(RV) O
Papa Francisco concluiu nesta quarta-feira dia 17 de fevereiro, com a
Santa Missa em Ciudad Juárez, a sua 12ª Viagem Apostólica internacional
que o levou ao México.
Foram seis dias intensos que certamente marcarão a história deste
país e do seu povo, como também certamente deixaram marcas profundas no
coração do “missionário da misericórdia e da paz”.
O enviado especial da Rádio Vaticano, o nosso colega do programa
brasileiro Silvonei José, realizou uma síntese dos principais momentos
desta visita que aqui publicamos:
“Pelas ruas de Cidade do México, de Ecatepec, pelas estradas de
Chiapas, Michoacán, Chiuhauhua, Francisco recebeu o amor e o carinho de
tantas pessoas que passaram horas nas calçadas para, saudar e por um
momento ver o “peregrino” que veio confirmá-los na fé. Entusiamos que se
misturaram com os gritos de viva o Papa, "bienvenido" Santo Padre.
O México se transformou com a chegada do Papa. Foram tantos os
momentos vividos intensamente nestes dias, mas todos partem do desejo do
encontro de Francisco com a “Morenita”, Nossa Senhora de Guadalupe.
A Santa Missa na Basílica de Guadalupe e depois os momentos de
silêncio de Bergoglio diante da imagem, retratam a profundidade
espiritual dessa viagem, onde o Vigário de Cristo fez com que um país
inteiro parasse com ele diante da “Mãe mexicana”. Foram 28 minutos
inesquecíveis de silêncio e oração.
Nestes dias Francisco fez discursos fortes contra a corrupção, os
privilégios, pediu um futuro rico de esperança, com homens honestos e
justos, que defendam o bem comum. Também declarou que o narcotráfico é
uma metástase que devora.
Já no encontro com as autoridades, a sociedade civil e o Corpo
diplomático acreditado no país, o primeiro da sua viagem, o Papa disse
que era motivo de alegria poder pisar esta terra mexicana.
Já naquele encontro falou dos jovens, maior riqueza do México,
preanunciando o grande encontro de Morelia. Francisco reiterou: “Penso e
ouso dizer que, hoje, a principal riqueza do México tem um rosto jovem;
sim, são os seus jovens. Em Morelia pediu aos jovens que não se deixem
desvalorizar, excluir, ser tratados como mercadoria. “É mentira que a
única forma de viver, de poder ser jovem, é deixando a vida nas mãos do
narcotráfico”. “Jesus nunca convidaria você a ser sicário”, disse o Papa
aos jovens.
Ainda no início da sua viagem o Papa Francisco se encontrou com o
episcopado mexicano. Num discurso, longo, muito articulado e duro, pediu
coragem para enfrentar a chaga do tráfico de drogas.
“Peço que vocês não subestimem o desafio ético e anticívico que o
narcotráfico representa para a sociedade mexicana inteira, incluindo a
Igreja”.
Afirmando que “não há necessidade de ‘príncipes’, mas de uma
comunidade de testemunhas do Senhor na qual Cristo é a sua única luz, o
Papa exortou os bispos mexicanos a conservarem a comunhão e unidade
entre eles.
Em Ecatepec, na missa campal Francisco clamou que os mexicanos façam
de seu país uma terra de oportunidades, onde “não haja necessidade de
emigrar para sonhar” e onde não haja risco de cair nas mãos do que
chamou de “traficantes de morte”.
Visitou também o Hospital pediátrico Federico Gomez, um centro de
excelência na Cidade do México, voltado ao atendimento das crianças mais
pobres do país. Ali diante das crianças doentes, cunhou mais uma das
suas expressões “carinhoterapia”, o carinho como forma de terapia e as
palavras “bendizer e agradecer”. O Papa dando uma vacina a uma criança
pela boca deu início à campanha nacional contra a poliomelite.
Depois Chiapas e Morelia. San Cristobal de Las Casas foi o lugar do
discurso do pedido de perdão aos povos indígenas que por séculos
sofreram humilhações e marginalizações. No meio da multidão indígena um
grito se escutou forte, “temos um Papa ao lado dos pobres”. Na missa,
pela primeira vez oficialmente, os idiomas locais choles, tzotzil..
foram sentidos.
A família também esteve no centro dos encontros e pensamentos do
Papa. Em Tuxtla Gutiérrez disse que “a precariedade ameaça não só o
estômago (o que é já muito!), mas pode ameaçar também a alma, pode
insinuar-se em nós sem nos darmos conta: é a precariedade que nasce da
solidão e do isolamento; e o isolamento é sempre um mau conselheiro”.
“Prefiro uma família que procura uma vez e outra recomeçar a uma
sociedade narcisista e obcecada com o luxo e o conforto. Prefiro uma
família com o rosto cansado pelos sacrifícios aos rostos embelezados que
nada entendem de ternura e compaixão”.
E repetiu: o casal pode lançar pratos um contra o outro, mas é importante terminar o dia em paz.
Na missa em Morelia o Papa Francisco convidou os sacerdotes,
religiosos, religiosas, consagrados e seminaristas a não se deixarem
cair na tentação da resignação diante da violência.
Enfim, Ciudad Juárez. No norte do país, numa “missa binacional” pôde
apalpar a problemática da migração, de crimes e do tráfico de pessoas.
Antes encontrou-se com os detentos do Centro de Readaptação Social
N.3. Ali o Papa recordou “que as prisões são um sintoma de como estamos
na sociedade,quem sofreu o máximo da amargura a ponto de poder afirmar
que “experimentou o inferno”, pode tornar-se um profeta na sociedade.
Depois o encontro com o mundo do trabalho quando Francisco convidou
todos a sonhar o México, a construir o México que os seus filhos
merecem, recordou duas palavras, diálogo e encontro.
O último momento em terras mexicanas foi a Santa Missa. Mas antes da
missa o Papa sob uma cruz no Rio Bravo na fronteira com os Estados
Unidos, circundado por velhos sapatos e sandálias que simbolizam o drama
da imigração, para rezar pelos migrantes mortos na tentativa de superar
a fronteira, pelos imigrantes que se encontram nos Estados Unidos, na
prisão ou que sofrem prisões de massa.
Na sua homilia durante a missa o Papa implorou no Ano da Misericórdia o dom das lágrimas, o dom da conversão.
Ciudad Juárez, como outras áreas fronteiriças “é uma passagem, um
caminho carregado de injustiças terríveis: escravizados, sequestrados,
objectos de extorsão, muitos irmãos nossos acabam vítimas do tráfico
humano”.
Esta crise que se pode medir em números, - disse o Papa - queremos
medi-la por nomes, por histórias, por famílias. São irmãos e irmãs que
partem, forçados pela pobreza e a violência, pelo narcotráfico e o crime
organizado. À pobreza que já sofrem, vem juntar-se o sofrimento destas
formas de violência. Uma injustiça que se radicaliza ainda mais contra
os jovens: como “carne de canhão”, eles vêem-se perseguidos e ameaçados
quando tentam sair da espiral de violência e do inferno das drogas.
“É tempo de conversão, é tempo de salvação, é tempo de misericórdia”.
Os encontros de Francisco com os mexicanos foram verdadeiros momentos
de festa. Mais de 41 milhões de mexicanos seguiram o Papa através da
televisão.
Francisco tocou lugares emblemáticos de males nacionais e ao mesmo
tempo manteve um confronto com problemas que dizem respeito diretamente
ao povo e ao seu desânimo em relação à justiça, às instituições e à
própria convivência. As palavras de Francisco ajudarão como bálsamo para
o desânimo? Despertará novos impulsos em uma sociedade que procura
crescer em todos os setores? A resposta dos mexicanos virá com o tempo. A
palavra é esperança. Francisco arrematou: “A noite pode parecer-nos
enorme e muito escura, mas, nestes dias, pude constatar que, no povo
mexicano, há tantas luzes que anunciam esperança”.
Os mexicanos esperavam muito desta visita de Francisco. Esperavam
suas palavras e gestos. Certamente o “Papa latino-americano” não os
dececionou.”
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