12 junho, 2020

Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil: com a Covid-19 o risco aumentou

 
 Desenho dedicado a Zohra  (ANSA)
 
Milhões de crianças correm o risco de serem obrigadas ao trabalho infantil devido à crise do Covid-19. Neste Dia Mundial contra o Trabalho Infantil o tema refere-se à proteção das crianças do trabalho infantil, mais do que nunca. O caso da menina paquistanesa Zohra, morta pelos espancamentos na casa onde fazia limpeza recorda dramaticamente ao mundo esta triste realidade 
 
Marco Guerra/Jane Nogara – Vatican News

Neste ano, a ONU celebra o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil, com o tema: “Covid-19: Proteja as crianças do trabalho infantil, mais do que nunca”. Milhões de crianças correm o risco de serem obrigadas ao trabalho infantil devido à crise do Covid-19. A pandemia pode levar ao primeiro aumento deste indicador após 20 anos de progresso, segundo a Organização Internacional do Trabalho, OIT, e o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef. Além disso, as crianças que já trabalham podem estar sujeitas a maior carga horária e condições mais perigosas. Com muito mais danos para a sua saúde e segurança. 

Menos escolas, mais trabalho infantil

A diretora executiva do Unicef, Henrietta Fore, conta que “à medida que a pobreza aumenta, as escolas fecham e a disponibilidade dos serviços sociais diminuem, forçando mais crianças ao trabalho.” Para ela, “é preciso garantir que as crianças e as suas famílias estejam capacitadas para enfrentar tempestades semelhantes no futuro.” Fore destaca a educação de qualidade, serviços de proteção social e melhores oportunidades económicas. Atualmente, o fecho temporário de escolas afeta mais de 1 bilhão de alunos em mais de 130 países. Mesmo após o retorno às aulas, muitos pais não terão como enviar os seus filhos à escola. Como resultado, mais crianças podem cair em atividades perigosas e de exploração. A situação também pode agravar as desigualdades do género com as meninas mais vulneráveis à exploração no campo e no trabalho doméstico. 

Caso emblemático da menina Zohra

O brutal assassinato de Zohra, uma menina de oito anos de uma família muito pobre de uma aldeia de Punjabno Paquistão, explorada como empregada doméstica recordou ao mundo mais uma vez o dramático fenómeno do trabalho infantil. A menina morreu no dia 31 de maio, devido aos castigos físicos dados pelos pelos seus patrões, um rico casal de Rawalpindi. Segundo alguns, teriam-lhe batido por ter soltado dois papagaios de uma gaiola. O caso escandalizou e chocou a opinião pública mundial, inclusive parte da sociedade civil paquistanesa, que denunciou sempre o uso generalizado de meninas de famílias pobres no setor de tarefas domésticas. Com efeito, a extrema pobreza leva muitos pais a mandar os seus filhos para o trabalhar nas casas de famílias mais ricas, muitas vezes com a ilusória promessa de escolaridade e educação, como no caso da pequena Zohra. 

12 milhões de crianças trabalhadoras no Paquistão

Devido ao escândalo, o ministro paquistanês dos Direitos Humanos, Shireen Mazari, declarou que foi proposta a modificação de uma lei que classificaria o trabalho doméstico para crianças como “ocupação perigosa”. Isto poderia significar que as crianças não podem ser mais empregadas em casas privadas. Atualmente no Paquistão o trabalho de menores é ilegal nas fábricas ou noutras atividades produtivas, mas ainda há 12 milhões de crianças trabalhadoras, declara o diretor executivo de uma ONG paquistanesa (SPARC) para a proteção da infância, Sajjad Cheema. 

Uma em cada dez crianças é obrigada a trabalhar

A África é o continente onde o trabalho infantil está mais difundido, tanto em percentagem da população infantil como no número absoluto de crianças envolvidas. Na prática, uma em cada dez crianças no mundo é obrigada a trabalhar. No entanto, apesar do número de crianças trabalhadoras ter diminuído em 94 milhões desde 2000, com o Covid-19 o objetivo de “desenvolvimento sustentável" estabelecido pela ONU, que prevê o fim do trabalho infantil em todas as suas formas até 2025, fica ainda mais longe.

VN

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