(RV) No fim do
intenso primeiro dia do Papa em Cracóvia, o enviado da Rádio Vaticano
Alessandro Gisotti entrevistou o director da Sala de Imprensa da Santa
Sé, padre Federico Lombardi:
Padre Lombardi, este primeiro dia do Papa Francisco na Polónia: no
discurso viu-se como recordou a memória tão querida à identidade do povo
polaco. Quais são as suas impressões sobre estas primeiras horas, já
com tantas coisas para contar?
Entrámos directamente no coração desta viagem; entrámos sobretudo no
coração da dimensão da dimensão da relação com a Polónia, com o País, e
com a Igreja na Polónia, enquanto que a Jornada Mundial da Juventude
encontrámo-la um pouco pelas ruas, com muitos jovens, mas ainda não
tivemos um evento específico. Tivemos, sim, os eventos do encontro com
as autoridades, portanto, de alguma forma com os representantes do povo
polaco, uma grande vocação quer da parte do presidente, quer, em
particular, do Papa, da memória, da história deste povo . E aqui,
naturalmente, a figura de João Paulo II emerge prepotente, pois é ele
que foi um pouco o nosso mestre, que nos fez conhecer, que fez conhecer a
todo o mundo o valor e a profundidade da história do povo polaco, as
suas raízes cristãs e assim por diante.
Em seguida, sentimos, respirámos o ar da Cracóvia de João Paulo II, e
nos preparámos para a grande celebração desta quinta-feira (28/07) dos
1050 anos do baptismo da Polónia, que é, portanto, uma das dimensões
importantes desta viagem, embora não seja a primeira motivação. O clima é
muito bonito, muito positivo, muito familiar: mesmo o encontro com os
bispos polacos que puderam fazer diversas perguntas - do ponto de vista
pastoral, sobre os problemas que a Igreja atravessa neste momento sob o
ponto de vista cultural e espiritual do País – e o Papa por sua vez
respondeu com temas que lhe são familiares, tocando muitas das cordas
muito queridas ao seu coração. A proximidade com o povo para anunciar
concretamente a figura de Jesus, os temas da solidariedade, uma
importação muito evangélica que leva a sério o espírito das
bem-aventuranças é a de Mateus 25 sobre os critérios de julgamento pelos
quais seremos julgados no fim da vida, que depois são as concretas
obras de misericórdia. Portanto, entrámos também no tema da
misericórdia que caracteriza esta viagem. Vê-se, na verdade, que o tema
da misericórdia – característico neste pontificado – volta um pouco em
todas as expressões concretas e nos conselhos pastorais que o Papa dá
aos bispos.
Falava dos temas queridos ao Papa Francisco, como a proximidade ...
certamente também o acolhimento dos migrantes, um tema que – como se
sabe - neste momento está particularmente na atenção da população,
também da sociedade na Polónia. Sobre isto, o Papa foi muito, muito
claro …
Sim, certamente. Deve-se também dizer que nos damos conta de que a
Polónia é um País diferente da Itália e portanto os temas das
migrações, na Polónia, são diferentes dos que podemos ter em
Lampedusa. Aqui chegam os ucranianos e os russos, que são um outro tipo
de pessoas relativamente aos africanos ou aos do médio oriente e, neste
sentido, devemos também dar-nos conta de que existem
especificidades de tipo cultural, de tipo religioso diferente. Aqui
não existe tanto o problema - por exemplo do islão; estão 300
refugiados que vêm da Síria, existem milhares e milhares e
milhares que vêm da Rússia, da Ucrânia que são ortodoxos ou que
são cristãos orientais. Portanto, devemos estar atentos em compreender
também a variedade dos tipos do tema imigração, do tema acolhimento. E
isso parece-me que seja importante. Todavia, é também verdade - e
nesse sentido o Papa tem uma mensagem forte -–que o acolhimento é uma
dimensão fundamental do nosso sermos cristãos, da vida e hoje também
do relacionamento entre povos, num mundo em que tudo entrou em
movimento, em que os povos se deslocam por tantos motivos dentre os
quais também – infelizmente os dos conflitos ou então também da
degradação do ambiente e assim por diante… Portanto, é uma
dimensão da qual não se pode prescindir e é justo que os jovens,
que também vêm de todos os povos e portanto são um pouco naturalmente
pessoas que se encontram, para além das diferenças ou das barreiras de
cultura ou também de religião - mesmo se aqui estamos somente para uma
Jornada Mundial dos cristãos, dos católicos, somos todavia pessoas que
vêm de todas culturas diferentes, portanto estamos predispostos ao
encontro e à compreensão recíproca … Podemos viver aqui um clima e uma
experiência que são de facto fundamentais para construir um mundo de
amanhã que esteja pronto e capaz de acolher, de dialogar, de
fazer encontrar as pessoas de diversos povos e de diversas culturas.
O Papa Francisco definiu, já na vídeo-mensagem dirigida à Polónia há
poucos dias, a JMJ como "um mosaico de harmonia, um mosaico de
misericórdia", portanto um sinal de convivência real. No avião, o Papa
Francisco também ressaltou que quando fala de "guerra mundial em
pedaços" no quer dizer de modo nenhum uma guerra de religião: estes dois
elementos - o Papa indica a JMJ como uma mensagem, um sinal para um
mundo desfigurado, e mesmo a Europa, nos últimos dias …
Mas é evidente: nós não podemos prescindir do facto de que esta JMJ,
este grande encontro de jovens, tem lugar num determinado momento
histórico, num determinado contexto. E portanto o vivemos
necessariamente como uma mensagem de fé, de coragem, de paz, porque esta
é a mensagem de que o mundo precisa – a Europa em particular, mas não
só, porque se olharmos para a África, se olharmos para tantas outras
partes do mundo , os conflitos existem e existem um pouco por todo o
lado. A JMJ é em si mesma uma mensagem de paz, com base numa mensagem de
amor: a misericórdia está no centro desta JMJ, o amor de Deus por
todos, o seu amor por todas as criaturas faz que nos tornemos
mensageiros do amor e não de ódio, de pontes e não de muros e assim por
diante. No entanto, o significado histórico desta JMJ é muito claro,
neste momento; não podemos ignorar e deve ser um forte anúncio de paz
para o mundo contra todo o medo, e contra todas as dificuldades. (BS/MM)
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