30 junho, 2020

O Papa aos meios de comunicação: a unidade na diversidade inspire o serviço ao bem comum


Unidade na diversidade - foro de arquivo

Com o olhar do Espírito é possível superar o racismo e a indiferença. É o que recorda o Papa Francisco na mensagem para a Conferência Católica dos Meios de Comunicação 2020, na qual exorta a estar unidos numa época marcada pela polarização, até mesmo na comunidade católica. 

Debora Donnini/Mariangela Jaguraba – Vatican News

Foi divulgada, nesta terça-feira (30/06), a mensagem do Papa Francisco para a Conferência Católica dos Meios de Comunicação promovida pela Associação Católica de Imprensa dos Estados Unidos e Canadá sobre o tema “Juntos, enquanto estamos separados” (Together While Apart) que expressa o sentido de unidade não obstante o distanciamento por causa da pandemia de coronavírus. Este ano, pela primeira vez na história, a conferência realiza-se virtualmente devido à da emergência sanitária que estamos a viver. Teve início hoje, dia 30 de junho e prosseguirá até 2 de julho. 

Referindo-se à Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais do ano passado, o Papa Francisco sublinha “como é essencial a missão dos meios de comunicação para manter as pessoas unidas, encurtando distâncias, fornecendo as informações necessárias e abrindo as mentes e os corações à verdade”.

Esta é uma tomada de consciência importante que já levou à criação dos primeiros jornais católicos nos Estados Unidos, como é evidente no caso do “Catholic Miscellany, publicado em 1822 em Charleston por dom John England, seguido por muitos jornais e periódicos”. Hoje, como naquela época, as “nossas comunidades precisam dos meios de comunicação para informar e unir", escreve o Papa, 

Necessidade de ajudar a distinguir o bem do mal

“O ideal da unidade na diversidade, no lema dos Estados Unidos”, deve inspirar também o serviço oferecido ao bem comum: uma necessidade que para Francisco “é hoje ainda mais urgente, numa época marcada pelo conflito e pela polarização da qual nem sequer a comunidade católica parece estar imune”. E na mensagem, o Papa explica como isto se desenrola concretamente para aqueles que trabalham na comunicação. “Precisamos de meios de comunicação capazes de construir pontes, defender a vida e abater muros, visíveis e invisíveis, que impedem o diálogo sincero e a verdadeira comunicação”, ressalta o Pontífice, lembrando que é necessário também “meios de comunicação que possam ajudar as pessoas, sobretudo os jovens, a distinguir o bem do mal, a fazer julgamentos corretos, baseados numa apresentação clara e imparcial dos factos, a compreender a importância do compromisso com a justiça, a concórdia social e o respeito pela Casa comum”. Portanto, precisamos de homens e mulheres de princípio que protejam a comunicação de tudo o que possa distor-la ou desviá-la para outros objetivos”. 

Sejam um sinal de unidade entre vós

“Peço-vos para que sejam unidos e também sinal de unidade entre vós”, escreve o Papa, dirigindo-se tanto aos pequenos quanto aos grandes meios de comunicação, porque “na Igreja, somos todos membros de um só corpo". 

Toda comunicação tem a sua última fonte na vida de Deus

A comunicação “não é apenas uma questão de competência profissional”, mas de atestar pessoalmente a verdade da mensagem que transmitimos porque “toda comunicação tem a sua última fonte na vida do Deus Uno e Trino, que partilha connosco a riqueza da sua vida divina e nos pede, por sua vez, para comunicar este tesouro aos outros, unidos no serviço da sua verdade”. 

Promover a verdade e a dignidade humana

O Papa recorda a importância de ter o olhar do Espírito, pois somente assim “podemos trabalhar eficazmente para vencer as doenças do racismo, da injustiça e da indiferença”, e também ajudar os outros a contemplar as situações e pessoas com os olhos do Espírito. “Onde o nosso mundo fala muitas vezes com adjetivos e advérbios, que os comunicadores cristãos possam falar com nomes que reconheçam e promovam a reivindicação silenciosa da verdade e favoreçam a dignidade humana”, ressalta Francisco. E onde o mundo vê conflitos e divisões, ele os exorta a dar voz às exigências dos pobres, dos necessitados de misericórdia e compreensão. 

Unidos e fortes em relação às modas fugazes

“Que o espírito de comunhão com o Bispo de Roma, que foi sempre um sinal distintivo da imprensa católica nos seus países, mantenha todos vós unidos na fé e fortes no que diz respeito às modas culturais fugazes que não têm o perfume da verdade do Evangelho”, concluiu Francisco, recordando que nesta segunda-feira foi celebrada a Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, e exortando a rezar juntos pela paz no mundo.

VN

29 junho, 2020

Programa e Calendário Diocesano 2020/2021



Descarregue aqui o programa e Calendário Diocesano para o ano pastoral 2019/2020. A edição em papel estará, a partir desta semana, disponível na Livraria Nova Terra, no Patriarcado de Lisboa e tem um custo de 1€, por exemplar.

Patriarcado de Lisboa

Angelus: a maior graça é fazer da vida um dom

 
 
“Eis o que pedir a Deus: não só a graça do momento, mas a graça da vida", disse o Papa Francisco ao rezar o Angelus com os fiéis na Praça São de S. Pedro, na Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo. 
 
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

O Papa, na sua alocução, comentou o episódio da vida de Pedro em que um anjo o libertou da prisão, salvando-o da morte, mas o mesmo não ocorreu em Roma e a sua vida não foi poupada.

“O Senhor concedeu-lhe muitas graças e o libertou do mal: faz assim também connosco. Ou melhor, com frequência vamos até Ele só nos momentos de necessidade, a pedir ajuda. Mas Deus vê mais longe e convida-nos a ir além, a proicuar não só os seus dons, mas Ele, o Senhor de todos os dons; a confirar-lhe não só os problemas, mas a vida.”

Fazer da vida um dom

A maior graça, disse o Papa, é doar a vida, é fazer da vida um dom. E isso vale para todos, na família, no trabalho e para quem é consagrado. De modo especial, Francisco citou os idosos abandonados pela família, como se fossem "material descartável". "Este é um drama do nosso tempo: a solidão dos idosos."

São Pedro não se tornou heroi por ter sido libertado da prisão, mas por ter dado a vida aqui, transformando um lugar de execuções num lugar de esperança, que é a Basílica Vaticana.
“Eis o que pedir a Deus: não só a graça do momento, mas a graça da vida.”
O segredo da vida feliz é reconhecer Jesus como Deus vivo, "não como uma estátua", porque não importa saber que Jesus foi grande na história e apreciar o que fez, mas importa saber qual o lugar que dou a Ele na minha vida, no meu coração. 

É neste ponto que Jesus diz a Simão: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Foi chamado pedra não porque era confiável, pelo contrário, explicou Francisco, mas porque escolheu construir a vida sobre Jesus, não sobre as suas capacidades.
“É Jesus a rocha sobre a qual Simão se tornou pedra.”
O Papa então concluiu com algumas perguntas aos fiéis:

"E eu, como vivo a vida? Penso só nas necessidades do momento ou acredito que a minha verdadeira necessidade é Jesus, que faz de mim um dom? E como construo a vida, sobre as minhas capacidades ou sobre o Deus vivo? Que Nossa Senhora nos ajude a colocá-Lo na base de cada dia e interceda para que possamos fazer da nossa vida um dom."

VN

Solenidade dos SS. Pedro e Paulo: a homilia integral do Papa




"Como o Senhor transformou Simão em Pedro, assim chama a cada um para fazer de nós pedras vivas, com as quais construir uma Igreja e uma humanidade renovadas. Há sempre quem destrua a unidade e quem apague a profecia, mas o Senhor acredita em nós e pede-te: «Queres ser construtor de unidade? Queres ser profeta do meu céu na terra?» Deixemo-nos provocar por Jesus e ganhemos a coragem de Lhe dizer: «Sim, quero»!"

Homilia do Santo Padre
Eucaristia, com a bênção dos pálios,
na Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo
(Basílica de S. Pedro, 29 de junho de 2020)

Na festa dos dois Apóstolos desta cidade, gostaria de partilhar convosco duas palavras-chave: unidade e profecia.

Unidade. Celebramos conjuntamente duas figuras muito diferentes: Pedro era um pescador que passava os dias entre os remos e as redes; Paulo, um fariseu culto, que ensinava nas sinagogas. Quando saíram em missão, Pedro dirigiu-se aos judeus; Paulo, aos pagãos. E, quando se cruzaram os seus caminhos, discutiram animadamente, como Paulo não tem vergonha de contar numa carta (cf. Gal 2, 11-14). Enfim, eram duas pessoas muito diferentes, mas sentiam-se irmãos, como numa família unida onde muitas vezes se discute mas sem deixar de se amarem. Contudo a familiaridade, que os unia, não provinha de inclinações naturais, mas do Senhor. Ele não nos mandou agradar, mas amar. É Ele que nos une, sem nos uniformizar. Nos une nas diferenças.

A primeira Leitura de hoje leva-nos à fonte desta unidade. Narra que a Igreja, pouco depois de ter nascido, passava por uma fase crítica: Herodes não lhe dava paz, a perseguição era violenta, o apóstolo Tiago fora morto; e agora acabou preso o próprio Pedro. A comunidade parece decapitada; cada qual teme pela própria vida. Contudo, neste momento trágico, ninguém foge, ninguém pensa em salvar a pele, ninguém abandona os outros, mas todos rezam juntos. Da oração, tiram coragem; da oração, vem uma unidade mais forte do que qualquer ameaça. Diz o texto que, «enquanto Pedro estava encerrado na prisão, a Igreja orava a Deus, instantemente, por ele» (At 12, 5). A unidade é um princípio que se ativa com a oração, porque a oração permite ao Espírito Santo intervir, abrir à esperança, encurtar as distâncias, manter-nos juntos nas dificuldades.

Notemos outra coisa: naqueles momentos dramáticos, ninguém se lamenta do mal, das perseguições, de Herodes. Ninguém insulta Herodes. E nós estamos muito habituados a insultar os responsáveis. É inútil, e até chato, que os cristãos percam tempo a lamentar-se do mundo, da sociedade, daquilo que está errado. As lamentações não mudam nada. Recordemo-nos de que as lamentações são a segunda porta fechada ao Espírito Santo, como disse  a vocês no dia de Pentecostes: a primeira é o narcisismo, a segunda o desânimo, a terceira o pessimismo. O narcisismo te leva ao espelho, para se olhar continuamente; desânimo, as lamentações. O pessimismo, ao escuro, à escuridão. Essas três atitudes fecham a porta do Espírito Santo. Aqueles cristãos não culpavam, mas rezavam. Naquela comunidade, ninguém dizia: «Se Pedro tivesse sido mais cauteloso, não estaríamos nesta situação». Ninguém. Pedro, humanamente, tinha motivos para ser criticado; mas ninguém o criticava. Não murmuravam contra ele, mas rezavam por ele. Não falavam por trás, mas falavam com Deus. Hoje, podemos interrogar-nos: «Guardamos a nossa unidade com a oração, nossa unidade da Igreja? Rezamos uns pelos outros?» Que aconteceria se se rezasse mais e murmurasse menos, com a língua um pouco mais tranquila? Aquilo que aconteceu a Pedro na prisão: como então, muitas portas que separam, abrir-se-iam; muitas algemas que imobilizam, cairiam. E nós ficaríamos maravilhados como aquela jovem que vendo Pedro na porta, não conseguia abrir a porta, mas ia dentro, maravilhada de alegria em ver Pedro. Peçamos a graça de saber rezar uns pelos outros. São Paulo exortava os cristãos a rezar por todos, mas em primeiro lugar por quem governa (cf. 1 Tim 2, 1-3). Mas este governante é ...", e os qualificadores são muitos: eu não os direi, porque este não é o momento nem o lugar para dizer os qualificadores que são ouvidos contra os governantes. Mas, que Deus os julgue: mas rezemos pelos governantes. Vamos rezar. Eles precisam de oração.  É uma tarefa que o Senhor nos confia. Temo-la cumprido? Ou limitamo-nos a falar, insultar e basta? Quando rezamos, Deus espera que nos lembremos também de quem não pensa como nós, de quem nos bateu a porta na cara, das pessoas a quem nos custa perdoar. Só a oração desata as algemas, como a Pedro; só a oração deixa livre o caminho para a unidade.

Neste dia, benzem-se os pálios que serão entregues ao Decano do Colégio Cardinalício e aos Arcebispos Metropolitas nomeados no decorrer do último ano. O pálio recorda a unidade entre as ovelhas e o Pastor que, como Jesus, carrega a ovelha aos ombros e nunca mais a larga. Além disso, segundo uma bela tradição, hoje unimo-nos de maneira especial ao Patriarcado Ecuménico de Constantinopla. Pedro e André eram irmãos; e entre nós, quando é possível, trocamos uma visita fraterna nas respetivas festas; não tanto por gentileza, mas para caminhar juntos rumo à meta que o Senhor nos indica: a unidade plena. Hoje, eles não conseguiram vir por causa do coronavírus, mas quando desci para venerar os restos mortais de Pedro, sentia no coração ao meu lado meu amado irmão Bartolomeu. Eles estão aqui, conosco.
A segunda palavra: profecia. Unidade e profecia. Os nossos Apóstolos foram provocados por Jesus. Pedro ouviu-O perguntar-lhe: «Tu, quem dizes que Eu sou?» (cf. Mt 16, 15). Naquele momento, compreendeu que, ao Senhor, não Lhe interessam as opiniões gerais, mas a opção pessoal de O seguir. Também a vida de Paulo mudou depois duma provocação de Jesus: «Saulo, Saulo, porque Me persegues?» (At 9, 4). O Senhor abalou-o dentro: mais do que fazê-lo cair por terra no caminho de Damasco, derrubou a sua presunção de homem religioso e bom. Assim um Saulo altivo tornou-se Paulo. Paulo que significa «pequeno». A estas provocações, a estas inversões da vida seguem as profecias: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja» (Mt 16, 18); e a Paulo: «É instrumento da minha escolha, para levar o meu nome perante os pagãos» (At 9, 15). Assim, a profecia nasce quando nos deixamos provocar por Deus: não quando gerimos a própria tranquilidade, mantendo tudo sob controle. Não nasce de meus pensamentos, não nasce de meu coração coração. Nasce se nós nos deixamos provocar por Deus. Quando o Evangelho inverte as certezas, brota a profecia. Só quem se abre às surpresas de Deus é que se torna profeta. Vemo-lo em Pedro e Paulo, profetas que enxergam mais além: Pedro é o primeiro a proclamar que Jesus é «o Messias, o Filho de Deus vivo» (Mt 16, 16); Paulo antecipa a conclusão da sua vida: «Já me aguarda a merecida coroa, que me entregará, naquele dia, o Senhor» (2 Tim 4, 8).

Hoje precisamos de profecia, de verdadeira profecia: não discursos que prometem o impossível, mas testemunhos de que o Evangelho é possível. Não são necessárias manifestações miraculosas.  Me dói quando ouço "mas, queremos uma Igreja profética"... Bem. O que fazes para que a Igreja seja profética? Queremos a profecia. É preciso vidas que manifestam o milagre do amor de Deus. Não potência, mas coerência; não palavras, mas oração; não proclamações, mas serviço. Tu queres uma Igreja profética? Comece a servir, fique calado. Não teoria, mas testemunho. Precisamos não de ser ricos, mas de amar os pobres; não de ganhar para nós, mas de nos gastarmos pelos outros; não do consenso do mundo, o de estar bem com todos. Costumamos dizer: “estar bem com Deus e com o diabo”...estar bem com todos. Não. Isso não é profecia. Mas precisamos da alegria pelo mundo que virá; não de projetos pastorais, estes projetos que parecem ter a própria eficiência, como se fossem sacramentos, projetos pastorais eficientes: não; mas precisamos de pastores que ofereçam a vida: de enamorados de Deus. Foi assim, como enamorados, que Pedro e Paulo anunciaram Jesus. Pedro, antes de ser colocado na cruz, não pensa em si mesmo, mas no seu Senhor e, considerando-se indigno de morrer como Ele, pede para ser crucificado de cabeça para baixo. Paulo está para ser decapitado e pensa só em dar a vida, escrevendo que quer ser «oferecido como sacrifício» (2 Tim 4, 6). Esta é a profecia. Não palavras. E esta é profecia, a profecia que muda a história.

Amados irmãos e irmãs, Jesus profetizou a Pedro: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja». Existe, também para nós, uma profecia semelhante; encontra-se no último livro da Bíblia, quando Jesus promete às suas testemunhas fiéis «uma pedra branca», na qual «estará gravado um novo nome» (Ap 2, 17). Como o Senhor transformou Simão em Pedro, assim chama a cada um para fazer de nós pedras vivas, com as quais construir uma Igreja e uma humanidade renovadas. Há sempre quem destrua a unidade e quem apague a profecia, mas o Senhor acredita em nós e pede-te: «Tu, tu, tu, tu: queres ser construtor de unidade? Queres ser profeta do meu céu na terra?» Irmãos e irmãs, deixemo-nos provocar por Jesus e ganhemos a coragem de Lhe dizer: «Sim, quero»!

VN

28 junho, 2020

Homilia na Missa de Ordenações Sacerdotais


 
Um diálogo para toda a vida
Estimados irmãos e muito especialmente vós, caríssimos ordinandos:

Estarmos aqui hoje, vigília de São Pedro e São Paulo com os atuais condicionamentos e em ordenações sacerdotais, traz-nos necessariamente ao essencial.

Aí nos fixamos, sem rodeio nem demora: – Porquê a Igreja e porquê os padres? Para responder desde já: - Porque sim Cristo, porque sim o Evangelho e porque sim a tradição viva e católica em que nos incluímos.

Porque sim Cristo, como resposta de Deus ao mundo. O mundo, tudo aquilo que existe à nossa medida, permitindo-nos viver e conviver. O espaço-tempo de cada um e de cada coisa, tão inevitáveis como relativos. Como crentes, sabemos que é a criação divina, a respeitar e compartilhar. Sabemos e correspondemos, quando tomamos conta dos outros e das coisas, na medida da responsabilidade e competência próprias. Sempre que não é assim – e às vezes muito pelo contrário -, o mundo passa de possibilidade a impossibilidade, face ao que a vida exige, concebida ou enfraquecida que esteja, para a subsistência capaz e saudável de multidões inteiras.

Assim somos nós, enquanto mundo, tão magníficos como contraditórios. Para tal não precisaríamos de quanto aqui nos traz. E o que aqui nos traz é Cristo, como resposta de Deus ao mundo. Resposta cabal ao que o mundo mais profundamente anseia e redenção absoluta de quanto o impede.

Impressiona positivamente verificar como os mais antigos textos cristãos expressam tal verdade. Assim Jesus, falando a Nicodemos: «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que crê nele não se perca, mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16). Assim o autor da Carta aos Hebreus, quase resumindo a nossa teologia: «Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de quem fez o mundo» (Heb 1, 2).

O percurso terreno de Cristo foi muito limitado em espaço – tempo, num Israel exíguo e em pouco mais de três décadas. Mas tão totalizado, das tábuas do presépio às da oficina de Nazaré e finalmente às da cruz, que preenche agora o espaço e o tempo de cada um de nós, redimidos de quanto os arruinaria e com ele eternamente sublimados. Saiu do Pai e veio ao mundo, para voltar do mundo para o Pai e nos levar consigo (cf. Jo 16, 28). Por isso estamos aqui, para “passar” com Cristo para o Pai, no plano final da sua Páscoa.

Para Paulo, foi completa a surpresa. Foi também total, pois lhe totalizou a vida. Naquela estrada de Damasco, em que o Ressuscitado o começou a ressuscitar a ele, Paulo encontrou-se a si próprio como significado e destino. Oiçamo-lo com atenção e pormenor: «… quando Aquele que me destinou desde o seio materno e me chamou pela sua graça Se dignou revelar em mim o seu Filho, para que eu O anunciasse aos gentios, decididamente não consultei a carne e o sangue…»

A “carne e o sangue” somos nós, como nos entendemos só por nós, e a nossa condição neste mundo. Podemos considerá-los bons, naturais e comuns. Assim gostamos dos nossos e somos capazes de gostar dos outros. O mundo está cheio de bons exemplos de solidariedade, que havemos de reconhecer e louvar, como o próprio Cristo o reconheceu e louvou, mesmo nos que não pertenciam ao seu grupo. 

Mas Cristo foi muito além desta ordem natural das coisas e do limite espontâneo dos afetos, preferindo os últimos e amando a todos por igual, de coração indiviso. É neste sentido que a opção preferencial pelos pobres ou o celibato por amor do Reino dos Céus assinalam o que vai além “da carne e do sangue”. Exigindo conversão permanente, são grande serviço da Igreja ao mundo, para que este não se encerre em si mesmo. Para que o mundo se converta na matéria do Reino e todo o bem se eternize, naquele amor que nunca acabará.  
  
Deus revela Cristo a Paulo e a revelação torna-se missão, para chegar a muitos. Revelação que aconteceu exterior e interiormente, não apenas a Paulo mas em Paulo. Como Deus nos chega em Cristo, assim Cristo chega aos outros através de nós, quando somos realmente seus. 

Estou certo, caríssimos ordinandos, que estais aqui em consequência do muito que vos chegou e cativou de Cristo na vida e exemplo de discípulos autênticos. E assim há de ser através vós, agora, com a graça do sacramento apostólico. Com São Paulo, não vos ficareis pelo modo mundano de considerar as coisas. O horizonte que se abriu na estrada de Damasco, há de rasgar-se também nas que trilhareis agora. 

Assim realizareis uma vocação que é muito mais do que mera escolha profissional. Como ouvimos a Paulo: «… quando Aquele que me destinou desde o seio materno e me chamou pela sua graça…». Olhai o vosso percurso a esta luz e agradecei-o muito a Deus, como nós o agradecemos convosco.

O que seja a missão, em qualquer lugar e circunstância que a Igreja nos coloque, está claro e patente noutro trecho escutado. Pedro e João subiram ao templo e encontraram um coxo de nascença a pedir esmola. Pedro «olhou fixamente para ele e disse-lhe: “Não tenho ouro nem prata, mas dou-te o que tenho: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda”».

Olhar atentamente para o outro que nos requer, tolhido que seja de corpo ou de espírito, e fazê-lo levantar-se e andar em nome de Cristo, tem muitas concretizações hoje como então.

Era coxo de nascença aquele homem. E não faltam tolhimentos hoje em dia, impedindo de andar perfeitamente. Limitações físicas, nalguns casos, que pedem resposta clínica competente. Mas outras se acrescentam, de ordem educativa e cultural, quando alguma ideologia ou preconceito contrariam a formação e o crescimento num quadro geral de valores humanizantes. Valores como os que incluem o respeito pela vida, concebida ou fragilizada que esteja, a complementaridade essencial homem – mulher, a igual dignidade de todos, ou a abertura à religião transcendente. Omitir ou contrariar tais valores deforma e entorpece qualquer um e desde muito cedo infelizmente. Já o verificava o Papa Francisco no início do seu pontificado, ao escrever: «Com a negação de toda a transcendência, produziu-se uma crescente deformação ética, um enfraquecimento do sentido do pecado, e tudo isso provoca uma desorientação generalizada, especialmente na fase tão vulnerável às mudanças da adolescência e da juventude» (Evangelii Gaudium, 64).

Àquele homem que pedia esmola, os apóstolos responderam com a oferta do nome de Jesus. E olhando atentamente a evolução do pensamento e da prática nestes dois últimos milénios, não será difícil verificar como o seu nome, na força do que disse e do que fez, foi gerando o melhor da humanidade que nos chegou. 

Caros ordinandos: É desta tradição viva que sereis especiais transmissores, guardando o depósito que vos é confiado, como Paulo exortou o seu discípulo Timóteo (cf. 1 Tm 6, 20). Para que na vossa própria conduta e pregação, na resposta que dareis a tanto brado, ressalte sempre e em tudo o nome de Jesus, a verdade do Evangelho e o fulgor da caridade mais atenta.

Tal sucederá pela razão de aqui estardes: o amor verdadeiro, intenso e pleno a Cristo, que vos toca o coração, com a vontade de lhe corresponder em tudo. É esta a única razão do vosso ministério, que só assim vos é sacramentalmente concedido. Retomai diariamente o diálogo de há pouco: «Pedro respondeu-Lhe: Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas”».

 Não precisareis doutro motivo para vos encher o coração e a vida. E, através de vós, a de muitos.

Santa Maria de Belém, 28 de junho de 2020
+ Manuel, Cardeal-Patriarca 
        
Foto: Arlindo Homem
 
 
Patriarcado de Lisboa

O Papa: a gratidão é um sinal de boa educação, mas é também um distintivo do cristão

 
 
Francisco recordou que o Evangelho deste domingo convida-nos “a viver plenamente e sem hesitação a nossa adesão ao Senhor. Jesus pede aos seus discípulos que levem a sério as exigências do Evangelho, mesmo quando isto requer sacrifício e esforço”.
 
Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus deste domingo (28/06), da janela da residência pontifícia vaticana, junto com alguns fiéis que se encontravam na Praça de São Pedro.

Na alocução que precedeu a oração, o Papa recordou que o Evangelho deste domingo convida-nos “a viver plenamente e sem hesitação a nossa adesão ao Senhor. Jesus pede aos seus discípulos que levem a sério as exigências do Evangelho, mesmo quando isto requer sacrifício e esforço”.

Segundo Francisco, “o primeiro pedido exigente que Ele faz àqueles que O seguem é que coloquem o amor a Ele acima dos afetos familiares. Ele diz: «Quem ama o pai ou a mãe, [...] o filho ou a filha mais do que a mim, não é digno de mim».” A seguir, o Papa acrescentou:

Jesus não pretende certamente subestimar o amor pelos pais e filhos, mas sabe que os laços de parentesco, se forem postos em primeiro lugar, podem desviar-se do verdadeiro bem. Vemos algumas corrupções nos governos. Elas ocorrem porque o amor pelo parentesco é maior do que o amor pela pátria e eles colocam os parentes no comando. O mesmo com Jesus: quando o amor é maior que Ele, não é uma coisa boa. Todos nós poderíamos dar muitos exemplos a este respeito. Sem mencionar as situações em que os afetos familiares se misturam com escolhas opostas ao Evangelho. Quando, por outro lado, o amor pelos pais e filhos é animado e purificado pelo amor ao Senhor, então torna-se plenamente fecundo e produz frutos de bem na própria família e muito para além dela. 

Carregada com Jesus, a cruz não é assustadora

Recordamos como Jesus repreende os doutores da lei que fazem com que os pais não tenham o necessário com a pretensão de entregá-lo ao altar, de entregá-lo à Igreja. Ele repreende-os! O verdadeiro amor a Jesus exige um amor verdadeiro pelos pais, pelos filhos, mas primeiro procuramos o interesse familiar, isto leva sempre a um caminho errado”.

«Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim», diz Jesus aos seus discípulos. “É uma questão de o seguir no caminho que Ele percorreu, sem procurar atalhos. Não há amor verdadeiro sem cruz, ou seja, sem um preço a pagar pessoalmente. Que o digam muitas mães, muitos pais que se sacrificam muito pelo filho e carregam verdadeiros sacrifícios, cruzes, mas porque amam.

Carregada com Jesus, a cruz não é assustadora, porque Ele está sempre ao nosso lado para nos apoiar na hora da provação mais dura, para nos dar força e coragem. Também não é necessário preocupar-se por preservar a própria vida, com uma atitude temerosa e egoísta.

“Jesus adverte: «Quem procura conservar a própria vida, vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim», ou seja, por amor a Jesus, por amor ao próximo, pelo serviço aos outros, «vai encontrá-la.» Este é o paradoxo do Evangelho. Mas temos, graças a Deus, também muitos exemplos como este”, disse ainda o Pontífice, ressaltando que “vemos isto hoje nestes dias. Quantas pessoas, quantas pessoas, estão a carregar cruzes para ajudar os outros, sacrificam-se para ajudar os que precisam nesta pandemia. Mas, sempre com Jesus, é possível fazer-se”.

Segundo Francisco, “a plenitude da vida e da alegria é encontrada através da doação de si mesmo pelo Evangelho e pelos irmãos, com abertura, aceitação e benevolência. Ao fazê-lo, podemos experimentar a generosidade e gratidão de Deus”. 

A gratidão é um sinal de boa educação

No Evangelho deste domingo, Jesus diz também assim: «Quem vos recebe, recebe a mim [...]. Quem der ainda que seja apenas um copo de água fria a um desses pequeninos [...] não perderá a sua recompensa.» E o Papa acrescentou:

A gratidão generosa de Deus Pai leva em consideração até o mais pequeno gesto de amor e serviço prestado aos irmãos. Nestes dias, ouvi um sacerdote que ficou comovido porque uma criança se aproximou dele na paróquia e disse: “Padre, estas são as minhas economias; pouca coisa. É para os seus pobres, para aqueles que precisam hoje por causa da pandemia”. Coisa pequena, mas uma coisa grande. É uma gratidão contagiosa, que ajuda cada um de nós a sentir gratidão por aqueles que se preocupam com as nossas necessidades. Quando alguém nos oferece um serviço, não devemos pensar que tudo nos é devido. Não. Muitos serviços são feitos gratuitamente. Pensem no voluntariado, que é uma das maiores coisas que a sociedade italiana tem. Os voluntários! Quantos deles perderam a vida nesta pandemia. Isto é feito por amor, simplesmente para o serviço. A gratidão, o reconhecimento, é antes de tudo um sinal de boa educação, mas é também um distintivo do cristão. É um sinal simples mas genuíno do reino de Deus, que é o reino do amor gratuito e reconhecido.

O Papa concluiu, pedindo à Virgem Maria, que amou Jesus mais do que a sua própria vida e o seguiu até à cruz, para que nos ajude a colocar-mo-nos sempre diante de Deus com um coração disponível, deixando que a sua Palavra julgue os nossos comportamentos e as nossas escolhas.
 
VN

27 junho, 2020

Papa recorda os 28 anos da sua ordenação episcopal



Para Francisco: “episcopado” é o nome de um serviço, não de uma honra, porque ao bispo compete mais servir do que dominar, segundo o mandamento do Mestre: «Quem for o maior entre vós, seja como o menor. E aquele que mandar, como o que serve». 

Bianca Fraccalvieri - Vatican News 

Neste dia 27 de junho, o Papa Francisco recorda os 28 anos da sua ordenação episcopal.

A cerimónia foi realizada na Catedral de Buenos Aires e foi presidida pelo então, Cardeal Antonio Quarracino, Arcebispo da capital argentina.

Jorge Mario Bergoglio foi nomeado bispo auxiliar por São João Paulo II e a notícia foi divulgada em 20 de maio de 1992.

Cinco anos depois, foi nomeado sempre pelo Papa polaco coadjutor da Arquidiocese, torna-se seguidamente arcebispo, cargo que ocupou até ser eleito Papa em 2013.

Para o Papa, “episcopado” é o nome de um serviço, não de uma honra, porque ao bispo compete mais servir do que dominar, segundo o mandamento do Mestre: «Quem for o maior entre vós, seja como o menor. E aquele que mandar, como o que serve».

“As três proximidades do bispo: proximidade a Deus na oração — este é o seu primeiro trabalho — proximidade aos sacerdotes no Colégio presbiteral; e proximidade em relação ao povo. Não vos esqueçais que fostes tirados, escolhidos, do meio do rebanho. Não vos esqueçais das vossas raízes, daqueles que vos transmitiram a fé, daqueles que vos conferiram a vossa identidade. Não renegueis o povo de Deus.”

Homilia de ordenação episcopal de 4 de outubro de 2019

VN

25 junho, 2020

#Ordenações - Tomás Castel-Branco “Disponível para os jovens e para levar Jesus a todos”



A família foi, para Tomás, o “meio” para começar a “ver Deus presente” na sua vida. “Cresci numa família católica que, desde pequeno, me ensinou a rezar”, começa por referir, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Nos Salesianos de Lisboa, começou a procurar formas de estar disponível para os outros. “Comecei a ter amigos que me despertavam para a importância de me dispor ao serviço dos outros, fosse através de voluntariado, fosse através de atividades organizadas pelo colégio. Por altura do 11.º ano, fui convidado por uma amiga para entrar nas Equipas de Jovens de Nossa Senhora (EJNS). Isso também foi muito importante para a minha vocação, porque foi quando comecei a ter uma vida de oração mais regular e comecei a perceber quão essencial era ter uma amizade diária com Jesus”, aponta.

Tomás Castel-Branco tem dois irmãos e foi um deles que entrou, ao mesmo tempo, para as EJNS e, mais tarde, lhe apresentou o padre Hugo Santos, vigário paroquial de São Nicolau. “Comecei a ter direção espiritual com o padre Hugo, a acolitar e a confessar-me mais regularmente. Foi neste contexto que surgiu a vocação”, realça, sublinhando que prosseguiu os estudos em Sistemas e Tecnologias de Informação, na Universidade Nova. “Comecei a questionar o que Deus queria de mim. Neste tempo, também foi importante o testemunho feliz dos padres com quem contactava”, afirma. A meio do curso, teve um primeiro impulso para ir para o seminário. Foi “numa Semana de Verão”, em que “disse que iria entrar no seminário”, mas não concretizou. “No dia seguinte, o Evangelho da Missa era: ‘Quem não deixar casa, mãe... tudo por Mim, não é digno de Mim’”, recorda. A leitura foi germinando e, depois de completar o curso, em 2013, entra no seminário. Para a família e amigos, “foi uma grande alegria verem que eu procurava entregar a minha vida a Deus”.

A caminhada no Seminário de Caparide e, depois, no Seminário dos Olivais, “trouxe muitas novidades boas” à vida de Tomás. “Foi muito importante para olhar para a minha vida e perceber como Deus me foi chamando. Foi também bom descobrir a vida comunitária como uma realidade nova e perceber que são mais importantes os ritmos da Igreja e não os meus”, observa.

Nos últimos anos de seminário, em trabalho pastoral na Paróquia de Loures e, nos últimos dois anos e alguns meses como diácono na Paróquia do Parque das Nações, Tomás Castel-Branco realça a importância destas experiências para ir conhecendo “a realidade da Igreja de Lisboa”. “Foi muito importante ver que Deus me enviava a tantos grupos como seu instrumento. Foi um tempo muito rico”, refere. Neste contexto de preparação da Jornada Mundial da Juventude, Tomás deseja ser também um sacerdote “disponível para os jovens e para ajudar a levar Jesus a todos”. 

Tomás Castel-Branco, 28 anos
Paróquia de São Nicolau

  • As ordenações presbiterais vão decorrer no próximo Domingo, às 16h00, no Mosteiro dos Jerónimos e terão um número limitado de participantes, devido à pandemia. Pode acompanhar a celebração, em direto, pelo site e redes sociais do Patriarcado de Lisboa.

Patriarcado de Lisboa

#Ordenações - Mendo Ataíde “Ser um instrumento da sua graça”



Ao recordar o início da sua caminhada na fé, Mendo Ataíde começa por lembrar “pequenas coisas” que lhe “foram formando um coração cada vez mais voltado para Deus”. “A minha mãe a rezar comigo à noite, a minha avó a ensinar-me as orações que tinha aprendido quando era pequena, o meu avô a perguntar se eu tinha ido à Missa e o que se tinha falado”, partilha ao Jornal VOZ DA VERDADE. Para este futuro padre, esta ‘herança’ familiar e o percurso na catequese, feito nos colégios que frequentou, sempre o fizeram acreditar em Deus, mas, mais do que isso, seria “cair num extremismo”. “No final do último ano do Colégio Militar, fiz uma experiência de intercâmbio, e vivi, nos Estados Unidos, numa família de acolhimento, com 11 filhos – algo que eu nunca tinha visto”, confessa. “Essa família tinha em Deus o princípio que orientava a vida deles, rezavam em família... Viver assim não era uma seca ou um extremismo. Eles eram felizes, normalíssimos”, lembra, reconhecendo que, até esse momento, “nunca tinha pensado no que significava ser católico”. 

O exemplo fê-lo seguir em frente com os planos de “ser gestor” e ter “uma grande família”. Ao entrar no curso de Gestão, da Universidade Católica, Mendo foi também tocado pela “experiência marcante” da Missão País, em 2010, orientada pelo então capelão, padre Hugo Santos. Na missão, depois de uma confissão, foi sentindo a pergunta: ‘Será que o Senhor te pede mais?’. Mendo Ataíde continuou o curso e completou um mestrado em Gestão, também na UCP. Com o grupo de amigos que o “ajudava a crescer na fé”, frequentava a Paróquia de São Nicolau, em Lisboa, onde foi partilhando com o pároco, padre Mário Rui, as suas “questões vocacionais”. “Começava a achar que queria entregar a minha vida a Deus, mas não era claro no quê. Ainda tinha um pouco de incerteza”, revela. A vida dos sacerdotes diocesanos, que conhecia, foi determinante para a entrada no seminário. Apesar de a sua família “ter tido algum tempo para aceitar a decisão”, sempre contou com o apoio de todos, “sem qualquer resistência”.

Da experiência em seminário, Mendo sublinha a vivência comunitária. “Encontrei muito boa gente no seminário e com vontade de seguir Jesus com todo o coração. E isso faz toda a diferença”, assegura. Nestes últimos meses, na Paróquia da Ramada, Mendo revela que se sentiu “soterrado” face à grandeza do que implicou o ministério diaconal, através das suas palavras e gestos. “Foi uma alegria acompanhar aquelas pessoas na sua descoberta de Jesus e, ao mesmo tempo, um desafio”, assegura este futuro padre, que quer dedicar a sua vida “para a santificação de todos”. “Que seja um instrumento da sua graça, onde for preciso”, deseja.

Mendo Ataíde, 29 anos
Paróquia de São Nicolau

  • As ordenações presbiterais vão decorrer no próximo Domingo, às 16h00, no Mosteiro dos Jerónimos e terão um número limitado de participantes, devido à pandemia. Pode acompanhar a celebração, em direto, pelo site e redes sociais do Patriarcado de Lisboa.

Patriarcado de Lisboa

Cardeal-Patriarca vai presidir a Eucaristia pelos falecidos em tempo de pandemia



D. Manuel Clemente vai presidir à Missa, neste Domingo, 28 de junho, às 11h30, na Capela do Rato, em Lisboa, “em memória dos irmãos e irmãs falecidos durante este tempo de pandemia”, salienta uma nota da capelania.

Para esta celebração, a comunidade convida as “famílias enlutadas a indicar o nome do familiar que se quer lembrar durante a eucaristia, enviando essa informação previamente para o email capeladorato@gmail.com, até ao dia 26 de junho, e sugere que, em casa, “se possa preparar um pequeno altar com a foto da pessoa falecida, uma vela acesa e uma pequena flor”, realça o comunicado.

A presença na celebração está limitada às inscrições disponíveis e a prioridade é dada às “pessoas e famílias enlutadas”, sublinha a organização. 

A celebração vai ter transmissão on-line, através do site e página Facebook da Capela do Rato.

Patriarcado de Lisboa

#Ordenações - Gonzalo Palácios - “Encontrei o meu lugar na Igreja”



Aos 18 anos, Gonzalo “não encontrava lugar dentro da Igreja, nem respostas para os problemas” ou para a sua história. Foi um tempo de distanciamento que, apesar de não ter significado uma rutura completa, fê-lo pensar em encontrar “respostas noutro lado”. Natural de Sevilha, em Espanha, Gonzalo é o terceiro de cinco filhos e destaca ao Jornal VOZ DA VERDADE a preocupação da mãe em ajudá-lo a “saber viver a Missa”, todos os Domingos. “Mas eu estava à procura, a precisar de mais alguma coisa”, revela. Aos 20 anos, através de uma amizade durante o curso de Direito – do qual desistiu no segundo ano –, foi desafiado a fazer “um percurso mais aprofundado na fé”, ao entrar para uma Comunidade Neocatecumenal. “Ajudou-me bastante e comecei a encontrar o meu lugar na Igreja”, assume. A questão da vocação “sempre esteve lá”. “Fui acólito e, já nessa altura, havia qualquer coisa que me atraia. Depois, na escolha da faculdade, também pensei na possibilidade de ir para o seminário, mas como não tinha uma estrutura, uma vivência cristã profunda, isso sempre ficou no ar”, aponta. “Nesta caminhada de Igreja, houve uma altura em que fizemos uma peregrinação e parámos em várias cidades, para fazer missão nas ruas, cantando e convidando as pessoas a escutar a Palavra. Foi essa experiência que mexeu comigo. Com aquilo, fez-se uma luz. Era aquilo que estava chamado a fazer”, assegura, revelando que, num encontro vocacional, então com 24 anos, tomou a decisão de entrar no seminário. A notícia causou, inicialmente, alguma estranheza à família, sobretudo porque “podia ir para qualquer parte do mundo”, revela Gonzalo Palácios, reconhecendo que os seus pais “foram aceitando e sempre estiveram disponíveis para tudo”. A ideia que tinha de seminário era “um pouco romântica” e, por isso, à chegada “foi um choque forte”. “É um seminário internacional, onde cada um falava a sua língua, mas a vivência do seminário é experimentar o milagre da comunhão”, assegura este futuro padre, que esteve dois anos num seminário em França e só depois rumou ao Seminário ‘Redemptoris Mater’ de Lisboa.
Desde a ordenação de diácono, em dezembro, Gonzalo ficou a viver e fazer o trabalho pastoral na Paróquia da Penha de França, onde “o desafio é grande”. “É uma zona envelhecida, e é, agora, habitada por muitos jovens e turismo... não é uma população fixa. Não podemos ficar na igreja à espera que venham à Missa. Temos que sair à procura destes jovens. Esse desafio motivou-me muito. Temos que sair dos esquemas habituais”, apela, assegurando à diocese que poderá contar com ele para “propor o Evangelho, de uma maneira radical e concreta”. “Porque essa foi a minha experiência”, partilha.

Gonzalo Palácios, 38 anos
Arquidiocese de Sevilha, Espanha

  • As ordenações presbiterais vão decorrer no próximo Domingo, às 16h00, no Mosteiro dos Jerónimos e terão um número limitado de participantes, devido à pandemia. Pode acompanhar a celebração, em direto, pelo site e redes sociais do Patriarcado de Lisboa.
Patriarcado de Lisboa

Papa envia 2500 kits de testes para diagnóstico de Covid-19 a Gaza


A entrega dos kits doados pelo Papa ao Ministério da Saúde de Gaza

Até agora, os Territórios Palestinos registram 1328 casos de Covid-19, mas a baixa porcentagem de pessoas testadas positivas poderia ser um indício da falta de testes realizados. “Os 2500 kits enviados pelo Papa vão ajudar-mos a fazer diagnósticos mais precisos. Em toda a Faixa existe apenas uma máquina que pode fazer as análises para mais de 2 milhões de pessoas”, afirmou o Pe. Romanelli, pároco de Gaza. 

Alessandro Guarasci - Vatican News 

O Papa doou 2500 testes de Covid-19 ao Ministério da Saúde de Gaza, através da Congregação para as Igrejas Orientais. A entrega dos kits, que aconteceu no dia 17 de junho, foi coordenada pela Delegação Apostólica, pelo Patriarcado Latino de Jerusalém e pela Caritas de Jerusalém. A notícia foi divulgada pelo próprio Patriarcado. 

A caridade do Papa
Os kits foram entregues pela Caritas Jerusalém e pelo Pe. Gabriel Romanelli, pároco latino da Sagrada Família em Gaza. A doação faz parte das iniciativas promovidas pelo Fundo de Emergência, desejado pelo Papa Francisco, para ajudar os países mais afetados pela disseminação da Covid-19. Entre eles, a Síria que recebeu 10 ventiladores, outros três foram doados para o Hospital de São José, em Jerusalém, enquanto os kits com testes de Covid-19 foram enviados ao Hospital da Sagrada Família, em Belém.

A doação do Papa faz parte dos muitos “carinhos” com que Francisco se faz presente e próximo: fundos que são um oxigénio para áreas em dificuldade e, depois, respiradores, material médico, kits sanitários que viajam de uma parte do mundo para  outra, do Equador à Roménia, do Brasil à Espanha, a Nápoles e a Lecce. Mas, também, telefonemas que chegam a bispos, comunidades, médicos, enfermeiros que vivem o sofrimento e a dificuldade, tanto nos corredores dos hospitais como nas cúrias ou nas associações de voluntariado na linha de frente. Para cada um, uma palavra ou um gesto e muita gratidão. 

A falta de testes e leitos em Gaza
Com a propagação do vírus em Gaza, onde vivem cerca de 2 milhões de pessoas, as autoridades locais de saúde lamentaram a falta de testes para fazer diagnósticos e também solicitaram 100 ventiladores e 140 leitos para as UTIs. Segundo o Ministério da Saúde da Palestina, Gaza registra 72 casos de Covid-19 (15 ainda estão ativos) de um total de 1328 nos Territórios Palestinos (dados de 25 de junho).

A baixa percentagem de pessoas testadas positivas poderia ser um indício da falta de testes realizados. A Caritas de Jerusalém e o Ministério da Saúde de Gaza, como informa o Patriarcado Latino, "prepararam um plano de emergência que prevê, entre outras coisas, a prestação de serviços médicos no Centro da Caritas e a ativação de três equipes médicas móveis para realizar o serviço domiciliar no tratamento de pacientes não-Covid-19, durante as 24 horas do dia". Como em Israel, também na Cisjordânia foram registados novos picos de infeção nas últimas duas semanas: o mais alto em Hebron com 551 casos, seguido de Nablus com 32. 

O pároco de Gaza: além da Covid-19, a grave situação económica
Segundo o Pe. Gabriel Romanelli, pároco latino da Sagrada Família em Gaza, nos Territórios Palestinos "há uma emergência de coronavírus, mas ela está ligada a muitas outras situações”. O sacerdote cita, então, “o bloqueio da fronteira com Israel ou Egito, o fechamento de muitas atividades comerciais, como os restaurantes. Desta forma, muitas pessoas perderam o emprego e ficaram sem salário. Os professores das nossas escolas não foram demitidos, mas o Patriarcado teve dificuldade em pagar os salários".

O fechamento de Gaza pesa mais do que nunca neste momento, explica o pároco, mas as poucas entradas conseguiram conter o contágio pelo vírus. O Pe. Romanelli acrescenta que todos os casos em que tiveram “dizem respeito a pessoas que vieram de fora e que foram imediatamente colocadas em quarentena. Os kits enviados pelo Papa vão ajudar-nos a fazer diagnósticos mais precisos e, assim que os recebemos, levamos ao laboratório do Ministério da Saúde. Em toda Gaza, de facto, há apenas uma máquina que pode fazer as análises".

VN

24 junho, 2020

#Ordenações - Eduardo López - “Felicidade num projeto que não era o meu”



Eduardo é o terceiro de quatro filhos e, desde cedo, tinha o projeto de tirar um curso técnico de Mecânica, para trabalhar com o pai, e depois fazer formação em Engenharia. Apesar de a família viver a uma rua da igreja, na Cidade da Guatemala – num país maioritariamente católico –, a frequência religiosa só começou com 7 anos. E a vida de Eduardo “mudou”. “Os meus pais iniciam a caminhada no Caminho Neocatecumenal e pude ver muito a mudança do meu pai. Era alguém que tendia para a depressão, violência e com uma história muito difícil. A determinada altura, a mudança foi tal que ele chegou a pedir-nos perdão. Tocou-me imenso”, revela, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Aos 13 anos, Eduardo inicia a sua caminhada numa comunidade Neocatecumenal. “Sempre houve motivos para não aderir ao chamamento de Deus. Dei muita luta ao Senhor! Eu tinha os meus projetos: queria acabar a faculdade e casar”, conta. Tudo parecia que estava a correr como planeado, mas, entre 2009 e 2010, experimentou “uma crise profunda” com o fim do namoro, insucesso na faculdade e a doença, provocada por uma bactéria. “Durante esse tempo, o Senhor falou-me fortemente”, revela. Seguiu-se a entrada no pré-seminário e, em 2011, “calhou-lhe” o Seminário ‘Redemptoris Mater’ de Lisboa. Para a família, que já convivia com um filho no seminário, mas em El Salvador, só o facto de Eduardo “ir para mais longe de casa” custou “mais”.

Chegado a Portugal em 2012, Eduardo López recorda os “tempos difíceis com a adaptação à língua, os estudos e as crises dos primeiros anos”, mas enaltece “a paciência que o Senhor teve”. “A ideia de seminário era outra. Achava que se passava o dia todo a rezar. Claro que rezamos, mas faz-se vida. Tem sido uma experiência maravilhosa, com uma experiência tão próxima de Deus. Tenho conhecido o Senhor como Pai que providencia”, conta. “Encontro-me muito feliz por este ministério que a Igreja me quer dar. Encontro muita felicidade num projeto que não era o meu”, revela. Nos últimos meses, enquanto diácono, Eduardo exerceu o trabalho pastoral na Paróquia de Oeiras. “Foi uma experiência edificante. É uma ocasião que o Senhor me convidou a ser mais generoso”, salienta. O futuro padre garante ainda que aquilo que tem para oferecer é Jesus Cristo. “A Igreja envia-me a alimentar e a sarar o povo”. 

Neste Domingo, na sua ordenação presbiteral, Eduardo não contará com a presença física da família e da comunidade que, devido à pandemia, não poderão viajar. “Quando soube, custou-me, mas Deus centra-me no fundamental, naquilo que fica, que é a graça do sacramento. Por isso, esse facto não me tira a alegria”, assegura.

Eduardo López, 30 anos
Arquidiocese de Santiago de Guatemala, Guatemala

 
  • As ordenações presbiterais vão decorrer no próximo Domingo, às 16h00, no Mosteiro dos Jerónimos e terão um número limitado de participantes, devido à pandemia. Pode acompanhar a celebração, em direto, pelo site e redes sociais do Patriarcado de Lisboa.
Patriarcado de Lisboa