E
um divórcio envolve sempre perdão, perdoar e ser perdoado se se pretende viver
a fé cristã em Igreja.
Percebemos
assim que, mesmo numa nova relação em que tudo pode correr bem, a marca do
divórcio não deixa de existir e como tal pode transportar sofrimento, revolta e
falta de compreensão, sobretudo para a vivência de uma fé alicerçada no Deus
que é amor, numa Igreja que deve transmitir continuamente esse amor de Deus.
Obviamente,
reflectimos aqui sobre aqueles que divorciados são re-casados, querendo viver a
fé cristã em Igreja e como tal são confrontados com a Doutrina da Igreja que os
impede, sobretudo de aceder à Confissão e Comunhão Eucarística.
«Deus
é amor», escreve São João na sua Primeira Carta no capítulo 4, versículo 8
Foi
Ele quem nos amou primeiro, pois sem o seu amor não poderia o homem amar, como
nos diz S. João na mesma carta 4, 19 «Nós amamos, porque Ele nos amou
primeiro.»
O
amor de Deus é o amor de inteira doação, de entrega total, pelo seu Filho Jesus
Cristo, Nosso Senhor.
Sem
este amor doação, não há relação verdadeira, pois quem ama dá-se.
O
amor perfeito é então o amor de Deus, o amor de Cristo, que se dá inteiramente
por todos e por cada um de nós.
O
nosso amor é imperfeito, porque é humanamente fraco, mas também por causa da
nossa relação com Deus, é um amor que procura a doação, a entrega, porque vindo
de Deus e por Ele abençoado.
Assim,
para o homem procurar esse amor que é todo doação, amor imprescindível ao
Matrimónio, é necessário que também o primeiro e central mandamento do
Matrimónio, seja amar a Deus sobre todas as coisas, amar a Deus mais do que à
sua mulher, ao seu marido, aos seus filhos, para que no amar primeiro a Deus, o
homem receba do amor de Deus a capacidade de se dar no amor.
Por
isso Deus tem que ser a presença constante no Matrimónio.
Tem
que ser Aquele que não só abençoa o Matrimónio, mas que o faz acontecer,
servindo-se do homem e da mulher para serem sinais visíveis da sua presença no
sacramento, melhor dizendo, serem sacramento, serem sinal da presença de Deus
na família e na sociedade.
Então
e numa nova relação daqueles que mesmo divorciados procuram Deus, daqueles que
procuram viver a fé no seu dia-a-dia em Igreja, também Deus está presente?
Claro
que Deus não pode deixar de estar presente, porque Deus ama todos os homens,
independentemente da condição de cada um, em todo e qualquer momento.
Mas
mais ainda, (se assim podemos dizer), numa relação, (mesmo que canonicamente
irregular), em que homem e mulher procuram viver o amor de Deus em família.
E
essa nova relação em que homem e mulher procuram Deus, e por isso Deus está
presente, não significa, obviamente, também, que o amor está presente?
E
se está presente o amor, que leva a procurar Deus, então não é esse amor, o
amor vindo de Deus?
E
se o amor que os une nesta nova relação é também o amor vindo de Deus, então é
o amor doação, é o amor que leva à entrega de si mesmo, de cada um ao outro,
mas que não fica confinado a eles, pois sendo amor de Deus em cada um, abre-se
também aos outros, («aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a
Deus, a quem não vê» 1 Jo 4, 20), abre-se à comunidade, ou seja, é o amor que
ama e une a Igreja, mãe e mestra.
Mas
se homem e mulher, nessa nova relação, amam com esse amor de Deus, esse amor de
Cristo, amam com doação, com entrega, então amam também com obediência, porque
a obediência faz parte do amor a Deus, a obediência em amor, de que Cristo é
testemunha perfeita, e assim amam também a Igreja e, por isso mesmo, devem amar
tudo o que a Igreja lhes diz, porque é nessa obediência que fazem a vontade de
Deus, como Cristo fez a vontade do Pai.
«Tende
entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus: Ele, que é de
condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no
entanto, esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo. Tornando-se
semelhante aos homens e sendo, ao manifestar-se, identificado como homem,
rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.» Fl
2, 5-8
Assim,
se nós Igreja, (citando mais uma vez o Papa Emérito Bento XVI na Sacramentum
Caritatis, «Os pastores, por amor da verdade, são obrigados a discernir bem as
diferentes situações, para ajudar espiritualmente e de modo adequado os fiéis
implicados.»), soubermos colocar todo o nosso empenho, toda a nossa entrega ao
Espírito Santo, saberemos ajudar aqueles que nessas novas relações como casais,
sofrem pelo afastamento da Comunhão Eucarística.
E
eles saberão, mais do que saberem, sentirão que esse amor que vivem, vindo de
Deus, é amor de doação e de entrega, sem dúvida, mas é também amor que leva à
obediência, porque só assim ele é verdadeiro amor de Deus.
Então
o acto de não comungarem eucaristicamente, é afinal um acto de imenso amor,
amor a Deus, amor ao outro, amor aos filhos, amor aos outros, amor à Igreja,
testemunha de amor verdadeiro, e afinal e ainda, um sacrifício agradável a
Deus, que não deixará de derramar as suas bênçãos e as suas graças sobre essa
família.
Compete-nos então a nós, Igreja, saber acolher, saber
compreender, saber aceitar sem condenar, saber ajudar aqueles que vivem esse
«problema pastoral espinhoso e complexo, uma verdadeira praga do ambiente
social contemporâneo que vai progressivamente corroendo os próprios ambientes
católicos» como afirma, mais uma vez, Bento XVI na Sacramentum Caritatis.
(continua)
Joaquim Mexia Alves
Nota:
Por
convite do “meu” Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, orientei no dia 7 de
Abril, uma recoleção para sacerdotes, no Santuário de Fátima.
As
coisas que Deus faz na minha vida!
Os
textos são, obviamente, algo extensos, pelo que os publicarei aqui em diversas
partes.
Série constante na faixa lateral deste blog, em:
"Pesquisa rápida" - "OS "RE-CASADOS" SÃO
IGREJA "
Sem comentários:
Enviar um comentário