Cracóvia (RV) - Na
conclusão do primeiro dia do Papa em Cracóvia, a Rádio Vaticano
conversou com o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico
Lombardi:
P. - Padre Lombardi, o primeiro dia do Papa Francisco na Polônia: no
discurso às autoridades pudemos notar como o Papa recordou a memória,
tão querida à identidade do povo polonês. Quais são as suas impressões
sobre essas primeiras horas?
R. – Entramos direto no coração desta viagem; entramos em especial no
coração da dimensão do relacionamento com a Polônia, com o país, e com a
Igreja na Polônia, enquanto a Jornada Mundial da Juventude, nós a
encontramos um pouco pelas ruas da cidade, com muitos jovens, mas ainda
não tivemos um evento específico. Em vez disso, nós tivemos os eventos
do encontro com as autoridades, portanto, de alguma forma com os
representantes do povo polonês, uma grande vocação seja da parte do
Presidente seja da parte, em particular, do Papa, da memória, da
história deste povo. E aqui, naturalmente, a figura de João Paulo II
emerge com prepotência, porque é ele que foi um pouco o nosso mestre,
que nos deu a conhecer, que fez conhecer ao mundo o valor e a
profundidade da história do povo polonês, as suas raízes cristãs e assim
por diante. Então, sentimos, respiramos o ar de Cracóvia de João Paulo
II, e nos preparamos para a grande celebração desta quinta-feira dos
1050 anos do batismo da Polônia, que é, portanto, uma das dimensões
importantes desta viagem, embora não seja a primeira motivação.
P. Como o senhor vê o clima e o encontro com os bispos?
O clima é muito bom, é muito positivo, é muito familiar: também o
encontro com os bispos poloneses que puderam fazer perguntas diferentes -
do ponto de vista pastoral, sobre os problemas que a Igreja atravessa
neste momento do ponto de vista cultural e espiritual do país – e o Papa
por sua vez respondeu com temas que lhe são familiares, tocando muitos
temas que são caros ao seu coração. A proximidade ao povo para anunciar
concretamente a figura de Jesus, os temas da solidariedade; uma ligação
muito evangélica que leva a sério o Espírito das bem-aventuranças é a de
Mateus 25 sobre os critérios de julgamento com os quais seremos
julgados no final da vida, que são depois, as concretas obras de
misericórdia. Então, entramos também no tema da misericórdia que
caracteriza esta viagem. Vê-se, na verdade, que o tema da misericórdia -
característico deste pontificado – retorna um pouco em todas as
expressões concretas e nos conselhos pastorais que o Papa dá aos bispos.
P. - Padre Lombardi, o senhor falava dos temas caros ao Papa
Francisco, como a proximidade ... certamente também a acolhida dos
migrantes, um tema que - se sabe - neste momento é particularmente
seguido por todos, também pela sociedade na Polônia. Sobre isso, o Papa
foi muito, muito claro.
R. - Sim, certamente. Devemos também
dizer que nos damos conta de que a Polônia é um país diferente da Itália
e, portanto, as questões da migração na Polónia são diferentes daquelas
que podemos ter em Lampedusa. Aqui chegam os ucranianos e os russos,
que são outro tipo de pessoas em relação aos africanos ou do Oriente
Médio, e neste sentido também devemos perceber que há especificidades de
caráter cultural, de caráter religioso diferente. Aqui não é tanto o
problema - digamos - do Islã; há 300 refugiados provenientes da Síria, e
há milhares e milhares e milhares de pessoas que vêm de Rússia,
Ucrânia, que são ortodoxos ou são cristãos orientais. Portanto, devemos
estar atentos para entender a variedade de faces da questão do tema da
imigração, do tema da acolhida. E isso me parece ser importante. Mas é
certamente verdade - e, neste sentido, o Papa tem uma mensagem forte -
que a acolhida é uma dimensão fundamental do ser cristão, da vida e hoje
também da relação entre os povos, num mundo em que tudo entrou em
movimento, onde os povos se deslocam, por muitas razões, entre as quais -
infelizmente - os conflitos ou pela degradação ambiental, e assim por
diante ... então, é uma dimensão que não pode ser ignorada e é justo que
os jovens, que são provenientes de todos os povos, e portanto, são um
pouco naturalmente pessoas que se encontram para além das diferenças ou
barreiras de cultura ou até mesmo de religião - embora aqui estamos em
uma Jornada Mundial dos cristãos, dos católicos, no entanto, somos, de
fato, pessoas que viemos de todas as diversas culturas, por isso estamos
predispostos ao encontro e à compreensão mútua ... podemos viver aqui
uma atmosfera e uma experiência que são fundamentais para construir um
mundo do amanhã que seja pronto e capaz de acolher, de dialogar, para
reunir pessoas de diferentes povos e culturas.
P. Papa Francisco definiu, já na sua videomensagem endereçada à
Polônia dias atrás, a JMJ “um mosaico de harmonia, um mosaico de
misericórdia”. Portanto um sinal de convivência real. No avião, o Papa
Francisco sublinhou também que quando fala de “guerra mundial em
pedaços” não entende absolutamente uma guerra de religião: esses dois
elementos – o Papa indica a JMJ como uma mensagem, um sinal a um mundo
desfigurado, também a Europa, nos últimos dias…
R. - Mas é claro: não podemos ignorar o fato de que esta JMJ, este
grande encontro de jovens se realize em um determinado momento
histórico, em um determinado contexto. E então devemos vive-la,
necessariamente, como uma mensagem de fé, de coragem, de paz, porque
esta é a mensagem que o mundo – a Europa em particular, mas não só,
porque se olharmos para a África, olharmos para tantas outras partes do
mundo, os conflitos existem e estão em todos os lugares - tem
necessidade. A JMJ é em si mesma uma mensagem de paz, baseada em uma
mensagem de amor; a misericórdia está no centro desta JMJ, o amor de
Deus por todos, o seu amor por todas as criaturas nos torna mensageiros
do amor, e não do ódio, pontes em vez de muros e assim por diante. No
entanto, o significado histórico desta JMJ é muito claro, neste momento;
não podemos ignorá-lo e deve ser um forte anúncio de paz para o mundo
contra todo o medo, e contra todas as dificuldades. (SP)
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