Caríssimos irmãos sacerdotes do clero secular e regular, ao serviço do Povo de Deus no Patriarcado de Lisboa:
A Solenidade do Sagrado Coração de Jesus,
também dia de oração pela santificação dos sacerdotes, concentra-nos
uma vez mais no cerne da nossa vida sacerdotal e pastoral. Tudo reside
em Cristo e no seu “coração”, ou seja, no que tem de mais íntimo e
determinante, que nos toca também como vocação e ministério.
Detenhamo-nos
aqui um pouco. Como os primeiros discípulos, que ficaram com Jesus
naquele dia. Logo a seguir, um deles chamou outro e seguiram-se mais
(cf. Jo 1, 17 ss). Todos eles viveram do encontro com Cristo.
Assim começou a Igreja, precisamente como anúncio e experiência de
Cristo vivo e convivente.
Como sucedeu com eles, também sucedeu
connosco, sacerdotes de hoje, mais velhos ou mais novos, alcançados por
Cristo de modo tão sedutor e forte, que o nosso coração não pretende
outra coisa senão anunciar o seu. Nasce aqui a nossa vocação pastoral e
celibatária, como entrega à missão e coração indiviso.
Aconteceu
há mais ou menos anos, agora como há séculos. Podemos verificar, nas
biografias e hagiografias de sacerdotes de muitas latitudes, épocas e
culturas, como a motivação profunda é sempre a mesma, que Paulo traduziu
assim aos filipenses: «Corro, para ver se o alcanço, já que fui
alcançado por Cristo Jesus» (Fl 3, 12). A estrada de Damasco,
em que o Ressuscitado o alcançara, abriu-lhe as estradas do mundo, para
que todos O alcançassem também.
Para eles e para nós, houve
momentos difíceis e tempos conturbados. Outras tantas ocasiões para
aprofundar a relação, que sempre cresce na prova. Também sucedeu com
Cristo, que não desistiu dos que chamou, mesmo quando o entusiasmo deles
arrefeceu. Assim mesmo os recuperou, dando a vida por eles.
Por
razões que só Deus sabe, o amor de Cristo tocou-nos fortemente. Ao ponto
de fazer de nós sacramentos da sua entrega (sacerdotes) e da sua
compaixão (pastores), para bem de todos. Por isso aqui estamos e assim
continuamos. Dediquemos algum tempo a lembrar e agradecer quantos nos
assinalaram a presença do Ressuscitado e nos fizeram crescer na comunhão
com Ele. Imitaram assim aqueles primeiros discípulos, que depois
chamaram outros ao primeiro grupo apostólico.
Os últimos meses,
marcados pela pandemia que grassou, foram particularmente exigentes para
o nosso povo em geral e o nosso ministério em particular. Chamados e
formados para acompanhar as comunidades, não o pudemos fazer
presencialmente e alguns viveram em isolamento custoso. Superámos como
pudemos essa grande limitação, usando os atuais meios de comunicação,
com bastante criatividade até. Garantimos catequeses, transmissões
eucarísticas e tempos de oração, ações solidárias de vário tipo.
Estamos
agora em desconfinamento paulatino, retomando cautelosamente as
celebrações e ações comunitárias. Vamos reencontrando o nosso lugar, no
lugar de todos. Entretanto, vários me testemunharam como foi importante a
companhia de colegas, mesmo por telefone ou internet, ao longo destes
meses. Será ótimo se tal continuar, também presencialmente, em oração,
partilha e convívio. Rezo muito especialmente por isso, porque o
acompanhamento mútuo é indispensável para o bom exercício do ministério.
Assim começou com Cristo e os doze e assim aconteceu nos melhores
períodos da Igreja.
Podemos também retomar, neste dia de oração
pela santificação dos sacerdotes, a belíssima carta do Papa Francisco de
4 de agosto passado, no 160º aniversário da morte do Santo Cura d’Ars.
Nela acentua sentimentos essenciais do próprio Coração de Jesus, que hão
de ser também nossos: gratidão ao Pai, misericórdia acolhedora,
compaixão solidária, vigilância atenta e coragem para prosseguir com
todos, colegas e fiéis em geral.
Irmãos e amigos, dou muitas
graças a Deus pela vossa vida e ministério, assinalando a presença de
Cristo Sacerdote e Pastor no mundo de hoje. O vosso lugar é o seu
Coração, «no íntimo do mundo como um fogo», segundo um inspirado verso
da nossa Liturgia.
Convosco, em oração e muita estima,
+ Manuel, Cardeal-Patriarca
Acrescento duas breves notas:
- Sobre as próximas Ordenações de cinco novos sacerdotes, no Domingo 28 de junho: As condições atuais limitam o número de presbíteros participantes aos cónegos não jubilados, o secretariado permanente do Conselho Presbiteral, os vigários da vara, os membros das equipas formadoras dos seminários e os párocos das paróquias dos ordinandos ou onde estagiaram. Não poderão participar os diáconos e os acólitos, exceto os de serviço na celebração, nem consagrados e leigos em geral, à exceção dos que forem convidados.
- Sobre a Missa Crismal, que não pudemos celebrar em Quinta Feira Santa, faremos como na Diocese de Roma, suprimindo-a este ano.
Patriarcado de Lisboa
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