10 outubro, 2010

1-8: Oração: Resposta ao Amor

Série: 'Oração e Vida'
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Deus é amor (1Jo4,8), e o amor é dom e acolhimento. Deus quer dar-Se, quer comunicar-Se, quer entrar em comunhão connosco. O amor exige alteridade, exige um “outro” a quem se dar e a quem acolher, a quem se comunicar em amor, em dom. Para Deus Pai não Lhe “basta “ o Filho Unigénito, Jesus Cristo, mas como todos somos filhos, quer dar-Se a todos e entrar em comunhão com cada um de nós, entrar em diálogo.
Deus tem um desejo infinito de entrar em diálogo com cada um de seus filhos e filhas. Quer fazer-Se ouvir pois tem muito para nos comunicar. Quer que estejamos atentos à sua Palavra, à sua voz no nosso interior, pois tem muitos segredos e mistérios a comunicar-nos.
Foi assim que Deus fez com a Abraão, em que não só o chama pelo nome, mas coloca-Se este problema: “hei-de esconder ao meu amigo Abraão aquilo que estou decidido a fazer”?
E deste diálogo, entre Deus e Abraão, nasce o dom da intercessão para que a cidade não seja destruída.
Mas o mesmo desejo de diálogo aparece também da parte de Deus em relação a Moisés. Chama, convida à intimidade, dá-lhe uma missão. Encontra-Se com Moisés, na “tenda do encontro”, lugar do diálogo e da revelação, lugar onde se cultiva a intimidade e a amizade.
Deus quer amigos, quer dialogar. Deus tem sede em entrar em comunhão com o homem, pois sabe que radica aí o nosso bem e a nossa felicidade. Daí que é urgente a nossa resposta ao amor de Deus, a nossa resposta à sede de Deus, a nossa resposta ao diálogo que Deus quer fazer connosco.
Parece uma “loucura”, mas é uma divina realidade: Deus está dependente, por amor, de nós, do nosso tempo, da nossa oração, da nossa vontade, da nossa liberdade. Não nos força, mas quer amigos com Quem possa entrar em comunhão.
Quer ter intimidade com cada um de nós, seus filhos.
Daí que nos deseja, nos procura. A oração é esta sede de Deus a nosso respeito. Como o Esposo do livro do Cântico dos Cânticos, que busca sem cessar entrar em comunhão com a sua amada.
E Jesus, mais perto de nós pela sua sacratíssima humanidade, não desejou outra coisa senão entrar em comunhão, em diálogo, com Zaqueu, com Pedro, com a Madalena. Como Bom Pastor busca as ovelhas e quer entrar em comunhão íntima com elas. Como afirma o Apocalipse, “Ele está à porta e bate” (cf. 3,20), bate para que nós, respondendo ao seu amor, abramos a porta e entremos em comunhão com Ele, o nosso Redentor, o nosso tesouro, a nossa pérola, o nosso Tudo.
Quer conquistar-nos o coração e entrar em comunhão connosco.
Rezar é a nossa resposta a este amor de Deus, a este Deus que é Amor.
É procurar responder com a escuta atenta, com o diálogo de lábios, mas sobretudo de coração.
Rezar é responder com amor à sede que Deus tem de nós.
Afinal é Ele que deseja “rezar”, entrar em diálogo, ser um connosco pelo amor que nos tem. Conscientes deste amor apaixonado de Deus por cada um de nós, cada cristão e cada cristã, começarão a ter sede de se encontrar com Deus, de entrar em comunhão com Ele, de se abrir a um diálogo mais orante.
Começamos, nós também, a ter sede de Deus. E o encontro das duas sedes é o grande início de uma oração mais pessoal, mais íntima, mais evangélica.
Jesus teve sede da Samaritana e a Samaritana começou a ter sede de Jesus a fonte da água viva sempre a jorrar.
Este encontro é a oração, é a resposta ao amor de Deus e à sua sede de nós, do nosso tempo, do nosso amor. 
Dário Pedroso SJ 
Labat n.º 67 de Dezembro de 2006

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