11 outubro, 2010

1. A Igreja, Templo do Espírito Santo

Série: 'Cultivar a fé'

Parece que não podemos determinar com precisão o nascimento da Igreja, pois uns teólogos fazem-na nascer no Cenáculo, com a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio, outros, na cruz, com a morte de Cristo e com o sangue e água que brotaram do seu lado aberto, que simbolizam o Baptismo e a Eucaristia, outros no Domingo de Páscoa quando Jesus aparece aos onze Apóstolos reunidos na Cenáculo, lhes concede uma primeira efusão do Espírito e lhes dá o poder de perdoar os pecados, outros, finalmente, situam o nascimento da Igreja no dia de Pentecostes, quando o Espírito desceu em línguas de fogo sobre Maria e os Apóstolos.
De um modo ou de outro a Igreja tem um nascimento pascal, uma origem vinda do mistério pascal, que nasce na Ceia, passa pela Cruz, começa a florir na Páscoa e tem o seu cume no Pentecostes.
Cada momento é nascimento de algo de novo que constitui a Igreja. Todos, no seu conjunto, fazem-na nascer, como Povo de Deus, como Corpo de Cristo, como Esposa de Jesus, como Templo vivo do Espírito Santo.
Mas o Espírito Santo, dado em Domingo de Páscoa, quando Jesus afirma:
“Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados, àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos”(Jo 20,22-23), ou dado em plenitude, no dia de Pentecostes (Cf Ac 2,1-13), é a “alma da Igreja”, é Ele que a vivifica , que age em todos os cristãos e no conjunto do Corpo, é Ele que faz da Igreja “templo do Deus vivo” (2 Cor 6.16).
“É ao Espírito de Cristo, como a um princípio oculto, que se deve atribuir o facto de todas as partes do Corpo estarem unidas, tanto entre si como com a Cabeça suprema, pois Ele está todo na Cabeça, todo no Corpo, todo em cada um dos seus membros” ( Cf Catecismo da Igreja Católica, 797).
O Espírito presente em cada cristão desde o dia do Baptismo, recebido de um modo novo no sacramento do Crisma, e agindo em cada um dos sacramentos, é o dinamizador da vida e da santidade da Igreja.
Sem Espírito não haveria Igreja, não haveria sacramentos, não haveria santidade, não haveria conhecimento da Palavra que alimenta a própria Igreja, não haveria unidade, comunhão, serviço, partilha fraterna, dons e carismas.
O Espírito é o grande agente, o grande protagonista da vida da Igreja.
“O Espírito Santo é o princípio de toda acção vital e verdadeiramente salvífica em cada uma das diversas partes do Corpo.
Ele realiza de múltiplas maneiras, a edificação de todo o Corpo na caridade; pela Palavra de Deus ‘que tem o poder de construir o edifício’ (Ac 20,32); mediante o Baptismo, pelo qual forma o Corpo de Cristo; pelos sacramentos que curam os membros de Cristo; pela ‘ graça dada aos Apóstolos que ocupa o primeiro lugar entre os seus dons’; pelas virtudes que fazem agir segundo o bem; enfim, pelas múltiplas graças especiais (chamados carismas) pelos quais Ele torna os fiéis ‘aptos e disponíveis para assumir os diferentes cargos e ofícios proveitosos para a renovação e cada vez mais ampla edificação da Igreja” (Catecismo da Igreja Católica, 798).
A Igreja, tendo a sua origem e a sua vivificação na acção do Espírito, é pneumatológica, é pneumática, é pentecostal.
Atenta à voz do Espírito, ao sopro divino, às moções interiores d’Aquele que é a sua alma e a fonte da sua vida, a Igreja tem de estar sempre aberta àquilo que o Espírito lhe quer dizer, a quer levar a renovar, a deseja, como seu “motor espiritual”, fazer realizar de um modo sempre novo.

Daqui nascerá uma atenção particular e muito peculiar à acção do Espírito, uma abertura à sua acção dinamizadora, aos seus carismas, ao seu movimento interior, àquilo que de novo e de maneira amorosa,
o Espírito a quer fazer viver e dimensionar.
Dário Pedroso, s.j.
Labat n.º 58, de Fevereiro de 2006

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