31 agosto, 2020

Em setembro, o Papa pede oração e respeito pelo meio ambiente: não ao saque, sim à partilha



Francisco, no vídeo de intenção de oração para o mês de setembro, faz um apelo ao cuidado da Criação “hoje, não amanhã, hoje” e “com responsabilidade”. Enquanto pede oração para que os recursos do planeta “não sejam saqueados, mas partilhados de forma justa e responsável”, denuncia o enriquecimento de países e empresas com a exploração de dons naturais, gerando uma “dívida ecológica”: quem pagará essa dívida? 

Andressa Collet - Vatican News 

“Estamos a espremer os bens do planeta. Espremendo-os, como se fosse uma laranja. Países e empresas do Norte enriqueceram explorando dons naturais do Sul, gerando uma ‘dívida ecológica’. Quem pagará essa dívida? Além disto, a ‘dívida ecológica’ é ampliada quando multinacionais fazem fora dos seus países o que elas não têm permissão para fazer nos seus. É ultrajante. Hoje, não amanhã, hoje, temos que cuidar da Criação com responsabilidade. Rezemos para que os recursos do planeta não sejam saqueados, mas partilhados de forma justa e responsável. Não ao saque, sim à partilha.”

No vídeo de intenção de oração para o mês de setembro, enquanto pede para rezar pelos recursos do planeta, o Papa Francisco denuncia o enriquecimento de países e empresas com a exploração do meio ambiente, expressando, assim, a sua preocupação com a geração de uma “dívida ecológica”. O convite para cuidar da Criação “hoje, não amanhã, hoje” e “com responsabilidade” acontece nesta segunda-feira (31), véspera do Dia Mundial de Oração pela Criação; no âmbito do #TempoDaCriação, celebrado de 1 de setembro a 4 de outubro; e no 5º aniversário da Laudato si'

A campanha pelo cuidado da Criação, além do novo Vídeo do Papa, com a intenção de oração de Francisco confiada a toda Igreja por meio da Rede Mundial de Oração do Papa (que inclui o Movimento Eucarístico Jovem - MEJ), também reúne o trabalho de várias ONGs, buscando a transformação social e procurando melhorar a vida dos mais desfavorecidos. 

O alerta para a dívida ecológica

A mensagem do Papa Francisco sobre o cuidado da Criação é contundente quando afirma que “estamos a espremer os bens do planeta. Espremendo-os, como se fosse uma laranja”. É por isso que o Pontífice encoraja todas as pessoas a tomarem consciência da grave "dívida ecológica", resultado da exploração dos recursos naturais e da atividade de algumas multinacionais que "fazem fora de seus países o que não é permitido nos seus."

Um exemplo para a desproporção dos recursos, segundo relatórios internacionais, é que quase um bilião de pessoas vão dormir com fome todas as noites. Isto acontece não porque não haja comida suficiente para todos, mas devido à profunda injustiça na maneira como a comida é produzida e distribuída. Entre as causas estão: o aumento do poder empresarial na produção de alimentos, a crise climática e o acesso injusto aos recursos naturais, o que afeta a capacidade das pessoas para cultivar e comprar alimentos.

A exploração de recursos naturais não-renováveis, incluindo o petróleo, o gás, minerais e madeira, tem sido frequentemente identificada como um dos fatores desencadeadores, impulsionadores ou sustentadores de conflitos violentos em diferentes partes do mundo. 

A promoção da ecologia integral

O Pe. Frédéric Fornos, diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, declarou que, “nestes tempos de pandemia, estamos mais conscientes, como o Santo Padre já disse várias vezes, da importância de nossa Casa Comum, o que nos recorda a necessidade de cuidar dos bens do planeta”. O padre lembrou que, a maio deste ano, Francisco divulgou uma mensagem em vídeo para a Semana Laudato Si’ com o convite de "responder à crise ecológica, ao grito da terra e ao grito dos pobres".

O diretor, então, encorajou à oração, junto com o Papa, e finalizou:
“Hoje, mais do que nunca, temos que ouvir este clamor e promover concretamente, com um estilo de vida pessoal e comunitário sóbrio e solidário, uma ecologia integral. Vamos rezar por isso porque é um caminho de conversão.”

VN

30 agosto, 2020

Paróquia de Ota - Horário das Missas (atualização)




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O Papa pede respeito da legalidade internacional no Mediterrâneo Oriental

Papa Francisco  (ANSA)
O Papa Francisco faz um apelo ao diálogo construtivo e ao respeito pela legalidade internacional para resolver a crise no Mediterrâneo entre a Grécia e a Turquia.
Jane Nogara - Vatican News

Depois do Angelus deste domingo (30/08) o Papa Francisco não deixou de falar sobre uma das mais iminentes crises que está a ocorrer no Mediterrâneo Oriental. O Papa refere-se às graves tensões numa estreita faixa marítima entre a Grécia e a Turquia. O motivo seria a posse de grandes recursos energéticos presentes na área.

Eis as palavras do Papa:

“Acompanho com preocupação as tensões na área do Mediterrâneo Oriental, que é minada por vários surtos de instabilidade. Por favor, apelo ao diálogo construtivo e ao respeito pela legalidade internacional para resolver os conflitos que ameaçam a paz dos povos daquela região”
VN

Papa Francisco: cada um de nós deve tomar a própria cruz

 
 
“Se quisermos ser seus discípulos, somos chamados a imitá-Lo, entregando as nossas vidas sem reservas por amor a Deus e ao próximo”, palavras do Papa Francisco ao falar sobre o compromisso de cada um de nós de “tomar a nossa própria cruz”
 
Jane Nogara – Vatican News
 
Na oração do Angelus deste domingo (30/08) o Santo Padre refletiu sobre o compromisso de cada um de nós de “tomar a própria cruz”. Francisco discorreu sobre o Evangelho de Mateus quando Jesus pela primeira vez falou aos seus discípulos sobre o final que o espera na Cidade Santa:
“Diz que terá de ‘sofrer muito por parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitar ao terceiro dia’”
 
A reação dos discípulos a esta predição é considerada imatura por Jesus: “Ainda têm uma fé imatura e muito ligada à mentalidade deste mundo”. Eles não querem que Jesus passe por isso.
“Para Pedro e os outros discípulos - mas também para nós! - a cruz é um ‘escândalo’, enquanto Jesus considera um ‘escândalo’ fugir da cruz, o que significaria fugir da vontade do Pai, da missão que Ele lhe confiou para a nossa salvação”

Tomar a própria cruz

Jesus, continua Francisco, aponta o caminho do verdadeiro discípulo mostrando duas atitudes: “A primeira é ‘renunciar a si mesmo’, o que não significa uma mudança superficial, mas uma conversão, uma inversão de valores. A outra atitude é tomar a própria cruz” . Explicando que “não se trata apenas de suportar pacientemente as tribulações diárias, mas de carregar com fé e responsabilidade aquela parte do esforço e do sofrimento que a luta, contra o mal, implica”.
 
O Papa aprofunda este ponto exortando:
“Façamos com que a cruz pendurada na parede de casa, ou a pequena que usamos ao pescoço, seja um sinal do nosso desejo de nos unirmos a Cristo no serviço aos nossos irmãos, com amor, especialmente os pequenos e mais frágeis”

Jesus crucificado, verdadeiro Servo do Senhor

Seguidamente  recorda ainda que a cruz é sinal sagrado do Amor de Deus e do Sacrifício de Jesus, e não deve ser reduzida a um objeto de superstição ou uma joia ornamental.
“Toda a vez que fixamos o olhar na imagem de Cristo crucificado, pensamos que Ele, como verdadeiro Servo do Senhor, cumpriu a Sua missão dando a vida, derramando o Seu sangue para a remissão dos pecados” 
 
Por fim ensina que “se quisermos ser seus discípulos, somos chamados a imitá-Lo, entregando as nossas vidas sem reservas por amor a Deus e ao próximo”.
 
VN

28 agosto, 2020

O ensinamento de Agostinho ao homem contemporâneo

 
Santo Agostinho  (©Renáta Sedmáková - stock.adobe.com)
 
Com ele aprende-se a introspecção interior e a busca de Deus através da razão e da fé. Mas Santo Agostinho, que a Igreja lembra hoje, também ensina a ler a história à luz da Providência. O novo Prior da Província agostiniana da Itália afirma: "Agostinho fala muito ao homem de hoje". Carta do Prelado Geral a todos os Agostinianos
 
Tiziana Campisi – Vatican News

"Os Padres da Igreja são justamente chamados os santos que, com a força da fé, a profundidade e a riqueza de seus ensinamentos, regeneraram e fizeram crescer a Igreja nos primeiros séculos", assim escreveu João Paulo II na Carta Apostólica Patres Ecclesiae. E entre os Padres da Igreja está Santo Agostinho, Bispo de Hipona, que com o seu ministério pastoral e as suas obras contribuiu enormemente para o desenvolvimento da doutrina cristã. 

Santo Agostinho pastor

Se com a sua experiência de vida o prelado africano nos ensina a percorrer o caminho da interioridade para encontrar Deus e compreender a Sua Palavra com fé e razão, através de dos seus escritos responde também às grandes perguntas do homem sobre a existência, sobre o bem e o mal, sobre a história. Há muitas homilias nas quais Agostinho aborda temas atuais, adverte os seus fiéis sobre costumes pagãos, ajuda-os a ler a realidade à luz do Evangelho. Como pastor, durante 35 anos, conduziu a sua diocese na ortodoxia cristã e, cabendo-lhe a episcopalis audientiae, deve resolver as disputas civis que os cidadãos de Hipona lhe submetem como árbitro de disputas, o que o aproximou ainda mais do seu povo. Tudo isto o levou a lidar com problemas concretos e com heresias e questões teológicas, enquanto os seus sermões apaixonavam tanto os fiéis que ficavam horas a ouvi-lo falar.

Entre 413 e 426, quando já tinha idade madura, Agostinho escreveu A Cidade de Deus, oferecendo uma leitura da história através das lentes da fé católica. Nos 22 livros que a compõem, o mundo é descrito como o fruto da "cidade terrestre", marcada pelo pecado e amor próprio do homem, e da "cidade celeste", o lugar da Graça e do amor de Deus. Mas, para o bispo de Hipona, em todas as civilizações há homens que pertencem a uma ou a outra. Além disto, vendo a Providência como um guia para toda a história, cada acontecimento e cada evento pessoal é iluminado por um significado. A Cidade de Deus de Agostinho é uma reflexão filosófica, teológica e política. Padre Giustino Casciano, Prior Provincial da Província Agostiniana da Itália, explica o que podemos recuperar nos dias de hoje, desta obra:

Padre Casciano: "A Cidade de Deus" foi escrita por Agostinho quando Roma caiu nas mãos dos Godos. Este evento que marcou época abalou o povo, as consciências de então, e deu origem à acusação contra os cristãos de que eles eram a causa da ruína da cidade de Roma, da cidade eterna. Escrevendo "A Cidade de Deus", Agostinho quer responder precisamente a estas acusações. E ele diz que não foi por causa do cristianismo que Roma se tornou fraca e caiu nas mãos dos bárbaros, mas sim, por causa da corrupção moral, da corrupção dos costumes, que Roma perdeu o seu esplendor e a sua grandeza.   Tornou-se frágil por causa do homem, que seguiu mais as paixões do que a sua própria inteligência, o próprio destino eterno. Penso que é interessante refletir sobre a situação atual no mundo, sobre o facto de que estamos a passar por esta crise da epidemia global que afetou todos os povos. A reflexão de Agostinho pode ser muito interessante para se ter uma visão da história do mundo, onde o cristianismo pode dar tanta luz, onde a fé cristã pode oferecer tantas saídas.

Como Agostinho se dirigiria ao mundo hoje?

Padre Casciano: Devo dizer que Agostino fala muito ao homem de hoje. O homem contemporâneo sente-se muito próximo dele; ele está à mais de 1600 anos de distância, mas a sua linguagem, o seu modo de ser e de se colocar, tornam-o muito, muito atual. Acredito que Agostinho falaria, acima de tudo, a nível antropológico, falaria ao coração das pessoas, à sua necessidade de felicidade, de segurança. Creio que seria realmente interessante ouvi-lo falar ou escrever na sociedade de hoje. E é nossa tarefa, como agostinianos, torná-lo vivo e atual na nossa sociedade.

Como o senhor vê o futuro das comunidade agostinianas na Itália?

Padre Casciano: Certamente é um futuro com muitas dificuldades, devido sobretudo à falta de vocações, por isso a urgência mais importante é aproximar os jovens, caminhar junto com os jovens, anunciar Jesus às novas gerações e pedir com incessante oração o dom de ter novas e santas vocações para a vida consagrada e para o ministério ordenado. Não gostaríamos de fechar conventos, gostaríamos, com a ajuda de Deus, de abrir novas realidades; mas isto, é claro, só pode ser feito através de novas vocações, sem esquecer que caminhamos juntos com as famílias, juntos com os leigos. Somos um só com os leigos e as famílias agostinianas que vivem nos nossos contextos. As dificuldades da Igreja são as nossas dificuldades.

Há uma frase, um pensamento, de Agostinho que, na sua opinião, pode ser um pouco o lema da província agostiniana italiana para os próximos anos?

Padre Casciano: Posso pensar em várias frases, é claro. Uma trata-se da razão e da fé: "Creia para poder compreender e compreenda para poder crer". Acredito que seja importante para nós unirmos cada vez mais todas as capacidades da ciência, tecnologia, inteligência humana, porém, uni-las à fé. Somente se formos capazes de ter estas duas asas, engenhosidade humana e fé em Deus, poderemos realmente voar. Se uma destas duas asas estiver a faltar, há o risco de ficarmos no chão e não sermos capazes de nos levantar. Também gosto muito da frase sobre a Graça de Deus. Unir a liberdade humana e a Graça de Deus, portanto fazer tudo o que for possível com as  nossas forças, mas acima de tudo confiando à Graça de Deus com a oração. Creio que Agostinho seja capaz de unir sempre estas realidades entre si; ele é o médico da Graça, mas é também o médico da liberdade. 

A carta do Prior Geral da Ordem de Santo Agostinho
 
O Prior Geral da Ordem de Santo Agostinho, Padre Alejandro Moral, por ocasião da solenidade que todos os agostinianos celebram hoje, escreveu uma carta para convidar os religiosos a viverem com um só coração e uma só alma prostrados a Deus. "Vamos permanecer (...) fortemente unidos. Demos testemunho da comunhão entre nós e a Cabeça, que é Cristo – pode-se ler na carta - Ele ajudar-mos-á a ler e interpretar a realidade e as necessidades dos nossos irmãos. Unidos e em comunhão com Cristo, podemos confiar na segurança da superação das situações difíceis que teremos de viver".

Unidos e orientados para o bem comum diante da pandemia 

Recordando a emergência do coronavírus que todos os continentes estão a  viver, o Padre Moral acrescenta: "A celebração da solenidade do nosso Padre Santo Agostinho também está envolvida na emergência sanitária que vivemos. Por esta razão, as Santas Missas e outras celebrações terão uma participação reduzida na maioria dos lugares, ou mesmo noutros, não poderão sequer ser celebradas publicamente". Por fim, o Prior Geral da Ordem de Santo Agostinho exorta-nos a dirigir as nossas mentes e os nossos corações para o essencial do carisma agostiniano. “Busquemos o bem comum, a comunhão com nossos irmãos", conclui o Prior, "trabalhando na nossa interioridade e relacionamento com Deus, oferecendo um testemunho de fraternidade e solidariedade com as pessoas afetadas pelos problemas causados pela pandemia".

VN

26 agosto, 2020

O Papa: a desigualdade social e a degradação ambiental andam de mãos dadas



Perante a pandemia e as suas consequências sociais, muitos correm o risco de perder a esperança. Neste tempo de incerteza e angústia, convido todos a aceitarem o dom da esperança que vem de Cristo”: convidou o Papa na audiência geral. É Cristo “que nos ajuda a navegar nas águas tumultuosas da doença, da morte e da injustiça, que não têm a última palavra sobre o nosso destino final”. A economia está doente, devemos sair melhores da pandemia, disse 

Raimundo de Lima - Vatican News 

“No mundo de hoje, muito poucas pessoas ricas possuem mais do que o resto da humanidade. É uma injustiça que clama aos céus!” Foi o que disse o Papa Francisco na audiência geral desta quarta-feira (26/08), na Biblioteca do Palácio Apostólico, no Vaticano, dando prosseguimento às suas reflexões nesta série de catequeses intitulada “Curar o Mundo” dedicada à pandemia. A catequese de hoje, a quarta da série, teve como tema “O destino universal dos bens e a virtude da esperança”.

“Perante a pandemia e as suas consequências sociais, muitos correm o risco de perder a esperança. Neste tempo de incerteza e angústia, convido todos a aceitarem o dom da esperança que vem de Cristo”, foi o convite inicial do Santo Padre, que completou: “É Ele que nos ajuda a navegar nas águas tumultuosas da doença, da morte e da injustiça, que não têm a última palavra sobre o nosso destino final”. 

Pandemia evidenciou e agravou problemas sociais 

Francisco prosseguiu afirmando que a pandemia pôs em evidência e agravou os problemas sociais, especialmente a desigualdade. “Alguns podem trabalhar de casa, enquanto, para muitos outros, isto é impossível. Algumas crianças, apesar das dificuldades, podem continuar a receber uma educação escolar, enquanto, para muitas outras,  houve uma brusca interrupção. Algumas nações poderosas podem emitir moeda para enfrentar a emergência, enquanto que, para outras, isso significaria hipotecar o futuro.” 

Estes sintomas de desigualdade revelam uma doença social, frisou o Papa, “é um vírus que provém de uma economia doente. É o resultado de um crescimento económico desigual, que é independente dos valores humanos fundamentais. No mundo de hoje, muito poucas pessoas ricas possuem mais do que o resto da humanidade. É uma injustiça que clama aos céus!”

O Pontífice chamou a atenção para o facto de que este modelo económico é indiferente aos danos infligidos à casa comum: 

“Estamos perto de superar muitos dos limites do nosso maravilhoso planeta, com consequências graves e irreversíveis: desde a perda de biodiversidade e alterações climáticas ao aumento do nível dos mares e à destruição das florestas tropicais. A desigualdade social e a degradação ambiental andam de mãos dadas e têm a mesma raiz: a do pecado de querer possuir e dominar os irmãos e irmãs, a natureza e o próprio Deus. Mas este não é o desígnio da criação.” 

Deus confiou a terra e os seus recursos à gestão comum 

Dito isto, o Papa lembrou que Deus confiou a terra e os seus recursos à gestão comum da humanidade, para que dela cuidasse. Deus pediu-nos que dominássemos a terra em Seu nome, cultivando-a e cuidando dela como se fosse um jardim, o jardim de todos.
Francisco destacou que “cultivar” quer dizer lavrar ou trabalhar,  “guardar” significa proteger..., preservar. Em seguida, fez uma advertência: “cuidado para não interpretar isto como uma carta branca para fazer da terra aquilo que se quer. 

“Existe ‘uma relação responsável de reciprocidade’ entre nós e a natureza. Recebemos da criação e damos por nossa vez. Cada comunidade pode tirar da bondade da terra o que precisa para a sua sobrevivência, mas também tem o dever de a proteger.” 

Propriedade privada e destino universal dos bens 

O Santo Padre evocou alguns elementos bíblicos e conceitos contidos no Catecismo da Igreja Católica (CIC) e documentos conciliares que dão embasamento ao princípio do “destino universal dos bens” da terra.

A terra precede-nos e foi-nos dada, foi dada por Deus “a toda a humanidade” (CIC, 2402). “E por isso é nosso dever assegurar que os seus frutos cheguem a todos, e não apenas a alguns. Este é um elemento-chave da nossa relação com os bens terrenos. Como recordaram os padres do Concílio Vaticano II, ‘quem usa esses bens, não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si mas também aos outros’ (Const. past. Gaudium et spes, 69).”

“A propriedade dum bem faz do seu detentor um administrador da providência de Deus, com a obrigação de o fazer frutificar e de comunicar os seus benefícios aos outros (CIC, 2404).”

A “subordinação da propriedade privada ao destino universal dos bens é uma ‘regra de ouro’ do comportamento social, e o primeiro princípio de toda a ordem ético-social”, asseverou o Papa Francisco.

Propriedade e dinheiro, instrumentos para a missão

“A propriedade e o dinheiro são instrumentos que podem servir para a missão. Mas transformamo-los facilmente em fins individuais ou coletivos. E quando isto acontece – observou Francisco –, os valores humanos essenciais são minados. O homo sapiens deforma e torna-se uma espécie de homo oeconomicus - num sentido menor - individualista, calculista e dominador.”

“Esquecemos que – continuou o Pontífice –, sendo criados à imagem e semelhança de Deus, somos seres sociais, criativos e solidários, com uma imensa capacidade de amar. De facto, somos os seres mais cooperadores entre todas as espécies, e florescemos em comunidade, como se pode ver na experiência dos santos.” 

“Quando a obsessão de possuir e dominar exclui milhões de pessoas dos bens primários; quando a desigualdade económica e tecnológica é tal que rasga o tecido social; e quando a dependência do progresso material ilimitado ameaça a casa comum, então não podemos ficar de braços cruzados assistindo. Não, isto é desolador.” 

Cristo partilhou tudo connosco

Com o olhar fixo em Jesus “e com a certeza de que o seu amor opera através da comunidade dos seus discípulos, devemos agir em conjunto – foi a exortação do Santo Padre – na esperança de gerar algo diferente e melhor. A esperança cristã, enraizada em Deus, é a nossa âncora. Sustenta a vontade de partilhar, fortalecendo a nossa missão como discípulos de Cristo, que partilhou tudo connosco”.

Francisco ressaltou que isto foi compreendido pelas primeiras comunidades cristãs, que, como nós, viveram tempos difíceis. Recordando que nessas primeiras comunidades os cristãos tinham tudo em comum, dando testemunho da graça de Cristo, o Papa concluiu com uma premente exortação: 

“Que as comunidades cristãs do século XXI recuperem esta realidade, dando assim testemunho da Ressurreição do Senhor. Se cuidarmos dos bens que o Criador nos concede, se partilharmos o que possuímos para que ninguém sinta a sua falta, então de facto podemos inspirar a esperança de regenerar um mundo mais saudável e mais justo.”
Ao término da catequese, na saudação aos fiéis, dirigindo-se aos de língua portuguesa fez-lhes votos de uma fé grande para ver a realidade com o olhar de Deus e uma grande caridade para aproximarem-se das pessoas com coração misericordiosos. 

Igreja na Polónia celebra Nossa Senhora de Czestochowa 

Saudando os de língua polaca, o Papa lembrou que hoje a Igreja na Polónia celebra a solenidade de Nossa Senhora Negra de Czestochowa. E recordando a sua visita àquele Santuário mariano, há quatro anos atrás, por ocasião da JMJ, disse unir-se hoje aos milhares de peregrinos que ali se reúnem, junto ao Episcopado polaco, para confiar a si mesmo, as famílias, a nação e toda a humanidade à sua materna proteção.

Francisco exortou-os a pedir à Mãe Santíssima que interceda por todos nós, e sobretudo por aqueles que de diferentes modos sofrem por causa da pandemia, trazendo-lhes um conforto.

Quinta e sexta-feira, Santa Mónica e Santo Agostinho 

Saudando os de língua italiana, exortou-os a serem, em todos os ambientes, testemunhas da gratuidade do amor de Deus e lembrou que amanhã e depois de amanhã (quinta e sexta-feira), a liturgia recorda dois grandes Santos, Santa Mónica e seu filho Santo Agostinho, unidos na terra por vínculos familiares e no céu pelo mesmo destino de glória. “Que o exemplo deles e intercessão impelem cada um a uma busca sincera da Verdade evangélica”, foi a exortação final do Papa.

VN

25 agosto, 2020

Jovens na pandemia com a força da Exortação do Papa: Cristo vive


Angelus na Praça de São Pedro
 
Na Exortação Apostólica dirigida aos jovens, o Papa Francisco propõe três verdades: Deus ama-te, Cristo salva-te e Cristo vive. Porque o Senhor nos quer vivos para dar-nos força e esperança.

Rui Saraiva - Porto
 
No Dia Mundial da Juventude deste ano de 2020, Domingo de Ramos, o Papa Francisco dirigiu-se aos jovens recordando que, devido à pandemia, o momento da passagem dos símbolos da JMJ do Panamá para Portugal seria adiado para novembro próximo. Na ocasião, pediu aos jovens para testemunharem “a esperança, a generosidade e a solidariedade neste tempo difícil”
 
Neste tempo de pandemia, a Exortação Apostólica do Papa Francisco “Cristo Vive” é forte inspiração para a vivência e a atuação dos jovens. Tal como disse o Santo Padre no Domingo de Páscoa de 2019, na Mensagem e Benção Urbi et Orbi, afirmando que a manhã de Páscoa é “juventude perene da Igreja e da inteira humanidade” e recordou as “palavras iniciais da sua Exortação Apostólica dedicada aos jovens:
 
“Cristo Vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que toca torna-se jovem, fica novo, enche-se de vida. Por isso, as primeiras palavras, que quero dirigir a cada jovem e a cada cristão, são estas: Ele vive e te quer vivo! Ele está em ti, está contigo e jamais te deixa. Por mais que te possas afastar, junto de ti está o Ressuscitado, que te chama e espera por ti para recomeçar. Quando te sentires envelhecido pela tristeza, os rancores, os medos, as dúvidas ou os fracassos, Jesus estará ao teu lado para te devolver a força e a esperança.” (Christus vivit, 1-2).
 
No tempo de pandemia que estamos a viver, os jovens estão a enfrentar novos desafios e dificuldades e novas formas de relação e de solidariedade.
 
Na Exortação Apostólica “Cristo Vive”, o Papa apresenta Cristo, o grande anúncio para todos os jovens. No seu texto afirma três verdades “que todos nós precisamos de escutar sempre de novo”. Diz Francisco: Deus ama-te, Cristo salva-te e Cristo vive.
 
Um Deus que é amor
 
A primeira verdade apresentada pelo Santo Padre é que Deus nos ama, pois Deus é amor. “Em toda e qualquer circunstância, és infinitamente amado” – escreve Francisco.
 
Mesmo que a experiência de paternidade de um jovem não tenha sido a melhor, uma coisa é certa para o Papa: “… podes lançar-te, com segurança, nos braços do teu Pai divino, do Deus que te deu a vida e continua a dá-la em cada momento”. Francisco recorda várias passagens bíblicas com expressões do amor de Deus:
 
«Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto» (Os 11, 4).
 
«Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria» (Is 49, 15).
 
«Ainda que os montes sejam abalados e tremam as colinas, o meu amor por ti nunca mais será abalado, e a minha aliança de paz nunca mais vacilará» (Is 54, 10).
 
«Amei-te com um amor eterno. Por isso, dilatei a misericórdia para contigo» (Jr 31, 3).
Para Deus “és realmente valioso” – escreve o Papa dirigindo-se a cada jovem e pede: “Procura ficar um momento em silêncio, deixando-te amar por Ele”.
 
Deus tem um amor que não “esmaga”, não “marginaliza”, “nem silencia”. “Não humilha”, “nem subjuga” – escreve o Papa sublinhando que o amor de Deus é “feito de liberdade e para a liberdade”, um amor que é “mais de levantamentos do que de quedas, mais de reconciliação do que de proibições, mais de dar nova oportunidade do que de condenar, mais de futuro do que de passado”.
 
Cristo salva-te
 
A segunda verdade apresentada pelo Papa é que “Cristo Se entregou até ao fim para te salvar” – diz Francisco dirigindo-se pessoalmente a cada jovem.
 
Com os seus “braços abertos na cruz” Jesus leva “até ao extremo o seu amor” por cada um de nós. “São Paulo dizia viver confiado naquele amor que, por ele, se deu totalmente: «A vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim» (Gal 2, 20).”
 
Jesus abraça-nos para nos salvar “do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento”. “Nunca esqueças que «Ele perdoa setenta vezes sete” – recorda o Papa sublinhando que Jesus permite.nos “levantar a cabeça e recomeçar”.
 
“Abraçou o filho pródigo, abraçou Pedro depois de O ter negado e abraça-nos sempre” – escreve Francisco propondo caminho a cada jovem: “Fixa os braços abertos de Cristo crucificado, deixa-te salvar sempre de novo. E quando te aproximares para confessar os teus pecados, crê firmemente na sua misericórdia que te liberta de toda a culpa. Contempla o seu sangue derramado pelo grande amor que te tem, e deixa-te purificar por ele. Assim, poderás renascer sempre de novo” – declara o Santo Padre.
 
Ele vive!
 
Existe ainda uma terceira verdade, segundo o Papa: “Ele vive!” Cristo vive. “É preciso recordá-lo com frequência, porque corremos o risco de tomar Jesus Cristo apenas como um bom exemplo do passado, como uma recordação, como Alguém que nos salvou há dois mil anos” – escreve o Santo Padre.
 
“Se Ele vive, isto é uma garantia de que o bem pode triunfar na nossa vida e de que as nossas fadigas servirão para qualquer coisa. Então podemos deixar de nos lamentar e poderemos olhar em frente, porque com Ele é possível olhar sempre em frente. Esta é a certeza que temos: Jesus é o vivente eterno; agarrados a Ele, viveremos e atravessaremos, ilesos, todas as formas de morte e violência que se escondem no caminho” – afirma Francisco.
 
O Papa exorta os jovens a viverem em intimidade com Jesus e declara que se cada um começar “a conversar com Cristo vivo sobre as coisas concretas” da vida, “esta será a grande experiência, será a experiência fundamental que sustentará” a vida cristã de cada pessoa.
 
Em tempo de pandemia ganha especial importância a força inspiradora das palavras do Papa que convida os jovens a deixarem-se seduzir por Cristo: “Por mais que te possas afastar, junto de ti está o Ressuscitado, que te chama e espera por ti para recomeçar” – diz Francisco.
 
Um recomeço e uma retoma que nas dificuldades atuais devem ser um especial testemunho de esperança, de generosidade e de solidariedade.
 
Laudetur Iesus Christus
 
VN

23 agosto, 2020

Papa: Deus nos pedir-nos-á contas dos migrantes mortos a caminho da esperança

 
Migrante centro-americano carrega a sua filha. México, fronteira com os Estados Unidos
 
Aniversário de tragédia com migrantes em Tamaulipas, México; 4 anos do terremoto em Itália Central e as muitas vítimas do coronavírus no centro da atenção do Papa neste domingo.
 
Jackson Erpen - Vatican News 

O drama das pessoas que procuram um caminho de esperança e que acaba em tragédias também mereceu a atenção do Santo Padre no Angelus deste domingo:

Amanhã, 24 de agosto, recorre o 10º aniversário do massacre de setenta e dois migrantes em San Fernando, Tamaulipas, México. Eram pessoas de diferentes países na procura de uma vida melhor. Expresso a minha solidariedade às famílias das vítimas que ainda hoje invocam a justiça e a verdade sobre o ocorrido. O Senhor pedir-nos-à contas de todos os migrantes mortos no caminho da esperança. Eles foram vítimas da cultura do descarte. 

Terremoto em Itália

O Papa também atento ao sofrimento de muitas pessoas, devido aos terremotos que sacudiram a Itália central há quatro anos. Em muitas localidades, os escombros ainda se acumulam pelas ruas e pouco ou nada foi reconstruído. Um drama ainda vivido por aqueles que habitam em casas improvisadas, à espera da volta à normalidade:

Amanhã completam-se quatro anos desde o terremoto que atingiu a Itália central. Renovo a minha oração pelas famílias e comunidades que sofreram os maiores danos, para que prossigam com solidariedade e esperança; e faço votos que a reconstrução seja acelerada, para que as pessoas possam voltar a viver em paz nestes belos territórios dos Apeninos. 

Não esquecer as vítimas do coronavírus

Ao saudar alguns grupos presentes na Praça de São Pedro, Francisco inspirou-se na presença de um grupo de famílias de Carobbio degli Angeli (Província de Bérgamo) - que foram em peregrinação até à Praça de São Pedro, em memória das vítimas do coronavirus - para pedir oração pelas inúmeras vítimas da Covid-19:

E não esqueçamos, não esqueçamos as vítimas do coronavírus. Esta manhã ouvi o testemunho de uma família que perdeu os avós sem se poderem despedir e saudá-los, no mesmo dia. Tanto sofrimento, tantas pessoas que perderam a vida, vítimas da doença; e tantos voluntários, médicos, enfermeiras, religiosas, sacerdotes, que também perderam a vida. Recordemos as famílias que sofreram por isto.

VN

Cardeal Ayuso Guixot: a fraternidade é uma identidade que respeita a diferença

 
Papa Francisco e Grão Imame de Al-Azhar, Ahmed al-Tayyeb
 
Celebra-se hoje, 22 agosto, o segundo Dia Internacional em Homenagem às Vítimas de Perseguição Religiosa, instituído em 2019 pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Entrevista com o cardeal presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso
 
Francesca Sabatinelli - Cidade do Vaticano
 
As religiões nunca deverão incitar à guerra e à violência, nunca devem produzir sentimentos de ódio, e o nome de Deus jamais deverá ser usado para esse fim. Este é o cerne do Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da paz mundial e da coexistência comum, assinado em 4 de fevereiro de 2019 em Abu Dhabi, pelo Papa e pelo Imame de Al-Azhar, Al-Tayyeb.
 
Durante o seu Pontificado, Francisco pediu reiteradamente que se se pusesse um fim à instrumentalização das religiões, e é exatamente para este fim que é dedicado o Dia de hoje, instituído em 28 de maio de 2019 pelas Nações Unidas, que reafirma o seu apoio às vítimas de violência baseada na religião ou crença. É um importante e fundamental caminho que a sociedade deve percorrer, explica ao Vatican News o cardeal Miguel Ángel Ayuso Guixot, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso:
 
R.- Em primeiro lugar, gostaria de expressar solidariedade e oração por todas as vítimas e aos seus familiares, que infelizmente são tantas, por todo o sofrimento que nestes anos este terror cego trouxe ao mundo e às nossas sociedades. Que este dia, convocado pelas Nações Unidas, possa realmente ser algo de vital importância, dada a gravidade da situação, não obstante estejamos no século XXI.
 
Eminência, instrumentalizar a religião é a forma mais utilizada para incitar à violência. O Papa Francisco nunca deixou de o dizer e este é um ponto extremamente importante que também foi reiterado no Documento sobre a Fraternidade Humana
 
R.- De facto, sabemos o mal que a instrumentalização da religião comporta para a humanidade por incitar à violência, é algo que continua a ser condenado com tanta insistência. Porém, apesar dos repetidos apelos e condenações feitas contra esya instrumentalização, é importante insistir para que o direito internacional seja aplicado contra aqueles que cometem estes atos atrozes e abomináveis. Além disto, por parte dos líderes religiosos, deve-se trabalhar para educar cada comunidade religiosa aos valores inerentes às diferentes tradições religiosas. Apraz-me que, na mensagem de felicitações para o final do mês do Ramadã deste ano, como Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, compartilhamos com os nossos irmãos e irmãs muçulmanos a importância de respeitar os lugares de culto e mencionamos ao quanto afirma o documento para a Fraternidade humana a este respeito, nomeadamente que a proteção dos locais de culto é um dever garantido pelas religiões, pelos valores humanos, pelas leis e pelas convenções internacionais.
 
O senhor acredita que as sociedades estejam a fazer o bastante, o senhor acredita que as lideranças estejam a colocar em prática todos os meios disponíveis para parar as perseguições?
 
R.- Acredito que sim, que se está a tentar fazer muito para defender os próprios cidadãos. Porém, também poderia dizer que ainda há muito a ser feito e muito a caminhar. Na minha opinião, o que se deveria propor, antes de tudo, é prosseguir no caminho da educação nos verdadeiros valores da religião, e esta é uma responsabilidade dos líderes religiosos: como educar para os verdadeiros valores, para que uma nova geração de fiéis seja verdadeira, solidamente, enraizada nos valores de sua tradição religiosa. Depois, é necessário educar à 'cidadania para todos', de modo que, por meio desta cidadania para todos, sejam respeitadas as diferenças, comprometendo-nos ao mesmo tempo na promoção dos direitos humanos no respeito e na reciprocidade. Creio que seja sempre necessário recordar e propor novamente às autoridades civis e religiosas, que cada membro das nossas sociedades deve ser protegido e valorizado, para que se construa em conjunto uma coesão social pelo bem comum, que afaste o fantasma do exclusivismo de qualquer tipo, porque somente a partir da diferença e no respeito é possível construir sociedades mais seguras e protegidas.
 
Então, na sua opinião, dever-se-ia fazer ainda mais em relação ao que está a ser feito feito atualmente?
 
R.- Claro, porque está na experiência humana aspirar a melhorar, a fazer mais, em todos os âmbitos, e isso faz parte da nossa natureza humana. Nesse sentido, apreciamos muito os esforços, os apelos, que o Papa Francisco não cessa de dirigir à comunidade internacional, para que ela possa percorrer o caminho da inclusão, do diálogo e até mesmo da ternura, que se contrapõe radicalmente àqueles que promovem a violência e o terror. Portanto, acredito que seja importante que se trabalhe nesta direção. Este Dia Internacional é um sinal concreto de como a comunidade internacional está a trabalhar para encorajar, por meio da memória, a fazer sempre mais por uma convivência comum e pela paz mundial, daí a necessidade de caminharmos juntos no caminho da unidade, de solidariedade e da fraternidade, para fazer renascer os verdadeiros valores espirituais, para aliviar os sofrimentos desta humanidade ferida em que nos encontramos hoje.
 
O que mais lhe preocupa?
 
R.- Eu diria, entre outras coisas, a importância da educação a todos os níveis, sobretudo neste período sombrio, em que a humanidade vive imersa devido à pandemia da Covid-19. É preciso educar para os verdadeiros valores, onde toda a violência desapareça, para que uma nova geração possa crescer no espírito da fraternidade humana que pressupõe permanecer enraizados na própria identidade mas, ao mesmo tempo, aventurando-se a conhecer o outro, a respeitar o outro, porque por meio desta sinceridade de intenções, se possa colaborar na construção de um mundo novo, mais pacífico e solidário, enfim, mais fraterno.
 
VN

22 agosto, 2020

Francisco: não se usa o nome de Deus para aterrorizar as pessoas

 
Papa Francisco na Missa dos Santos Pedro e Paulo  (Vatican Media)
 
Num tweet, o Papa fala sobre o Dia Internacional em Homenagem às Vítimas de Perseguição Religiosa, instituído pela ONU em 2019, e pede a "todos que parem de instrumentalizar as religiões para incitar o ódio, a violência, o extremismo e o fanatismo cego".
 
Alessandro De Carolis - Cidade do Vaticano
 
A hashtag #FraternidadeHumana acompanha o tweet de Francisco e a memória voa para a noite de Abu Dhabi em fevereiro de 2019, para uma assinatura e um aperto de mão que sancionam uma comunhão de pontos de vista e escrevem a seu respeito a primeira página.
A “Fraternidade Humana” é o valor que o Papa e o Grão Imame de Al-Azhar, Al-Tayyeb, oferecem como inspiração universal para aproximar e fazer compreender quem e aquilo que é considerado muito diferente, por credo e cultura, para poder fazê-lo. Uma forma sustentável porque essencialmente solidário.

Fraternidade que, se vivida, exclui a violência que transforma o sentimento religioso num alvo. Como o são no mundo, somente entre os cristãos, pelo menos 300 milhões de pessoas. 

A fé não deve ser instrumentalizada


Este é um tema muito caro ao Papa, que no seu tweet para o Dia da ONU dedicado a homenagear “as vítimas de atos de violência de religião ou crença”, repete com clareza usando as palavras do documento de Abu Dhabi: “Deus não precisa de ser defendido por ninguém e não quer que o Seu nome seja usado para aterrorizar as pessoas. Peço a todos que parem de instrumentalizar as religiões para incitar ao ódio, à violência, ao extremismo e ao fanatismo cego.” 

"Em frente na fraternidade"

O conceito o Papa o tinha expresso, entre outras coisas, em termos semelhantes em fevereiro passado, com a mensagem de vídeo enviada a Abu Dhabi um ano após a assinatura do Documento sobre a Fraternidade Humana".
 
Aquele, disse Francisco, foi "um grande acontecimento humanitário", o sinal de esperança "por um futuro melhor para a humanidade, um futuro livre do ódio, do ressentimento, do extremismo e do terrorismo, no qual prevalecem os valores da paz, amor e fraternidade”.

O presente e o futuro, eram os seus votos, são um tempo e um espaço para "todos os modelos virtuosos de homens e mulheres que personificam o amor neste mundo por meio de ações e sacrifícios feitos pelo bem dos outros, não importa quão diferentes sejam por religião ou por pertença étnica e cultural".

“Peço a Deus Todo-Poderoso - concluiu Francisco - que abençoe todo o esforço que beneficie o bem da humanidade e nos ajude a seguir em frente na fraternidade”.

VN