"O drama que
estamos a atravessar impele-nos a levar a sério o que é sério, a não nos
perdermos em coisas de pouco valor; a redescobrir que a vida não serve,
se não se serve. Palavras do Papa Francisco na homilia da missa neste
Domingo de Ramos, celebrada na Basílica de São Pedro.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
No meio da pandemia, não só a Praça de São Pedro está vazia, mas também a
Basílica Vaticana, onde o Papa Francisco presidiu à celebração
eucarística neste Domingo de Ramos.
Com o Pontífice, o mestre das cerimónias litírgicas, Mons. Guido
Marini, poucos diáconos, um único cardeal, alguns leigos e religiosas.
Também o coral foi em número reduzido.
As oliveiras e os ramos perto do altar central lembravam a entrada triunfante de Jesus em Jerusalém.
Na homilia, o convite do Papa foi para nos deixarmos guiar pela Palavra
de Deus na Semana Santa, que, quase como um refrão, mostra Jesus como servo:
na Quinta-feira Santa, é o servo que lava os pés dos discípulos; na
Sexta-feira Santa, é apresentado como o servo sofredor e vitorioso (cf. Is 52, 13); e já amanhã, Isaías profetiza: «Eis o meu servo que Eu amparo» (42, 1).
“Deus salvou-nos, servindo-nos. Geralmente pensamos que somos
nós que servimos a Deus. Mas não; foi Ele que nos serviu gratuitamente,
porque nos amou primeiro. É difícil amar, sem ser amado; e é ainda mais
difícil servir, se não nos deixamos servir por Deus.”
Traição e abandono
O Senhor, explicou o Papa, serviu-nos dando a sua vida por nós, ao
ponto de experimentar as situações mais dolorosas para quem ama: a traição e o abandono.
Jesus sofreu a traição do discípulo que O vendeu e do discípulo que O
renegou, foi traído pela multidão, pela instituição religiosa e pela
instituição política.
Quando sofremos traições, a vida parece deixar de ter sentido. Isto porque nascemos para ser amados e para amar.
O que Ele faz para nos servir é tomar sobre Si as nossas
infidelidades, removendo as nossas traições. Assim, nós, em vez de
desanimarmos com medo de não ser capazes, podemos levantar o olhar para o
Crucificado e seguir em frente.
Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonaste?
Sobre o abandono de Jesus, nada é mais impressionante do que as palavras pronunciadas por Ele na cruz: Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonaste?
No abismo da solidão, pela primeira vez Jesus O designa pelo nome
genérico de «Deus». Na realidade, explicou Francisco, trata-se das
palavras de um Salmo (cf. 22, 2), que dizem como Jesus levou à oração
inclusive a extrema desolação.
O porquê de tudo isto, mais uma vez encontramos na palavra serviço. Jesus morreu por nós, para nos servir. Lembremo-nos de que não estamos sós:
Estamos no mundo para amar a Ele e aos outros, disse ainda o Papa: “o
resto passa, isto permanece. O drama que estamos a atravessar
impele-nos a levar a sério o que é sério, a não nos perdermos em coisas
de pouco valor; a redescobrir que a vida não serve, se não se serve. Porque a vida mede-se pelo amor”.
Jovens: viver para servir
A exortação do Pontífice, nestes dias da Semana Santa, em casa, é
permanecer diante do Crucificado. Diante de Deus, pedir a graça de viver para servir.
“Procuremos contactar com quem sofre, quem está sozinho e necessitado. Não
pensemos só naquilo que nos falta, mas no bem que podemos fazer.”
A senda do serviço, concluiu Francisco, é o caminho vencedor,
que nos salvou e salva a vida. E estas palavras foram dedicadas aos
jovens, que hoje celebram a 35 Jornada Mundial da Juventude:
“Queridos amigos, olhem para os verdadeiros heróis que vêm à luz
nestes dias: não são aqueles que têm fama, dinheiro e sucesso, mas
aqueles que se oferecem para servir os outros. Sintam-se chamados a
arriscar a vida. Porque a maior alegria é dizer sim ao amor, sem se nem
mas... Como fez Jesus por nós.”
VN
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