(RV) Nesta
terça-feira 16 de Fevereiro, 4º dia da visita do Papa aos Estados Unidos
do México, Francisco partiu por volta das 7.30 da manhã da Cidade do
México para o Estado de Michoácan, a 210km da capital do país. Depois de
55’ de voo, chegou a Morélia, principal cidade do Estado de Michoacan,
cidade que, tal como o Chiapas, tem uma prevalência de população
indígena.
Situada na parte central do país a cerca de dois mil metros de
altitude, Morélia tem 600 mil habitantes. Michoácan, que em língua
indígena, significa lugar de muitos peixes, tem de facto muitos lagos e
paisagem verdejante na parte norte, enquanto que a parte sul é mais
árida e quente. E é considerada uma zona quente também do ponto de vista
social, com muita marginalização e uma forte presença de
narcotraficantes. O seu Porto é um ponto de passagem da droga que chega
do resto da América Latina e da Ásia.
A Arquidiocese de Morélia foi criada em 1536, mas hoje a sua acção é
bastante difícil, cautelosa, quase silenciosa nesse difícil contexto
social de Michoácan, como de resto em várias outras partes do México. E
será, talvez, por isso, que o Papa, na sua homilia da Missa com
Sacerdotes, Religiosos, Religiosas e seminaristas convidou a não cederem
à tentação de se resignar e a revisitarem a memória histórica do país,
e tal como São Paulo a sentirem o dever de evangelizar, de aprender a
rezar, de modo particular, o Pai Nosso, a oração através da qual Cristo
quis introduzir os seus na Sua vida.
“Aprende-se
a rezar como se aprende a caminhar, a falar, a escutar. A escola da
oração é a escola da vida, e a escola da vida é o lugar onde fazemos
escola de oração”
Seguindo o exemplo de Jesus que soube viver rezando e rezar vivendo,
ao dizer Pai Nosso, Abá, Pai… o Papa convidou os sacerdotes, consagrados
e seminaristas a rezar, a sentirem vivamente o desejo, a obrigação, de
partilhar com os outros a Palavra de Deus. E recordou-lhes que não são
funcionários do divino, empregados de Deus. São sim, pessoas convidadas
encerrar-se no coração de Cristo, um coração que reza e vive dizendo:
Pai Nosso. “Em que consiste a missão, senão em dizer com a nossa vida:
Pai Nosso?” – perguntou Francisco.
É a este Pai Nosso, continuou, que nos dirigimos todos os dias
pedindo para não nos deixar cair em tentação. E a tentação maior em
ambientes dominados pela violência, corrupção, trafico de drogas,
desprezo pela dignidade da pessoa, indiferença perante o sofrimento e a
precariedade, perante um sistema que parece irremovível – disse o Papa –
é a resignação:
“À vista desta realidade, pode vencer-nos uma das armas
preferidas do demónio: a resignação. Uma resignação que nos paralisa e
impede não só de caminhar, mas também de abrir caminho; uma resignação
que não só nos atemoriza, mas também nos entrincheira nas nossas
«sacristias» e seguranças aparentes; uma resignação que não só nos
impede de anunciar, mas impede-nos também de louvar; uma resignação que
nos impede não só de projectar, mas também de arriscar e transformar”
Então há que pedir ao Pai Nosso para não nos deixar cair em tentação –
prosseguiu o Papa, recomendando também a recorrer à memória. E a este
respeito recordou uma das figuras históricas da evangelização de
Michoácan, Vasco Vasquez Quiroga, um espanhol que se fez índio, pela
forma como agia e tratava os índios no século XVI. Ele descrevia a
realidade dos índios Purhépechas como “vendidos, vexados e errando pelos
mercados a recolher os restos que se deitavam fora”. Mas longe de cair
na tentação da resignação, Vasquez deixou-se mover pela fé, pela
compaixão, e isto estimulou-o a realizar iniciativas que permitissem
“respirar” no meio dessa realidade tão paralisante e injusta.
“A amargura do sofrimento dos seus irmãos fez-se oração e
oração fez-se resposta concreta. Isto valeu-lhe, entre os índios, o nome
de “Tata Vasco” que na língua purhepechas, significa Papá."
E o Papa concluiu com estas palavras:
“Pai, Papá, Abbá, não nos deixeis cair na tentação da
resignação, não nos deixeis cair na tentação da perda da memória, não
nos deixeis cair na tentação de nos esquecermos dos nossos maiores que
nos ensinaram, com a sua vida, a dizer: Pai Nosso”.
(DA)
Sem comentários:
Enviar um comentário