"Aqueles que
aprenderam a arte da paz e a exercitam são chamados filhos de Deus,
sabem que não há reconciliação sem o dom da vida, e que a paz
deve ser sempre procurada", disse o Papa na sua catequese.
Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano
A catequese do Papa Francisco, desta quarta-feira (15/04), realizada
na Biblioteca Apostólica Vaticana por causa da pandemia de coronavírus,
foi dedicada à sétima Bem-aventurança: “Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”.
“Para entender esta bem-aventurança, é preciso explicar o significado da palavra “paz”, que pode ser mal entendido ou banalizado”, disse o Pontífice.
Duas ideias de paz
Segundo Francisco, “devemos orientar-nos entre duas ideias de paz:
a primeira é bíblica, onde aparece a bela palavra shalòm, que expressa
abundância, prosperidade e bem-estar. Quando em hebraico se deseja
shalòm, deseja-se uma vida bela, plena e próspera, mas também de acordo
com a verdade e a justiça, que serão cumpridas no Messias, príncipe da
paz”.
“Depois, há outro sentido, mais difundido, em que a palavra “paz” é entendida como uma espécie de tranquilidade interior. Esta é uma ideia moderna, psicológica e mais subjetiva”, disse o Papa, acrescentando:
Acredita-se que a paz seja calma, harmonia, equilíbrio interior.
Este significado da palavra paz é incompleto e não pode ser absoluto,
porque a inquietude na vida pode ser um momento importante de
crescimento, enquanto pode acontecer que a tranquilidade interior
corresponda a uma consciência domesticada e não a uma verdadeira
redenção espiritual. Muitas vezes o Senhor deve ser um “sinal de
contradição”, abalando as nossas falsas seguranças, para nos levar à
salvação.
A paz do Senhor é diferente da paz humana
Francisco recordou que o Senhor entende sua paz como diferente da paz humana, a do mundo, quando diz: «Eu deixo-vos a paz, eu do-vos a minha paz. A paz que eu vos dou para não é a paz que o mundo dá».
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A seguir, o Papa convidou-nos a fazer a seguinte pergunta: “Como o mundo dá a paz?”
Se pensamos nos conflitos bélicos, as guerras normalmente terminam
de duas maneiras: com a derrota de uma das duas partes ou com os
tratados de paz. Só podemos esperar e rezar para que este segundo
caminho possa ser sempre seguido. No entanto, devemos considerar que a
história é uma série infinita de tratados de paz desmentidos por guerras
sucessivas ou pela metamorfose dessas mesmas guerras doutras maneiras
ou noutros lugares.
“Como o Senhor Jesus dá a sua paz?”, perguntou Francisco. “São
Paulo diz que a paz de Cristo é “fazer de dois, um” para cancelar a
inimizade e reconciliarem-se. E o caminho para realizar esta obra de paz é
o seu corpo. De facto, ele reconcilia todas as coisas e dá a paz com o
sangue da sua cruz.”
Aprender a arte da paz
“Então, quem são os promotores de paz?”, perguntou ainda o Pontífice.
"A sétima bem-aventurança é a mais ativa, explicitamente operativa. A
expressão verbal é análoga à usada no primeiro versículo da Bíblia para
criação e indica iniciativa e laboriosidade."
"Esta não é uma obra autónoma fruto das próprias capacidades. É uma
manifestação da graça recebida de Cristo, que nos tornou filhos de
Deus."
O Papa concluiu a sua catequese, dizendo que a verdadeira paz e o
verdadeiro equilíbrio interior jorram da paz de Cristo “que vem da sua
cruz e gera uma nova humanidade, encarnada numa infinita multidão de
santos, santas, inventivos, criativos, que delinearam sempre novas
maneiras de amar. Esta vida como filhos de Deus, que procuram e encontram os seus irmãos pelo sangue de Cristo, é a verdadeira felicidade”.
VN
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