(RV) 17
de fevereiro, último dia do Papa Francisco no México. O Santo Padre
celebrou Missa no espaço da Feira de Ciudad Juarez no norte do país num
altar montado a 80 metros da fronteira internacional entre o México e os
EUA. Mais de 200 mil pessoas participaram na Eucaristia. Na sua homilia
o Papa lembrou as vítimas da migração forçada, da violência, da droga e
do tráfico humano.
Numa cidade que há cinco anos atrás foi catalogada como uma das mais
perigosas do planeta devido à guerra entre os cartéis da droga, o Papa
Francisco começou por citar, na sua homilia, o texto bíblico que
apresentava a cidade de Ninive, “uma grande cidade que se estava auto
destruindo em consequência da opressão e degradação, da violência e
injustiça” – recordou o Papa. Ninive tinha “os dias contados, pois não
era mais tolerável a violência nela gerada”.
Mas o Senhor enviou Jonas, o seu mensageiro, que ajuda os habitantes
da cidade a compreenderem que com a sua forma de “comportar-se,
regular-se, organizar-se, a única coisa que estão a gerar é morte e
destruição, sofrimento e opressão”- disse o Papa:
”Por isso, Jonas parte; Deus envia-o para pôr em evidência o que
estava a acontecer; envia-o para despertar um povo inebriado de si
mesmo”.
“Neste texto” – continuou o Santo Padre – “encontramo-nos perante o
mistério da misericórdia divina”. A misericórdia “aproxima-se de cada
situação para a transformar a partir de dentro. Isto é precisamente o
mistério da misericórdia divina: aproxima-se e convida à conversão,
convida ao arrependimento; convida a ver o dano que está a ser causado a
todos os níveis.”
“A misericórdia sempre entra no mal para o transformar” – afirmou o Papa Francisco:
“Há sempre a possibilidade de mudar, estamos a tempo de reagir e
transformar, modificar e alterar, converter aquilo que nos está a
destruir como povo, o que nos está a degradar como humanidade.”
O apelo de Jonas foi ouvido em Ninive e os homens e mulheres foram
capazes de se arrepender e chorar. E “as lágrimas podem abrir o caminho à
transformação” – disse o Papa implorando o dom das lágrimas, o dom da
conversão também ali em Ciudad Juarez:
“Aqui em Ciudad Juarez, como noutras áreas fronteiriças,
concentram-se milhares de migrantes da América Central e doutros países,
sem esquecer tantos mexicanos que procuram também passar para ‘o outro
lado’. Uma passagem, um caminho carregado de injustiças terríveis:
escravizados, sequestrados, objetos de extorsão, muitos irmãos nossos
acabam vítimas do tráfico humano.”
O Santo Padre referiu-se à “crise humanitária que, nos últimos anos,
levou à migração de milhares de pessoas”. “São irmãos e irmãs que
partem, forçados pela pobreza e a violência, pelo narcotráfico e o crime
organizado. No meio de tantas lacunas legais, estende-se uma rede que
apanha e destrói sempre os mais pobres. À pobreza que já sofrem, vem
juntar-se o sofrimento destas formas de violência” – declarou o Papa que
lembrou o sofrimento dos jovens que “tentam sair da espiral de
violência e do inferno das drogas” e também “as mulheres a quem tiraram
injustamente a vida”.
Por tudo isto, o Papa Francisco pediu a Deus o dom da conversão:
“Peçamos ao nosso Deus, o dom da conversão, o dom das lágrimas.
Peçamos-Lhe a graça de ter o coração aberto, como os Ninivitas, ao seu
apelo no rosto sofredor de tantos homens e mulheres. Não mais morte nem
exploração! Há sempre tempo para mudar, há sempre uma via de saída e uma
oportunidade, é sempre tempo para implorar a misericórdia do Pai.”
Em Ciudad Juarez a mudança já começou nos últimos anos e as taxas de
criminalidade baixaram significativamente. O Papa Francisco a isso se
referiu lembrando o trabalho de “muitas organizações da sociedade civil
em favor dos direitos dos migrantes e do trabalho generoso de muitas
irmãs religiosas, de religiosos e sacerdotes, de leigos votados ao
acompanhamento e à defesa da vida”.
No final da sua homilia o Papa Francisco saudou em particular todos
os fiéis que acompanhavam a celebração desde a diocese norte-americana
de El Paso.
(RS)
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