26 abril, 2020

O Papa reza por quem está triste devido à crise, mas Jesus está sempre ao nosso lado



Na Missa deste domingo (26/04) na Casa de Santa Marta, no Vaticano, Francisco rezou por aqueles que se encontram cheios de tristeza porque sozinhos ou sem trabalho e não saberem como manter a família devido às consequências da pandemia. Na homilia, recordou que Jesus caminha sempre ao nosso lado, também nos momentos de escuridão 

VATICAN NEWS 

Francisco presidiu na Casa de Santa Marta, no Vaticano, a Missa matutina deste III Domingo da Páscoa. Na introdução, dirigiu o seu pensamento aos que se encontram aflitos pela tristeza no tempo da pandemia:

Rezemos hoje, nesta Missa, por todas as pessoas que sofrem a tristeza, porque estão sozinhas ou porque não sabem que futuro as aguarda ou porque não podem levar adiante a família porque não têm dinheiro, porque não têm trabalho. Muitas pessoas sofrem a tristeza. Rezemos hoje por elas.

Na homilia, o Papa comentou o Evangelho do dia (Lc 24,13-35) que conta o encontro de Jesus ressuscitado com os discípulos de Emaús e como estes reconheceram o Senhor ao partir o pão. O cristianismo – disse Francisco – é um encontro com Jesus, o cristão é alguém que se deixa encontrar pelo Senhor. Nascemos com uma semente de inquietude, mesmo sem sabê-lo: o nosso coração tem sede do encontro com Deus, busca-O, muitas vezes por caminhos errados. E Deus tem sede de nos encontrar, a tal ponto que enviou Jesus para encontrar-nos, para vir ao encontro desta inquietude. No Evangelho vemos que Jesus respeita o nosso caminho, segue os nossos tempos, é o Senhor da paciência, caminha ao nosso lado, ouve as nossas inquietações, conhece-as. Jesus gosta de ouvir como falamos. Não acelera o passo: é a sua paciência. Jesus acompanha o passo da pessoa mais lenta. Jesus ouve, depois responde, explica, até ao ponto necessário. Encontramos Jesus ao longo de todo o nosso caminho também nos nossos momentos de escuridão: acompanha-nos porque tem vontade de nos encontrar. Por isso digamos que o núcleo do cristianismo é o encontro com Jesus. Alguns encontram Jesus sem se darem conta. A vida da graça tem início quando encontramos Jesus. Que o Senhor – foi a oração conclusiva do Papa – nos dê a graça de encontrá-Lo e saber que caminha connsco em todos os momentos: é o nosso companheiro de peregrinação.

A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News

Muitas vezes ouvimos que o cristianismo não é somente uma doutrina, não é um modo de nos comportar-mos, não é uma cultura. Sim, é tudo isto, mas mais importante, e em primeiro lugar, é um encontro. Uma pessoa é cristã porque encontrou Jesus Cristo, deixou-se encontrar por Ele.

Esta passagem do Evangelho de Lucas fala-nos de um encontro, o modo de entender bem como o Senhor age, como é o nosso modo de agir. Nascemos com uma semente de inquietude. Deus quis assim: inquietude de encontrar plenitude, inquietude de encontrar Deus, muitas vezes mesmo sem saber que temos esta inquietude. O nosso coração é inquieto, o nosso coração tem sede: sede do encontro com Deus. Busca-O, muitas vezes por caminhos errados: perde-se, depois retorna, busca-O... Por outro lado, Deus tem sede do encontro, a tal ponto que enviou Jesus para encontrar-nos, para vir ao encontro dessa inquietude.

Como Jesus age? Nesta passagem do Evangelho vemos bem que Ele respeita, respeita a nossa própria situação, não segue adiante. Somente, algumas vezes, com os cabeça-dura, pensemos em São Paulo, não?, quando o derruba do cavalo. Mas habitualmente segue lentamente, respeitando os nossos tempos. É o Senhor da paciência. Quanta paciência o Senhor tem com cada um de nós! O Senhor caminha ao nosso lado.

Como vimos aqui com estes dois discípulos, ouve as nossas inquietudes – conhece-as! – e a certo ponto diz algo. O Senhor gosta de ouvir como falamos, para entender bem e para dar a resposta justa àquela inquietude. O Senhor não acelera o passo, acompanha sempre o nosso passo, muitas vezes lento, mas a sua paciência é assim.

Há uma antiga regra dos peregrinos que diz que o verdadeiro peregrino deve caminhar com o passo da pessoa mais lenta. E Jesus é capaz disso, fá-lo, não acelera, espera que demos o primeiro passo. E quando tem o momento, faz-nos a pergunta. Neste caso é claro: “O que tens vindo a conversar  pelo caminho?”, faz-se de desconhecedor para nos levar a falar. Ele gosta que nós falemos. Ele gosta de ouvir isto, gosta que nós falemos assim. É uma coisa que para ouvir-nos e responder nos faz falar, como se fizesse desconhecedor, mas com muito respeito. E depois responde, explica, até ao ponto necessário. Aqui  diz-nos que: “‘Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?’ E, começando por Moisés e passando pelos Profetas, explicava aos discípulos todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dele”. Explica, esclarece.

Confesso que tenho a curiosidade de saber como Jesus explicou, para fazer o mesmo. Foi uma catequese belíssima. E depois o próprio Jesus que nos acompanhou, que nos aproximou, faz de conta que vai mais adiante para ver a medida da nossa inquietude: “Não, vem, vem, fica um pouco connosco”. Assim se dá o encontro. Mas o encontro aqui não é somente o momento do partir o pão, mas é todo o caminho. Nós encontramos Jesus na escuridão das nossas dúvidas. Também na dura escuridão dos nossos pecados. Ele está ali para ajudar-nos, nas nossas inquietudes. Está sempre connosco.

O Senhor acompanha-nos porque tem vontade de nos encontrar. Por isso dizemos que o núcleo do cristianismo é um encontro: é o encontro com Jesus. Por que és cristão? Por que és cristã? E muitas pessoas não o abem dizer. Algumas, por tradição, mas outras não sabem dizer, porque encontraram Jesus, mas não se deram conta de que era um encontro com Jesus. Jesus procura-nos sempre. Sempre. E nós temos a nossa inquietação. No momento que a nossa inquietude encontra Jesus, aí começa a vida da graça, a vida da plenitude, a vida do caminho cristão.

Que o Senhor nos dê a todos essa graça de encontrar Jesus todos os dias, de saber, de conhecer propriamente que Ele caminha connosco em todos os nossos momentos. É o osso companheiro de peregrinação.

O Santo Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Papa:

Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, ao meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!

Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:

Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!
Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!
Ressuscitou como disse. Aleluia!
Rogai por nós a Deus. Aleluia!
D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!
C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia! 

Vídeo integral da Missa:



VN

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