05 junho, 2020

O Papa a Scholas Occurrentes: educar é ouvir, criar cultura, celebrar



“Scholas nasceu de uma crise, mas não levantou os punhos para lutar com a cultura, nem baixou os braços para se resignar, nem saiu a chorat: Que calamidade, que tempos terríveis! Saiu para ouvir o coração dos jovens, para cultivar a nova realidade”, disse Francisco na videomensagem, inaugurando a Universidade do Sentido no Dia Mundial do Meio Ambiente. 

Mariangela Jaguraba - Vatican News 

Na mensagem de vídeo, divulgada nesta sexta-feira (05/06), o Papa Francisco falou aos jovens que participam no encontro virtual, através da plataforma Zoom, promovido por Scholas Occurrentes, para celebrar a Universidade do Sentido.

“É uma grande alegria poder chamá-los de “comunidade”. Comunidade de amigos, comunidade de irmãos, irmãs”, diz o Papa, recordando o início da criação da universidade: “Dois professores, no meio de uma crise, com um pouco de loucura e um pouco de intuição. Uma coisa não programada, vivida enquanto se prosseguia. A crise naqueles tempos deixava uma terra de violência e aquela educação uniu os jovens, gerando sentido, gerando beleza”.

Segundo o Papa, três imagens desse caminh conserva ele no seu coração, “três imagens que guiaram os três anos de reflexão e encontro: o louco de “La strada” de Fellini, “A vocação de Mateus” de Caravaggio, e “O idiota” de Dostoevskij. 

Crise significa rutura, mas também oportunidade

“O sentido, o louco, o chamado, Mateus e a beleza. As três histórias são a história de uma crise. E nas três, a responsabilidade humana está em jogo. Crise significa rutura, corte, abertura, perigo, mas também oportunidade.”

Quando as raízes precisam de espaço para continuar a crescer, o vaso acaba rompendo-se. A questão é que a vida é maior do que a nossa própria vida e, portanto, quebra-se. Mas isto é a vida! Cresce, rompe-se.

Pobre humanidade sem crise! Toda perfeita, toda arrumada, toda engomada. Pobre! Uma humanidade assim seria uma humanidade doente, muito doente. Graças a Deus que isto não acontece. Seria uma humanidade adormecida.

Scholas saiu para ouvir o coração dos jovens

“Por outro lado”, disse ainda o Papa, “assim como a crise nos anima chamando-nos ao aberto, o perigo apresenta-se quando não nos ensina a relacionar-mo-nos com essa abertura. Portanto, as crises, se não forem bem acompanhadas, são perigosas, porque é possível desorientar-mo-nos. O conselho dos sábios, mesmo para as pequenas crises pessoais, conjugais e sociais é: “Nunca entre na crise sozinho, seja acompanhado”.

“Na crise, o medo invade-nos, fechamo-nos como indivíduos, ou começamos a repetir o que muito pouco serve, esvaziando-nos de sentido, escondendo o próprio chamamamento, perdendo a beleza. Isto é o que acontece quando alguém  atravessa uma crise sozinho, sem reservas. Esta beleza que, como disse Dostoevskij, salvará o mundo”, sublinhou o Papa.

Scholas nasceu de uma crise, mas não levantou os punhos para lutar com a cultura, nem baixou os braços para se resignar, nem saiu a chorar: Que calamidade, que tempos terríveis! Saiu para ouvir o coração dos jovens, para cultivar a nova realidade. Isto não está a funcionar? Vamos procurar ali. 

Educar é ouvir, criar cultura, celebrar

“Scholas olha através das fendas do mundo, não com a cabeça, mas com todo o corpo, para ver se através da abertura retorna outra resposta. E isto é educar. A educação ouve ou então não educa. Se não se escuta, não se educa. A educação cria cultura ou não educa. A educação ensina-nos a celebrar ou não educa.”

Alguém poderia dizer-me: “Mas como, educar não é saber as coisas?”  Não. “Isto é saber”, sublinhou o Papa. “Educar é ouvir, criar cultura, celebrar. E deste modo Scholas foi crescendo”.

Vi nas Scholas professores e estudantes japoneses dançarem com colombianos. É impossível? Eu vi isso. Vi jovens israelitas a brincar com jovens palestinos. Eu vi-os. Os estudantes haitianos pensarem com os de Dubai. As crianças moçambicanas desenhar com as de Portugal. Vi, entre Oriente e Ocidente, uma oliveira criar a cultura do encontro. 

Gratidão, sentido e beleza

O Papa concluiu, dizendo que “nesta nova crise que a humanidade está a enfrentar hoje, onde a cultura demonstrou que perdeu a sua vitalidade” ele deseja “comemorar o facto de que Scholas, como comunidade que educa, como uma intuição que cresce, abre as portas da Universidade do Sentido. Porque educar é procurar e ensinar o sentido das coisas”.

“Nunca se esqueçam destas três palavras: gratidão, sentido e beleza. Elas podem parecer inúteis, sobretudo hoje. Quem cria uma empresa procurando gratidão, sentido e beleza? Não produz, não produz. No entanto, dessas coisas que parecem inúteis dependem toda a humanidade, o futuro.”

VN

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