Papa Paolo VI na celebração de Corpus Christi, de 1968
(@Vatican Media)
Um milagre
comovente induziu um Papa do século XIII a instituir a Solenidade de
Corpus Christi à luz do dogma da Transubstanciação. Vamos ver como esta
festa se desenvolveu no magistério dos pontífices dos últimos decénios.
Laura De Luca - Vatican News
1263. Um sacerdote da Boémia, em peregrinação em direção a Roma,
rezou a missa em Bolsena, cidade italiana próxima de Orvieto. Enquanto
partia a hóstia, aflito pela dúvida sobre a presença real de Cristo
naquele disquinho de farinha. Improvisamente, da hóstia saíram algumas
gotas de sangue que mancham o corporal de tecido e algumas pedras do
altar.
Já em 2015, no Quarto Concílio de Latrão, a Transubstanciação
transformava-se em dogma da fé. Mas, depois do milagre do corporal, O Papa
Urbano IV dediciu estender a toda a Igreja a Solenidade de Corpus
Christi com a bula Transiturus, de 1264, colocando a festa na
quinta-feira a seguir ao primeiro domingo depois de Pentecostes.
“Queridos irmãos e irmãs! A festa do Corpus Christi é inseparável da
Quinta-Feira Santa, da Missa in Caena Domini, na qual se celebra
solenemente a instituição da Eucaristia. Enquanto na tarde de
Quinta-Feira Santa revive-se o mistério de Cristo que se oferece a nós
no pão partido e no vinho derramado, hoje, na celebração do Corpus
Christi, este mesmo mistério é proposto à adoração e à meditação do Povo
de Deus, e o Santíssimo Sacramento é levado em procissão pelas estradas
das cidades e das aldeias, para manifestar que Cristo ressuscitado
caminha no meio de nós e nos guia para o Reino do céu. O que Jesus nos
doou na intimidade do Cenáculo, hoje manifestamo-lo abertamente, porque o
amor de Cristo não está destinado a alguns, mas a todos.”
“Tudo parte do coração de Cristo, que na Útima Ceia, na vigília da
sua paixão, agradeceu e louvou a Deus e, deste modo, com o poder do seu
amor, transformou o sentido da morte que se estava a aproximar. O facto
que levou a que o Sacramento do altar tenha assumido o nome «Eucaristia» — «ação de
graças» — expressa precisamente isto: que a transformação da substância
do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Cristo é fruto do dom que Cristo
fez de si mesmo, dom de um amor mais forte do que a morte, Amor divino
que o fez ressuscitar dos mortos. Eis porque a Eucaristia é alimento de
vida eterna, Pão da vida.”
Assim Papa Bento XVI, na missa de Corpus Christi de 23 de junho de 2011:
no segundo decénio do século que iniciou com o dramático ato terrorista
contra as Torres Gémeas e com uma miríade de guerras esquecidas, a
presença real do corpo e do sangue torna-se na confirmação paradoxal de
um amor mais forte que a morte, de um amor que vence o pecado, todo
o pecado. Mas, no desenho de Deus, esta história começa antes da história,
inicia com o próprio homem...
"A hodierna solenidade de «Corpus Christi» convida a meditar sobre
o singular caminho que é o itinerarium salvificum de Cristo através da
história, uma história escrita desde as origens, de modo contextual, por
Deus e pelo homem. Mediante as vicissitudes humanas, a mão divina traça
a história da salvação. É um caminho que inicia no Éden
quando, após o pecado do primeiro homem, Adão, Deus intervém para
orientar a história rumo à vinda do «segundo » Adão. No Livro do Génesis
está presente o primitivo anúncio do Messias, e a partir de então, ao
longo do suceder-se das gerações, como é narrado nas páginas do Antigo
Testamento, desenrola-se o caminho dos homens rumo a Cristo. Depois,
quando na plenitude dos tempos o Filho de Deus encarnado derrama na cruz
o sangue para a nossa salvação e ressuscita dos mortos, a história
entra, por assim dizer, numa dimensão nova e definitiva: realiza-se
então a nova e eterna aliança, da qual Cristo crucificado e ressuscitado
é princípio e cumprimento. No Calvário o caminho da humanidade, segundo
os desígnios divinos, conhece a sua viragem decisiva: Cristo põe-se à
frente do novo Povo para o guiar rumo à meta definitiva. A Eucaristia,
sacramento da morte e ressurreição do Senhor, constitui o centro deste
itinerarium espiritual escatológico."
Assim se expressava João Paulo II na Solenidade de Corpus Christi de 1998, em 11 de junho.
Menos de 2 anos eo ano 2000. Já se fala de globalização e da
Eucaristia, o dom por excelência, já prometida desde o início da
história humana e inclui todos os povos, todas as pessoas, todos os
tempos. Uma globalização do amor. Essa alento universal da Solenidade de
hoje permeia, porém também as palavras de João XXIII já na vigília do
Concílio, no Corpus Christi de 21 de junho de 1962...
“Ó Jesus, alimento supra-substancial das almas, a ti vem este
imenso povo. Eles voltam a penetrar a sua humana e cristã vocação de
novo ímpeto, de virtude interior, com disponibilidade para o sacrifício, do
qual Tu deste inimitável sabedoria, verbo et exemplo, com a palavra e
com o exemplo. O nosso irmão primogénito, Tu, precedeu Jesus Cristo, os
passos de cada homem, Tu, perdoou as faltas de cada um; todos e cada um,
Tu, elevas ao mais nobre, ao mais convencido, ao mais atuante testemunho
de vida.
- Ó Jesus, panis vere, único alimento substancial das almas, reúne
todos os povos em torno da tua mesa: esta é a realidade divida sobre a
terra, é o penhor de favores celestes, é segurança das justas
compreensões entre os povos, e de competições pacíficas para o
verdadeiro progresso da civilização.
- Nutridos por Ti e de Ti, ó Jesus, os homens serão fortes na fé,
alegres na esperança, operosos nas aplicações múltiplas da caridade.”
A caridade. Se, com o dom do seu corpo e do seu sangue Deus nos amou
até perdoar os nossos pecados, este amor estende-se também na
horizontal, entre todos os homens. O sexto decénio do século XX parece
particularmente recetivo ao ideal da paz e do amor universais,
sobretudo entre as jovens gerações. 1969, o ano de Woodstock, das
contestações, da conquista da Lua que, por um momento, faz todos os
homens sentirem-se irmãos em nome da ciência... Corpus Christi de 5 de junho: eis como fala um Papa naqueles anos efervescentes e difíceis:
“Comunhão com Cristo, então, a Eucaristia, como sacramento e como
sacrifício: mas também comunhão entre nós, irmãos, com a comunidade, com
a Igreja: e é ainda a Revelação de nos dizer, com as palavras de Paulo:
‘pois nós, embora muitos, somos um só pão, um só corpo; porque todos
participamos do mesmo pão’ (1Cor. 10, m). O Concílio Ecuménico
Vaticano II colocou profundamente à luz desta realidade, quando chamou a
Eucaristia “convento de comunhão fraterna’ (Gaudium et spes, 38).”
As vozes dos papas. O Corpus Christi. A verdadeira presença do corpo
de Cristo na hóstia consagrada, sobre a qual giravam as dúvidas do
sacerdote da Boémia, testemunha do milagre de Bolsena, é a confirmação
da vitalidade do amor cristão, das obras de caridade inspiradas na
Eucaristia. Neste sentido, as palavras de Papa Pio XII na sua mensagem
na rádio, no final do Congresso Eucarístico de Assis, em 9 de setembro
de 1951. Na metade do século passado, tinha a ânsia da transmissão
depois da tragédia da guerra, mas a força de “exaltar pela fé do humilde
crente o dom inestimável da Eucaristia”:
“O dom é Ele mesmo – Jesus Cristo – pessoalmente presente para
realizar em nós, se seguirmos o Seu amor, as maravilhas da vida cristã,
de uma vida, isto é, que ordenada segundo o Evangelho, mantém
fervorosamente nos seus, também nos tépidos filhos, a estima da virtude,
a consciência do bem e do mal e impede de serem definitivamente
esmagados pela avalanche de erros e de corrupção, que dominam o mundo.”
VN
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