No programa ‘3 DICAS’, o cónego Francisco Crespo lembrou que “os problemas e as necessidades”, devido à pandemia do novo coronavírus, “vão aparecer cada vez mais”, e deixou a sugestão: “É necessário, nesta hora e neste momento, pensarmos em criar um fundo de emergência, que não podemos esperar que venha do Estado, mas que surja da generosidade dos nossos cristãos. Um fundo que vá, em primeiro lugar, em apoio às nossas instituições, porque temo que haja instituições ligadas à Igreja que, perante estas tão grandes dificuldades, se vejam na eminência de fechar portas e mandar para o desemprego os seus funcionários, o que seria terrível”.
Na segunda emissão do programa
criado pelo Jornal VOZ DA VERDADE, e que foi transmitido na tarde desta
quarta-feira, 22 de abril, este responsável sublinhou que a Igreja “tem
de ser um sinal de esperança”. “É verdade que não conseguimos abarcar
as consequências sociais e económicas, que vão emergir necessariamente
desta pandemia, que são dramáticas para muitas famílias, como também
para as nossas instituições particulares de solidariedade social”,
assumiu, para recordar, depois, palavras do Cardeal-Patriarca de Lisboa,
D. Manuel Clemente, que desafiou esta pastoral a “fazer tudo aquilo que
pode ser feito, numa gestão justa do bem comum”. “Isto toca-nos a nós e
alerta-nos, em primeiro lugar, para a subsistência das famílias”,
frisou.
O cónego Crespo salientou, ainda, “a pronta resposta que
os nossos bispos deram”, bem como o papel das instituições da Igreja,
que se têm mostrado “generosas”, no “esforço por manter os postos de
trabalho” e na “procura e partilha de material de proteção”. “Há um
espírito de entreajuda e de partilha”, assegurou. Este sacerdote é
também presidente do Centro Social Paroquial São Vicente de Paulo, na
Serafina, em Lisboa, e testemunhou, neste segundo programa do 3 ‘DICAS’,
como os seus trabalhadores têm “dado tudo para ajudar e apoiar os mais
carenciados”.
Sobre o que a Igreja está a fazer nesta área, o
diretor do Departamento da Pastoral Sócio Caritativa do Patriarcado de
Lisboa considerou que “as comunidades estão mais abertas, mais
sensíveis, à caridade”. “Como disse o nosso bispo D. Nuno Brás [então
Auxiliar de Lisboa, e hoje Bispo do Funchal], numa formação com os
padres, ‘a caridade, na pastoral da Igreja, é o centro de toda a nossa
atividade’. Cada vez mais estou a sentir que as nossas comunidades
cristãs sentem que a caridade, hoje, tem um outro papel fundamental na
sua vida”, observou. “Desde os voluntários, desde aqueles que vão
visitar os doentes, desde aqueles que vão ao encontro dos idosos que
estão isolados, desde aqueles que constituem uma vizinhança que vai ao
encontro dos que não têm ninguém, tudo isto é muito importante”,
acrescentou.
Questionado sobre se teme novos casos de pobreza
envergonhada, como aconteceu na crise de 2008, o cónego Crespo
respondeu: “Temo, sim”. Depois, exemplificou: “Ainda ontem chamou-me a
atenção, e fiquei bastante perturbado, ao ver reclusos que foram
libertados das prisões e que estão abandonados à sua sorte”. Este
responsável disse ainda temer “o desemprego” e o que pode “acontecer a
uma grande maioria das famílias”. “Temo que o desemprego e a pobreza vão
sobrecarregar o nosso trabalho nas nossas instituições, mas, neste
momento, não podemos perder a esperança e temos que nos juntar e unir,
cada vez mais, para sermos uma força não somente de apoio espiritual,
social e moral, mas fundamentalmente também económico e financeiro”,
terminou o diretor do Departamento da Pastoral Sócio Caritativa do
Patriarcado de Lisboa, reforçando estar a viver “um momento de grande
angústia pelo dia de amanhã, seja nas famílias, seja na sociedade em
geral e naturalmente também nas nossas instituições particulares de
solidariedade social”.
Chegar às pessoas que estão sozinhas e precisam de ajuda
Com a pandemia, o grupo ‘Amigos à Mão’, da Paróquia de Cascais, criou três novos serviços de apoios à população – um serviço de compras de supermercado e de farmácia para aqueles que não podem sair de casa; um serviço de acompanhamento psicológico; e um serviço de voluntariado para conversar –, mas tem sentido dificuldades em “chegar às pessoas”, segundo referiu Rita Carvalho, leiga que integra este grupo desde o primeiro dia. “O feedback que temos é que ainda não estamos a chegar muito às pessoas, porque não temos um contacto direto com as famílias, porque é sempre através das instituições. Temos conseguido fazer muitas compras, já temos também uma dezena de pessoas em acompanhamento psicológico, mas na linha da palavra amiga sentimos que temos algumas dificuldades em chegar às pessoas da nossa comunidade, porque a porta da igreja está fechada, e, apesar de estarmos presentes nos meios digitais, esta população não tem acesso a esse tipo de plataformas”, explicou, assegurando que os ‘Amigos à Mão’ estão “à procura de maneiras diferentes de chegar às pessoas que estão sozinhas e precisam de ajuda”.
Com a pandemia, o grupo ‘Amigos à Mão’, da Paróquia de Cascais, criou três novos serviços de apoios à população – um serviço de compras de supermercado e de farmácia para aqueles que não podem sair de casa; um serviço de acompanhamento psicológico; e um serviço de voluntariado para conversar –, mas tem sentido dificuldades em “chegar às pessoas”, segundo referiu Rita Carvalho, leiga que integra este grupo desde o primeiro dia. “O feedback que temos é que ainda não estamos a chegar muito às pessoas, porque não temos um contacto direto com as famílias, porque é sempre através das instituições. Temos conseguido fazer muitas compras, já temos também uma dezena de pessoas em acompanhamento psicológico, mas na linha da palavra amiga sentimos que temos algumas dificuldades em chegar às pessoas da nossa comunidade, porque a porta da igreja está fechada, e, apesar de estarmos presentes nos meios digitais, esta população não tem acesso a esse tipo de plataformas”, explicou, assegurando que os ‘Amigos à Mão’ estão “à procura de maneiras diferentes de chegar às pessoas que estão sozinhas e precisam de ajuda”.
Presente no segundo programa ‘3 DICAS’, Rita
Carvalho sublinhou ser “um misto de sentimentos” realizar a caridade
concreta neste tempo de isolamento. “Por um lado, é uma graça enorme
poder ser Igreja e estar ao serviço de quem mais precisa e sentir que a
Igreja é das primeiras a ir para a linha da frente – temos recebido
muitos pedidos de pessoas que querem ser voluntárias; por outro lado,
sinto uma inquietação de não conseguir chegar muito às pessoas”,
apontou, partilhando ainda o caso de uma família que a tocou em
particular: “Houve um caso que me tocou bastante, porque todos estamos
um pouco aborrecidos de estar confinados, mas de repente, quando
conhecemos outros casos, como o de uma família de 11 pessoas, incluindo
uma grávida, que estão confinadas num T2 por causa de um caso de
covid-19 – foi uma situação sinalizada pelo centro de saúde –, isso
toca-nos muito”.
“Preocupámo-nos com a fome”
Desde o início da pandemia, a Cáritas Diocesana de Lisboa (CDL) já doou mais de 150 mil euros para apoio a instituições que asseguram refeições entre os mais carenciados. No ‘3 DICAS’, o presidente da instituição salientou que “a emergência é a primeiríssima prioridade” da CDL. “Preocupámo-nos com aquilo que é mais fundamental nas pessoas, que é a fome, e que estava razoavelmente não resolvido, mas mitigado, com instrumentos que resolviam esse problema, designadamente o Banco Alimentar, que é a base de tudo isto, e outras instituições, como o Refood, e também a atividade nas paróquias”, frisou o almirante Luís Macieira Fragoso, destacando o apoio da Cáritas de Lisboa “ao Banco Alimentar, à Refood, à Casa do Gaiato, a seis paróquias e à Comunidade Vida e Paz, que é quem está na linha da frente no apoio aos mais desfavorecidos dos mais desfavorecidos, que são os sem-abrigo”.
Desde o início da pandemia, a Cáritas Diocesana de Lisboa (CDL) já doou mais de 150 mil euros para apoio a instituições que asseguram refeições entre os mais carenciados. No ‘3 DICAS’, o presidente da instituição salientou que “a emergência é a primeiríssima prioridade” da CDL. “Preocupámo-nos com aquilo que é mais fundamental nas pessoas, que é a fome, e que estava razoavelmente não resolvido, mas mitigado, com instrumentos que resolviam esse problema, designadamente o Banco Alimentar, que é a base de tudo isto, e outras instituições, como o Refood, e também a atividade nas paróquias”, frisou o almirante Luís Macieira Fragoso, destacando o apoio da Cáritas de Lisboa “ao Banco Alimentar, à Refood, à Casa do Gaiato, a seis paróquias e à Comunidade Vida e Paz, que é quem está na linha da frente no apoio aos mais desfavorecidos dos mais desfavorecidos, que são os sem-abrigo”.
A
Cáritas Diocesana de Lisboa trabalha em articulação com as diversas
Cáritas Paroquiais. Nesta emissão, o almirante Luís Macieira Fragoso
referiu que compete à instituição que preside “dinamizar a ação da
caridade em toda a diocese”. “Naturalmente, os órgãos fundamentais da
expressão desta pastoral são as paróquias e é com elas que trabalhamos e
procuramos que se ocupem daqueles que lhes são próximos; mas nós
estamos por trás, a apoiar em tudo aquilo que é necessário”, sublinhou.
“Temos dado um apoio importante, até financeiro, aos problemas que nos
têm sido levantados, mas também estamos preparados para dar apoio
noutras áreas, como por exemplo de dotar as paróquias, e as instituições
a elas ligadas, como lares de idosos e creches, de equipamentos de
proteção individual”, acrescentou, lembrando ainda o problema “do
desemprego, que de repente apareceu outra vez”, e a intenção de “apoiar
as pessoas nas despesas de habitação”.
Recentemente, o Comité
Organizador Local (COL) da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 doou
à Cáritas Diocesana 35 computadores destinados a jovens. Nos dias de
hoje, com as aulas a partir de casa, o presidente da instituição
considerou que esta é também uma área importante de atuação. “Foi uma
iniciativa muito importante, porque consideramos que a primeira
prioridade é a emergência, mas o nosso grande objetivo é a erradicação
da pobreza. E para se erradicar a pobreza é preciso trabalhar para a
educação. Neste momento, se é verdade que há problemas de abandono
escolar, e de insucesso escolar, nas camadas mais desfavorecidas, esta
situação veio agravar muito o problema, uma vez que muitas destas
comunidades não têm possibilidade de ter acesso a meios informáticos”,
apontou, reforçando que “não basta o computador, é preciso acesso à
internet”. Neste sentido, defendeu, “sempre que possível”, a criação de
“salas de estudo nos centros paroquiais”, que possibilitem “também o
acompanhamento”. “Esperemos que seja possível, porque quem tem uma porta
aberta para a internet, tem uma porta aberta para o mundo”, terminou o
almirante Luís Macieira Fragoso.
“São mais as pessoas que carecem do nosso apoio”
As pessoas na situação de sem-abrigo foram das primeiras a sofrer as consequências da pandemia. Renata Alves é a nova diretora-geral da Comunidade Vida e Paz e, neste programa em direto do Jornal VOZ DA VERDADE, assumiu que a missão da instituição tutelada pelo Patriarcado de Lisboa “cada vez tem sido mais difícil”. “Com a pandemia covid-19, percebemos claramente que são mais as pessoas que carecem do nosso apoio. Inicialmente, a necessidade primária era, e é, a fome, e a nossa preocupação foi garantirmos que todas as pessoas tinham possibilidade de fazer uma refeição”, explicou, revelando que “no início foi muito difícil”, porque foi dobrado o número de pedidos: “Aumentámos o número de refeições distribuídas. Normalmente, distribuímos cerca de 400 a 450 refeições, e de repente tivemos de distribuir 800. Foi muito difícil, porque os recursos que tínhamos não nos permitiam, na altura, dar resposta, mas tivemos o apoio da Cáritas e de outras instituições – ainda hoje contamos com o apoio dos Salesianos, que confecionam refeições que juntamos às nossas ceias”.
As pessoas na situação de sem-abrigo foram das primeiras a sofrer as consequências da pandemia. Renata Alves é a nova diretora-geral da Comunidade Vida e Paz e, neste programa em direto do Jornal VOZ DA VERDADE, assumiu que a missão da instituição tutelada pelo Patriarcado de Lisboa “cada vez tem sido mais difícil”. “Com a pandemia covid-19, percebemos claramente que são mais as pessoas que carecem do nosso apoio. Inicialmente, a necessidade primária era, e é, a fome, e a nossa preocupação foi garantirmos que todas as pessoas tinham possibilidade de fazer uma refeição”, explicou, revelando que “no início foi muito difícil”, porque foi dobrado o número de pedidos: “Aumentámos o número de refeições distribuídas. Normalmente, distribuímos cerca de 400 a 450 refeições, e de repente tivemos de distribuir 800. Foi muito difícil, porque os recursos que tínhamos não nos permitiam, na altura, dar resposta, mas tivemos o apoio da Cáritas e de outras instituições – ainda hoje contamos com o apoio dos Salesianos, que confecionam refeições que juntamos às nossas ceias”.
Renata Alves disse
ainda que a Comunidade Vida e Paz está “muito preocupada”, porque,
“para além das pessoas que estavam na rua”, a instituição percebeu que
“o número de pessoas na rua vai aumentar e já está a aumentar”.
“Verificamos diariamente que existem pessoas que ficam desempregadas e
ficam sem as suas casas, ou sem condições para manter o quarto que
tinham alugado, e vão para a rua. A nossa preocupação, neste momento, é
percebermos o que vai acontecer com aquelas pessoas que estão nos
espaços de acolhimento que foram promovidos pela Câmara Municipal de
Lisboa, e também como ajudamos as pessoas a mudar de vida, nesta fase
tão difícil, e a construir um novo sentido para a sua vida”, referiu
esta responsável, destacando também a “grande solidariedade e caridade
de respostas ligadas à Igreja, mas também de empresas e particulares”.
“Temos recebido muitos apoios, que nos têm permitido não só manter o
apoio na rua, junto das pessoas mais vulneráveis, mas também nas nossas
estruturas de internamento”, garantiu.
Renata Alves assumiu
recentemente a direção desta instituição e teve logo que encarar as
consequências do covid-19. “Tem sido desafiante. Iniciei funções em
fevereiro, longe de imaginar que o que se adivinhava era esta pandemia.
Se já era um desafio, o desafio tornou-se ainda maior. No entanto, esta
pandemia também trouxe outros aspetos, nomeadamente a reconstrução de
valores que estavam perdidos, e permitiu unirmo-nos, as instituições
unirem-se, os técnicos estarem empenhadíssimos, além dos voluntários que
têm sido uns verdadeiros heróis. Todos juntos, temos conseguido manter
esta nossa grande missão”, terminou a nova diretora-geral da Comunidade
Vida e Paz.
As ‘3 DICAS’
Em cada programa do ‘3 DICAS’, um dos convidados deixa três dicas para a vivência deste tempo. Nesta segunda emissão, coube ao almirante Luís Macieira Fragoso, presidente da Cáritas Diocesana de Lisboa, esta tarefa:
Em cada programa do ‘3 DICAS’, um dos convidados deixa três dicas para a vivência deste tempo. Nesta segunda emissão, coube ao almirante Luís Macieira Fragoso, presidente da Cáritas Diocesana de Lisboa, esta tarefa:
- 1.ª DICA: “Caridade: não fazer nada destas ações que fazemos na Igreja sem ter como base a caridade.”
- 2.ª DICA:
“Subsidiariedade: os recursos são muito limitados, o que temos de
atender é imenso, e precisamos de ser muito eficientes, e para sermos
eficientes temos de ser subsidiários uns dos outros.”
- 3.ª DICA: “Prontidão: quando estamos a apoiar os necessitados, temos que ser prontos e fazer chegar a ajuda quando é preciso.”
O
próximo ‘3 DICAS’, com uma temática a revelar brevemente, tem encontro
marcado para a próxima semana, também na quarta-feira, às 14h30.
Jornal Voz da Verdade
Jornal Voz da Verdade
Patriarcado de Lisboa
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