Em entrevista ao DN
o cardeal-patriarca D. Manuel Clemente fala da igreja que o Papa
Francisco quer construir, do País e da Europa, referindo três católicos
que se assumiram: o Presidente da República, o secretário-geral das
Nações Unidas e o selecionador nacional.A luz entra pelo gabinete que é
seu desde há dois anos, no Mosteiro de São Vicente de Fora, e onde está
instalado o Patriarcado de Lisboa. "São Vicente de Fora, porque está
fora das antigas muralhas da cidade", explica. Das janelas, um olhar
invejável pelo rio, Alfama e Castelo. Um olhar por uma Lisboa que está a
mudar. "Nem imagina a diferença. Junto ao rio eram só contentores,
agora são barcos de cruzeiro. Aqui, em Alfama, não há uma rua que não
tenha prédios em recuperação. Tudo muda, até a população." Do outro lado
e apontando para o Castelo, conta: "Foi por este lado que se deu a
reconquista cristã", introduzindo um tema que lhe é grato, História, a
primeira de várias licenciaturas. Historiador, professor, teólogo,
sacerdote, bispo e agora cardeal-patriarca, D. Manuel Clemente, tem
obras publicadas e recebeu o Prémio Pessoa em 2009. Mas quando lhe
perguntamos se tem saudades de ser professor, responde: "Isso era o que
eu queria ser, mas dá-me ideia que cada dia tenho de ser um bocadinho."
Tal como ser patriarca "é um desafio para todos os dias." Do Papa admira
a sua presença de proximidade, se é o Papa que o mundo precisava, diz
que "todos são os adequados à sua época". Como cidadão vota em todas as
eleições, "é um dever", e assume-se torriense de nascença e de coração,
do qual é sócio do clube e "com quotas pagas". Numa tarde na semana
antes da Páscoa, D. Manuel Clemente, aos 68 anos, confessa: "O que me
preocupa mais em relação a Portugal é tudo aquilo que poderíamos ser e
ainda não somos."
O Papa Francisco fala da construção de uma Igreja do discernimento e do acolhimento. Como se constrói esta Igreja?A partir de onde estamos. Em Portugal temos uma rede de presença na sociedade que é única, foi a rede em que a própria sociedade se constituiu. Era nela que se nascia, crescia, vivia, casava e morria. No fundo, esta rede de sociabilidade é já uma tentativa de criar um porto de abrigo, material e espiritual , para toda a gente, onde se recorre e de onde parte também a motivação. Nas igrejas ouve-se o Evangelho, que dá critérios e vontade de se fazer melhor. E isso é muito importante. Nem imagino o que seria se acabasse esta rede, se de repente não houvesse missa dominical, onde ainda vai quase um quarto da população portuguesa. Faltava-nos a última hipótese de nos encontrarmos, novos e velhos, crianças e adultos, gente de cá e de fora, de várias condições sociais e estatutos. Não há nada assim e é preciso manter esta rede. Não manter por manter, mas manter positivamente a habitualidade de convívio e, ao mesmo tempo, de recolhimento. Esta rede é um enorme feito para a Igreja portuguesa, para os seus ministros, servidores, mais de três mil, que a garantem. Mas a figura do Papa Francisco - que tem tanta vontade de estar com as pessoas, de acolher cada um como se parasse o tempo e acabasse o mundo - dá-nos mais estímulo para fazer mais. Se há algo de que o mundo precisa é de presenças assim, que estejam realmente presentes.
É isso que se quer dos católicos?É o que mais me desafia: onde esteja, esteja. Não é estar já a pensar onde vou a seguir, a precipitar as coisas.
O Papa tem pedido aos sacerdotes que pensem e depois decidam nas situações com que a igreja tem mais dificuldade em lidar - divorciados, recasados, homossexualidade. O que é preciso fazer para acolher estas pessoas?Antes de mais acolhê-las como pessoas, porque antes de serem um divorciado, um recasado ou um homossexual são uma pessoa. Esta tónica é fundamental, é o que acontecia com Jesus Cristo. Há o famoso caso em que Lhe levam uma mulher apanhada em adultério, a atiram aos Seus pés e Lhe dizem: "Olha que a nossa lei diz que deve ser apedrejada até à morte, matá-las quando são apanhadas em flagrante. E tu o que dizes? "Enquanto falavam, Jesus escrevia no chão. Depois disse-lhes: "Muito bem, quem estiver sem pecado que atire a primeira pedra." Ninguém atirou, mas a conversa acaba com um diálogo que é uma proposta de diferença: "Ninguém te condenou, eu não te condeno, vai mas não tornes a pecar." Esta volta final é o acolhimento maior, que segundo Jesus é a vontade de Deus. E se queremos ser discípulos de Jesus temos de ter esta dupla intenção: 1.º Se é uma pessoa que está diante de ti, essa pessoa vale tudo aos olhos de Deus; 2. º Deus não deixa de lhe propor o melhor, é o que temos de fazer.
Mas como?Para já, evitando as situações de rutura familiar, preparando melhor as famílias que formamos, uma preparação logo de criança para que não se habituem a viver em função de si próprios, porque se crescem juntando egoísmos não dá em nada.
O Papa Francisco fala da construção de uma Igreja do discernimento e do acolhimento. Como se constrói esta Igreja?A partir de onde estamos. Em Portugal temos uma rede de presença na sociedade que é única, foi a rede em que a própria sociedade se constituiu. Era nela que se nascia, crescia, vivia, casava e morria. No fundo, esta rede de sociabilidade é já uma tentativa de criar um porto de abrigo, material e espiritual , para toda a gente, onde se recorre e de onde parte também a motivação. Nas igrejas ouve-se o Evangelho, que dá critérios e vontade de se fazer melhor. E isso é muito importante. Nem imagino o que seria se acabasse esta rede, se de repente não houvesse missa dominical, onde ainda vai quase um quarto da população portuguesa. Faltava-nos a última hipótese de nos encontrarmos, novos e velhos, crianças e adultos, gente de cá e de fora, de várias condições sociais e estatutos. Não há nada assim e é preciso manter esta rede. Não manter por manter, mas manter positivamente a habitualidade de convívio e, ao mesmo tempo, de recolhimento. Esta rede é um enorme feito para a Igreja portuguesa, para os seus ministros, servidores, mais de três mil, que a garantem. Mas a figura do Papa Francisco - que tem tanta vontade de estar com as pessoas, de acolher cada um como se parasse o tempo e acabasse o mundo - dá-nos mais estímulo para fazer mais. Se há algo de que o mundo precisa é de presenças assim, que estejam realmente presentes.
É isso que se quer dos católicos?É o que mais me desafia: onde esteja, esteja. Não é estar já a pensar onde vou a seguir, a precipitar as coisas.
O Papa tem pedido aos sacerdotes que pensem e depois decidam nas situações com que a igreja tem mais dificuldade em lidar - divorciados, recasados, homossexualidade. O que é preciso fazer para acolher estas pessoas?Antes de mais acolhê-las como pessoas, porque antes de serem um divorciado, um recasado ou um homossexual são uma pessoa. Esta tónica é fundamental, é o que acontecia com Jesus Cristo. Há o famoso caso em que Lhe levam uma mulher apanhada em adultério, a atiram aos Seus pés e Lhe dizem: "Olha que a nossa lei diz que deve ser apedrejada até à morte, matá-las quando são apanhadas em flagrante. E tu o que dizes? "Enquanto falavam, Jesus escrevia no chão. Depois disse-lhes: "Muito bem, quem estiver sem pecado que atire a primeira pedra." Ninguém atirou, mas a conversa acaba com um diálogo que é uma proposta de diferença: "Ninguém te condenou, eu não te condeno, vai mas não tornes a pecar." Esta volta final é o acolhimento maior, que segundo Jesus é a vontade de Deus. E se queremos ser discípulos de Jesus temos de ter esta dupla intenção: 1.º Se é uma pessoa que está diante de ti, essa pessoa vale tudo aos olhos de Deus; 2. º Deus não deixa de lhe propor o melhor, é o que temos de fazer.
Mas como?Para já, evitando as situações de rutura familiar, preparando melhor as famílias que formamos, uma preparação logo de criança para que não se habituem a viver em função de si próprios, porque se crescem juntando egoísmos não dá em nada.
Patriarcado de Lisbia
Sem comentários:
Enviar um comentário