10 outubro, 2010

3-8: REZAR? Mas eu não sei…

Série: "Oração e Vida"

Quantas vezes nos aparecem pessoas a lamentar-se que não sabem rezar, que querem aprender, que desejam rezar melhor, que desejam outros métodos e modos de oração.
Claro que sabem rezar fórmulas, rezar orações que aprenderam de cor, mas querem mais, querem caminhar na vida de oração, nos caminhos da vida interior. Sentem que não sabem meditar, contemplar, passar uma hora nem adoração silenciosa diante de Jesus Eucaristia, etc. Mas não sabem, nunca ninguém lhes ensinou. 
E daqui nascem certos equívocos.
O primeiro é convencer-nos que não há receitas para aprender a rezar. Podes ler um livro sobre oração, participar num curso, ter sessões de vida orante, mas se tu não te dispões a rezar, na certeza que se aprende a rezar, rezando, como se aprende a nadar, nadando ou a comer, comendo.
É o exercício da oração começado mil vezes e mil vezes repetido é que é a escola da oração. Só se aprende a rezar, rezando, fazendo esforço e treino espiritual. Não pretender receitas, fórmulas mágicas, ensinamentos que façam rezar sem exercício e sem esforço nosso, pessoal. E como, dizia Tony de Melo, a grande arte para aprender a rezar é pedir, suplicar milhares de vezes esse dom gratuito de Deus, pois só o Senhor e o seu Espírito nos podem ensinar a orar. Pedir, suplicar, insistir na súplica, pedir sem cessar, sem se cansar. 
Outro equívoco de muita gente, é pensar que a oração é algo de sensível, tem de ser algo fervoroso, algo de consolação, de enlevo “místico” e como não sentem, não têm essa graça, pois isso é graça que só Deus pode dar, pensam que já não rezam, que não sabem rezar.
A oração mais que consolação sensível é algo que pertence ao mundo da fé e não do sentimento, da vontade e não da sensibilidade. Daí que se pode rezar muito bem sem sentir nada, vivendo uma oração na fé e na vontade determinada de a fazer, mesmo sem sensibilidade, sem consolação, sem fervor.
 Reza, lança-te na vida de oração, não queiras sentimentos e não meças a oração pela consolação, pelo fervor. Repetimos: este é graça, dada de graça, quando Deus quer e a quem Ele quer. Entrega ao Senhor esse desejo e Ele, na sua infinita Providência fará o que muito bem entender. A ti compete-te rezar, fazer esforço, repetir sem cessar o desejo de orar, a súplica para uma boa e cuidadosa oração. O resto é com Deus e não contigo. 
A pura e simples leitura, mesmo que seja da Sagrada Escritura ou de algum bom livro de oração, porventura escrito por algum místico, não chega a ser oração. Esta exige paragem na leitura, exige reflexão, exige diálogo.
 Ler e rezar não são a mesma coisa, mesmo que a leitura seja muito boa e formativa, espiritual. Uma leitura desta pode conduzir à oração, pode lançar-nos na oração, mas, por si mesma não é ainda oração. Outra coisa é uma leitura meditada, com paragens para a interiorizarão e para o diálogo.  
Por outro lado, um perigo enorme na vida da oração é reduzi-la ao monólogo e ao caminhar para o diálogo com o Senhor.
Sem diálogo, de lábios, de coração, de afecto, de entendimento, não há oração. O monólogo fecha-nos em nós mesmos e não nos lança para a comunhão com o Senhor. E esta é que é oração que não nos deixa ficar centrados em nós num monólogo estéril, que não nos lança para o diálogo do amor. 
Aprende-se a rezar rezando.
De tudo o que ficou dito o leitor pode já começar uma frutuosa oração, no silêncio humilde, com um diálogo que se abre a Deus, com o gosto de que o Senhor lhe ensine a arte de rezar, com a súplica humilde que deseja a oração.
Dário Pedroso, SJ
Labat n.º 69 de Fevereiro de 2007

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