20 janeiro, 2011

O DEMÓNIO E AS TENTAÇÕES (2)


Não pretendo, obviamente, com estes textos, fazer nenhum “tratado” sobre o Demónio, ou “estudo” sobre a Demonologia, (pois para isso há diversos livros que poderei indicar), mas tão só reflectir e partilhar, (em pensamentos e palavras simples), sobre aquilo que no dia-a-dia nos é dado a conhecer e viver sobre este assunto.

Partindo do texto anterior é-nos dado perceber que hoje em dia, muitas pessoas atribuem ao Demónio, acontecimentos, acções e atitudes, que depois de bem analisadas, percebemos que são afinal “coisas” do dia-a-dia, do viver de cada um.

A procura de justificações para coisas que não parecem à partida “normais”, o sentido da procura do sobrenatural que hoje em dia tantos vivem, (tantas vezes de maneira errada), os discursos “inflamados” de alguns para tentarem levar as pessoas a Cristo por medo ao demónio, leva a que muitas pessoas não analisem com bom senso os factos de que são “vítimas”, (e de que não poucas vezes são os próprios “culpados”), a atribuírem ao Demónio coisas que, como dizia acima, são factos do dia-a-dia.

Contribui, aliás, certamente para tudo isto, a invasão diária pela televisão e outros meios, de cartomantes, videntes, médiuns, e tantas coisas mais, que nos levam a olhar para o sobrenatural como algo que nos mete medo, e que influencia as nossas vidas sem nos podermos defender.

A título de exemplo conto, que há poucos anos, veio uma pessoa ter comigo pedindo conselho e oração, pois tinha a certeza que o Demónio estava a influenciar a sua vida, (tal como pessoas “amigas” lhe diziam e afirmavam), e ela já não colocava em dúvida, estando assustada e em certo sentido “desesperada” sem saber o que fazer.

Resumindo a conversa, forçosamente longa, os factos mais importantes desenvolviam-se numa semana e eram os seguintes: tinham assaltado a sua casa, a sua filha tinha abortado naturalmente e o seu neto tinha tido um acidente de automóvel.

Conversámos sobre a vida que essa pessoa levava, sobretudo da sua vivência cristã, e depois analisámos calmamente os factos que a levavam a pensar que o Demónio andava a “atormentar” a sua vida.

A casa tinha sido assaltada, quando essa pessoa se deslocou ao supermercado por 10 minutos e deixou as janelas abertas. Só que demorou mais de uma hora e quando regressou a casa tinha sido roubada.
A filha tinha abortado naturalmente, mas já era a terceira vez, (tendo apesar de tudo já um filho, salvo o erro), e já tinha sido alertada pelo seu médico, pois tinha alguns problemas físicos que podiam provocar precisamente o aborto natural.
O neto tinha 18 anos, carta de condução recente, e o acidente tinha acontecido numa madrugada de sábado.

Obviamente que a pessoa, colocada perante os argumentos, percebeu que tudo o que tinha acontecido era “normal” na vida do dia-a-dia, e que não era o Demónio que se andava a encarniçar contra ela.

Mas a verdade é que, (por força do que lhe tinham dito e da sua própria “convicção” induzida pelo que ouvia), essa pessoa tinha vivido dias verdadeiramente assustada com a possibilidade de o Demónio estar na sua vida.

Com isto quero eu dizer que o Demónio não pode actuar e influenciar a vida das pessoas?
De modo nenhum o quero dizer, ou afirmar, mas sim que devemos ter sempre a perspectiva correcta daquilo que realmente se passa, e sobretudo não nos deixarmos influenciar por quem em tudo vê o Demónio.

Fomos criados por Deus em liberdade, e é em liberdade, perante Deus, que tomamos as nossas decisões, e que fazemos as nossas acções.

Podemos ser tentados a fazer o mal?
Sim, com certeza!
Mas só o fazemos, se verdadeiramente nos dispusermos a fazê-lo.

Eu posso ser tentado a beber demasiadamente e ficar bêbado, mas não é o Demónio que me senta ao volante do meu carro.
Eu posso ser tentado a cometer um aborto, mas não é o Demónio que toma a decisão e me leva a essa acção.
Eu posso ser tentado a mentir, mas não é o Demónio que fala pela minha boca.

Com certeza que aqui não estamos a falar de possessões demoníacas, (muito raras entre nós), mas sim na acção tentadora do Demónio que apenas se torna efectiva pela nossa vontade, pelo nosso querer.

Lembremo-nos sempre:
«Não vos surpreendeu nenhuma tentação que tivesse ultrapassado a medida humana. Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças, mas, com a tentação, vos dará os meios de sair dela e a força para a suportar.» 1 Cor 10, 13

Por isso a vigilância constante, permanente, que passa pela vida de oração, pela leitura orante e o estudo da Palavra de Deus, pelos Sacramentos, mormente a Confissão e a Eucaristia, (com a Comunhão Eucarística), com o aprofundar da fé, ouvindo a Igreja que ensina pela voz dos seus membros, pelos documentos colocados à disposição dos fiéis, pela voz do Santo Padre, lendo livros reconhecidamente católicos e pedindo conselho a quem efectivamente os pode dar, como os sacerdotes e leigos empenhados e reconhecidos como tal.

«No entanto, o poder de Satanás não é infinito. Satanás é uma simples criatura, poderosa pelo facto de ser puro espírito, mas, de qualquer modo, criatura: impotente para impedir a edificação do Reino de Deus.» Catecismo da Igreja Católica 395

Monte Real, 20 de Janeiro de 2011

(continua)
Joaquim Mexia Alves

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