(RV) Depois da animada Missa desta manhã no
Estádio “Air Defense” do Cairo, em que participaram cerca de 25 mil
pessoas, o Papa Francisco teve mais um importante encontro na capital
egípcia antes de regressar a Roma: o encontro, no Seminário Patriarcal,
com o clero católico, religiosas, religiosos e seminaristas.
Francisco foi acolhido pelo P. Toma Adly Saky, Reitor do Seminário que o designou como “nosso Irmão Maior no caminho da consagração” e comparou essa visita do Papa à “Aparição de Jesus Ressuscitado dos mortos aos seus discípulos reunidos à porta fechada”, assim como também no caminho de Emaús.
O P. Toma pediu depois ao Papa para rezar pelos consagrados a fim de
que saibam enfrentar, com humildade, os desafios da vida consagrada,
para que os formadores sejam uma bênção para os noviços, e prometeram
também rezar pelo Papa.
Francisco ao tomar a palavra exprimiu logo a sua felicidade por se
encontrar nesse lugar que representa - disse - o “coração da Igreja
Católica no Egipto” e por saudar nesse “pequeno rebanho católico no
Egipto” o “fermento” que “Deus prepara para esta terra abençoada, para que, juntamente com os nossos irmãos ortodoxos, cresça nela o seu Reino”.
O Papa agradeceu-lhes seguidamente pelo trabalho e testemunho cristão
que dão no meio de tantos desafios e não raro com poucas consolações e
encorajou-os nessa caminhada:
“Desejo também encorajar-vos. Não tenhais medo do peso do
dia-a-dia, do peso das circunstâncias difíceis que alguns de vós têm de
atravessar. Nós veneramos a Santa Cruz, instrumento e sinal da nossa
salvação. Quem escapa da cruz, escapa da Ressurreição”.
E Francisco recordou-lhes que “se trata de crer, testemunhar a verdade, semear e cultivar sem esperar pela colheita”.
Mas no meio de tantas vozes negativas e desesperadas, de profetas de
destruição e condenações, os motivos de desânimo podem ser muitos. Por
isso o Papa exortou-os a serem uma força positiva, luz e sal dessa
sociedade, locomotiva que faz o comboio avançar para a meta.
“Sede semeadores de esperança, construtores de pontes, obreiros de diálogo e de concórdia”.
Isto só é possível – disse-lhes Francisco – se a pessoa consagrada “não ceder às tentações que todos os dias encontra no seu caminho”
E enumerou sete das mais significativas tentações que devem ser
evitadas e que aliás devem ser bastante conhecidas no Egipto, pois que
delas falavam os monges do país. Francisco desenvolveu depois cada uma
dessas tentações:
A primeira é a “de se deixar arrastar em vez de guiar”.
Arrastar pelo desânimo e pessimismo. Perante isso, recordar-se que a
nossa fidelidade ao Senhor nunca deve depender da gratidão humana.
manter-se sempre fiel ao Senhor.
A segunda tentação indicada pelo Papa é a de “lamentar-se continuamente”
acusando tudo e todos. E recorda que a pessoa consagrada, “pela unção
do Espírito transforma cada obstáculo em oportunidade, e não cada
dificuldade em desculpa”. Quem se lamenta sempre, no fundo, “é uma
pessoa que não quer trabalhar”
Outra tentação muito séria a evitar é a “da crítica e da inveja”.
O Papa sublinha que “A inveja é um cancro que arruína qualquer corpo em
pouco tempo” e recorda que foi “por inveja do diabo que a morte entrou
no mundo” . “A crítica é o seu instrumento e a sua arma” - disse
Francisco passando à quarta tentação: “a de se comparar com os outros”.
Isto leva a esquecer que a riqueza reside na diferença e na unicidade de
cada um e a cair no rancor, na soberba, na preguiça.
A quinta tentação a evitar é o “faraonismo”, de
resto estamos no Egipto, exclamou o Papa! E explicou que por faraonismo
se entende o endurecimento do coração, fechando-o ao Senhor e aos
irmãos. E frisou que o antidoto a esta tenção é a frase de Cristo “Se
alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de
todos”.
Há também que evitar a tentação do “individualismo”,
indicou o Papa em sexto lugar. E citou o proverbio egípcio que diz “Eu,
e depois de mim, o dilúvio”. É a tentação dos egoístas que pensam em si
mesmos em vez de pensar nos outros. Na Igreja, onde a salvação de um
membro está ligada à santidade de todos, o individualista é motivo de
escândalo e conflitualidade.
Finalmente, em sétimo lugar, o Papa indicou a tentação do “caminhar sem bússola nem objectivo”.
A pessoa consagrada perde a sua identidade e não é nem peixe, nem carne
e em vez de guiar os outros, dispersa-os. E recordou-lhes que a sua
identidade como filhos da Igreja é o de ser coptas radicados nas raízes
nobres e antigas – e de ser católicos – isto é parte da Igreja una e
universal: “como uma árvore que quanto mais enraizada está na terra
tanto mais alta se eleva no Céu.”
O Papa tem consciência de que “não é fácil resistir a estas
tentações, mas é possível se estivermos enxertados em Jesus” – disse.
Recordou-lhe que “da qualidade da nossa espiritualidade depende a da
nossa consagração. E exortou-os a beberem do exemplo do inestimável
tesouro da vida monástica do Egipto, por forma a poderem ser luz e sal,
motivo de salvação para todos.
Francisco terminou encorajando mais uma vez os consagrados do Egipto na sua caminhada:
“Coragem e avante, como o Espirito Santo”.
**
Depois das suas palavras, o Papa benzeu as vestes dos noviços que já
chegaram ao fim do seu percurso que os vestiram imediatamente. O
encontro concluiu-se com a oração do Pai Nosso cantado em árabe e
acompanhado com a guitarra.
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