coisa ou outra: o indefinido ainda é pior, porque isto tranquiliza-te. O indefinido é muito traidor. Ou uma coisa ou outra.

O apóstolo continua: “Se dissermos que não temos pecado, enganam-mo-nos a nós mesmos, e a verdade não está dentro de nós”, porque todos pecamos, todos somos pecadores. E aqui há algo que nos pode enganar: dizer “todos somos pecadores”, como quem diz “bom-dia”, “tenha um bom-dia”, uma coisa habitual, também uma coisa social, e assim não temos uma verdadeira consciência do pecado. Não: eu sou pecador por isto, isto, isto. A concretude. A concretude da verdade: a verdade é sempre concreta; as mentiras são etéreas, são como o ar, não podes pegá-lo. A verdade é concreta. E não podes ir confessar os teus pecados de modo abstrato: “Sim, eu... sim, uma vez perdi a paciência, outra...”, e coisas abstratas. “Sou pecador”. A concretude: “Eu fiz isto. Eu pensei isto. Eu disse isto”. A concretude é aquilo que me faz sentir-me seriamente pecador e não pecador no ar.

Jesus no Evangelho: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos”. A concretude dos pequeninos. É bonito ouvir os pequeninos quando se veem confessar: não dizem coisas estranhas, no ar; dizem as coisas concretas; e às vezes demasiadamente concretas porque têm aquela simplicidade que Deus dá aos pequeninos. Lembro-me sempre de uma criança que uma vez veio dizer-me que estava triste porque tinha brigado com a tia... Depois continuou. Eu disse: “Mas o que fizeste?” – “Eu estava em casa, queria ir jogar à bola – uma criança, hein? – mas a tia, porque a mãe estava fora, disse: “Não, não vais sai: primeiro deves fazer as tarefas”. Palavra vai, palavra vem, e no final acabei axingando-a. Era uma criança de grande cultura geográfica... Disse-me inclusive o nome do lugar para onde tinha mandado a tia! São assim: simples, concretas.

Também nós devemos ser simples, concretos: a concretude leva-te à humildade, porque a humildade é concreta. “Somos todos pecadores” é uma coisa abstrata. Não: “eu sou pecador por isto, isto e isto”, e isto leva-me à vergonha de olhar para Jesus: “Perdoai-me”. A verdadeira atitude do pecador. “Se dissermos que não temos pecado, estamos a enganar a nós mesmos, e a verdade não está dentro de nós”. É um modo de dizer que não temos pecado, é esta atitude abstrata : “Sim, somos pecadores, sim, uma vez perdi a paciência...” mas tudo no ar. Não me dou conta da realidade dos meus pecados. “Mas, o senhor sabe, todos fazemos estas coisas, sinto muito, sinto muito... entristece-me, não quero fazer  mais isto, não quero dizer mais isto, não quero mais pensar niso”. É importante que nós, dentro de nós, demos nome aos nossos pecados. A concretude. Porque se mantermos no ar, acabaremos nas trevas. Sejamos como os pequeninos, que dizem aquilo que sentem, aquilo que pensam: ainda não aprenderam a arte de dizer as coisas um pouco camufladas para que sejam entendidas mas não sejam ditas. Esta é uma arte dos adultos, que muitas vezes não nos faz bem.

Ontem recebi uma carta de um garoto de Caravaggio. Chama-se André. E contava-me as suas coisas: as cartas dos garotos, das crianças, são belíssimas, pela concretude. E dizia-me que tinha acompanhado a Missa pela televisão e que devia “reclamar-me” uma coisa: que eu digo “A paz esteja convosco”, “e você não pode dizer isso porque com a pandemia não nos podemos tocar”. Não vê que vocês fazem assim com a cabeça e não se tocam. Mas a liberdade de dizer as coisas como elas são.

Também nós, com o Senhor, a liberdade de dizer as coisas como elas são: “Senhor, estou no pecado: ajuda-me”. Como Pedro após a primeira pesca milagrosa: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador”. Ter esta sabedoria da concretude. Porque o diabo quer que vivamos na tepidez, mornos, no indefinido: nem bons nem maus, nem branco nem preto: indefinido. Uma vida que não agrada ao Senhor. O Senhor não gosta dos mornos.


Concretude. Para não ser mentirosos. Se confessarmos os nossos pecados, Ele mostra-se fiel e justo, para nos perdoar: perdoa-nos quando somos concretos. A vida espiritual é muito simples, muito simples; mas nós tornamo-la complicada com estas nuances, e jamais chegaremos à meta.

Peçamos ao Senhor a graça da simplicidade e que Ele nos dê esta graça que dá aos simples, às crianças, aos jovens que dizem aquilo que sentem, que não escondem aquilo que sentem. Mesmo se é uma coisa errada, mas o dizem. Mesmo com Ele, dizer as coisas: a transparência. E não viver uma vida que não é uma coisa nem outra. A graça da liberdade para dizer estas coisas e também a graça de conhecer bem quem somos diante de Deus.

O Santo Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Papa:

Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, ao meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!

Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:

Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!
Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!
Ressuscitou como disse. Aleluia!
Rogai por nós a Deus. Aleluia!
D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!
C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!



VN

28 abril, 2020

Maio. Um mês para redescobrir “a beleza de rezar o Terço”



No mês de maio, o Papa Francisco convida todos os cristãos a intensificarem a oração do Terço.

Numa carta dirigida a todos os fiéis, o Papa propõe redescobrir “a beleza de rezar o Terço em casa, no mês de maio”, em família, e aponta “um segredo para bem o fazer”: “a simplicidade”. “Podeis fazê-lo juntos ou individualmente: decidi vós de acordo com as situações, valorizando ambas as possibilidades”, escreve o Papa, numa carta publicada no dia 25 de abril.

Para uma melhor vivência deste tempo, “no qual o povo de Deus manifesta de forma particularmente intensa o seu amor e devoção à Virgem Maria”, Francisco anexou duas orações a Nossa Senhora que podem ser rezadas no final do Terço (ver em baixo). “Eu mesmo as rezarei no mês de maio, unido espiritualmente convosco”, anunciou o Papa, garantindo que reza por todos, “especialmente pelos que mais sofrem”.

Como se reza o Terço?
A oração do Terço começa com o sinal da cruz. Posteriormente, enunciam-se cada um dos cinco mistérios que são contemplados naquele dia. Nas segundas e sábados, contemplam-se os mistérios gozosos; nas terças e sextas-feiras, os dolorosos; nas quintas-feiras, os luminosos; e às quartas e Domingos, os gloriosos. 

Cada mistério é composto por um Pai Nosso, dez Ave-Marias e um Glória. No início de cada mistério é possível lerem-se alguns textos com meditações. Muitos deles podem ser encontrados na internet e em várias publicações. 

Depois de rezar os cinco mistérios, rezam-se 3 Ave-Marias, a ladainha de Nossa Senhora, Salve Rainha e outras orações de louvor. 

De acordo com as tradições de diferentes lugares, a esta estrutura básica para rezar o Terço podem acrescentar-se algumas jaculatórias e orações que exprimem a riqueza da piedade popular. (fonte: www.opusdei.org/pt e www.fatima.pt)

Orações propostas pelo Papa FranciscoNa carta que dirigiu a todos os fiéis, por ocasião do mês mariano, o Papa Francisco propôs as seguintes orações para serem rezadas no final do Terço. 

(1) Oração a Maria

Ó Maria,
Vós sempre resplandeceis sobre o nosso caminhocomo um sinal de salvação e de esperança.Confiamo-nos a Vós, Saúde dos Enfermos,que permanecestes, junto da cruz, associada ao sofrimento de Jesus, mantendo firme a vossa fé.
Vós, Salvação do Povo Romano, sabeis do que precisamos e temos a certeza de que no-lo providenciareis para que, como em Caná da Galileia, possa voltar a alegria e a festadepois desta provação.
Ajudai-nos, Mãe do Divino Amor, 
a conformar-nos com a vontade do Paie a fazer aquilo que nos disser Jesus, que assumiu sobre Si as nossas enfermidades e carregou as nossas dores para nos levar, através da cruz, à alegria da ressurreição. Amen.
À vossa proteção, recorremos, Santa Mãe de Deus;
não desprezeis as nossas súplicas na hora da provamas livrai-nos de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita.

(2) Oração a Maria

«À vossa proteção, recorremos, Santa Mãe de Deus».
Na dramática situação atual, carregada de sofrimentos e angústias que oprimem o mundo inteiro, recorremos a Vós, Mãe de Deus e nossa Mãe, refugiando-nos sob a vossa proteção.

Ó Virgem Maria, volvei para nós os vossos olhos misericordiosos nesta pandemia do coronavírus e confortai a quantos se sentem perdidos e choram pelos seus familiares mortos e, por vezes, sepultados duma maneira que fere a alma. Sustentai aqueles que estão angustiados por pessoas enfermas de quem não se podem aproximar, para impedir o contágio. Infundi confiança em quem vive ansioso com o futuro incerto e as consequências sobre a economia e o trabalho.

Mãe de Deus e nossa Mãe, alcançai-nos de Deus, Pai de misericórdia, que esta dura prova termine e volte um horizonte de esperança e paz. Como em Caná, intervinde junto do vosso Divino Filho, pedindo-Lhe que conforte as famílias dos doentes e das vítimas e abra o seu coração à confiança.

Protegei os médicos, os enfermeiros, os agentes de saúde, os voluntários que, neste período de emergência, estão na vanguarda arriscando a própria vida para salvar outras vidas. Acompanhai a sua fadiga heróica e dai-lhes força, bondade e saúde.

Permanecei junto daqueles que assistem noite e dia os doentes, e dos sacerdotes que procuram ajudar e apoiar a todos, com solicitude pastoral e dedicação evangélica.

Virgem Santa, iluminai as mentes dos homens e mulheres de ciência, a fim de encontrarem as soluções justas para vencer este vírus.

Assisti os Responsáveis das nações, para que atuem com sabedoria, solicitude e generosidade, socorrendo aqueles que não têm o necessário para viver, programando soluções sociais e económicas com clarividência e espírito de solidariedade.

Maria Santíssima tocai as consciências para que as somas enormes usadas para aumentar e aperfeiçoar os armamentos sejam, antes, destinadas a promover estudos adequados para prevenir catástrofes do género no futuro.

Mãe amadíssima, fazei crescer no mundo o sentido de pertença a uma única grande família, na certeza do vínculo que une a todos, para acudirmos, com espírito fraterno e solidário, a tanta pobreza e inúmeras situações de miséria. Encorajai a firmeza na fé, a perseverança no serviço, a constância na oração.

Ó Maria, Consoladora dos aflitos, abraçai todos os vossos filhos atribulados e alcançai-nos a graça que Deus intervenha com a sua mão omnipotente para nos libertar desta terrível epidemia, de modo que a vida possa retomar com serenidade o seu curso normal.
Confiamo-nos a Vós, que resplandeceis sobre o nosso caminho como sinal de salvação e de esperança, ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria. Amen.

Porque é aconselhável rezar o Terço?O Rosário da Virgem Maria é uma oração aconselhada pelo Magistério da Igreja Católica; na sobriedade dos seus elementos, possui em si a profundidade de toda a mensagem do Evangelho, de que pode ser considerada um resumo. Além disso, a própria Virgem Maria, quando apareceu na Terra, incentivou a rezar esta oração. A 13 de maio de 1917, na sua primeira aparição em Fátima, Maria disse: ‘Rezem o Terço todos os dias para alcançar a paz no mundo e o fim da guerra’ e, na sua última aparição nesse lugar, a Mãe de Deus apresentou-se como a ‘Senhora do Rosário’.

A Igreja acredita que a Santíssima Mãe de Deus continua no Céu a exercer o Seu ofício materno; portanto, é natural que os cristãos recorram a Ela para pedir as suas necessidades e confiar-Lhe as suas preocupações. Muitos Papas deram grande importância a esta oração: Leão XIII promulgou a encíclica Supremi Apostolatus Officio, um documento de grande entidade, a primeira das suas muitas declarações sobre esta oração, na qual propõe o Rosário como uma arma espiritual eficaz contra os males que afligem a sociedade. João Paulo II escreveu uma carta em 16 de outubro de 2002 chamada Rosarium Virginis Mariae, com a qual convocou um Ano do Rosário e em que comentou a beleza desta oração, que ajuda a “contemplar Cristo com Maria”.
(fonte: www.opusdei.org/pt)

Como acompanhar a oração do Terço?
Durante o mês de maio, de segunda-feira a sábado, sempre às 17h30, pode acompanhar, em direto, a transmissão da oração do Terço, a partir do Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, no Patriarcado de Lisboa. A transmissão a partir deste santuário mariano vai decorrer através das páginas Facebook do Patriarcado de Lisboa, Jornal Voz da Verdade e da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré.

Se preferir, também pode acompanhar a oração do Terço, diariamente, às 18h30, através da transmissão em direto (televisão – TV Canção Nova, rádio – Renascença e internet) a partir do Santuário de Fátima. 
Patriarcado de Lisboa

O Papa: o Senhor dê prudência ao seu povo diante da pandemia

 
 
Na Missa dsta terça-feira (28/04) na Casa de Santa Marta, non Vaticano, Francisco rezou para que o povo de Deus seja obediente às disposições com vista ao fim da quarentena, para que a pandemia não volte. Na homilia, o Papa convidou a não cair no pequeno linchamento diário do mexerico que provoca falsos julgamentos sobre as pessoas
 
VATICAN NEWS

Francisco presidiu a Missa na Casa de Santa Marta, no Vaticano, na manhã desta terça-feira (28/04) da III Semana da Páscoa. Na introdução, pensou no comportamento do povo de Deus diante do fim da quarentena:

Neste tempo, no qual se começa a haver disposições para sair da quarentena, rezemos ao Senhor para que dê ao seu povo, a todos nós, a graça da prudência e da obediência às disposições, para que a pandemia não volte.

Na homilia, o Papa comentou a passagem do dia do Livro dos Atos dos Apóstolos (At 7,51-8,1a), em que Estêvão fala com coragem ao povo, aos anciãos e aos doutores da lei, que o  julgam com falsos testemunhos, arrastam-no para fora da cidade e o apedrejam. Também com Jesus fizeram o mesmo – afirmou o Papa –, procurando convencer o povo de que era um blasfemo. É uma brutalidade partir de falsos testemunhos para “fazer justiça”: notícias falsas, calúnias, que esquentam o povo para “fazer justiça”, é um verdadeiro linchamento. Fizeram assim com Estêvão, usando um povo que foi enganado. Acontece assim com os mártires de hoje, como Asia Bibi, durante tantos anos no prisão, julgada por uma calúnia. Diante da avalanche de notícias falsas que criam opinião, às vezes não se pode fazer nada. Penso no Holocausto, disse o Papa: foi criada uma opinião contra um povo para eliminá-lo. Há ainda o perigo do linchamento diário que procura condenar as pessoas, criar uma má fama, o pequeno linchamento diário do mexerico que cria opiniões para condenar as pessoas. A verdade, ao contrário, é clara e transparente, é o testemunho do verdadeiro, daquilo em que se crê. Pensemos na nossa língua: muitas vezes com os nossos comentários iniciamos um linchamento deste tipo. Também nas nossas instituições cristãs vimos muitos linchamentos diários que nasceram dos mexericos. Rezemos ao Senhor para que nos ajude a ser justos nos nossos julgamentos, a não começar ou seguir esta condenação maciça que o mexerico provoca.

A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:

Na primeira Leitura destes dias ouvimos o martírio de Estêvão: uma coisa simples, como aconteceu. Os doutores da Lei não toleravam a clareza da doutrina e, como saída, foram pedir a alguém que dissesse ter ouvido que Estêvão blasfemava contra Deus, contra a Lei. E depois disto caíram em cima dele e apedrejaram-no: simples assim. É uma estrutura de ação que não é a primeira: também com Jesus fizeram o mesmo. O povo que estava ali, procuou convencer de que era um blasfemo e eles gritaram: “Crucifica-o”. É uma brutalidade. Uma brutalidade, partir de falsos testemunhos para se chegar a “fazer justiça”. Este é o esquema. Também na Bíblia há casos deste tipo: fizeram o mesmo com Susana, fizeram o mesmo com Nabot, depois Amã procurou fazer o mesmo com o povo de Deus... Notícias falsas, calúnias que esquentam o povo e pedem a justiça. É um linchamento, um verdadeiro linchamento.

E assim, levam ao juiz, para que dê forma legal a isto: mas já está julgado, o juiz deve ser muito, muito corajoso para ir contra um julgamento tão popular, feito de propósito, preparado. É o caso de Pilatos: Pilatos viu claramente que Jesus era inocente, mas viu o povo, lavou as mãos. É um modo de fazer jurisprudência. Também hoje vemos isso: também hoje está em andamento, em alguns países, quando se quer fazer um golpe de Estado ou excluir algum político para que não participe nas eleições, ou assim, se faz o seguinte: notícias falsas, calúnias, depois cai num juiz daqueles que gostam de criar jurisprudência com este positivismo “da situação” que está na moda, e depois condena. É um linchamento social. E assim foi feito com Estêvão, assim foi feito o julgamento de Estêvão: levaram para julgar alguém que já tinha sido julgado pelo povo enganado.

Isto acontece também com os mártires de hoje: que os juízes não têm a possibilidade de fazer justiça porque já foram julgados. Pensemos em Asia Bibi, por exemplo, que vimos: dez anos na prisão porque foi julgada por uma calúnia e um povo que quer a sua morte. Diante desta avalanche de notícias falsas que criam opinião, muitas vezes não se pode fazer nada: não se pode fazer nada.

Penso muito, nisto, no Holocausto. O holocausto é um caso deste tipo: foi criada a opinião contra um povo e depois era normal: “Sim, sim: devem morrer, devem morrer”. Um modo de proceder para eliminar as pessoas que incomodam, que atrapalham.

Todos sabemos que isto não é bom, mas o que não sabemos é que existe um pequeno linchamento diário que procura condenar as pessoas, criar um má fama nas pessoas, descartá-las: o pequeno linchamento diário do mexerico que cria uma opinião. Muitas vezes uma pessoa escuta o difamar alguém, e diz: “Mas não, essa pessoa é justa!” – “não, não: se diz que...”, e com aquele “se diz que” cria-se uma opinião para acabar uma pessoa. A verdade é outra: a verdade é o testemunho do verdadeiro, das coisas em que uma pessoa crê; a verdade é clara, é transparente. A verdade não tolera as pressões. Vejamos Estêvão, mártir: primeiro mártir depois de Jesus. Primeiro mártir. Pensemos nos apóstolos: todos deram testemunho. E pensemos em tantos mártires que – também de hoje, São Pedro Chanel – em que foi o mexerico ali, a inventar que era contra o rei... cria-se uma fama, e deve-se matar.


E pensemos em nós, na nossa língua: muitas vezes, com os nossos comentários, iniciamos um linchamento desse tipo. E nas nossas instituições cristãs vimos muitos linchamentos diários que nasceram do mexerico.

Que o Senhor nos ajude a ser justos nos nossos juízos, a não começar ou seguir a condenação maciça que o mexerico provoca.

O Santo Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual.

Oração recitada pelo Papa:

Aos vossos pés, ó meu Jesus, me prostro e vos ofereço o arrependimento do meu coração contrito que mergulha no seu nada na Vossa santa presença. Eu vos adoro no Sacramento do vosso amor, a inefável Eucaristia. Desejo receber-vos na pobre morada que o meu coração vos oferece; à espera da felicidade da comunhão sacramental, quero possuir-vos em Espírito. Vinde a mim, ó meu Jesus, que eu venha a vós. Que o vosso amor possa inflamar todo o meu ser, para a vida e para a morte. Creio em vós, espero em vós. Amo-vos. Assim seja.

Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:

Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!
Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!
Ressuscitou como disse. Aleluia!
Rogai por nós a Deus. Aleluia!
D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!
C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia! 

Vídeo integral da Missa:



VN

27 abril, 2020

O Papa reza pelos artistas: que o Senhor nos dê a graça da criatividade

 
 
Na Missa desta segunda-feira (27/04) na Casa de Santa Marta, no Vaticano, o Papa voltou o seu pensamento para os artistas e para o caminho da beleza e da criatividade que podem ajudar neste momento difícil caracterizado pela pandemia. Na homilia, convidou a pedir a graça de voltar sempre ao primeiro chamamento, quando Jesus nos olhou com amor
 
VATICAN NEWS

Francisco presidiu a Missa na Casa Santa Marta, no Vaticano, na manhã desta segunda-feira (27/04) da III Semana da Páscoa. Na introdução, dirigiu seu pensamento para os artistas:

Rezemos hoje pelos artistas, que têm esta capacidade de criatividade muito grande e que pelo caminho da beleza nos indicam o caminho a seguir. Que o Senhor nos dê a todos a graça da criatividade neste momento.

Na homilia, o Papa comentou o Evangelho do dia (Jo 6,22-29) em que Jesus repreende a multidão por procurá-lo, após a multiplicação dos pães e dos peixes, apenas porque se saciou, e a exortou a esforçar-se não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até à vida eterna, e que o Filho do homem dará. A multidão pergunta o que deve fazer, e Jesus responde: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou”. A multidão que ouvia Jesus sem se cansar – disse Francisco –, uma vez saciada, pensava em fazê-lo rei: tinha esquecido o primeiro entusiasmo pela Palavra de Jesus. E o Senhor recorda à multidão o primeiro sentimento. Corrige o caminho das pessoas que tinham tomado uma via mais mundana que evangélica. Assim se dá também connosco quando nos distanciamos do caminho do Evangelho e perdemos a memória do primeiro entusiasmo pela Palavra do Senhor. Jesus faz-nos voltar ao primeiro encontro; esta é uma graça diante das tentações  distanciar-nos. A graça de voltar sempre ao primeiro chamamento, quando Jesus nos olhou com amor. Cada um de nós tem a experiência do primeiro encontro em que Jesus nos disse: “Segue-me”. Depois, ao longo do caminho, distanciam-mo-nos perdemos o frescura do primeiro chamamento. O Papa convida a rezar para que o Senhor nos dê a graça de voltar ao momento em que fizemos a experiência de encontrar Jesus.

A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:

As pessoas que tinham ouvido Jesus durante todo o dia, que depois tiveram esta graça da multiplicação dos pães e viram o poder de Jesus, queriam fazê-lo rei. Antes iam até Jesus para ouvir a palavra e também para pedir a cura dos doentes. Passaram o dia inteiro a ouvir Jesus sem entediar-se, sem cansar-se ou (estar) cansadas, mas estavam ali, felizes. Mas depois quando viram que Jesus lhes dava de comer, algo que elas não esperavam, pensaram: “Este seria um bom governante para nós e certamente será capaz de nos libertar do poder dos Romanos e levar o país adiante”. E entusiasmaram-se para fazê-lo rei.  A intenção delas mudou, porque viram e pensaram: “Bem... porque uma pessoa que faz este milagre, que dá de comer ao povo, pode ser um bom governante”. Mas naquele momento tinham esquecido o entusiasmo que a Palavra de Jesus suscitava nos seus corações.

Jesus afastou-se e foi rezar. Aquelas pessoas, ficaram ali, e no dia seguinte procuravam Jesus, “porque deve estar aqui”, diziam, porque tinham visto que não subiu na barca com os outros. E havia uma barca ali, que lá ficou... Mas não sabiam que Jesus tinha alcançado os outros caminhando sobre as águas. Deste modo, decidiram ir até à outra parte do mar de Tiberíades procurar Jesus e quando o viram, a primeira palavra que lhe dizem (é): “Rabi, quando chegaste aqui?”, como que a dizer: “Não entendemos, isto parece uma coisa estranha”.

E Jesus faz-lhes voltar ao primeiro sentimento, ao que elas tinham antes da multiplicação dos pães, quando ouviam a Palavra de Deus: “Em verdade, em verdade, vos digo:

estais a procurar-me não porque vistes sinais – como no início, os sinais da palavra, que as entusiasmava, os sinais da cura –, não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos”. Jesus revela a intenção delas e diz: “Mas é assim, mudastes de atitude”. E elas, em vez de se justificarem: “Não, Senhor, não...”, foram humildes. Jesus continua: “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até à vida eterna, e que o Filho do homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com o seu selo”. E elas, concordando, disseram: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus? “Que acrediteis no Filho de Deus”. Este é um caso no qual Jesus corrige a atitude das pessoas, da multidão, porque no meio do caminho se tinham distanciado  um pouco do primeiro momento, da primeira consolação espiritual e tinham tomado um caminho que não era justo, uma caminho mais mundano que evangélico.

Isto leva-nos a pensar nas muitas vezes que na vida iniciamos um caminho no seguimento de Jesus, atrás de Jesus, com os valores do Evangelho, e a meio desse caminho vem outra ideia, vemos algum sinal e distanciam-mo-nos e sentimo-nos conformados com uma coisa mais temporal, mais material, mais mundana, pode ser, e perdemos a memória daquele primeiro entusiasmo que tivemos quando ouvíamos Jesus falar. O Senhor faz-nos voltar sempre ao primeiro encontro, ao primeiro momento no qual Ele nos olhou, nos falou e fez nascer dentro de nós a vontade de segui-lo. Esta é uma graça a ser pedida ao Senhor, porque na vida teremos sempre esta tentação de distanciar-mo-nos porque vemos outra coisa: “Mas aquilo dará certo, mas aquela ideia é boa...” Distanciam-mo-nos.


A graça de voltar sempre ao primeiro chamamento, ao primeiro momento: não esquecer, não esquecer a minha história, quando Jesus me olhou com amor e me disse: “Este é o vosso caminho”; quando Jesus através de tantas pessoas me fez entender qual era o caminho do Evangelho e não outros caminhos um pouco mundanos, com outros valores. Voltar ao primeiro encontro.

Impressionou-me sempre que entre as coisas que Jesus disse na manhã da Ressurreição: “Ide aos meus discípulos e dizei-lhes que vão à Galileia, ali me encontrarão”, Galileia era o lugar do primeiro encontro. Ali tinham encontrado Jesus. Cada um de nós tem a sua “Galileia dentro (de si), o próprio momento no qual Jesus se aproximou e nos disse: “Segue-me”. Na vida acontece isto que aconteceu a estas pessoas – boas, porque depois lhe dizem: “Que devemos fazer?”, imediatamente obedeceram –, acontece que nos distanciamos e procuramos outros valores, outras hermenêuticas, outras coisas, e perdemos a frescura do primeiro chamamento. O autor da Carta aos Hebreus chama-nos a isso: “Recordai-vos dos primeiros dias”. A memória, a memória do primeiro encontro, a memória da “minha Galileia”, quando o Senhor me olhou com amor e me disse: “Segue-me”.

O Santo Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritualA seguir, a oração recitada pelo Papa:

Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, ao meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!

Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:

Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!
Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!
Ressuscitou como disse. Aleluia!
Rogai por nós a Deus. Aleluia!
D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!
C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia! 

Vídeo integral da Missa:


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