19 abril, 2014

“O pecado maior de Judas foi ter duvidado da misericórdia de Jesus – o P. Cantalamessa na Celebração da Paixão presidida pelo Papa

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(RV) O Papa Francisco presidiu, na tarde desta Sexta-feira Santa, na Basílica Vaticana à celebração da Paixão do Senhor, com o rito da Adoração da Cruz, que caracteriza esta celebração. Como habitualmente nesta ocasião, a homilia foi feita pelo pregador da Casa Pontifícia, Padre Raniero Cantalamessa. O Padre capuchinho centrou a sua homilia na figura de Judas afirmando, desde logo, que este não tinha nascido traidor e não o era quando foi escolhido por Jesus mas tornou-se como tal! Estamos diante de um dos dramas mais obscuros da liberdade humana. Por que se tornou Judas num traidor?" – perguntou o Padre Cantalamessa.
Recordou ainda que durante muitos anos tentou-se dar ao gesto de Judas motivações idealistas como se Judas estivesse desapontado com a maneira com que Jesus realizou a sua ideia do "reino de Deus". Os Evangelhos falam de um motivo muito mais terra-terra – observou o Padre Cantalamessa: o dinheiro. Judas tinha a responsabilidade da bolsa comum do grupo; na ocasião da unção em Betânia tinha protestado contra o desperdício do perfume precioso derramado por Maria aos pés de Jesus, não porque se preocupasse pelos pobres, assinala S. João, mas porque “era um ladrão e, como tinha a bolsa, tirava o que se colocava lá dentro"(Jo 12, 6). A sua proposta aos chefes dos sacerdotes é explícita: “Quanto estão dispostos a dar-me, se o entregar? E eles fixaram a soma de trinta moedas de prata" (Mt 26, 15).

Mas porquê maravilhar-se desta explicação e achar que ela é banal? Não foi quase sempre assim na história e não é ainda assim hoje em dia? O dinheiro, não é um dos muitos ídolos; é o ídolo por excelência; literalmente, “o ídolo por antonomasia".

O dinheiro é o anti-Deus, porque cria um universo espiritual alternativo, muda o objeto das virtudes teologais. Fé, esperança e caridade deixam de estar colocadas em Deus, mas no dinheiro. O apego ao dinheiro é a raiz de todos os males" – afirmou o Padre Cantalamessa. É a relação com o dinheiro que está por detrás do tráfico de drogas que destrói tantas vidas humanas, a exploração da prostituição, o fenómeno das várias máfias, a corrupção política, o fabrico e comercialização de armas, e até mesmo a venda de órgãos humanos:

“E a crise financeira que o mundo atravessou e que este país ainda está atravessando, não é, em grande parte, devida à "deplorável ganância por dinheiro", o auri sacra fames, de alguns poucos? Judas começou roubando dinheiro da bolsa comum. Isso não diz nada a certos administradores do dinheiro público?”
“Mas sem pensar nesses modos criminosos de ganhar dinheiro, não será escandaloso que alguns recebam salários e pensões cem vezes maiores do que aqueles que trabalham nas suas casas, e que levantem logo a voz só com a ameaça de ter que renunciar a algo, em vista de uma maior justiça social?”
“Homens colocados em lugares de responsabilidade que já não sabiam em qual banco ou paraíso fiscal acumular os proventos da sua corrupção, acabaram no banco dos acusados, ou na cela da uma prisão, precisamente quando estavam para dizer a si próprios: ‘agora goza, alma minha’. Para quem é que o fizeram? Valia a pena? Fizeram verdadeiramente o bem dos filhos e da família, se era isto que procuravam? Ou não se terão arruinado e aos outros? O deus do dinheiro encarrega-se de punir ele próprio os seus adoradores.”

A traição de Jesus continua na história. Mas seria demasiado fácil pensar só nos casos clamorosos ou nos gestos feitos por outros. O padre Cantalamessa fez exemplos concretos:

“Trai Cristo quem trai a própria mulher ou o próprio marido. Trai Jesus o ministro de Deus infiel à sua condição que em vez de pastorear o seu rebanho pastoreia-se a si próprio. Trai Jesus quem quer que traia a sua própria consciência.”

Judas depois de ter reconhecido de ter entregue sangue inocente enforcou-se. Qual terá sido o seu destino eterno – perguntou-se o Padre Cantalamessa – convidando a não darmos um juízo apressado. Jesus nunca abandonou Judas – sublinhou – e ninguém sabe onde é que ele caiu quando se lançou da árvore com a corda ao pescoço. Como Jesus procurou o rosto de Pedro depois da sua negação para dar-lhe o perdão, quem sabe como terá procurado também a face de Judas em qualquer curva da sua via sacra! – observou o Padre Cantalamessa que concluiu a sua homilia afirmando que Pedro teve confiança na misericórdia de Cristo e Judas não! O seu grande pecado não foi trair Jesus mas duvidar da sua misericórdia:

“Existe um sacramento no qual é possível fazer uma experiência segura da misericórdia de Cristo: o sacramento da reconciliação. Como é belo este sacramento! É doce experimentar Jesus como Mestre, como Senhor, mas ainda mais doce experimentá-lo como Redentor: como aquele que te tira para fora do abismo, como Pedro no mar, que te toca, como fez com o leproso e te diz: Quero-o, sejas purificado.” (RS)

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