29 abril, 2017

Quem escapa da cruz, escapa da Ressurreição - Papa ao clero, no Cairo




(RV) Depois da animada Missa desta manhã no Estádio “Air Defense” do Cairo, em que participaram cerca de 25 mil pessoas, o Papa Francisco teve mais um importante encontro na capital egípcia antes de regressar a Roma: o encontro, no Seminário Patriarcal, com o clero católico, religiosas, religiosos e seminaristas.

Francisco foi acolhido pelo P. Toma Adly Saky, Reitor do Seminário que o designou como “nosso Irmão Maior no caminho da consagração”  e comparou essa visita do Papa à “Aparição de Jesus Ressuscitado dos mortos aos seus discípulos reunidos à porta fechada”, assim como também no caminho de Emaús.

O P. Toma pediu depois ao Papa para rezar pelos consagrados a fim de que saibam enfrentar, com humildade, os desafios da vida consagrada, para que os formadores sejam uma bênção para os noviços, e prometeram também rezar pelo Papa.

Francisco ao tomar a palavra exprimiu logo a sua felicidade por se encontrar nesse lugar que representa  - disse - o “coração da Igreja Católica no Egipto”  e por saudar nesse “pequeno rebanho católico no Egipto”  o “fermento” que “Deus prepara para esta terra abençoada, para que, juntamente com os nossos irmãos ortodoxos, cresça nela o seu Reino”.

O Papa agradeceu-lhes seguidamente pelo trabalho e testemunho cristão que dão no meio de tantos desafios e não raro com poucas consolações e encorajou-os nessa caminhada:

Desejo também encorajar-vos. Não tenhais medo do peso do dia-a-dia, do peso das circunstâncias difíceis que alguns de vós têm de atravessar. Nós veneramos a Santa Cruz, instrumento e sinal da nossa salvação. Quem escapa da cruz, escapa da Ressurreição”.

E Francisco recordou-lhes que “se trata de crer, testemunhar a verdade, semear e cultivar sem esperar pela colheita”. Mas no meio de tantas vozes negativas e desesperadas, de profetas de destruição e condenações, os motivos de desânimo podem ser muitos. Por isso o Papa exortou-os a serem uma força positiva, luz e sal dessa sociedade, locomotiva que faz o comboio avançar para a meta.

Sede semeadores de esperança, construtores de pontes, obreiros de diálogo e de concórdia”.

Isto só é possível – disse-lhes Francisco – se a pessoa consagrada “não ceder às tentações que todos os dias encontra no seu caminho

E enumerou sete das mais significativas tentações que devem ser evitadas e que aliás devem ser bastante conhecidas no Egipto, pois que delas falavam os monges do país. Francisco desenvolveu depois cada uma dessas tentações:

A primeira é a “de se deixar arrastar em vez de guiar”. Arrastar pelo desânimo e pessimismo. Perante isso, recordar-se que a nossa fidelidade ao Senhor nunca deve depender da gratidão humana. manter-se sempre fiel ao Senhor.

A segunda tentação indicada pelo Papa é a de “lamentar-se continuamente”  acusando tudo e todos. E recorda que a pessoa consagrada, “pela unção do Espírito transforma cada obstáculo em oportunidade, e não cada dificuldade em desculpa”. Quem se lamenta sempre, no fundo, “é uma pessoa que não quer trabalhar”

Outra tentação muito séria a evitar é a “da crítica e da inveja”. O Papa sublinha que “A inveja é um cancro que arruína qualquer corpo em pouco tempo” e recorda que foi  “por inveja do diabo que a morte entrou no mundo” . “A crítica é o seu instrumento e a sua arma”  - disse Francisco passando à quarta tentação: “a de se comparar com os outros”. Isto leva a esquecer que a riqueza reside na diferença e na unicidade de cada um e a cair no rancor, na soberba, na preguiça.

A quinta tentação a evitar é o “faraonismo”, de resto estamos no Egipto, exclamou o Papa! E explicou que por faraonismo se entende o endurecimento do coração, fechando-o ao Senhor e aos irmãos. E frisou que o antidoto a esta tenção é a frase de Cristo “Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos”.

Há também que evitar a tentação do “individualismo”, indicou o Papa em sexto lugar. E citou o proverbio egípcio que diz “Eu, e depois de mim, o dilúvio”. É a tentação dos egoístas que pensam em si mesmos em vez de pensar nos outros. Na Igreja, onde a salvação de um membro está ligada à santidade de todos, o individualista é motivo de escândalo e conflitualidade.

Finalmente, em sétimo lugar, o Papa indicou a tentação do “caminhar sem bússola nem objectivo”. A pessoa consagrada perde a sua identidade e não é nem peixe, nem carne e em vez de guiar os outros, dispersa-os. E recordou-lhes que a sua identidade como filhos da Igreja é o de ser coptas radicados nas raízes nobres e antigas – e de ser católicos – isto é parte da Igreja una e universal: “como uma árvore que quanto mais enraizada está na terra tanto mais alta se eleva no Céu.”

O Papa tem consciência de que “não é fácil resistir a estas tentações, mas é possível se estivermos enxertados em Jesus” – disse. Recordou-lhe que “da qualidade da nossa espiritualidade depende a da nossa consagração. E exortou-os a beberem do exemplo do inestimável tesouro da vida monástica do Egipto, por forma a poderem ser luz e sal, motivo de salvação para todos.

Francisco terminou encorajando mais uma vez os consagrados do Egipto na sua caminhada:

“Coragem e avante, como o Espirito Santo”. 

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Depois das suas palavras, o Papa benzeu as vestes dos noviços que já chegaram ao fim do seu percurso que os vestiram imediatamente. O encontro concluiu-se com a oração do Pai Nosso cantado em árabe e acompanhado com a guitarra.

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