10 outubro, 2010

5-8: Relação com o Pai, alicerce de oração

Série: 'Oração e Vida'

Todos sabemos que a nossa abertura numa conversa, num diálogo, depende da opinião que temos da pessoa que está diante de nós ou do outro lado do telefone ou do telemóvel.
Se temos a certeza que a pessoa é séria, honesta, que sabe guardar segredo, somos capazes de nos abrir mais e contar o que nos vai no interior.
Se temos a impressão ou a certeza que a pessoa não sabe guardar segredo ou que é muito rígida e pouca compreensiva, não nos abrimos, não falamos, não damos a conhecer o nosso interior, passando para o outro os nossos desabafos, contando os nossos problemas.
Abrimo-nos, dialogamos tanto mais quanto mais estamos à vontade, quanto mais estamos em sintonia e em comunhão interior com a pessoa com quem dialogamos.
Se a oração é dialogo com Deus Pai, dependerá muito da convicção interior daquilo que temos no coração e na inteligência, acerca de Deus, rezarmos mais, rezarmos de outro modo, rezarmos com o coração mais aberto, mais filial, mais amoroso, mais dialogante.
Infelizmente, por várias razões, muitas pessoas têm de Deus uma imagem muita errada.
Vêem-No mais como deus juiz, como deus carrasco, como deus comerciante, como deus polícia, como deus motor, como deus que é um bonzanas, etc.
Diversos ídolos, diversas deformações acerca de Deus, que nos impedem o diálogo, a abertura, a comunhão filial e amiga. Se Deus para alguém é mais juiz que Pai, mais carrasco ou polícia que Pai, mais comerciante que Pai, muito difícil há-de ser o diálogo com Ele, o gosto de se relacionar com Ele em comunhão amiga e carinhosa.
A grande revelação do evangelho é a de Deus como Pai, como Abba, como Paizinho. Rezar é dialogar com este Pai, que Jesus nos deu e nos revelou como Deus Amor.
Rezar é um diálogo entre um filho e um Pai, diálogo de amor, de comunhão, de íntima amizade, de amor paternal e filial. Enquanto não chegarmos aqui não há verdadeira oração, não há diálogo orante, não há comunhão de amigos.
Ter Deus como Pai é o primeiro alicerce da nossa oração, da nossa vida interior. Sabê-Lo Pai, amá-LO como Pai, ser amado como filho ou filha é o primeiro alicerce da nossa vida interior. Jesus dá-nos o exemplo disso mesmo: sua vida é comunhão de amor com o Pai.
Sua oração é relação filial com o Pai. Sua existência é unidade perfeita com o Pai.
As causas dos ídolos são diversas: a má experiência do pai terreno, a falsa educação familiar, a má catequese, o medo que nos metiam acerca de Deus, até quando havia trovoadas, etc. etc. Precisamos de derrubar estes ídolos, fazer um exorcismo espiritual, pela força e acção do Espírito Santo, e descobrimos, cada vez mais, Deus como Pai, Deus como Abba, como Paizinho.
Será difícil para muitos de nós chegarmos até Ele, devido às tais causas funestas que deturparam a sua imagem no nosso interior, mas conseguiremos, com a graça do espírito entrar na comunhão amiga e filial com esse Pai que Jesus nos ensinou que é Pai Providente e Bom, que é o Doador de todas as coisas, que é Pai de Misericórdia, que é o Semeador Divino que semeia em nós sua Palavra, que é Divino Agricultor que cuida da Videira, que é o Pai Santo e o Deus de toda a consolação, o Pai que quer a nossa felicidade e quer conquistar-nos o coração e a amizade.
O Espírito Santo nos irá dando a graça de descobrirmos Deus como Pai, de nos relacionarmos com Ele, de O termos como o tesouro da nossa vida, a pérola preciosa do nosso coração.
Quanto mais descobrirmos o Pai, melhor será a nossa oração e toda a nossa vida interior. Fazer do Pai, o centro, o Tudo, das nossas vidas de filhos.
Só assim a nossa oração será verdadeiramente cristã, com raízes evangélicas.

Dário Pedroso SJ
Labat n.º 71 de Abril de 2007

Sem comentários:

Enviar um comentário