Tomas-me pela mão e levas-me
contigo pelo jardim adentro.
Paras, olhas para mim e
dizes-me para ficar ali vigiando um pouco, enquanto vais rezar.
Recosto-me na árvore, balbucio
umas orações, mas rapidamente me deixo vencer pelo sono e só acordo quando
sinto a Tua mão no meu ombro e o Teu olhar triste, mas compreensivo dizendo-me:
Não pudeste vigiar e orar nem um pouco? Como queres tu não cair em tentação?
Afasta-se novamente de mim,
mas deste vez sigo-O escondido no silêncio. A Sua cara transforma-se numa
tristeza indescritível, o Seu corpo fecha-se sobre Si próprio como numa dor
insuportável, todo Ele treme, (mas sem um queixume), e da testa vejo caírem grossas
gotas de sangue como de suor se tratasse.
A imagem esmaga-me e sinto-me
impotente, sinto-me nada, sinto-me quase perdido sem saber o que fazer.
O sofrimento d’Ele esgota-me
totalmente.
Pergunto-Lhe docemente, em
sussurro, quase a medo, os olhos rasos e lágrimas: Porquê, Senhor, porquê???
Olha-me com um olhar de
compaixão que me trespassa inteiramente de um misto de vergonha, mas de
esperança também.
E diz-me com aquela Sua voz
que se devia ouvir por todo o mundo, mas que infelizmente só alguns corações abertos
querem ouvir:
É por ti, meu filho!
Estremeço de dor e quero
protestar, mas Ele continua:
É por ti, porque é por todos.
Diz-me para eu ver, mas eu não
consigo ver, pois a visão não se forma na minha incredulidade e Ele vai-me
descrevendo tudo o que se passa por diante dos Seus olhos:
As crianças arrancadas do
ventre das suas mães, os homens que se matam por coisa nenhuma, as mulheres
violentadas e desprezadas, os velhos abandonados e mais do que isso, condenados
à morte por leis iniquas, os que sofrem por todo o lado, doenças, abandono,
desprezo, indiferença.
Fala-me das crianças
violentadas tantas vezes por aqueles em quem mais deviam confiar, e com horror maior
ainda os que são mortos invocando infamemente o Seu Nome.
As famílias desagregadas, os
filhos abandonados, os dirigentes que roubam, membros da Sua Igreja que cometem
faltas horríveis, a destruição do mundo e sobretudo isto e muito mais, alguém
que se ri desmesuradamente porque julga que já venceu e que o mundo já é dele.
Mais não, grito eu, mais
não!!!!!
E Ele responde-me: Aquilo que
tu e tantos outros já não conseguem suportar, nem mesmo imaginar, suporto-o Eu
nesta hora e na Minha Cruz por todos vós.
Timidamente, de cabeça baixa,
pergunto-lhe em voz sussurrada: Que posso eu fazer, Senhor, para Te consolar,
Te amparar, te ajudar, para, sei lá, enxugar as Tuas lágrimas.
E Tu respondes-me com o
sorriso de amor mais lindo que alguma vez vi:
Acorda e ora, com todos! Vigiai,
não baixeis os braços. Eu já vos dei a vitória. Tomai conta dela e exibi-a sem
medo, sem respeitos humanos, pelas casas, pelas praças, pelas ruas. O vosso testemunho
tem que ser o Meu amor, porque nunca vos esqueçais que o meu amor já venceu,
sempre vencerá e sempre permanecerá.
Tomando-me pelo braço disse-me
com voz de Deus: Agora vamos que há muito por fazer!
Marinha Grande, 1 de Abril de
2020
Joaquim Mexia Alves
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