(RV) O Papa Francisco encontrou o Primaz da mais
consistente Igreja radicada num país árabe, o Patriarca Copta-ortodoxo
Tawadros II de Alexandria, no final da tarde desta sexta-feira (28), no
Cairo, um dos momentos mais aguardados do dia. Depois da audiência
privada, no escritório da sede do Patriarcado, Francisco e Tawadros,
junto a líderes de outras confissões cristãs, se reuniram em oração
ecuménica.
O abraço comum no Egipto foi dirigido às vítimas dos recentes ataques
terroristas contra cristãos no país, inclusive àquelas que sofreram o
atentado de dezembro de 2016, no Cairo. Na ocasião, 29 pessoas morreram
vítimas de uma bomba que explodiu na capela de São Pedro, próxima do
Patriarcado, no bairro cristão da capital.
No discurso desta tarde, o terceiro de cinco que serão feitos durante
sua viagem apostólica ao Egipto, Francisco dirigiu-se ao “caríssimo
irmão”, Tawadros II, o 118° Papa da Igreja Copta-Ortodoxa, falando em
árabe: “O Senhor ressuscitou. Ressuscitou verdadeiramente”.
A primeira menção de Francisco foi à recente solenidade da Páscoa
que, neste ano, foi celebrada em comunhão para “proclamar em uníssono o
anúncio da Ressurreição".
Hoje, esta alegria pascal é enriquecida pelo dom de adorarmos,
juntos, o Ressuscitado na oração e, por trocarmos novamente, em seu
nome, o ósculo santo e o abraço de paz. Sinto-me muito grato por isso:
ao chegar aqui como peregrino, tinha a certeza de receber a bênção de um
Irmão que me esperava.
O Papa lembrou, então, do primeiro encontro com Tawadros, em Roma,
logo depois da eleição de Francisco em 10 de maio de 2013. A data
simbólica de um “caminho ecuménico” acabou sendo instituída como o Dia
da Amizade Copta-Católica. A própria Declaração Comum assinada por Paulo
VI e Amba Shenouda III há mais de 40 anos, em 10 de maio de 1973,
acrescentou o Pontífice, também foi um marco nas relações entre a Sé de
Pedro e a de Marcos na proclamação do “domínio de Jesus: juntos,
confessamos que pertencemos a Jesus e que Ele é o nosso tudo”.
Naquele dia, depois de “séculos de história difícil”, em que
“surgiram diferenças teológicas, que foram alimentadas e acentuadas por
factores de carácter não-teológico” e por uma difidência cada vez mais
generalizada nas relações, com a ajuda de Deus chegou-se a reconhecer,
juntos, que Cristo é “perfeito Deus, quanto à sua divindade, e perfeito
homem, quanto à sua humanidade” (Declaração Comum, assinada pelo Santo
Padre Paulo VI e por Sua Santidade Amba Shenouda III, 10 de maio 1973).
Na exortação de que “não se pode pensar em avançar cada um pela sua
estrada, porque trairíamos a vontade de Jesus”, Papa Francisco fez
menção a João Paulo II. Durante o Encontro Ecuménico de fevereiro de
2000, Wojtyla motivou a não se perder mais tempo com esse propósito.
Já não podemos nos esconder atrás de desculpas de divergências de
interpretação, nem atrás de séculos de história e tradições que nos
tornaram estranhos. [...] Nesse sentido, não há só um ecumenismo feito
de gestos, palavras e compromisso, mas uma comunhão já efetiva, que
cresce dia a dia no relacionamento vivo com o Senhor Jesus, está
enraizada na fé professada e funda-se realmente no nosso Baptismo, em
sermos n’Ele “novas criaturas” (cf. 2 Cor 5, 17): em suma, “um só
Senhor, uma só fé, um só Baptismo” (Ef 4, 5).
Na “construção da comunhão” com o testemunho diário de “levar a fé ao
mundo”, Papa Francisco afirmou que “o Espírito não deixará de abrir
caminhos providenciais e inesperados de unidade”. Com esse “espírito
apostólico construtivo”, segundo o Pontífice, “possam coptas-ortodoxos e
católicos falarem juntos, sempre mais, essa língua comum da caridade”.
O Papa Francisco, então, se disse novamente agradecido pela “atenção
genuína e fraterna” de Tawadros para com a Igreja Copta-Católica, tanto
através do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs como do 13° Encontro da
Comissão Mista Internacional para o Diálogo Teológico entre a Igreja
Católica e as Igrejas Ortodoxas Orientais.
Dando continuidade à expressão da Sagrada Escritura entre as Sés de
Marcos e de Pedro, o Pontífice também falou sobre “os laços fraternos do
Evangelista e a sua atividade apostólica com São Paulo” ao se referir
às origens que geram uma mensagem de “caridade fraterna e comunhão de
missão”.
O amadurecimento do nosso caminho ecuménico é sustentado, de modo
misterioso e muito actual, também por um verdadeiro e próprio ecumenismo
do sangue. São João escreve que Jesus veio “com água e com sangue” (1
Jo 5, 6); quem acredita n’Ele, assim “vence o mundo” (1 Jo 5, 5). Com
água e sangue: vivendo uma vida nova no nosso Baptismo comum, uma vida
de amor incessante e por todos, mesmo à custa do sacrifício do sangue.
Desde os primeiros séculos do cristianismo, nesta terra, quantos
mártires viveram a fé heroicamente e até ao extremo, preferindo derramar
o sangue que negar o Senhor e ceder às adulações do mal ou mesmo só à
tentação de responder ao mal com o mal! [...] Trabalhemos por nos opor à
violência, pregando e semeando o bem, fazendo crescer a concórdia e
mantendo a unidade, rezando a fim de que tantos sacrifícios abram o
caminho para um futuro de plena comunhão entre nós e de paz para todos.
Além da história de santidade no Egipto testemunhada pelo sacrifício
dos mártires, o Papa Francisco lembrou de uma nova forma de vida logo
que terminaram as perseguições antigas que, “doada ao Senhor, nada
retinha para si: no deserto, começou o monaquismo”, disse o Pontífice.
Com veneração a esse património comum, concluiu o Papa Francisco em
seu discurso a Tawadros II: que “o Senhor nos conceda a graça de
recomeçar hoje, juntos, como peregrinos de comunhão e arautos de paz”.
(BS/AC)
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