(RV) «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque
me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a
libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em
liberdade os oprimidos» (Lc 4, 18). O Senhor, Ungido pelo Espírito,
leva a Boa-Nova aos pobres. Tudo aquilo que Jesus anuncia é Boa-Nova;
alegra com a alegria evangélica; e o mesmo se diga de nós, sacerdotes,
de quem foi ungido em seus pecados com o óleo do perdão, e ungido no seu
carisma com o óleo da missão, para ungir os outros. E, tal como Jesus, o
sacerdote torna jubiloso o anúncio com toda a sua pessoa. Quando
pronuncia a homilia – breve, se possível –, fá-lo com a alegria que toca
o coração do seu povo, valendo-se da Palavra com que o Senhor o tocou
na sua oração. Como qualquer discípulo missionário, o sacerdote torna
jubiloso o anúncio com todo o seu ser. Aliás, como todos experimentamos,
são precisamente os detalhes mais insignificantes que melhor contêm e
comunicam a alegria: o detalhe de quem dá um pequeno passo a mais,
fazendo com que a misericórdia transborde nas terras de ninguém; o
detalhe de quem se decide a concretizar, fixando dia e hora para o
encontro; o detalhe de quem deixa, com suave disponibilidade, que ocupem
o seu tempo…
A Boa-Nova pode parecer simplesmente um modo diferente de dizer
«Evangelho», como «feliz anúncio» ou «boa notícia». Todavia contém algo
que compendia em si tudo o mais: a alegria do Evangelho. Compendia tudo,
porque é jubilosa em si mesma.
A Boa-Nova é a pérola preciosa do Evangelho. Não é um objeto; mas uma
missão. Bem o sabe quem experimenta «a suave e reconfortante alegria de
evangelizar» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 10).
A Boa-Nova nasce da Unção. A primeira, a «grande unção sacerdotal» de Jesus, é a que fez o Espírito Santo no seio de Maria.
Naqueles dias, a boa-nova da Anunciação fez a Virgem Mãe cantar o
Magnificat, encheu de um sacro silêncio o coração de José, seu esposo, e
fez saltar de gozo João no seio de sua mãe Isabel.
Hoje, Jesus regressa a Nazaré e a alegria do Espírito renova a Unção
na pequena sinagoga local: o Espírito pousa e espalha-Se sobre Ele,
ungindo-O com o óleo da alegria (cf. Sal 45/44, 8).
A Boa-Nova. Uma única palavra – Evangelho – que, no ato de ser anunciada, se torna verdade jubilosa e misericordiosa.
Que ninguém procure separar estas três graças do Evangelho: a sua
Verdade – não negociável –, a sua Misericórdia – incondicional com todos
os pecadores – e a sua Alegria – íntima e inclusiva.
Nunca a verdade da Boa-Nova poderá ser apenas uma verdade abstrata,
uma daquelas que não se encarnam plenamente na vida das pessoas, porque
se sentem mais confortáveis na palavra escrita dos livros.
Nunca a misericórdia da Boa-Nova poderá ser uma falsa compaixão, que
deixa o pecador na sua miséria, não lhe dando a mão para se levantar nem
o acompanhando para dar um passo mais no seu compromisso.
Nunca a Boa-Nova poderá ser triste ou neutra, porque é expressão duma
alegria inteiramente pessoal: «a alegria dum Pai que não quer que se
perca nenhum dos seus pequeninos» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 237): a
alegria de Jesus, ao ver que os pobres são evangelizados e que os
pequeninos saem a evangelizar (cf. ibid., 5).
As alegrias do Evangelho – uso agora o plural, porque são muitas e
variadas, segundo o modo como o Espírito as quer comunicar em cada
época, a cada pessoa, em cada cultura particular – são alegrias
especiais. Chegam-nos em odres novos, aqueles de que fala o Senhor para
expressar a novidade da sua mensagem.
Partilho convosco, queridos sacerdotes, queridos irmãos, três ícones
de odres novos em que a Boa-Nova se conserva bem, não se torna
vinagrenta e se derrama em abundância.
Um ícone da Boa-Nova é o das talhas de pedra das bodas de Caná (cf.
Jo 2, 6). Num detalhe, as talhas espelham bem aquele Odre perfeito que é
– em Si mesma, toda inteira – Nossa Senhora, a Virgem Maria. Diz o
Evangelho que «as encheram até acima» (Jo 2, 7). Imagino que algum dos
serventes terá olhado para Maria para ver se já bastava assim, e terá
havido um gesto com o qual Ela terá dito para acrescentar mais um balde.
Maria é o odre novo da plenitude contagiosa. É «a serva humilde do Pai,
que transborda de alegria no louvor» (Exort. ap. Evangelii gaudium,
286), é a Nossa Senhora da prontidão, Aquela que acabara de conceber em
seu seio imaculado o Verbo da vida e já parte para ir visitar e servir a
sua prima Isabel. A sua plenitude contagiosa permite-nos superar a
tentação do medo: não ter coragem de se deixar encher até acima, aquela
pusilanimidade de não ir contagiar de alegria os outros. Não haja nada
disto, porque «a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira
daqueles que se encontram com Jesus» (ibid., 1).
O segundo ícone da Boa-Nova é aquele cântaro – com a sua concha de
pau – que trazia à cabeça a Samaritana, sob o sol ardente do meio-dia
(cf. Jo 4, 5-30). Expressa bem uma questão essencial: ser concreto. O
Senhor, que é a Fonte de Água viva, não tinha um meio para tirar água e
beber alguns goles. E a Samaritana tirou água do seu cântaro com a
concha e saciou a sede do Senhor. E saciou-a ainda mais com a confissão
dos seus pecados concretos. Agitando o odre daquela alma samaritana,
transbordante de misericórdia, o Espírito Santo derramou-Se sobre todos
os habitantes daquela pequena cidade, que convidaram o Senhor a
demorar-Se no meio deles.
Um odre novo com esta concretização inclusiva, no-lo presenteou o
Senhor na alma «samaritana» que foi Madre Teresa de Calcutá. Ele
chamou-a e disse-lhe: «Tenho sede». «Vem, pequenina minha! Leva-Me aos
tugúrios dos pobres. Vem! Sê a minha luz. Não posso ir sozinho. Não Me
conhecem, por isso não Me querem. Leva-Me a eles». E ela, começando por
um pobre concreto, com o seu sorriso e o seu modo de tocar as feridas
com as mãos, levou a Boa-Nova a todos.
O terceiro ícone da Boa-Nova é o Odre imenso do Coração
trespassado do Senhor: integridade suave, humilde e pobre, que atrai
todos a Si. D’Ele devemos aprender que, anunciar uma grande alegria
àqueles que são muito pobres, só se pode fazer de forma respeitosa e
humilde, até à humilhação. A evangelização não pode ser presunçosa. Não
pode ser rígida a integridade da verdade. O Espírito anuncia e ensina «a
verdade completa» (Jo 16, 13), e não tem medo de a dar a beber aos
goles. O Espírito diz-nos, em cada momento, aquilo que devemos dizer aos
nossos adversários (cf. Mt 10, 19) e ilumina-nos sobre o pequeno passo
em frente que podemos dar naquele momento. Esta integridade suave dá
alegria aos pobres, reanima os pecadores, faz respirar aqueles que estão
oprimidos pelo demónio.
Queridos sacerdotes, contemplando e bebendo destes três odres novos,
que a Boa-Nova tenha em nós a plenitude contagiosa que Nossa Senhora
transmite com todo o seu ser, a concretização inclusiva do anúncio da
Samaritana e a integridade suave com que o Espírito jorra e Se derrama
incessantemente a partir do Coração trespassado de Jesus, Nosso Senhor.
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