(RV) “As perguntas
mais difíceis a mim não foram feitas nas provas com os professores, e
sim aquelas que me fizeram as crianças” – foi o que disse o Papa
Francisco ao receber crianças e organizadores do livro “O Amor antes do
Mundo”, lançado nesta quinta-feira, dia 25 de fevereiro em Itália.
Um documento multicultural que reflete as ideias de crianças de todos
os continentes. Elas escreveram cartas com perguntas ao Papa, que as
respondeu. As respostas do Papa foram recolhidas pelo jesuíta Antonio
Spadaro e o conteúdo final foi compilado pela editora Loyola Press, da
Companhia de Jesus dos EUA.
“Responder, às vezes, à pergunta de uma criança, pode nos colocar em
dificuldade, porque a criança tem algo que vê o essencial e o pergunta
diretamente, e isso produz um efeito de maturação interior em quem
escuta a pergunta. Ou seja, as crianças fazem os adultos amadurecer com
suas perguntas”, disse ainda o Pontífice.
“Faço-me a pergunta que já se fazia o grande Dostoievsky: ‘Por que as
crianças sofrem?’. E lhes asseguro que eu, o Papa, aquele que parece
que sabe tudo e que tem todo o poder, não sei responder a esta pergunta.
A única coisa que me ilumina é olhar esta Cruz, ver por que sofreu
Jesus, a única resposta que encontro”.
E concluiu com um pedido: “Minha mensagem aos adultos é que estejam
próximos das crianças que sofrem, e que ensinem às crianças a estarem
próximas daquelas que sofrem”. (RB)
Publicamos a íntegra de algumas respostas do Papa às perguntas das crianças feitas durante o encontro nesta quinta-feira:
Qual é o aspeto favorito em ser Papa?
Papa Francisco: Eu disse que as crianças fazem as perguntas mais
difíceis de se responder. Estar com as pessoas, gosto muito de estar
próximo às pessoas, porque estás com um idoso, com uma criança, com
jovens e adultos. E cada um deles te ensina alguma coisa da vida e te
faz viver a vida, e assim nos relacionamos com as pessoas. Sempre que
estou com as pessoas aprendo algo, sempre. E isso é muito importante,
também para a vida. Quando me encontro com uma pessoas, posso me
perguntar: O que esta pessoa tem de bom? O que de bonito me ensinou? Ou,
O que não gostei e que não tem que ser feito, ou mudar? Agora vou fazer
uma pergunta para todos: O que é melhor, estar com as pessoas ou estar
separado delas: (R: Próximos). Por isso, repito uma palavra que disse
outro dia: Para ser feliz na vida é preciso fazer pontes com as outras
pessoas.
Se não fosses Papa quem queria ser e porque?
Papa Francisco: Digo a verdade? Quanto tinha a sua idade, sem mais ou
menos, a tua. Quando tinha a tua idade ia com a minha mãe ou com a
minha avó ao mercado para comprar as coisas. Naquela época não existia o
supermercado e sim o mercado de rua, a feira, onde havia o lugar para a
verdura, para as frutas, para a carne. Eu gostava de ver como o
açougueiro cortava a carte, com qual arte. Então, disse que queria ser
açougueiro, depois estudei química, mas esta foi a primeira vocação.
Qual o Santo que mais admiras?
Papa Francisco: Tenho vários santos amigos, não sei a qual admiro
mais, mas sou amigo de Santa Terezinha do Menino Jesus, sou amigo de
Santo Inácio, sou amigo de São Francisco – eu não sei se eles são meus
amigos – e admiro cada qual por alguma coisa, mas diria que são os três,
talvez, que mais me chegam ao coração.
Como é ser Papa?
Papa Francisco: Me sinto tranquilo e Deus me deu a graça de não
perder a paz, esta é uma graça de Deus. E sinto que estou terminando a
minha vida assim, com muita paz. Me sinto bem por isso, porque sinto
que Deus me dá paz. E também me dá alegria, por exemplo, este encontro
com vocês me traz muita alegria. Quando o padre Spadaro me contou sobre
isso, de convidar as crianças aqui, eu disse: “Estás louco”. Este
encontro, porém, tem um grande significado, porque se fez uma ponte com
cada um de vocês.
O que lhe inspirou a se tornar Papa?
Papa Francisco: Ao meu lado estava um grande amigo, um brasileiro,
que hoje tem mais de oitenta anos, o cardeal Hummes, e quando viu que
poderia sair a eleição neste sentido, ele me disse: Não te preocupes,
assim age o Espírito Santo. Depois, quando fui eleito, ele mesmo me
abraçou e me disse: Não te esqueças dos pobres. Então, este meu amigo
colocou diante de mim duas personagens: o Espírito Santo e os pobres.
Então, isso me moveu a aceitar e a colocar-me o nome de Francisco.
Que amor provas por Jesus Cristo, por Deus?
Papa Francisco: Eu não sei se amo verdadeiramente Jesus Cristo,
procuro amá-Lo, mas não tenho certeza se Ele me ama, disto não tenho
certeza.
Antes de ser Papa eras tão religioso como és agora?
Papa Francisco: Bom, eu sou idoso, tenho 80 anos, no final do ano. A
vida de uma pessoas não é assim sempre, a vida de uma pessoa, é assim:
existem momentos de alegria e existem momentos em que estás para baixo,
existem momentos de grande amor a Jesus e aos companheiros, e a todas as
pessoas, e existem momentos em que o amor às pessoas não existe e tu és
um pouco traidor do amor de Jesus, existem momentos que te parece de
ser mais santo e outros momentos em que tu és mais pecador. Mas minha
vida é assim. Não te assustes se viveres um momento feio, não te
assustes se pecares, o amor de Jesus é maior que tudo isso, vá até Ele, e
deixa-te abraças por Ele. Entendes?
Qual é sua idade?
Papa Francisco: Tenho 79, e em dezembro, 80, não 100, como disse esse mentiroso. (Risos. Refere-se ao intérprete).
É difícil ser Papa?
Papa Francisco: É fácil e é difícil, como a vida de qualquer pessoa. É
fácil porque tens muita gente que te ajuda. Por exemplo, vocês, me
estão ajudando agora, porque meu coração está mais feliz e vou poder
trabalhar melhor e fazer coisas melhores. E existem momentos difíceis
porque as dificuldades existem em todos os trabalhos. Há as duas
coisas.
Porque te chamaste Francisco?
Papa Francisco: Chamei-me Francisco porque este cardeal brasileiro
que estava ao meu lado, quando fui eleito, me abraçou e me disse: Não te
esqueças dos pobres. E comecei a refletir naquele momento que tive:
pobres, pobres e São Francisco de Assis. E aí escolhi o nome.
Porque vives em Roma e não em outro lugar?
Papa Francisco: Porque o Papa é o Bispo de Roma. Então, o Papa é Papa
porque é o Bispo de Roma. Primeiro é Bispo de Roma, e porque é o Bispo
de Roma, é o Papa. Mas o principal, o primeiro é ser Bispo de Roma.
Quantas vezes reza por dia e como?
Papa Francisco: Rezo, pela manhã, quando me levanto, o livro de
orações que rezam todos os sacerdotes, que se chama “Breviário”. Depois,
rezo quando celebro a missa. Depois rezo o Terço. E lhes aconselho que
levem sempre um Terço com vocês, eu o carrego no bolso, depois vou lhes
mostrar outra coisa. Depois, à tarde, faço Adoração do Santíssimo
Sacramento. Estes são os momentos formais, mas eu gosto de rezar pelas
pessoas que encontro, gosto disso. Lhes mostrei o Terço que tenho no
bolso, e vou lhes dar um para cara, para que o tenham. Mas também trago
no bolso – e vocês do Quênia, de Nairóbi, se lembram disso – uma
Via-Sacra, que é o caminho da Cruz de Jesus, e quando vejo tudo o que
Jesus sofreu, por mim e por todos nós, porque gosta muito de nós, isso
me leva a ser melhor e menos ruim.
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