Na Missa deste
sábado (25/04) na Casa de Santa Marta, no Vaticano, Francisco rezou por
aqueles que com o seu serviço acompanham as vítimas desta pandemia. Na
homilia, recordou que todo o cristão é missionário, que não significa
fazer proselitismo, mas viver como cristãos com uma fé de portas
abertas, uma fé que é serviço
VATICAN NEWS
Francisco presidiu a Missa na Casa de anta Marta, no Vaticano, na manhã
deste sábado, 25 de abril, dia em que a Igreja celebra a festa de São
Marcos evangelista
Hoje, rezemos juntos pelas pessoas que realizam serviços
funerários. É muito doloroso, muito triste o trabalho que realizam, e
sentem muito de perto a dor provocada por esta pandemia. Rezemos por
elas.
Na homilia, o Papa comentou o Evangelho do dia
(Mc 16,15-20) em que Jesus ressuscitado aparece aos discípulos
exortando-os a ir pelo mundo inteiro anunciar o Evangelho a toda
a criatura e anuncia os sinais que acompanharão aqueles que creem: no seu
nome “expulsarão demónios, falarão novas línguas; pegarem-se em
serpentes ou beberem algum veneno mortal não lhes fará mal algum; quando
impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”. Após estas
palavras, Jesus sobe ao céu para sentar-se à direita de Deus. A fé –
disse o Papa –, ou é missionária ou não é fé. A fé não é uma coisa
somente para mim, para que eu cresça com a fé: esta é uma heresia
gnóstica. A fé é levada com o testemunho de vida, sobretudo. Por vezes,
falta a convicção da fé, que não é somente um dado da carteira de
identidade. Quem tem fé deve sair de si mesmo e mostrar “socialmente” a
fé. isto não significa fazer proselitismo, é testemunhar a fé com o
serviço, é viver como cristãos. Antes de dizer alguma coisa de cristão é
preciso viver a fé concretamente. Não se transmite a fé para convencer,
mas para oferecer um tesouro. Como diz a Primeira Carta de Pedro (1 Pd
5,5b-14), leva-se a fé com humildade. Na transmissão da fé está sempre o
Senhor, na transmissão das ideologias estão os “mestres”. Que o Senhor
nos ajude a viver uma fé de portas abertas, transparente – foi a oração
conclusiva do Papa –, que leva a salvação aos outros.
A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:
Hoje, a Igreja celebra São Marcos, um dos quatro evangelistas,
muito próximo do apóstolo Pedro. O Evangelho de Marcos foi o primeiro a
ser escrito. É simples, um estilo simples, muito próximo. Se hoje
tiverem um pouco de tempo, tomem-no em mãos e leiam-no. Não é longo, é
agradável ler a simplicidade com a qual Marcos narra a vida do Senhor.
E no Evangelho – que é o final do Evangelho de Marcos, isto que
lemos agora – encontra-se o envio do Senhor. O Senhor revelou-se como
salvador, como o Filho único de Deus; revelou-se a todo Israel e ao
povo, especialmente com mais detalhes aos apóstolos, aos discípulos.
Esta é a despedida do Senhor: o Senhor vai-se embora, parte e “foi levado
ao céu, e sentou-se à direita de Deus”. Mas antes de partir, quando
apareceu aos Onze, disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o
Evangelho a toda criatura”. Há a missionariedade da fé. A fé, ou é
missionária ou não é fé. A fé não é uma coisa somente para mim, para que
eu cresça com a fé: essa é uma heresia gnóstica. A fé leva sempre a
sair do si. Sair. A transmissão da fé: a fé deve ser transmitida, deve
ser oferecida, sobretudo com o testemunho: “Ide, que as pessoas vejam
como viveis”.
Alguém dizia-me, um padre, de uma cidade europeia: “Há
muita incredulidade, muito agnosticismo nas nossas cidades, porque os
cristãos não têm fé. Se tivessem, certamente a ofereceriam às pessoas”.
Falta a missionariedade. Porque na raiz falta a convicção: “Sim, eu sou
cristão, sou católico, mas...” Como se fosse uma atitude social. Na
carta de identidade chamas-te assim, assim, e “sou cristão”. É um
dado da carta de identidade. Isto não é fé. Isto é uma coisa cultural. A
fé necessariamente leva-te para fora, leva-te a dá-la, porque a fé
deve ser essencialmente transmitida. Não é quieta. “Ah, o senhor quer
dizer, padre, que todos devemos ser missionários e ir aos países
distantes?” Não, essa é uma parte da missionariedade. Isto significa que tens fé necessariamente deves sair de ti, deves sair de ti, e
mostrar socialmente a fé. A fé social, é para todos: “Ide pelo mundo
inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura”. E isto não significa
fazer proselitismo, como se eu fosse um clube de futebol que faz
proselitismo ou fosse uma sociedade de beneficência. Não, a fé é “nada
de proselitismo”. É mostrar a revelação, para que o Espírito Santo possa
agir nas pessoas com o testemunho, e como testemunha com serviço. O
serviço é um modo de viver: se eu digo que ser cristão e vivo como um
pagão, não está bem! Isto não convence ninguém. Se eu digo que sou
cristão e vivo como cristão, isto atrai. É o testemunho.
Uma vez, na Polónia, um estudante universitário pergunt-me:
“Tenho muitos colegas ateus na universidade. O que devo dizer-lhes
para convencê-los?” – “Nada, querido, nada! A última coisa que vdeves
fazer é dizer algo. Começa a viver (a tua fé) e eles, vendo o teu
testemunho, perguntar-te-ão: ‘Por que vives assim?’”. A fé deve ser
transmitida, mas não para convencer, (e sim) para oferecer um tesouro.
“Está ali, veem? E esta é também a humildade da qual falava São Pedro na
Primeira Leitura: “Caríssimos, revesti-vos todos de humildade no
relacionamento mútuo, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá a sua
graça aos humildes”. Quantas vezes na Igreja, na história, nasceram
movimentos, grupos, de homens ou mulheres que queriam convencer sobre a
fé, converter... Verdadeiros “prosélitos”. E como acabaram? Na
corrupção.
Esta passagem do Evangelho é muito tenra. Mas onde está a
segurança? Como posso estar seguro de que saindo de mim serei fecundo na
transmissão da fé? “Anunciai o Evangelho a toda criatura”, fareis
maravilhas. E o Senhor estará conosco até ao fim do mundo. Acompanha-nos.
Na transmissão da fé o Senhor está sempre conosco. Na transmissão da
ideologia estarão os mestres. Mas quando eu tenho uma atitude de fé que
deve ser transmitida, aí está o Senhor que me acompanha. Jamais estou
sozinho na transmissão da fé. É o Senhor comigo que transmite a fé. Ele
prometeu isto: “Eu estarei convosco todos os dias até o fim do mundo”.
Peçamos ao Senhor que nos ajude a viver a nossa fé deste modo: a
fé de portas abertas, uma fé transparente, não “proselitista”, mas que
mostre: “Mas eu sou assim”. E com esta sadia curiosidade, ajuda as
pessoas a receberem esta mensagem que as salvará.
O Santo Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual.
Aos vossos pés, ó meu Jesus, me prostro e vos ofereço o
arrependimento do meu coração contrito que mergulha no seu nada na Vossa
santa presença. Eu vos adoro no Sacramento do vosso amor, a inefável
Eucaristia. Desejo receber-vos na pobre morada que o meu coração vos
oferece; à espera da felicidade da comunhão sacramental, quero
possuir-vos em Espírito. Vinde a mim, ó meu Jesus, que eu venha a vós.
Que o vosso amor possa inflamar todo o meu ser, para a vida e para a
morte. Creio em vós, espero em vós. Amo-vos. Assim seja.
Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:
Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!
Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!
Ressuscitou como disse. Aleluia!
Rogai por nós a Deus. Aleluia!
D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!
C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!
Vídeo integral da Missa:
VN
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