(RV) O Papa Francisco concedeu mais uma entrevista ao jornal argentino La Nación, que foi publicada na edição deste domingo (03/07).
O Pontífice recebeu pela segunda vez em seu escritório na Casa Santa
Marta o jornalista Joaquín Morales Solá, que conhece Bergoglio há 20
anos.
Na entrevista foram tratados temas que dizem quase exclusivamente à
vida política, social e eclesial argentina. Mas não só. O encontro
ocorreu em 28 de junho, dia em que se celebraram os 65 anos de
sacerdócio do Papa emérito Bento XVI.
Bento XVI: revolucionário
“Um revolucionário”, o definiu Francisco. “A sua generosidade foi
incomparável. A sua renúncia, que tornou evidentes todos os problemas da
Igreja, não teve motivações pessoais. Foi um ato de governo. O seu
último ato de governo". Sobre as condições de saúde do Papa emérito, o
Pontífice destacou: "Tem problemas para se locomover, mas a sua cabeça e
a sua memória estão intactas, perfeitas".
Nenhum problema com Macri. Não gosto de conflitos
Quanto ao relacionamento considerado “frio” com o Presidente
argentino Mauricio Macri, o Papa respondeu: “Não tenho qualquer problema
com o presidente Macri. Não gosto de conflitos. Macri me parece uma
pessoa de boa família, uma pessoa nobre”. Recordou, depois, de ter tido
alguma divergência com ele no passado, mas se tratou de “uma única vez,
em Buenos Aires”, durante os seis anos em que Macri foi prefeito da
cidade e Bergoglio, o Arcebispo. “Uma só vem em tanto tempo é uma média
muito baixa”, destacou o Papa. Outros problemas, acrescentou, “foram
discutidos e resolvidos em privado e este acordo de privacidade foi
respeitado por ambos”. “Não tenho qualquer reprovação pessoal a fazer ao
Presidente Macri”, reiterou.
Audiência com Hebe de Bonafini, líder das Mães da Plaza de Mayo
O Papa respondeu ainda a uma pergunta sobre a audiência concedida a
Hebe de Bonafini, líder do ramo mais intransigente das Mães da Plaza de
Mayo, que no passado criticou Bergoglio acusando-o, falsamente, de ter
colaborado com o regime militar. A senhora depois admitiu seu erro
publicamente.
A audiência concedida “foi um gesto de perdão” – explicou Francisco.
“Ela me pediu perdão e eu não o neguei”, porque o perdão “não se nega a
ninguém”. “É uma mulher que teve dois filhos assassinados. E eu meu
inclino, me ajoelho diante de tamanho sofrimento. Não importa o que ela
disse a meu respeito. E sei que disse coisas terríveis no passado”.
Sala de Imprensa vaticana, única porta-voz do Papa
Sobre as vozes que circulam na Argentina de que, no país, haveria um
porta-voz diferente da Sala de Imprensa, Francisco explicou: “Não
existem outros porta-vozes oficiais, nem na Argentina nem em outros
países. Repito: a Sala de Imprensa do Vaticano é a única porta-voz do
Papa”.
Scholas Occurrentes
Outra questão disse respeito às Scholas Occurrentes, a Fundação
reconhecida pela Santa Sé que nasceu em Buenos Aires há mais de 15 anos,
impulsionada pelo então Arcebispo Bergoglio, e que atua em prol da
formação dos jovens.
Recentemente, o Pontífice convidou os responsáveis pelo organismo a
não aceitarem uma doação em dinheiro por parte do governo. Mas não se
tratou de uma decisão “contra o governo de Macri”, destaca o Papa: “Esta
interpretação é absolutamente errada. Não aludia de modo algum ao
governo. Disse somente aos responsáveis das Scholas, com afeto, aquilo
que poderia ajudá-los a evitar eventuais erros na gestão da Fundação”.
“Continuo acreditando – explicou o Papa – que não temos o direito de
pedir dinheiro ao governo argentino, que tem tantos problemas sociais
por resolver”.
Quero uma Igreja aberta e compreensiva
Por fim, respondendo a uma pergunta sobre os “ultraconservadores da
Igreja”, o Papa Francisco afirmou: “Eles fazem seu trabalho e eu, o meu.
Eu desejo uma Igreja aberta, compreensiva, que acompanhe as famílias
feridas. Eles dizem não a tudo. Eu continuo firme pela minha estrada,
sem olhar para os lados. Não corto cabeças. Nunca gostei de fazer isso.
Reitero: rejeito o conflito”.
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