(RV) O Papa
exprimiu alegria e agradeceu ao Grande Imã por ter pensado e organizado
essa conferência e por lhe ter convidado a tomar parte nela.
Francisco articulou a sua intervenção em dois eixos de pensamentos
traídos da “gloriosa história” do Egipto que ao longo dos séculos –
disse - se mostrou ao mundo como terra de civilização e de alianças.
No que toca ao primeiro ponto – terra de civilização – Francisco
evocou o inestimável património cultural do Egipto em todos os domínios
do saber para depois afirmar que “a procura do saber e o valor da
instrução foram escolhas fecundas de desenvolvimento empreendidas pelos
antigos habitantes desta terra”.
E ao lado da educação e da instrução, que devem ser valorizadas
também hoje, Francisco sublinhou a necessidade da escolha de paz e para a
paz para o futuro, pois que não haverá paz sem uma educação adequada
para as novas gerações. Uma educação que tenha em conta a natureza do
homem, a sua relação com o Transcendente e com o outro e que ultrapasse
as tentações de rigidez e fechamentos em si próprios. Uma educação que
leve a uma sapiência aberta e em movimento, humilde e indagadora; que
sabe valorizar o passado e pô-lo em diálogo com o presente, sem
renunciar a uma adequada hermenêutica. Uma sapiência que recusa a
violência, o medo do outro e põe no centro a dignidade do homem.
O Papa recorda que somos sempre chamados a percorrer o caminho do
diálogo, especialmente o dialogo inter-religioso. Nisto enaltece o
exemplo concreto e encorajador do trabalho desenvolvido pelo Comité
misto para o Dialogo entre o Conselho Pontifício para o Dialogo
Inter-religioso e o Comité Al-Azhar para o Dialogo. E dá três indicações
fundamentais que, a seu ver, se bem conjugadas podem ajudar no diálogo:
“O dever de identidade, a coragem da alteridade e a sinceridade das intenções”
Francisco explicou depois o sentido de cada uma destas indicações e acabou por dizer:
“Educar à abertura respeitosa e ao dialogo sincero com o
outro, reconhecendo os direitos e as liberdades fundamentais,
especialmente a religiosa, constitui o melhor caminho para edificar
juntos o futuro, para ser construtores de civilização, porque a única
via à civilização do encontro é a incivilização do recontro. E para
contrastar realmente a barbárie de quem sopra no ódio e incita à
violência, ocorre acompanhar e fazer amadurecer gerações que respondam à
logica incendiária do mal com o paciente crescimento do bem: jovens
que, como árvores bem plantadas, sejam enraizados no terreno da história
e, crescendo em direcção ao Alto e ao lado dos outros, transformem cada
dia o ar poluído do ódio no oxigénio da fraternidade”.
Um desafio de civilização tão urgente como este - cristãos,
muçulmanos e todos os crentes – estamos chamados a dar o nosso
contributo, pois que todos vivemos sob o sol de um único Deus
misericordioso.
“Neste sentido nos podemos chamar irmãos e irmãs, porque sem Deus a vida do homem seria como o céu sem o sol”.
E invocou a intercessão de São Francisco e do Sultão Malik Al Kamil,
que há 800 anos se encontraram em terras de Egipto, para que o sol de
uma renovada fraternidade em nome de Deus surja de novo e brote desta
terra, beijada pelo sol, a aurora de uma civilização da paz e do
encontro.
Mas, o Egipto não é apenas a terra onde surgiu o sol da sapiência. A
luz policromática das religiões iluminou esta terra – disse o Papa ao
introduzir o segundo eixo do seu pensamento, traído da “gloriosa
história do país”: a aliança. Enalteceu o enriquecimento recíproco que
no passado as diversas religiões do país representaram. Sem se
misturarem, souberam, todavia, aliar-se para o bem nacional. Alianças
como essas são hoje necessárias e urgentes – disse Francisco que
utilizou o símbolo do “Monte da Aliança” que se ergue precisamente no
Egipto e recorda antes de mais que “uma autentica aliança na terra não
pode prescindir do Céu, que a humanidade não pode propor encontrar-se em
paz excluindo Deus do horizonte, e não pode sequer subir ao monte para
se apoderar de Deus”.
Hoje existe o perigo de a religião ser absorvida pela gestão de
negócios temporais e tentada pelas lisonjas do poder mundano que, na
realidade, a instrumentalizam. Recordou que o mundo procura sempre nas
religiões respostas e que religiõs não são o problema, mas parte da
solução. Elas recordam que é necessário elevar o ânimo em direcção ao
Alto para aprender a construir a cidade dos homens.
E o Papa recorda os mandamentos promulgados precisamente no Monte
Sinai e em que ressoa o mandamento “Não matarás”. Deus não cessa de amar
a vida, o homem, e por isso o exorta a contrastar a via da violência
como pressuposto fundamental de qualquer aliança aqui na terra. As
religiões são chamadas, em primeiro lugar, a pôr em prática este
mandamento. A violência é, de facto, a negação de qualquer religiosidade
autentica.
“Enquanto responsáveis religiosos somos, portanto, chamados a
desmascarar a violência que se apresenta sob presumíveis formas de
religiosidade, fazendo pressão sobre a absolutização dos egoísmos em vez
da sua autentica abertura ao Absoluto.”
Francisco recordou a seguir que todos somos chamados a denunciar as
violações contra a dignidade humana e contra os direitos humanos e a
desmascarar todas as formas de ódio em nome da religião e a condená-las
como falsificação idolátrica de Deus.
“O seu nome é Santo, Ele é Deus de Paz, Deus salam. Por isso
só a paz é santa e nenhuma violência pode ser perpetrada em nome de
Deus, porque profanaria o seu Nome”.
“Juntos, a partir desta terra de aliança entre as pessoas e
entre os crentes, repitamos um “não” forte e claro a todas as formas de
violência, vingança e ódio cometidos em nome da religião, em nome de
Deus. Juntos afirmemos a incompatibilidade entre violência e fé, entre
crer e odiar. Juntos declaremos a sacralidade de cada vida humana contra
qualquer forma de violência física, social, educativa ou psicológica.”
E o Papa convidou todos a dizerem juntos: quanto mais se cresce na fé em Deus, mais se cresce no amor ao próximo.
Mas a tarefa da religião não é só desmascarar o mal – advertiu
Francisco. Tem também a vocação de promover a paz, hoje mais do que
nunca necessária. Sem sincretismos conciliadores, o nosso dever é o de
rezar uns pelos outros, pedindo a Deus o dom da paz, encontrar-se,
dialogar, promover a concórdia, a amizade, a colaboração.
E pronunciou-se contra os armamentos. De pouco serve elevar a voz e
rearmar-se para se proteger. Hoje o que é necessário são construtores de
paz, não de provocadores de conflitos; de bombeiros, não de
incendiários; de pregadores de reconciliação e não de destruição.
O Papa denunciou os populismos demagógicos que surgem no mundo de
hoje e que não ajudam a consolidar a paz e a estabilidade. Recordou que
para prevenir os conflitos e edificar a paz é fundamental empenhar-se na
remoção da pobreza e da exploração, bloquear os fluxos de dinheiro e de
arma em direcção a quem fomenta a violência. E mais ainda, pôr termo à
proliferação de armas.
Um empenho urgente e grave a que são chamados todos os responsáveis
das nações, das instituições e da informação, líderes religiosos - disse
Francisco exprimindo o desejo de que o Egipto possa responder com a sua
vocação de civilização e aliança, contribuindo para desenvolver
processo de paz para este amado povo e para toda a região do Médio
Oriente.
(DA)
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