28 julho, 2016

Padre Lombardi: uma viagem em memória de São João Paulo II




(RV) No fim do intenso primeiro dia do Papa em Cracóvia, o enviado da Rádio Vaticano Alessandro Gisotti entrevistou o director da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi:

Padre Lombardi, este primeiro dia do Papa Francisco na Polónia: no discurso viu-se como recordou a memória tão querida à identidade do povo polaco. Quais são as suas impressões sobre estas primeiras horas, já com tantas coisas para contar?

Entrámos directamente no coração desta viagem; entrámos sobretudo no coração da dimensão da dimensão da relação com a Polónia, com o País, e com a Igreja na Polónia, enquanto que a Jornada Mundial da Juventude encontrámo-la um pouco pelas ruas, com muitos jovens, mas ainda não tivemos um evento específico. Tivemos, sim, os eventos do encontro com as autoridades, portanto, de alguma forma  com os representantes do povo polaco, uma grande vocação quer da parte do presidente, quer, em particular, do Papa, da memória, da história deste povo . E aqui, naturalmente, a figura de João Paulo II emerge prepotente, pois é ele que foi um pouco o nosso mestre, que nos fez conhecer, que fez conhecer a todo o mundo o valor e a profundidade da história do povo polaco, as suas raízes cristãs e assim por diante.

Em seguida, sentimos, respirámos o ar da Cracóvia de João Paulo II, e nos preparámos para a grande celebração desta quinta-feira (28/07) dos 1050 anos do baptismo da Polónia, que é, portanto, uma das dimensões importantes desta viagem, embora não seja a primeira motivação. O clima é muito bonito, muito positivo, muito familiar: mesmo o encontro com os bispos polacos que puderam fazer diversas perguntas - do ponto de vista pastoral, sobre os problemas que a Igreja atravessa neste momento  sob o ponto de vista cultural e espiritual do País – e o Papa por sua vez respondeu com temas que lhe são familiares, tocando muitas das cordas muito queridas ao seu coração. A proximidade com o povo para anunciar concretamente a figura de Jesus, os temas da solidariedade, uma importação muito evangélica que leva  a sério o espírito das bem-aventuranças é a de Mateus 25 sobre os critérios de julgamento pelos quais seremos julgados no fim da vida, que depois são as concretas obras de misericórdia. Portanto,  entrámos também no tema da misericórdia que caracteriza esta viagem. Vê-se, na verdade, que o tema da misericórdia – característico neste pontificado – volta um pouco em todas as expressões concretas e nos conselhos pastorais que o Papa dá aos bispos.

Falava dos temas queridos ao Papa Francisco, como a proximidade ... certamente também o acolhimento dos migrantes, um tema que – como se sabe - neste momento está particularmente na atenção da população, também da sociedade na Polónia. Sobre isto, o Papa foi muito, muito claro …

Sim, certamente.   Deve-se também dizer  que nos damos conta de que a Polónia  é um País diferente da Itália e portanto os temas das migrações, na Polónia, são diferentes  dos que podemos ter  em Lampedusa. Aqui chegam  os ucranianos e os russos, que são um outro tipo de pessoas relativamente aos africanos ou aos do médio oriente e, neste sentido, devemos também dar-nos conta  de que existem especificidades  de tipo cultural,  de tipo religioso diferente. Aqui não existe tanto o problema  - por exemplo do islão; estão 300 refugiados que vêm   da Síria, existem milhares e milhares e milhares  que vêm da Rússia, da Ucrânia  que são ortodoxos ou que são  cristãos orientais.  Portanto, devemos estar atentos em compreender também a variedade dos tipos  do tema imigração, do tema acolhimento. E isso parece-me que seja importante. Todavia, é também verdade -   e nesse sentido o Papa  tem uma mensagem forte -–que o acolhimento é uma dimensão fundamental  do nosso sermos cristãos,  da vida e hoje  também do relacionamento  entre povos, num mundo  em que tudo entrou em movimento, em que  os povos se deslocam  por tantos motivos dentre os quais  também – infelizmente os dos conflitos ou então  também da degradação do ambiente e assim por diante… Portanto,  é uma dimensão   da qual não se pode prescindir e  é justo que os jovens, que  também vêm de todos os povos e portanto são um pouco naturalmente pessoas que  se encontram, para além das diferenças ou das barreiras de cultura ou também de religião -  mesmo se aqui estamos  somente para uma Jornada Mundial dos cristãos, dos católicos, somos todavia pessoas que vêm de todas culturas diferentes, portanto estamos predispostos  ao encontro e à compreensão recíproca … Podemos viver aqui  um clima e  uma experiência  que são de facto fundamentais para construir  um mundo de amanhã que esteja pronto  e capaz de acolher, de  dialogar, de fazer encontrar as pessoas  de diversos povos e de diversas culturas.


O Papa Francisco definiu, já na vídeo-mensagem dirigida à Polónia há poucos dias, a JMJ como  "um mosaico de harmonia, um mosaico de misericórdia", portanto um sinal de convivência real. No avião, o Papa Francisco  também ressaltou que quando fala de "guerra mundial em pedaços" no quer dizer de modo nenhum uma guerra de religião: estes dois elementos - o Papa indica a JMJ como uma mensagem, um sinal para um mundo desfigurado, e mesmo a Europa, nos últimos dias …

Mas é evidente: nós não podemos prescindir do facto de que esta JMJ, este grande encontro de jovens, tem lugar num determinado momento histórico, num determinado contexto. E portanto o vivemos necessariamente como uma mensagem de fé, de coragem, de paz, porque esta é a mensagem de que o mundo precisa – a Europa em particular, mas não só, porque se olharmos para a África, se olharmos para tantas outras partes do mundo , os conflitos existem e existem um pouco por todo o lado. A JMJ é em si mesma uma mensagem de paz, com base numa mensagem de amor: a misericórdia está no centro desta JMJ, o amor de Deus por todos, o seu amor por todas as criaturas faz que nos tornemos mensageiros do amor e não de ódio, de pontes e não de muros e assim por diante. No entanto, o significado histórico desta JMJ é muito claro, neste momento; não podemos ignorar e deve ser um forte anúncio de paz para o mundo contra todo o medo, e contra todas as dificuldades. (BS/MM)

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