RV) No
âmbito da sua visita pastoral a Carpi, o Papa Francisco presidiu à Santa
Missa na Praça dos Mártires. Na homilia, centrada no último milagre de
Jesus antes da sua Páscoa, Francisco comentou as leituras que falam
sobretudo do Deus da vida, e que vence a morte.
Perante o túmulo de Lázaro – observou Francisco - tudo parece ter
acabado: sepulcro fechado por uma grande pedra e tudo à volta apenas
choro e desolação. E Jesus também se comove profundamente, fica
perturbado e chorou, pois é este o coração de Deus, explicou Francisco:
longe do mal mas próximo de quem sofre, não faz desaparecer o mal
magicamente, mas partilha o sofrimento, fá-lo seu e transforma-o
habitando-o.
Perante a desolação geral pela morte de Lázaro, diz ainda o Papa,
Jesus não se deixa levar pelo desconforto mas pede que se acredite
firmemente, não se fecha na lamentação mas se põe em caminho para o
sepulcro. E assim, no mistério do sofrimento, Jesus dá-nos o exemplo de
como nos devemos comportar: não foge do sofrimento, nem se faz
prisioneiro do pessimismo”.
Ao redor daquele túmulo, portanto, acontecem duas atitudes opostas, explica ainda Francisco:
“Por um lado está a grande decepção, a precariedade da nossa vida
mortal que, atravessada pela angústia da morte, muitas vezes experimenta
a derrota, uma escuridão interior que parece insuperável, existe,
portanto esta derrota do túmulo; mas, por outro lado, está a esperança
que vence a morte e o mal e que tem um nome: Jesus. Ele não nos traz um
pouco de bem-estar ou algum remédio para prolongar a vida, mas proclama,
"Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra,
viverá". E por isso diz: "Tirai a pedra" e a Lázaro grita bem alto: "Sai
para fora!”
Existem, portanto, aqueles que se deixam fechar na tristeza e aqueles
que se abrem à esperança, os que ficam retidos nos laços dos escombros
da vida e os que, como vós, com a ajuda de Deus, levantam os escombros e
reconstroem com paciência e esperança, disse o Papa acrescentando:
“Perante os grandes "porquês" da vida nós temos duas vias: ficar a
olhar, tristemente, os sepulcros de ontem e de hoje, ou fazer aproximar
Jesus aos nossos túmulos, porque cada um de nós tem um pequeno sepulcro,
alguma zona um pouco morta dentro do coração: uma ferida, uma ofensa
sofrida ou feita, uma amargura que não nos dá trégua, um remorso que se
repete, um pecado que não se consegue superar”.
E o Papa convidou a todos a identificar os próprios pequenos
sepulcros que temos dentro sem se deixar prisioneiros pela tentação de
permanecer sozinhos e desanimados a lamentar por aquilo que nos sucede e
repetir resignados que vai tudo mal e que nada é como era antes – que
seria a atmosfera do sepulcro. O Senhor quer pelo contrário, abrir o
caminho da vida, do encontro com Ele, da confiança n’Ele, o caminho da
ressurreição do coração.
Seguindo Jesus aprendemos a não amarrar as nossas vidas à volta dos
problemas que nos envolvem, mas encontrar uma nova estabilidade, que é o
próprio Jesus, a ressurreição e a vida:
“Com Ele a alegria habita o coração, a esperança renasce, a dor se
transforma em paz, o temor em confiança, a provação em oferta de amor.
E, mesmo que os pesos não faltem, estará sempre a sua mão que nos
levanta, a sua Palavra que nos encoraja e diz: "Sai para fora! Vem a
mim!”.
Porque também hoje, como outrora, Jesus continua a dizer-nos "tirai a
pedra." – reiterou o Papa - e por mais pesado que seja o passado, maior
o pecado, mais forte a vergonha, não esbarremos nunca a entrada ao
Senhor, disse o Papa, mas tiremos diante d’Ele a pedra que lhe impede de
entrar pois é este o momento favorável para remover o nosso pecado, o
nosso apego às vaidades mundanas, o orgulho que nos bloqueia a alma.
Peçamos a graça de ser testemunhas de vida num mundo tão sedento
dela, testemunhas que suscitam e ressuscitam a esperança de Deus nos
corações cansados e sobrecarregados pela tristeza, pois o nosso anúncio é
a alegria do Senhor vivo que também hoje nos diz: "Eis que abro os
vossos sepulcros, vos faço sair dos vossos túmulos, ó meu povo” –
concluiu Francisco.
Nom fim da celebração eucarística o Papa lançou fortes apelos para a
Colômbia, a República Democrática do Congo, a Venezuela e o Paraguai:
“Estou profundamente amargurado pela tragédia que afectou a Colômbia,
onde um gigantesco deslizamento de terra, causado por chuvas
torrenciais, se abateu sobre a cidade de Mohoa, provocando numerosos
mortos e feridos. Rezo pelas vítimas, asseguro a minha e vossa
proximidade a quantos choram o desaparecimento dos seus entes queridos. E
agradeço a todos os que se estão a empenhar a prestar socorro.
Continuam a chegar notícias de sangrentos confrontos armados na
região de Kasai, na República Democrática do Congo, confrontos que estão
causando vítimas e deslocamentos e que afectam também pessoas e
propriedades da Igreja. Asseguro a minha proximidade a esta nação, e
exorto todos a rezar pela paz, para que os corações dos artífices de
tais crimes não permaneçam escravos do ódio e da violência.
Além disso, sigo com grande atenção o que está a acontecer em
Venezuela e Paraguai. Rezo por aquelas populações, muito queridos a mim,
e convido todos a perseverar incansavelmente, evitando qualquer tipo de
violência, na busca de soluções políticas”.
Antes da oração mariana do Angelus, o Papa convidou aos presentes a
dirigir o pensamento à Virgem Maria, oferecendo-lhe as nossas alegrias,
as nossas dores e as nossas esperanças e pedindo-lhe para que lance o
seu olhar misericordioso sobre aqueles que sofrem, particularmente os
doentes, os pobres e os que estão sem um emprego digno.
E recordando o zelo apostólico de duas figuras de leigos daquelas
terras, o Beato Odoardo Focherini e a Venerável Marianna Saltini,
testemunhas da caridade de Cristo, o Papa saudou com gratidão aos fiéis
leigos presentes, encorajando-os a serem protagonistas da vida das suas
comunidades, em comunhão com os seus sacerdotes, apostando sempre no que
é essencial no anúncio e testemunho do Evangelho.
Francisco agradeceu em particular aos Bispos da Região Emilia
Romagna, pela presença, e sobretudo ao Pastor da Diocese, Dom Francesco
Cavina, exortando a estar ao lado dos seus sacerdotes com a escuta e uma
carinhosa proximidade.
Por último, Francisco agradeceu a todos e cada um dos fiéis,
sacerdotes, religiosos e religiosas, as autoridades e de modo especial
os que colaboraram na organização da visita, com um pensamento especial
para o AGESCI e o coro, formado por todos os grupos corais da diocese,
que animaram a liturgia. E terminou com um convite a confiar a nossa
vida e o destino da Igreja e do mundo a Maria, nossa Mãe.
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