(RV) No
final deste mês de julho o padre Federico Lombardi cessa as suas
funções como Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé passando essa
missão ao Dr. Greg Burke, atualmente vice-diretor deste organismo da
comunicação vaticana. Um momento ideal para uma entrevista com o padre
Lombardi na qual o sacerdote jesuíta falou sobre os sentimentos que está
a viver neste momento, após dez anos ao serviço da Sala de Imprensa da
Santa Sé. Os nossos colegas brasileiros Jackson Erpen e Raimundo Lima
prepararam a tradução e a dobragem desta entrevista do padre Lombardi à
Rádio Vaticano:
P. Federico Lombardi:- “Sinceramente, para mim não há nenhuma
surpresa! Para mim era absolutamente claro que mais cedo ou mais tarde
esse ofício deveria se concluir. Não somos eternos... Já havia mais
vezes manifestado ao Papa, também durante estes três anos, a plena
disponibilidade a fazer esse serviço que podia fazer, bem como a toda e
qualquer decisão tomada em vista de uma sucessão nessa tarefa.”
RV: Em entrevista concedida à nossa emissora, Burke fala de temor em
relação ao ofício que o aguarda. Como comenta essas palavras?
P. Federico Lombardi:- “É sempre compreensível um pouco de temor –
digamos – reverencial diante de um serviço árduo, que diz respeito à
pessoa do Papa e à vida da Igreja. Mas todos sabemos ter limites e se
fomos chamados a desempenhar uma função, temos confiança de que o Senhor
nos ajude a realizá-la e de que quem nos atribuiu tenha pensado bem a
quem a estava confiando. Por conseguinte, devemos sentir-nos num clima
de confiança e de esperança. Naturalmente, muitas coisas se aprendem...
Também eu, dez anos atrás, absolutamente não conhecia tantas coisas
desse serviço e, portanto, podia ter incertezas ou dificuldades para
encontrar as referências justas ou as informações necessárias. Depois,
se caminha, se percorre a estrada, se aprende, se assume também uma
maior segurança e tranquilidade na realização do próprio trabalho.
Portanto, esse é um caminho normal de todo tipo de ofício: não se pode
esperar começar contando com todas as experiências, conhecimentos e
capacidades. É preciso percorrer o caminho. Penso que tanto para Greg
Burke, quanto em particular também para Paloma Garcia Ovejero, que
começa tão jovem, seja uma bela experiência na qual certamente serão
ajudados. Sempre encontrei uma grandíssima disponibilidade da parte de
todos, no mundo vaticano, na Cúria para as necessidades de informações
ou de conselhos que eram solicitados. Não nos movemos num mundo em que
as pessoas nos são hostis: absolutamente não! Também no mundo
jornalístico, ao qual nossos dois colegas deverão servir, encontram
muita simpatia – me parece – já de início e muita estima e confiança.
Portanto, podem estar totalmente tranquilos.”
RV: Em dez anos, o senhor teve o privilégio de seguir de perto o
Pontificado de Bento XVI, depois, estes primeiros anos do Pontificado do
Papa Francisco. Quais os momentos mais difíceis, mais duros, que viveu
como porta-voz vaticano?
P. Federico Lombardi:- “Todos podem recordar – inclusive por parte da
cobertura jornalística – quais podem ter sido os momentos críticos
vividos com um pouco mais de tensão... O que digo, em geral, é que a
experiência um pouco mais dolorosa que pude viver foi a de seguir e
participar de todas as vicissitudes do debate, inclusive público, sobre
as questões dos abusos sexuais: uma coisa naturalmente muito dolorosa.
Participei com profunda intensidade, consciente de que era o caminho de
purificação da Igreja, do qual o Papa Bento XVI tanto nos falou e que
devíamos percorrer; procurei inclusive dar um pouco a minha
contribuição, em colaboração com outros, a fim de que se dessem passos
avante no sentido também da clareza, da transparência, da verdade na
abordagem desses temas, de modo tal que efetivamente essas coisas não
mais se repetissem ou pelo menos que pudessem ser enfrentadas no modo
mais correto, tempestivo e profundo desde o início. Também outros
momentos, como os da apropriação ilícita de documentos reservados ou de
tensões internas no Vaticano, foram momentos naturalmente também de
certo sofrimento: não por serem difíceis do ponto de vista profissional –
dizer a verdade e dizer as coisas que tem a dizer não é fácil –, mas a
questão é que aí se vive também com um certo sofrimento, mas com a
consciência de que, também na dimensão da comunicação, se percorre o
caminho para melhorar, para responder, para trilhar a estrada rumo à
verdade e rumo a uma visão mais adequada, mais completa dos problemas e
mais serena. Ajudando também os colegas e o mundo circunstante a ter
essa compreensão da humanidade, inclusive dos limites; mas também sempre
da missão positiva que a Igreja tem, apesar das fraquezas humanas de
tantos que fazem parte dela.”
RV: Como se sente quando pensa que a partir de 1º de agosto seu
celular não será mais bombardeado de mensagens, solicitações,
telefonemas a qualquer hora do dia?
P. Federico Lombardi:- “Creio que muda o tipo de serviço que se
realiza, mas não penso absolutamente em me aposentar! Essa palavra não
existe para um religioso, que busca estar sempre à disposição do serviço
de Deus e da Igreja em toda a sua vida, todos os dias. Por conseguinte,
se não serão os telefonemas de jornalistas que pedem uma resposta sobre
uma questão urgente, provavelmente serão outras ligações ou outras
relações, às quais se buscará responder com todo o coração.”
Recordemos que o padre Federico Lombardi foi Diretor da Sala de
Imprensa da Santa Sé durante dez anos. O sacerdote jesuíta completa
neste mês de agosto 74 anos e foi Diretor de Programas da Rádio Vaticano
entre 1991 e 2005, tendo sido também diretor geral da nossa emissora.
(RS)
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