(RV) «Bem
aventurados os misericordiosos». No âmbito das celebrações da
Jornada Mundial da Juventude (JMJ), sexta-feira costuma ser o dia
tradicional da celebração da Via Sacra. Esta sexta-feira, dia 28 de
Julho de 2016, também não escapou à regra : às 18,00 horas, teve inicio,
na Esplanda de Blonia, da cidade de Cracóvia, a Via Sacra da XXXI JMJ.
Ocasião para uma melhor contemplação e discernimento do percurso da
Paixão de Jesus Cristo Libertador, mas sobretudo para seguir este mesmo
percurso com toda a Igreja reunida no Parque Blonia, Igreja esta que
segue Cristo, recebe o seu Espírito, reconhece as necessidades do homem e
da mulher do nosso mundo hodierno da «globalização da indiferença» e
procura, movido pelo espírito da misericórdia de Deus, satisfazer à
essas mesmas necessidades vitais. E é precisamente sobre este desafio
hodierno de seguir Cristo Libertador, seguindo os percursos da Sua
misericórdia que se concentrou o discurso do Papa Francisco no fim da
Via Sacra e que transmitimos aqui na íntegra:
«Tive fome e destes-me de comer,
tive sede e destes-me de beber,
era peregrino e recolhestes-me,
estava nu e destes-me que vestir,
adoeci e visitastes-me,
estive na prisão e fostes ter comigo» (Mt 25, 35-36).
Estas palavras de Jesus vêm ao encontro da questão que muitas
vezes ressoa na nossa mente e no nosso coração: «Onde está Deus?» Onde
está Deus, se no mundo existe o mal, se há pessoas famintas, sedentas,
sem abrigo, deslocadas, refugiadas? Onde está Deus, quando morrem
pessoas inocentes por causa da violência, do terrorismo, das guerras?
Onde está Deus, quando doenças cruéis rompem laços de vida e de afeto?
Ou quando as crianças são exploradas, humilhadas e sofrem – elas também –
por causa de graves patologias? Onde está Deus, quando vemos a
inquietação dos duvidosos e dos aflitos na alma? Há perguntas para as
quais não existem respostas humanas. Podemos apenas olhar para Jesus, e
perguntar-Lhe. E a sua resposta é esta: «Deus está neles», Jesus está
neles, sofre neles, profundamente identificado com cada um. Está tão
unido a eles, que quase formam «um só corpo».
Foi o próprio Jesus que escolheu identificar-Se com estes nossos
irmãos e irmãs provados pelo sofrimento e a angústia, aceitando
percorrer o caminho doloroso para o calvário. Ao morrer na cruz,
entrega-Se nas mãos do Pai e leva consigo e em Si mesmo, com amor de
doação, as chagas físicas, morais e espirituais da humanidade inteira.
Abraçando o madeiro da cruz, Jesus abraça a nudez e a fome, a sede e a
solidão, a dor e a morte dos homens e mulheres de todos os tempos. Nesta
noite, Jesus e nós, juntamente com Ele, abraçamos com amor especial os
nossos irmãos sírios, que fugiram da guerra. Saudamo-los e acolhemo-los
com fraterno afeto e simpatia.
Repercorrendo a Via-Sacra de Jesus, descobrimos de novo a importância
de nos identificarmos com Ele, através das 14 obras de misericórdia.
Estas ajudam-nos a abrir-nos à misericórdia de Deus, a pedir a graça de
compreender que a pessoa, sem misericórdia, não pode fazer nada; sem a
misericórdia, eu, tu, nós todos não podemos fazer nada. Comecemos por
ver as sete obras de misericórdia corporais: dar de comer a quem tem
fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos
peregrinos, visitar os enfermos; visitar os presos; enterrar os mortos.
Gratuitamente recebemos, demos gratuitamente também. Somos chamados a
servir Jesus crucificado em cada pessoa marginalizada, a tocar a sua
carne bendita em quem é excluído, tem fome, tem sede, está nu, preso,
doente, desempregado, é perseguido, refugiado, migrante. Naquela carne
bendita, encontramos o nosso Deus; naquela carne bendita, tocamos o
Senhor. O próprio Jesus no-lo disse, ao explicar o «Protocolo» com base
no qual seremos julgados: sempre que fizermos isto a um dos nossos
irmãos mais pequeninos, fazem-mo-lo a Ele (cf. Mt 25, 31-46).
Às obras de misericórdia corporais seguem-se as obras de misericórdia
espirituais: dar bons conselhos, ensinar os ignorantes, corrigir os que
erram, consolar os tristes, perdoar as injúrias, suportar com paciência
as fraquezas do nosso próximo, rezar a Deus por vivos e defuntos. A
nossa credibilidade de cristãos é posta em jogo no acolhimento da pessoa
marginalizada que está ferida no corpo, e no acolhimento do pecador que
está ferido na alma.
Hoje a humanidade precisa de homens e mulheres, particularmente
jovens como vós, que não queiram viver a sua existência «a metade»,
jovens prontos a gastar a vida no serviço gratuito aos irmãos mais
pobres e mais vulneráveis, à imitação de Cristo que Se doou totalmente a
Si mesmo pela nossa salvação. Perante o mal, o sofrimento, o pecado, a
única resposta possível para o discípulo de Jesus é o dom de si mesmo,
até da própria vida, à imitação de Cristo; é a atitude do serviço. Se
alguém, que se diz cristão, não vive para servir, não serve para viver.
Com a sua vida, renega Jesus Cristo.
Nesta noite, queridos jovens, o Senhor renova-vos o convite para vos
tornardes protagonistas no serviço; Ele quer fazer de vós uma resposta
concreta às necessidades e sofrimentos da humanidade; quer que sejais um
sinal do seu amor misericordioso para o nosso tempo! Para cumprir esta
missão, Ele aponta-vos o caminho do compromisso pessoal e do sacrifício
de vós próprios: é o Caminho da cruz. O Caminho da cruz é o caminho da
felicidade de seguir a Cristo até ao fim, nas circunstâncias
frequentemente dramáticas da vida diária; é o caminho que não teme
insucessos, marginalizações ou solidões, porque enche o coração do homem
com a plenitude de Jesus. O Caminho da cruz é o caminho da vida e do
estilo de Deus, que Jesus nos leva a percorrer mesmo através das sendas
duma sociedade por vezes dividida, injusta e corrupta.
O Caminho da cruz é o único que vence o pecado, o mal e a morte,
porque desemboca na luz radiosa da ressurreição de Cristo, abrindo os
horizontes da vida nova e plena. É o Caminho da esperança e do futuro.
Quem o percorre com generosidade e fé, dá esperança e futuro à
humanidade.
Naquela Sexta-feira Santa, queridos jovens, muitos discípulos
voltaram tristes para suas casas, outros preferiram ir para a casa da
aldeia a fim de esquecer a cruz. Pergunto-vos: Nesta noite, como quereis
tornar às vossas casas, aos vossos locais de alojamento? Nesta noite,
como quereis voltar a encontrar-vos com vós mesmos? Cabe a cada um de
vós dar resposta ao desafio desta pergunta.
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