30 julho, 2016

Papa aos religiosos: escrever o evangelho com obras de misericórdia




(RV) No Santuário de S. João Paulo II o Papa Francisco presidiu neste sábado (30/07) à celebração eucarística juntamente com sacerdotes, religiosos/as, consagrados e seminaristas polacos. Numa homilia que podemos considerar “programática” Francisco comentou o Evangelho à volta de 3 palavras fundamentais: lugar, discípulo, livro.

Recordando o "grande convite" de João Paulo II "Abri de par em par as portas a Cristo!", o Papa sublinhou que "o lugar" da Igreja é "em saída", para "difundir o perdão e a paz de Deus, com a força do Espírito Santo". Perante a tentação de sacerdotes e consagrados a "permanecerem  um pouco fechados, por medo ou por conveniência, em si mesmos e nos seus ambientes " – ressalta o Papa - Jesus indica uma "direcção de sentido único", porque "sair de nós mesmos é uma viagem sem bilhete de regresso", "seguindo a via do dom de si" por Ele:

“E, no entanto, a direção indicada por Jesus é de sentido único: sair de nós mesmos. Trata-se de realizar um êxodo do nosso eu, de perder a vida por Ele (cf. Mc 8, 35), seguindo o caminho do dom de si mesmo. Por outro lado, Jesus não gosta das estradas percorridas a metade, das portas entreabertas, das vidas com via dupla. Pede para se meter à estrada leves, para sair renunciando às próprias seguranças, firmes apenas n'Ele”.

Quem escolheu conformar-se a Jesus - continua o Papa - não busca "os trémulos pedestais dos poderes do mundo", "não permanece no conforto que enfraquece a evangelização", "não perde tempo projectando um futuro seguro e bem retribuído" mas "gosta de correr riscos e sai, aberto e fiel às rotas indicadas pelo Espírito: contrário a deixar correr a vida, a vegetar, alegra-se por evangelizar.

A segunda palavra é “discípulo” e aqui o Papa descreve com muita ternura a figura de Tomás, discípulo "obstinado", caracterizado pela "dúvida  e a ansiedade de querer entender", mas que precisamente por estas suas características, se torna "simpático" para nós  e "nos faz um grande presente, pois nos aproxima de Deus, de Deus que não se esconde de quem O procura". Por isso o Papa convida aos sacerdotes e consagrados a confiar totalmente nele e com corações abertos e misericordiosos, que sabem reconhecer e chorar pelas próprias fraquezas:

“Que nos pede Jesus? Ele deseja corações verdadeiramente consagrados, que vivam do perdão recebido d’Ele para o derramarem com compaixão sobre os irmãos. Jesus procura corações abertos e ternos para com os fracos, nunca duros; corações dóceis e transparentes, que não dissimulam perante quem tem na Igreja a tarefa de orientar o caminho”

E por último o “livro”, e o  livro de que fala o Papa é o Evangelho, "livro vivo da misericórdia de Deus", livro que "tem  páginas em branco no fundo ainda por escrever", ou seja, que "continua a ser aberto e que somos convidados a escrever no mesmo estilo" de Jesus, isto é, "realizando obras de misericórdia":

“Mas há ainda um desafio, há espaço para sinais feitos por nós, que recebemos o Espírito do amor e somos chamados a difundir a misericórdia. Poder-se-ia dizer que o Evangelho, livro vivo da misericórdia de Deus que devemos ler e reler continuamente, ainda tem páginas em branco no final: permanece um livro aberto, que somos chamados a escrever com o mesmo estilo, isto é, cumprindo obras de misericórdia”.

E Francisco pergunta  aos sacerdotes e consagrados: "As páginas do livro de cada um de vós como são? São escritas todos os dias? Estão em branco? ". Para serem, então, "escritores vivos do Evangelho", o Papa os exorta a reviver "a página pessoal do livro da misericórdia de Deus", a página da própria chamado vocacional, com o exemplo e a intercessão de Maria, Mãe de Misericórdia..

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